EXTRATO DE: ADMINISTRAÇÃO EM TEMPOS TURBULENTOS

 

TÍTULO DO ORIGINAL: MANAGING IN TURBULENT TIMES

AUTOR: PETER FAZER. DRUCKER

EDITADO EM:    1980                  POR: LIVRARIA PIONEIRA EDITORA

 

GLOSSÁRIO

TRADE - comércio, negócio.

TRADE MARK - marca de comércio. Trademark significa marca registrada

TRADE OFF -

 

Uma época turbulenta é uma época perigosa. E dentre todos os seus perigos, o maior é a tentação de se negar a realidade. (...) A maior e mais perigosa turbulência contemporânea resula da colisão entre as realidades e as ilusões dos tomadores de decisões, seja no governo, nas administrações de cúpula das empresas ou na liderança sindical.

 

O custo mínimo de se manter em atividade é, portanto, o custo do capital. (....) Numa economia de mercado os custos de se manter em atividade nunca podem ser inferiores aos custos do capital.  (....) O custo do capital é sempre o custo mínimo de se manter em atividade. (....) Esconder que custos genuínos, os custos de se manter em atividade, não estão sendo cobertos pelas receitas, constitui fraude. Receber "gratificações" baseadas num lucro inexistente constitui desfalque puro e simples.

A atividade econômica pode ser definida como o comprometimento de recursos certos e já existentes  o milho para semear  à expectativa futura de uma colheita.

O progresso econômico depende, portanto, da capacidade de uma economia formar capital, ou seja, de gerar um excedente da produto corrente capaz de cobrir os custos do passado e do presente.

(....) o crescimento explosivo dos seguros privados de saúde revela o fracasso essencial do órgão público.

 

Se não enfrentar desafios, toda organização tende a se tornar indolente, difusa e negligente. (....) Só a concentração de esforços pode gerar resultados.

 

Os tempos turbulentos exigem que uma empresa abandone sistematicamente o passado.

Toda empresa precisa, portanto, de uma política sistemática de descarte sempre, mas, ainda mais, em épocas turbulentas. Todo produto, todo serviço  interno ou externo , todo processo, toda atividade precisa ser avaliada periodicamente perguntado-se: "Se já não estivéssemos envolvidos com isso, iríamos hoje nos envolver conhecendo o que agora conhecemos?" (....) O momento de fazer esta pergunta e de agir sobre sua resposta não é quando a instituição enfrenta dificuldades; é quando ela está sendo bem sucedida.

O hospital considera "impensável" o fato de que seus esforços para melhorar as condições do parto atingiram a tal ponto o objetivo que a maternidade já não pertence mais a um hospital para doentes.

 

Pouquíssimas empresas [pessoas] estão dispostas a descartar  o passado.

 

Em períodos de turbulência, toda empresa precisa administrar o crescimento.

O que nos impressiona ao atravessarmos os vilarejos indianos não são a pobreza, a miséria e a doença milenares. São as bicicletas novas em folha estacionadas do lado de fora de cada choupana esquálida; são os rádios transístores que, ligados no máximo volume, pode ser ouvidos em cada carro de boi, em cada carroça puxada a camelo, em cada howdah de elefante que passa; (....)

É possível prever com grande certeza que nos próximos vinte ou vinte e cinco anos [ou seja, por volta de 2000/2005] a grande maioria do que nós hoje chamamos de jornais e revistas será transmitida eletronicamente, através de uma impressora formada por um telefone ou um televisor [ou um computador].

É preciso haver uma estratégia de inovação que as permita identificar as oportunidades e assumir a liderança.

"Inovação" não é "pesquisa; "pesquisa" é apenas um instrumento de inovação.

As empresas bem estabelecidas só serão bem sucedidas nos próximos anos, se instituírem a inovação como um negócio importante e à parte (....).

 

O planejamento visa otimizar amanhã as tendências do presente; a estratégia visa explorar as oportunidades novas e diferentes do futuro.

Toda instituição deve perguntar o que elas consideram "valor".

A estratégia que procura combinar a liderança e a especificação quase nunca funciona. Cada uma exige um comportamento diferente, oferece recompensas diferentes e é adequada a temperamentos diferentes (....).

[O consenso é negação da liderança. (Margareth Thatcher)]

A maioria das empresas acredita que é possível ser líder em todos os setores. (....) Só se é recompensado pelos pontos positivos; nunca uma deficiência merece retribuição. A pergunta a se fazer é: "Quais são nossas qualidades específicas?" E depois: "São as qualidades corretas? São as qualidades exigidas pelas oportunidades do futuro? OU são qualidades pertinentes apenas ao passado? (....) E finalmente pergunta-se: "Quais as novas qualidades que precisamos adquirir?

Diversificar cedo demais, quando o produto ou linha de produtos ainda estão certos, é colocar em risco a liderança; esperar demais para diversificar é colocar em risco a sobrevivência.

 

A produção partilhada [no modismo atual, global sourcing] irá se tornar a forma mais importante de integração econômica  fundamental tanto aos países desenvolvidos como aos em desenvolvimento. Num esquema de produto partilhada, os recursos específicos das nações  em desenvolvimento  sua mão-de-obra abundante para os serviços tradicionais  reúnem-se aos recursos específicos do mundo desenvolvido: capacidade administrativa, tecnologia, pessoas de alto nível de instrução, mercados e poder aquisitivo.

Os calçados masculinos vendidos nos EUA geralmente começaram com o couro de uma vaca americana. Mas, via de regra, o couro não é curtido nos EUA e sim enviado a um outro país como o Brasil. O curtimento é um trabalho de mão-de-obra intensiva para o qual não existem trabalhadores em número suficiente disponíveis nos EUA. O couro é a seguir enviado  talvez através do intermediário de uma trading company japonesa  para as Caraíbas. Uma parte poderá então ser transformada em gápeas nas Ilhas Virgens britânicas, e a outra em solas no Haiti. As duas partes do sapato são a seguir enviadas para Barbados ou Jamaica, países cujos produtos têm acesso ao mercado comum europeu, ou para Porto Rico, onde são transformadas num produto acabado que entra nos EUA sob a proteção tarifária americana. Qual é a origem destes calçados?

O nível de renda e possivelmente o estilo de vida estão se tornando cada vez mais fatores restritivos de compra, e não sua motivação. A segmentação da população está se transformando na força motriz do mercado consumidor  a despeito da inflação. A popularidade do hábito de comer fora está diretamente relacionada ao crescente número de mulheres casadas que trabalham, pois para elas o tempo é muito mais escasso que o dinheiro. Está também relacionada ao aumento da proporção de pessoas idosas na população adulta, para as quais comer fora é o meio fácil de romper seu confinamento e "ficar por dentro dos acontecimentos".

[É preciso ter percepção para os valores individuais de cada um de modo a se poder oferecer algo com relativo sucesso de aceitação.]

O excepcional sucesso do Cadillac Seville, um carro de luxo cujo preço varia entre quinze e vinte mil dólares, deu-se entre o choque petrolífero da OPEP e 1979. O carro fora projetado para o profissional bem sucedido que deseja luxo, um carro grande com um grande nome e também "economia" e um consumo de gasolina um pouco menor. E até o pânico da gasolina em 1979 o Seville vendeu melhor do que a General Motors previra. Mas seus principais compradores eram mulheres com renda própria e não o homem profissional para o qual fora idealizado.

Cada mercado comprará produtos diferentes. Mas, acima de tudo, cada mercado comprará valores diferentes e de modo diferente. E não se sabe ainda se uma mesma abordagem mercadológica será capaz de atingir mais do que um destes grupos, nem em quais combinações destes ela será eficaz.

 

A sociedade e a economia simplesmente não podem sustentar o número de indivíduos que terá de ser sustentado.

Em 1935 havia nos EUA onze pessoas trabalhando para cada indivíduo com mais de sessenta e cinco anos de idade. Hoje a razão é de três para cada um;  será de quase dois para um em 1990. (....) A menos que ampliemos a vida útil de trabalho de alguma forma, estaremos incorporando pressões inflacionárias crescentes nas economias de todas as nações desenvolvidas. As pessoas idosas tendem a consumir mais e poupar menos.

(....) a idade na qual se pode esperar que as pessoas deixem de trabalhar, deverá ser aproximadamente setenta e dois anos em 1995, e não os convencionais sessenta e cinco anos (....). [Paul Newman, aos 70 anos, fez parte de uma equipe nas 24 horas de Daytona. Ficou em terceiro lugar.]

(....) a proporção de pessoas idosas oficialmente aposentadas que trabalham no mínimo meio período vai aumentando constantemente.

As empresas ainda tendem a manter um administrador ou profissional confinado numa área até mortificá-lo pelo tédio. Não que ele tenha se tornado imprestável; mas precisa mudar de ambiente e enfrentar novos desafios. Precisa, em outras palavras, ser replantado numa segunda carreira, num novo cenário com novos colegas.

A empresa japonesa transfere seu pessoal administrativo de um cargo funcional para outro sem levar em grande consideração suas experiências anteriores e seu treinamento formal. Não hesita em colocar um gerente de vendas na contabilidade ou um gerente de engenharia na seção de pessoal.

É o administrador que deve assegurar que os profissionais prestem contas, que formulem os padrões, que estabeleçam metas. E é o administrador que deve  julgar rigorosamente seu desempenho de acordo com essas metas e esses padrões.

O governo indiano tentou neste últimos anos proibir o uso dos fusos mecânicos  e até mesmo a roda de fiar equipada com pedais de bicicleta que um indiano engenhoso inventara, e que triplica a produção de fio do operador, está oficialmente proibida. O único resultado, evidentemente, foi o surgimento de um efervescente mercado negro para fusos mecânicos dominado por pequenos empresários com os contatos certos no governo, e de um comércio igualmente paralegal de pedais de bicicleta adquiridos oficialmente como "substituição". Não obstante, persiste a atitude governamental, que me foi assim resumida por um dos economistas mais influentes do governo: "O grande erro cometido por Ghandi foi defender o uso da roda de fiar; ela é excessivamente produtiva. Nós devemos voltar à roca que é capaz de criar um número maior de empregos".

A tecnologia mais adequada (....) é aquela que torna os recursos disponíveis mais produtivos; e que então cria o maior número de empregos.

Os países desenvolvidos terão que aprender que "satisfazer as necessidades de emprego" significa, cada vez mais, criar empregos produtivos para o trabalhador intelectual, a pessoa com alto grau de instrução que aplica seus conhecimentos ao trabalho.

 

Todos os países desenvolvidos necessitam ir além do seguro-desemprego e do emprego vitalício. (....) Tornou-se necessário um  comprometimento da administração para com a criação de empregos vitalícios na economia, isto é, um compromisso que proteja o trabalhador do desemprego gerado por mudanças estruturais na economia ou na tecnologia mas que ao mesmo tempo proteja, e incentive, a capacidade da economia se modificar estruturalmente, de adaptar-se e de inovar.

O que cria resistência às mudanças tecnológicas ou estruturais é o medo: medo do desconhecido, medo de sentir-se perdido, medo de ficar sozinho, medo de tornar-se um pária.

Há uma terceira abordagem, cada vez mais popular (....) : tornar o desemprego tão dispendioso que ele acaba sendo reduzido ou eliminado.

Despedir um empregado com mais de dez anos de casa na Bélgica requer um pagamento de dissociação que na realidade equivale a pagar seu salário integral durante o resto de sua vida. Isto de fato impede a dispensa de empregados. Porém, para cada emprego salvo há duas ou três pessoas que não estão sendo contratadas. Ninguém na Bélgica abre um negócio. Alguns empresários que conheço precisam de vinte por cento mais empregados mas preferem não contratar ninguém (....) criando o próprio mal que o sistema fora idealizado para mitigar ou suprimir.

[A menos que as pessoas possam ser libertadas do medo de perder o que têm, elas irão resistir e se opor a qualquer mudança.]

Mas é preciso oferecer-lhe esta segurança de maneira a incentivar e não coibir as mudanças estruturais, de maneira a gerar mobilidade e não impedi-la.

Na realidade, este problema já foi resolvido de maneira simples e eficaz. Após a guerra russo-japonesa de 1906, quando a recém-criada indústria manufatureira do Japão enfrentou sua primeira depressão, o presidente do grupo Mitsui exigiu que todas as suas empresas informassem imediatamente o escritório central sobre dispensas iminentes de funcionários e sobre quaisquer necessidades de contratação. O escritório central procuraria então colocar os empregados dispensados de uma empresa nas vagas abertas em outra. O novo empregador pagaria ao funcionário um salário inicial. O antigo empregador pagaria a ele a diferença entre o salário que considerava seu tempo de casa no grupo Mitsui e seu salário de novato na nova firma. E ambos os empregadores dividiriam os custos de retreinar e de recolocar o empregado e sua família.

Um dos principais desafios aos administradores das economias de livre-mercado e das economias estatais será antecipar o desemprego, preparar o cenário para ele, retreinar as pessoas e encontrar novas posições para elas.

[Plano de capitalização para jornadas.]

 

Os empregados, através dos seus fundos de pensão tornaram-se os únicos "capitalistas",  os principais proprietários das maiores empresas. (....) enquanto no passado "empregado" significava "proletário", o termo hoje denota cada vez mais uma classe média profissional e altamente instruída. Significa muito mais "trabalhador intelectual" do que "trabalhador manual".

 

A remuneração dos autônomos, sejam médicos ou donos de pequenos armazéns, não é "lucro" e certamente não é "retorno sobre o capital", mas sim remuneração pelos serviços prestados. E até mesmo a maior parte dos lucros das empresas americanas representa renda dos empregados, isto é, salários diferidos, pois destinam-se cada vez mais aos fundos de aposentadoria dos funcionários, diretamente ou sob a forma de dividendos dos títulos que estes possuem (....).

Segundo a velha definição marxista, "explorador" é agência que recebe uma renda sem trabalho por ela e às custas das "massas trabalhadoras". Nos países desenvolvidos, os únicos grupos aos quais esta definição se enquadra são hoje os "desprivilegiados":  os que não trabalham e que são oficialmente "pobres", sendo mantidos às custas dos trabalhadores. Nos EUA, onde os "pagamentos transferidos" talvez ainda sejam menores que na Europa ocidental, uma família "desprivilegiada" recebe em "pagamentos transferidos" uma renda maior que a obtida por uma família operária média através do trabalho. Os pagamentos dos programa de welfare (bem-estar social) e de seguridade social não sofrem deduções fiscais e há uma significativa renda não-monetária sob a forma de cupons subvencionados que dão direito à compra de comida, subsídios a aluguéis ou assistência médica que não é considerada "renda" pelas cifras oficiais. Como resultado, os recebedores de pagamentos transferidos têm uma renda equivalente a uma renda bruta anual de dez a onze mil dólares! Isto é mais do que uma família operária ganha, a menos que mais de um membro trabalhe. Nos termos marxistas tradicionais, os recebedores de pagamentos transferidos podem perfeitamente ser chamados de "exploradores"  embora imagino que ninguém os chamaria de "capitalistas".

Na medida em que um "capitalista" é o dono dos meios de produto  novamente a definição marxista clássica , os únicos "capitalistas" são os empregados da nação.  (....) Através dos fundos de pensão, os empregados das empresas americanas possuem quase um terço do capital acionário das sociedades anônimas dos EUA, ou seja, de todas as grandes companhias do país [Atenção: este é um dado de 1980!!!]

[Capitalismo socializante.]

A economia moderna tornou obsoleto o "capitalista"  devido ao seu próprio progresso como economia "capitalista": o capital necessário aos investimentos tornou-se tão vultoso que é virtualmente impossível um único homem rico ou grupo de homens ricos fornecê-los.

O maior bem de qualquer empregado americano com mais de 45 anos de idade, seja ele faxineiro ou vice-presidente executivo, é provavelmente sua apólice do fundo de pensão. Mas ele não pode vendê-la, hipotecá-la, usá-la como garantia de empréstimos ou legá-la; e o seu valor preciso só é determinável com a morte do beneficiado, ou seja, só depois da apólice deixar de existir. Individualmente, não é "propriedade", embora seja certamente um "valor".

A esmagadora maioria das pessoas com educação superior começam a trabalhar como "empregados" e continuarão "empregados" pelos restos de suas vidas. [Há muito pouco tempo] as pessoas de boa instrução não deveriam trabalhar como empregados. Trabalhavam por conta própria como "profissionais liberais". (....) Hoje em dia, são basicamente as pessoas de instrução limitada que trabalham por conta própria  encanadores, eletricistas, pequenos artesão, donos de lojinhas.

Nossos profissionais institucionais sentem uma necessidade forte de se identificarem com sua instituição; mas, igualmente forte, sentem a necessidade de afirmarem sua independência dela. Esta ambivalência explica o fato de não serem nem "conservadores", em termos tradicionais, nem "liberais". Explica por que se identificam com as causas que protestam contra a sociedade institucionalizada  defesa do meio ambiente ou protesto contra a excessiva interferência governamental  ao mesmo tempo em que se identificam com o desenvolvimento econômico, os bens materiais, a boa vida e, sobretudo, o enriquecimento individual.

São confusos porque sua situação é confusa e geradora de confusão. São os únicos capitalistas existentes, os  únicos "especialistas" existentes, os únicos que possuem os conhecimentos dominantes; e, todavia, é um conhecimento sem responsabilidade, uma função sem posição social.

 

O poder provém da propriedade. O poder político tem que estar alinhado com o poder econômico e vice-versa.

 

Os empregados possuem a propriedade; são eles os "capitalistas". E, contudo, não sabem disso, não estão integrados ao exercício do poder e não são responsabilizados como donos. O empregado de hoje tem sua renda garantida. Possui poder na sociedade política, mas carece de poder em sua próprio instituição. Exerce uma função, mas carece de posição social. Falta-lhe, em resumo, responsabilidade.

Em 1940, um dos primeiros autores sobre administração, James Burnham, declarou que na sociedade moderna o poder proviria da função, e não da propriedade ou da anuência dos governados.

A administração profissional (....) deixou de se fundamentar no poder econômico  isto é, nos proprietários capitalistas  e ainda não se fundamentou em coisa alguma até o presente.

(....) a co-gestão normalmente não passa de uma tentativa fútil de disfarçar a realidade da impotência do empregado através de manipulação psicológica.

O ESOP (Employe Stock Ownership Plan - plano para os empregados possuírem ações) pressupõe que todas as empresas, ou no mínimo a grande maioria, são bem sucedidas e lucrativas o tempo todo. Mas durante o intervalo de tempo no qual um ESOP deve produzir resultados, isto é, durante a vida de trabalho de um empregado, a maior parte das empresas atravessa períodos de grandes dificuldades e prejuízos substanciais. É inclusive provável que a maioria simplesmente desapareça num intervalo de trinta anos. (....) Muito antes disso os empregados terão percebido que o plano foi usado para financiar o "patrão" às suas custas. Assim que uma empresa atravessar um período mesmo curto de dificuldade econômica  e a probabilidade disso acontecer a qualquer firma num espaço de tempo de cinco anos é cerca de oitenta por cento (....). Além do mais, possuir ações da próprio empresa onde trabalha acorrenta o empregado à firma. Impede a mobilidade  e numa época de rápidas transformações sociais, tecnológicas e econômicas isto é particularmente indesejável, chegando a ser, inclusive, anti-social. (....) Finalmente, o ESOP corrobora para a paralisia econômica, pois gera um tremendo interesse social na manutenção do passado.  (....) Mas a objeção fundamental ao ESOP é que irá criar, na maioria dos casos, desilusão, hostilidade e prejuízos financeiros pelo fato de violar as normas mais elementares de prudência financeira.

Num outro extremo temos a proposta que vem sendo considerada nos países escandinavos: criar um único fundo nacional de ações a ser financiado pelos lucros de todas as empresas da nação e que investirá em todas elas. Todos os empregados do país seriam donos beneficiários de aposentadoria. Se, em última análise, o ESOP beneficia principalmente as empresas  e mais ainda as empresas pouco sólidas  que utilizam as economias de seus funcionários para obterem um financiamento que de outra forma não conseguiriam, o fundo nacional de ações beneficiará basicamente os dirigentes sindicais que planejam controlá-lo e dirigi-lo e, através dele, controlar e dirigir a economia de seus países.  Sob todos os outros aspectos, o fundo nacional deverá ser um fracasso monstruoso. Nunca poderia vender uma ação, nunca poderia se retirar de um  investimento e ficaria amarrado aos negócios e às empresas do passado, privando os negócios e as empresas do futuro de acesso ao capital que necessitam. O fundo nacional, se vier a ser criado, condenará os países escandinavos a um declínio econômico inexorável: além de não poderem abandonar as empresas e tecnologias obsoletas, não conseguiriam financiar e criar novas empresas e tecnologias.

 

Neste século e principalmente nos trinta anos desde o término da Segunda Guerra, a sociedade tornou-se uma sociedade de instituições. Cento e cinquenta anos atrás, todas as tarefas sociais eram realizadas dentro e através da família, ou então simplesmente não eram realizadas. Cuidar dos doentes, cuidar dos velhos, educar as crianças, distribuir a renda e até conseguir empregos; (....) Hoje em dia todas as tarefas são levadas a cabo dentro e através de uma instituição organizada para perpetuidade e dependente da liderança e direção dada pelos administradores por meio de uma estrutura formal.

Numa sociedade pluralista, todas as instituições são necessariamente instituições políticas; atrás de todas elas há um sem-número de partes interessadas; todas têm que atuar de modo a não ser rejeitadas por grupos da sociedade capazes de vetá-las ou bloqueá-las. Os administradores de todas as instituições terão, portanto, que aprender a raciocinar politicamente dentro de uma sociedade pluralista.

Em uma instituição com uma única finalidade, a regra básica para a tomada de decisões é a "otimização", isto é, encontrar o equilíbrio mais favorável entre esforços e riscos de um lado, e resultados e oportunidades de outro. A "maximização", esta famosa abstração dos economistas teóricos, não faz sentido e não é aplicável em,, nenhuma instituição.

Num  processo político não se busca o "ótimo";  busca-se o "suficiente".

Herbert Simon, um cientista da administração, americano, propôs no final da década de 40, que os administradores, na maioria de suas decisões, não "maximizam" nem "otimizam": buscam apenas o "suficiente". Buscam encontrar a solução que produzirá os resultados mínimos aceitáveis, nunca os resultados melhores e muito menos os resultados máximos. E esta é, de fato, a regra que se segue num universo político. (....) Não é à toa que a política é conhecida como a "arte do possível" e não a arte do desejável.

À medida em que todas as instituições vão se tornando politizadas numa sociedade pluralista de organizações, os administradores precisarão cada vez mais analisar primeiramente as necessidades e expectativas dos seus grupos de interesses.

As tentativas de inúmeras companhias americanas de tornarem-se "socialmente responsáveis" e contribuírem para a solução de problemas sociais e urbanos na melhor das hipóteses não causaram grandes danos; são poucos os casos onde realmente resultaram em algum bem.

Nada é menos responsável do que boas intenções sem a competência necessária.

A atual sociedade pós-industrial é uma sociedade pluralista que precisa exigir que suas instituições assumam responsabilidades alheias às suas missões específicas.

Os administradores, portanto, devem analisar a fundo o que podem e não podem fazer. As regras são simples; mas sua aplicação é difícil.

 

A administração é o órgão das instituições, o órgão que transforma uma turba numa organização, que converte esforços humanos em desempenho.

Na realidade, porém, a analogia mais correta para o trabalho da alta administração será cada vez mais o pequeno conjunto de câmara, o quarteto de cordas, onde cada instrumentista é igual a todos os outros embora haja sempre um "líder".