ENQUANTO ISSO VOU AO BANCO

 

 

          Assistia à transmissão em cadeia nacional da mais recente,  moderna e brasileiríssima versão da inquisição - perdão, Senador Passarinho, inquirição -, a cepeí  do oçamento, quando, no intervalo, o nobre Deputado foi lavar as mãos e eu dei de pensar umas besteiras.

          Quantos brasileiros, e brasileiras, estão neste momento (Caixa Automático)  achando que a coisa é séria? Muitos. Quantos esperam que advenha um tempo pós-cassações quando estaremos livres de corrupções generalizadas? Poucos. Quantos já sabem que tudo é apenas uma troca de guarda no poder civil? Sei não.

          Fico pensando (Vinte e Quatro Horas, Dia e Noite) neste meu povo brasileiro-esperança, já se disse, e eu repito, que ainda vive disso. Sofre disso. Morre disso. O que ele acha do que vê, se é que vê? Perguntado, será que vai responder: "É Deus que sabe"? Matutando sobre este meu povo que, obrigado a votar, votou em “sabe lá Deus quem?” se ele mesmo não sabe em quem! Cidadão de importância relativa – exceto em dia de eleição -, apanhado na porta de casa, levado de kombi pelo cabo eleitoral até a cabine da seção, voto decorado, soletrado, alimentado de sopa pelas "madama, parentas do candidato" e, por fim,  despachado e embrulhado que foi, de volta à sua insignificância.

          Serviço feito (Débito em Conta) quem mais há de com ele se incomodar se, na verdade, quem incomoda é ele, pedinte em porta de gabinete de doutor Deputado. Incômodo eleitor que "Tá pensando o quê?, tem só ocê não e eu não fui eleito pra ficar sustentando vagabundo. Raspa fora. Chispa!"

          Será que algum dia ele vai  receber dignidade (Rendimento Garantido) junto com arroz e feijão na cesta básica da cidadania brasileira? Ou vamos deixar assim mesmo que osso não se larga, se não vem cachorro e leva?

          Neste exato intervalo, nos mais de 4.000 municípios, nestes 8 e meio milhões de quilômetros quadrados, quantos vereadores, prefeitos  e deputados, estaduais ou federais, estarão meditando (Dólar, RDB, Fundão ou Ilhas Caimã?) sobre a ética dentro ou fora da política ?

          Ou será que a maioria estará dizendo que isso tem de acabar (Empréstimo Sem Limite) mas aproveitando o intervalo comercial para receber o empreiteiro em audiência reservada (Cliente Especial, Cinco Estrelas), portador de singela contribuição sem recibo (Aplicações ao Portador) para os fundos de futura campanha? "Aquela concorrência? O amigo não tem com o que se preocupar" (Nosso Gerente Faz Tudo Por Você).

          Enquanto isso, aproveito o lembrete de nossos patrocinadores e vou ao banco, muito pê da vida, é míster que se diga, pagar o imposto, parcela de minha parca renda que, vadia,  se prostitui nas galerias do orçamento. Mas volto logo pra não perder o próximo programa com mais dicas de loteria, orações e simpatias infalíveis que me farão  merecedor da ajuda divina. E eles bem podiam passar de novo o VT do trecho em que um deles diz que "o Deputado foi à minha casa, me entregou o cheque e disse: taí o que eu lhe devo". É que eu  perdi alguma coisa e não entendi direito esse pedaço.

 

Plim, plim.

 

19/11/93