ANOTAÇÕES DE:

A ARTE DA GUERRA

 

TÍTULO DO ORIGINAL: THE ART OR WAR

AUTOR: SUN TZU

EDITORA: RECORD - 1983

 

 

PREFÁCIO

 

(...) as verdades de Sun Tzu, publicadas aqui, podem mostrar o caminho da vitória em todas as espécies de conflitos comerciais comuns, batalhas em salas de diretoria e na luta diária pela sobrevivência, que todos enfrentamos ¾  mesmo na guerra dos sexos! São todas formas de guerra, todas combatem sob as mesmas regras ¾  suas regras.

 

Infelizmente pouco se sabe do autor ou de quando escreveu os 13 capítulos. Alguns o situam mais ou menos em 500 a.C., no Reino de Wu, outros em 300 a.C.

Em 100 a.C., aproximadamente, um dos seus comentadores, Su-ma Ch'ien, forneceu esta biografia:

 

Sun Tzu, cujo nome individual era WU, nasceu no Estado Ch'i. Sua Arte da Guerra chamou a atenção do Ho Lu, Rei de Wu. Ho Lu disse-lhe: "Li atentamente seus 13 capítulos. Posso submeter sua teoria de dirigir soldados a uma pequena prova? "

            Sun Tzu respondeu: "Pode".

            O rei perguntou: "A prova pode ser feita em mulheres?"

            A resposta tornou a ser afirmativa e então trouxeram 180 senhoras do palácio. Sun Tzu dividiu-as em duas companhias e colocou duas das concubinas favoritas do rei na direção de cada uma delas. Depois, mandou que doas pegassem lanças e falou-lhes assim: "Suponho que saibam a diferença entre frente e costas, mão direita e esquerda? "

            As mulheres responderam: "Sim".

            Sun Tzu prosseguiu: "Quando eu disser "Sentido", têm de olhar diretamente para a frente. Quando eu disser "Esquerda volver", têm de virar para sua mão esquerda. Quando eu disser "Direita volver", vocês têm de virar-se de costas".

            As moças tornaram a concordar. Tendo explicado as palavras de comando, ele colocou as alabardas e achas-d'armas em forma, para começar a manobra. Então, ao som dos tambores, deu a ordem "Direita volver", mas  as moças apenas caíram na risada.

            Sun Tzu disse, paciente: "Se as ordens de comando não foram bastante claras, se não foram  totalmente compreendidas, então a culpa é do general". Assim, recomeçou a manobra e, desta vez, deu a ordem "Esquerda volver", ao que as moças quase arrebentaram de tanto rir.

            Então ele disse: "Se as ordem de comando não forem claras e precisas. se não forem inteiramente compreendidas, a culpa é do general. Porém, se as ordens são claras e os soldados, apesar disso, desobedecem, então a culpa é dos seus oficiais". Dito isso, ordenou que as comandantes das duas companhias fossem decapitadas.

            Ora, o Rei Wu estava olhando do alto de um pavilhão elevado e quando viu sua concubina predileta a ponto de ser executada, ficou muito assustado e mandou imediatamente a seguinte mensagem: "Estamos neste momento muito contentes com a capacidade do nosso general de dirigir as tropas. Se formo privados dessas duas concubinas, nossa comida e bebida perderão o sabor. É nosso desejo que elas não sejam decapitadas."

            Sun Tzu retrucou, ainda mais paciente: "Tendo recebido anteriormente de Vossa Majestade a missão de ser o general de suas forças, há certas ordens de Vossa Majestade que, em virtude daquela função, não posso aceitar". Conseqüentemente e imediatamente mandou decapitar as duas comandantes, colocando prontamente, em seu lugar, as duas seguintes. Isso feito, o tambor tocou mais uma vez para novo exercício. As moças executaram todas as ordens, virando para a direita ou esquerda, marchando em frente, fazendo meia-volta, ajoelhando-se ou parando, com precisão e rapidez perfeitas, não se arriscando a emitir um som.

            Então, Sun Tzu enviou uma mensagem ao rei dizendo: "Os soldados, senhor, estão agora devidamente disciplinados e treinados, prontos para a inspeção de Vossa Majestade. Podem ser utilizados como seu soberano o desejar. Mande-os atravessar fogo e água e agora não desobedecerão. " Mas o rei retrucou: "Que o general para o exercício e volte ao acampamento. Quanto a nós, não desejamos descer e passar os soldados em revista."

            Respondendo, Sun Tzu disse, calmo: "O rei apenas gosta muito de palavras, e não sabe transformá-las em atos."

            Depois disso, o Rei de Wu viu que Sun Tzu sabia como comandar um exército e nomeou-o general. A oeste, Sun Tzu derrotou o Estado de Ch'u  e abriu caminho para Ying, a capital; ao norte, aterrorizou os Estados de Ch'i e Chin, e estendeu sua fama até os príncipes feudais. E Sun Tzu partilhou o poder do reino.

 

[JAMES CLAVELL, autor do prefácio, termina assim:]

 

Acredito firmemente que o conhecimento de Sun Tzu é vital para a nossa sobrevivência. Esse conhecimento pode dar-nos a proteção de que necessitamos para que nossos filhos cresçam em paz e com prosperidade.

Nunca devemos esquecer que, desde a antigüidade, sabia-se muito bem que... "o verdadeiro objetivo da guerra é a paz".

 

 

 

 

I - PREPARAÇÃO DOS PLANOS

 

A arte da guerra é governada por 5 fatores constantes, que devem ser levados em conta. São: a Lei Moral; o Céu; a Terra; o Chefe; o Método e a Disciplina.

 

O Chefe representa as virtudes da sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e retidão.

 

II - GUERRA EFETIVA

 

Um general capaz não faz um segundo recrutamento nem carrega mais de duas vezes seus vagões de suprimentos. Uma vez declarada a guerra, não perderá um tempo precioso esperando reforços, nem voltará com seus exército à procura de suprimentos frescos, mas atravessará a fronteira inimiga sem demora. O valor do tempo  ¾  isto é, estar ligeiramente adiante do adversário ¾  vale mais que a superioridade numérica ou os cálculos mais perfeitos com relação ao abastecimento.

 

Por outro lado, a proximidade de um exército provoca uma subida nos preços e preços altos sugam os bens do povo. Quando isso acontece, ele sofre pesados tributos. Com essa perda de recursos e exaustão de forças, os lares ficarão vazios e suas rendas dissipadas; ao mesmo tempo, as despesas do governo com carros quebrados, cavalos abatidos, peitorais e capacetes, arcos e flechas, lanças e escudos, manteletes protetores, animais de tiro e carroças pesadas, atingirão quase a metade da arrecadação total.

 

(...) quando se captura bens do inimigo, esses bens devem ser usados como prêmios, de forma a que todos os soldados tenham um forte desejo de lutar, cada um por sua conta.

 

III - A ESPADA EMBAINHADA

 

A regra na guerra é esta: se suas forças estão na proporção de dez para um em relação ao inimigo, faça-o render-se; se forem de cinco para um, ataque-o; se duas vezes mais numerosas, divida seu exército em dois: um para atacar o inimigo pela frente e outro pela retaguarda; se ele responder ao ataque frontal, pode ser esmagado pela retaguarda; se responder ao da retaguarda, pode ser esmagado pela frente.

Se está em igualdade de condições poderá enfrentá-lo; se ligeiramente inferior em inúmero, poderá evitá-lo; se inferior em todos os aspectos, poderá fugir dele. Embora um combate obstinado possa ser dado por uma força pequena, esta acaba por ser capturada pela força superior.

 

Humanidade e justiça são os princípios com os quais se governa o Estado, mas não o exército; oportunismo e flexibilidade, por outro lado, são virtudes militares em vez de civis.

 

Um hábil empregador de homens usará o prudente, o bravo, o cobiçoso e o burro. Pois o prudente terá prazer em aplicar seu mérito; o bravo sua coragem em ação; o cobiçoso é rápido em tirar vantagens e o burro não teme a morte.

 

(...) precisamos saber que há 5 coisas fundamentais para a vitória:

            será vencedor quem souber quando lutar e quando não lutar;

            será vencedor quem souber como manobrar tanto as forças superiores como as inferiores;

            será vencedor aquele cujo exército estiver animado do mesmo espírito em todos os postos;

            será vencedor quem, autopreparado, espera para surpreender o inimigo despreparado;

e

            será vencedor quem tiver capacidade militar e não sofrer a interferência do soberano.

 

Se conhecemos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado uma centena de combates/ Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas.

 

IV - TÁTICAS

 

O guerreiro vence os combates não cometendo erros. Não cometer erros é o que dá a certeza da vitória, pois significa conquistar um inimigo já derrotado.

Por isso, o guerreiro hábil coloca-se numa posição que torna a derrota impossível e não perde a ocasião de aniquilar o inimigo.

 

V - ENERGIA

 

O guerreiro inteligente procura o efeito da energia combinada e não exige muito dos indivíduos. Leva em conta o talento de cada um e utiliza cada homem de acordo com sua capacidade. Não exige perfeição dos sem talento.

 

VI - PONTOS FRACOS E FORTES

 

Para que o impacto do seu exército possa ser semelhante a uma pedra de moinho chocando-se com um ovo, utilize a ciência dos pontos fracos e fortes.

 

Compare meticulosamente o exército adversário com o seu, de forma a saber onde a força é superabundante e onde é deficiente.

Ao preparar arranjos táticos, o melhor a fazer é ocultá-los; oculte seus arranjos e  estará a salvo da curiosidade d espiões hábeis e das maquinações dos cérebros mais cultos.

 

VII - MANOBRAS

 

Sem harmonia no Estado, nenhuma expedição militar pode ser garantida; sem harmonia no exército, não pode haver formação de batalha.

 

Deixe seus planos ficarem secretos e impenetráveis como a noite e, quando atacar, caia como um relâmpago. Quando saquear uma região, deixe o produto ser dividido entre seus soldados; quando capturar um novo território, divida-o em lotes em benefício da soldadesca.

 

Tu Mu conta uma história relacionada com Wu Ch'in, aproximadamente no ano 200 a. C. Antes que a batalha começasse, um dos seus soldados, um homem de audácia inigualável, atacou repentinamente sem ordem, voltando com duas cabeças inimigas. Wu Ch'i mandou imediatamente executar o homem, só que um oficial ousou protestar, dizendo: "Este homem era um bom soldado e não merecia ser decapitado". Wu Ch'i responde:

 "Acredito realmente em que ele era um bom soldado, porém, mandei decapitá-lo porque agiu sem ordens".

 

Esta é a arte de manobrar grandes massas humanas.

 

Quando cercar um exército deixe uma saída livre. Isso não significa que permita ao inimigo fugir. O objetivo é fazê-lo acreditar que é um caminho para a segurança, evitando que lute com a coragem do desespero. Pois não se deve pressionar demais um inimigo desesperado.

 

VIII - VARIAÇÃO DE TÁTICAS

 

Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde cruzam-se boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar.

 

Chia Lin acrescenta a esta seção várias maneiras de infligir este dano: "Induza os melhores e mais sábios homens do inimigo a se afastar, a fim de que ele fique sem conselheiro. Introduza traidores no seu país, para que a política governamental possa se tornar ineficiente. Somente a intriga e a falsidade, provocando a dissensão entre o governante e seus ministros. Usando qualquer plano ardiloso, provoque a dissensão entre seus homens e esgote seus tesouro. Corrompa o moral com ofertas insidiosas levando-o ao desregramento. Perturbe e debilite sua mente, presenteando-o com mulheres encantadoras".

 

A arte da guerra nos ensina a não confiar na probabilidade de o inimigo não vir, mas na nossa presteza em recebê-lo; não na chance de ele não atacar, mas em vez disso, no fato de que tornamos nossa posição invulnerável.

 

IX - O EXÉRCITO EM MARCHA

 

(...) os soldados devem ser tratados em primeiro lugar com humanidade, porém, mantidos sob controle, mediante uma rígida disciplina. Este é um caminho certo para a vitória.

 

Yen Tzu (493 a.C.) disse sobre Ssu-ma Jang-chu: "Suas virtudes civis o tornaram benquisto pelo povo; seus feitos marciais mantiveram o inimigo em pânico. O comandante ideal reúne cultura e temperamento bélico; a profissão das armas exige uma combinação de dureza e suavidade".

[Che Guevara deve ter lido este livro pois é dele a seguinte formulação: Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás.]

 

A arte de dar ordens não é procurar retificar pequenos erros nem ser dominado por pequenas dúvidas. A vacilação e a meticulosidade exagerada são os meios mais eficazes de  solapar a confiança de um exército.

 

 

X - TERRENO

 

XI - AS NOVE SITUAÇÕES

 

XII - ATAQUE PELO FOGO

 

Enquanto Pan Ch'ao ainda estava em Shan-shan, disposto a acabar com o extremo perigo causado pela chegada de Hsiung-nu, enviado dos bárbaros nortistas, exclamou para seus oficiais: "Não arriscando, não se vence! Só pegamos os filhotes entrando no covil do tigre.

 

Triste é o destino de quem tenta vencer as batalhas e ter sucesso nos ataques sem cultivar o espírito de iniciativa, pois o resultado é perda de tempo e paralisação geral. O governante esclarecido situa seus planos muito à frente.

 

XIII - O EMPREGO DE ESPIÕES

 

O conhecimento das disposições do inimigo só pode ser conseguido de outros homens. O conhecimento do espírito do mundo tem de ser obtido por adivinhação; a informação sobre a ciência natural deve ser procurada pelo raciocínio intuitivo; as leis do universo podem ser comprovadas pelo cálculo matemático; mas as disposições do inimigo só são averiguadas por espiões e apenas por eles.

 

Chama-se a isso "a manipulação divina dos fios".