ANOTAÇÕES DE

CABEÇA A CABEÇA

A batalha econômica entre Japão, Europa e Estados Unidos

 

Autor: Lester Thurow

 

 

CAPÍTULO 2 - UM NOVO JOGO ECONÔMICO

 

Em termos práticos, os recursos naturais não fazerm mais parte da equação competitiva. Possuí-los não é condição para ficar rico. Não tê-los não é impedimento para deixar de ficar. O Japão não os possui e é rico; a Argentina os tem e não é rica.  (....) Os últimos controles de capital do pós-Segunda Guerra Mundial estão sendo abolidos (a Itália os eliminou no início de 90), mas mesmo os que ainda estão em vigor têm pouco impacto. As transações serão processadas eletronicamente, sendo o dinheiro remetido para algum lugar do globo onde não vigorem as normas infringidas. (....) Pense no que se acredita comumente serem as sete indústrias-chave das próximas décadas - microeletrônica, biotecnologia, as novas indústrias de materiais, aviação civil, telecomunicações, robótica e máquinas-ferramentas, e computadores mais software. São todas indústrias que dependem de capacidade mental. Cada uma delas poderia ser localizada em qualquer lugar na face da terra. Onde serão instaladas dependerá de quem for capaz de organizar a força mental para atraí-las. No próximo século, a vantagem comparativa será construída pelo homem.

(Esta mesma análise é feita por Alvin Tofler em "POWERSHIFT")

O que costuma ser prioritário (inventar novos produtos) passa a ser secundário, e o que era secundário (inventar e aperfeiçoar processos) torna-se prioritário. (....) As novas tecnologias de informação e telecomunicação que estão sendo desenvolvidas transformarão a maioria das indústrias de serviço em indústrias de processo de alta tecnologia. (....) Sistemas de computação automatizados já operam a metade das ações negociadas na Bolsa de N. Y. As financeiiras estão se transformando em firmas processadoras de dinheiro e de papéis. As lojas de varejo serão diretamente igadas aos fornecedores a fim de diminuir o tempo gasto entre a compra e sua reposição.  (....) No próximo século, os recursos naturais, o capital e as novas tecnologias de produto se movimentarão rapidamente ao redor do mundo. (...) Indivíduos qualificados serão a única vantagem competitiva sustentável.  (....) Uma vez que os produtos podem ser fabricados em qualquer lugar, os trabalhadores não-qualificados que vivem em países ricos têm que aceitar os mesmos salários dos não-qualificados que vivem em sociedades pobres. Se não aceitarem essas condições, as tarefas que não requerem mão-de-obra especial acabam se transferindo para os países pobres. (....) Numa empresa americana, enquanto o Financeiro é o número 2, o executivo que responde pela gerência de recursos humanos não tem chance de chegar a ocupar um cargo ao nível de direção geral. No Japão, é ele a segunda pessoa mais importante depois do diretor geral e é pré-requisito para esta. (....) Chegará o momento em que os Estados Unidos terão que gerar um  superávit comercial. Quando o fizer, restringirá suas compras no exterior e atravessará um período em que o seu mercado se fechará aos países em desenvolvimento.  (....) As negociações do GATT no encontro do Uruguai fracassaram, basicamente, por um motivo muito simples: nenhum governo assinará um acordo que obrigue a maioria dos seus fazendeiros a abrir mão da agricultura e de boa parte de suas terras. (....) Para fazer uma economiia mundial aberta funcionar, as empresas alemãs só poderão conceder 3 anos de licença às mães após o parto se o resto do mundo estiver disposto a igualar a sua generosidade. Para que o jogo econômico possa ser considerado justo num sentido amplo, deve haver impostos, regulamentos e modos individuais de operação semelhantes. (....) Numa economia mundial aberta, os altos salários mínimos da Europa são ameaçados pelos baixos salários mínimos dos Estados Unidos (ou do terceiro mundo). A produção simplesmente se transferirá para as partes do mundo onde eles forem mais baixos.  (....) Só um  poder político dominante será capaz de obrigar todos os países a concordarem com uma nova Conferência de Breetton Woods para estabelecimento de um novo sistema de comércio.

 

CAPÍTULO 3 - A CASA DA EUROPA: CATALISADORA DA MUDANÇA

A Alemanha Oriental é um caso todo especial. 200 bilhões de dólares já foram alocados para reconstruir a infra-estrutura, e 70 bilhões foram reservados para limpar o meio-ambiente. 33 bilhões deverão ser investidos para instalar um sistema telefônico de classe mundial. Um Fundo Unitário de muitos bilhões de dólares cobrirá custos de transição, tais como seguro-desemprego para os que perderam seus empregos na mudança para uma economa de mercado. Em 92, o governo de Bonn terá gasto 64 bilhões de dólares para ajudar a Alemanha Oriental. Não há dúvida quanto ao êxito da Alemanha Oriental a longo prazo. (....) Alguns dos novos países nascidos das ruínas da URSS (Rússia, Ucrânia e Cazaquistão, no mínimo) vão se tornar imediatamente potências nucleares militares. (....) A economia inglesa se salvou, em 48, graças ao Plano Marshall. Durante dez anos, 70 bilhões de dólares anuais (em dólares de hoje) [ou seja, 700 bilhões de dólares!!!] foram bombeados na Europa e no Japão para criar a infra-estrutura humana e física de uma economia de mercado. A ajuda representou 410 dólares per capita, ou seja, cerca de 10% dos PNBs dos beneficiados. Isto deixa claro que o resto das ex-economias comunistas não terá condições de ingressar num regime de economia de mercado sem ajuda externa. (....) Depois de passarem a vida toda ouvindo dizer que a desigualdade na distribuição de renda não era uma coisa boa, os cidadãos das ex-economias comunistas terão que aprender a aceitar muito mais desigualdade do que nunca. (....) A URSS tomou emprestado do Ocidente 50 bilhões de dólares, mas quem é o verdadeiro responsável por essas dívidas? O governo soviético que tomou o dinheiro emprestado não existe mais. Discussões sobre quem deve o que a quem já se verificavam mesmo antes de a URSS desaparecer. Mas se as dívidas não forem pagas, não aparecerão novos investidores dispostos a investir. (....) Quando a China desregulou a produção agrícola mas manteve o controle de preços sobre gêneros de primeira necessidade como o açucar, não constituiiu surpresa quando os plantadores de cana deixaram de produzer açucar, cujos preços permaneciam sob controle, e passaram a cultivar frutas, cujos preços não eram controlados. O resultado foi uma escassez de açucar e a necessidade de se usar moedas fortes escassas para importar açucar.  (....) Na metade do caminho entre planejamento central e mercado, fica o caos. Uma economia dirigida comunista funciona porque as pessoas obedecem a ordens, e o fazem por 2 motivos: serão promovidas se obedecerem; serão banidas para a Sibéria se não o fizerem. Mas durante o período de transição nenhum dos dois motivos surte efeito. Eles tanto sabem que não serão banidos pra Sibéria quanto sabem que não serão promovidos. (....) É muito mais fácil suportar os choques salariais e o desemprego com as lojas cheias de comida.  (....)

 

CAPÍTULO 4 - O DESAFIO DA ECONOMIA DO PRODUTOR

Antes de mudar suas convicções,  a maioria dos seres humanos levará longos períodos de tempo pretendendo que os fatos que conflitam com suas teorias não existam, esperando que esses fatos desapareçam num passe de mágica, ou negando que os fatos conflitam com seus enfoques teóricos do mundo de qualquer forma mais significativa. Somente se os fatos forem muito dolorosos ou muito persistentes (isto é, se provocarem uma crise), as criaturas humanas admitirão a inconsistência fundamental de suas opiniões sobre as realidades do mundo. (....) Serão os japoneses mais bem-dotados como indivíduos ou  o seu sucesso decorre do fato de terem organizado um sistema diferente, que lhes permite jogar diferente? O Japão será apenas melhor, ou é de fato excepcional? Se é excepcional, ele imporá mudanças radicais na maneira como o capitalismo é praticado pelo mundo afora. As modalidades de jogo das empesas japoneses são muito diferentes das regras anglo-saxônicas, e o seu sucesso exercerá enorme pressão econômica para que o resto do mundo industrial se modifique. (....) Hoje os dirigentes da indústria automobilística americana são freqüentemente apontados como incompetentes pelas mesmas pessoas que há vinte anos os consideravam o máximo. Poderiam décadas da melhor administração do mundo serem sucedidas de repente por duas décadas da pior administração do mundo? (....) Os que perderam a indústria americana dos semicondutores são as mesmas pessoas que a criaram. Não era uma segunda geração de dirigentes incompetentes. Teriam se tornado de repente senis ao atingirem a meia-idade? (....) As diferenças de preços que não deveriam existir num mercado global existem. Os preços de produtos comerciáveis são 86% mais altos no Japão do que os preços desses mesmos produtos nos Estados Unidos. Teoricamente, pode-se ganhar muito dinheiro comprando-se produtos nos Estados Unidos e vendendo-os no Japão. Entretando, no Japão, ninguém se aproveita dessas oportunidades de grandes lucros. Os estrangeiros que tentam fracassam. (....) O trabalho e a poupança (com a renúncia ao lazer e ao consumo) são tolerados unicamente porque a renda futura que flui dessas atividades proporciona os recursos econômicos necessários para o consumo futuro. (....) Os que se tornam lembrados na história da humanidade não são os grandes consumidores. São os grandes conquistadores, os construtores, os produtores... (....) Estima não se compra. Ela só se conquista quando se faz parte (como líder ou seguidor) de um time de produção bem-sucedido. (....) Quando os trabalhaldores ingressam numa empresa procuram alguns dos mesmos fatores que buscam quando se alistam num exército. Os impérios não existem em função de indivíduos excepcionais que impõem a sua liderança a seguidores relutantes. Eles existem porque os indivíduos querem fazer parte de um grupo, mesmo que não sejam o supremo construtor, nem o líder de que a história se lembrará. (....) A família deixou de ser a unidade básica de produção. Atualmente, existem poucas tropas a serem comandadas na família (muitas são unidades constituídas por uma ou duas pessoas), e com muitos provedores e poucas tarefas familiares coletivas, a saída (o divórcio) tornou-se muito mais fácil. (....) Do ponto de vista anglo-saxônico, os indivíduos trabalham com afinco porque receiam ficar desempregados - perder os privilégios do consumo. Reduza o receio, e todos trabalharão com menos empenho. Vendo as coisas desse ângulo, é difícil entender as empresas japonesas que deliberadamente oferecem garantias explícitas de emprego vitalício como  parte dos seus esforços para criar forças de trabalho mais produtivas.  (....) Ser despedido ou posto de lado é o mesmo que ser expulso do bando a que se pertence. Por que isso seria menos traumatizante para o sentimento de um indivído de pertencer a uma comunidade  do que ser exilado de sua aldeia como acontecia em outros tgempos? As nações aprenderam há muito tempo que os soldados que acreditam na causa pela qual se batem quase sempre derrotam aqueles que são simplesmente pagos para lutar. Por que as motivações do combate econômico deveriam ser diferentes? As pessoas obedecem e fazem sacrifícios porque querem participar. Se não houver uma causa na qual possam se engajar, não haverá razão para obedecer e nada que mereça o seu sacrifício. (....) Na firma maximizadora de lucro, o lucro é a meta - a função objetivo. Na firma que visa à constução de um império, o lucro é o meio para alcançar o objetivo maior - o império, e chega as er uma restrição. Na verdade a sua grande meta é a participação de mercado. (....) A firma maximizadora de lucro dedicará os seus lucros maiores ao consumo individual; uma firma no processo de construção de um império investirá os seus lucros na expansão desse império. (....) A força de trabalho do Japão detém a menor particpação da renda nacional entre os 5 países que ocupam a liderança industrial, e sua participação é decrescente. Nos últimos quinze anos, os salários têm subido apenas com a metade da velocidade com que a produtividade tem crescido. (....) Devido aos avanços na tecnologia e na produtividade, os que viverem no futuro serão mais ricos do que os que vivem no presente. Como resultado, o presente não deve ser sacrificado para elevar o padrão de vida do futuro; os pobres (a atual geração) estariam subsidiando os ricos (a próxima geração). Tecnicamente, os que vivem no presente deveriam deixar de poupar para assegurar que os pobres do presente não subsidiem  os ricos do futuro.  Os americanos praticam o que pregam. Poupando muito pouco e vendendo os ativos americanos existentes para financiar um déficit comercial que lhes permite consumir mais do que produzem, os americanos de hoje adquirem privilégios de consumo à custa dos americanos de amanhã. (....) Durante os anos de 65 a 80, quando a Honda estava ingressando na fabricação de automóveis, a sua taxa de retorno caiu dos 9% a que tinha chegado quando só fabricava motocicletas, para 3%. Esta taxa é menos do que ela teria recebido se o mesmo dinheiro tivesse sido investido em títulos do governo. (....) Quando o ataque japonês foi desferido com aparelhos de TV em preto e branco, os americanos simplesmente se recusaram a permitir que as suas taxas de retorno caíssem aos níveis japoneses e se retiraram do mercado. Mas em suas restantes atividades, continuaram a receber a taxa de retorno de 15% que exigiam. Preferiram se retirar do negócio a aceitar uma taxa de retorno abaixo do mercado. (....) O maximizador de consumo é um mercenário que prefere trocar de lado a ter que lutar. Em contraste, os impérios repelem os invasores. (....) A disposição das firmas japonesas em aceitar lucros menores é uma parte substancial da vantagem que levam sobre as firmas americanas em termos de concorrência. Para manter a IBM fora do seu campo, a Fujitsu ganhou a concorrência para a informatização do sistema de abastecimento de água de Hiroshima com uma proposta no valor de apenas um iene.  (....) As empresas americanas atendem os seus vários públicos na seguinte ordem: acionistas, clientes e empregados. De um alto executivo da IBM: "O funcionário médio da IBM perdeu de vista as razões da existência da sua companhia. A IBM existe para remunerar o capital investido pelos acionistas". Neste contexto, clientes e empregados só são importantes na medida em que contribuem para que esse objetivo seja atngido. (....) Já as empresas japoneses, atendem seus públicos na ordem inversa: empregados em primeiro lugar, clientes em segundo e acionistas em terceiro. "As metas da companhia são crescimento e longevidade..." (....) No Japão constrói-se uma comunidade. Nos Estados Unidos, ganha-se dinheiro. (....) Em 1990, os executivos americanos no nível de direção ganharam 119 vezes mais do que o trabalhador médio. Na década de 80, os executivos japoneses ganharam apenas 18 vezes mais do que o seu trabalhador médio.  (....) No primeiro ano de emprego no Japão, o processo de doutrinação da companhia ocupa uma parte de tempo substancial. A administração acredita que a empresa que conseguem estabalecer vínculos mais estreitos com ela, contará com maiores reservas de boa vontade, que, por suavez, criarão uma força de trabalho mais disposta a fazer sacrifícios a curto prazo. (....) No Japão, as bonificações não são diretamente ligadas à lucratividade e sim ao crescimento, à produtividade, e às cota de mercado da companhia.  (....) O caso da RJR Nabisco é a prova de como indivíduos destróem a sua própria companhia para não perder a sua bonificação anual. (....)

 

CAPÍTULO 5 - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA: A QUEDA DA GRANDE MURALHA

Os E. Unidos têm o ano letivo mais curto de todo o mundo industrial - 180 dias contra 220-240 na Alemanha, 240 no Japão e 250 na Coréia. 71% concluem o curso secundário nos E. Unidos contra 94 no Japão e 91 na Alemanha. (....) O sistema telefônico francês (1990) liga qualquer aparelho doméstico a uma rede de computadores. Está sendo construída a infra-estrutura para sistemas eletrônicos de transferência de fundos. (....) A nação que liderar a construção de rodovias eletrônicas, uma iniciativa que exigirá investimento tanto público quanto privado, poderá dar um salto semelhante em produtividade na década de 90. (....) Pesquisa do Foro Econômico Mundial, organização Suiça, entre 23 países industriais, revelou que:

- no quesito qualidade do produto, as empresas americanas ficaram no 12º lugar - Japão em 1º, Alemanha em 3º;

-  quanto aos prazos de entrega, as americas ficaram com 10º colocação - Japão o número 1 e a Alemanha o número 2. O mesmo resultado se deu no ítem assistência depois das vendas.

- quanto ao volume e à qualidade do treinamento, as americanas ficaram em 11º lugar - Japão em 1º, Alemanha em 2º.

Estudos demonstram que o Japão inova mais rapidamente e mais economicamente do que os E. Unidos.  (....) Nova tecnologia, novo hardware e novo software, novas especializações estão sendo introduzidas nos escritórios americanos, mas o que tem resultado de todo esse esforço é uma produtividade negativa.  (....) Velhas contas que no passado eram calculadas de 3 em 3 meses passaram a ser conferidas diariamente. Sistemas inteiros de  novas contas (sistemas de informação para a gerência, contabilidade de custo, controle de estoques, contabilidade financeira etc.), que não era possível calcular anteriormente, foram postos em acesso direto. Contudo, não houve provas suficientes de que essas contas contribuíram para melhorar a tomada de decisões... (....) A administração participativa é um caso a ser estudado. Em diversas experiências, os problemas encontrados foram suscitados pelos gerentes de nível médio que se sentiram ameaçados. Receando uma perda de poder, muitos gerentes de segundos escalões torpedearam a adoção de programas participativos. (....) A maioria dos executivos autorizará a transferência de um operário de linha de montagem do setor de soldagem manual para o de soldagem robotizada, mas dificilmente estará disposto a trocar sua datilografia e aquivamento manuais pela digitação e o arquivamento computadorizados. (....) Os japoneses estão procurando desenvolver fábricas de software que eles acreditam lhes permitirão dominar a indústria de software no século XXI. Ao invés de permitir que cada programador escreva os seus programas como  um artista individual faria, a sua estratégia é tentar forçar todo o mundo a escrever programas com módulos reutilizáveis. Se for bem sucedida, essa estratégia permitirá o uso de programadores menos qualificados e tornará muito mais fácil e mais rápido modificar os programas existentes. (....) A história dos produtos eletrônicos é uma história de contínua retirada para o esquecimento do qual uma indústria americana poderá não emergir novamente. Os rádios e outros produtos de áudio foram os porimeiros a desaparecer. 96% eram produzidos nos E. Unidos em 1955, 30% em 1965 e quase zero em 1975. (....) Os responsáveis pelo setor de produtos eletrônicos de consumo da GE/RCA foram avisados pela matriz que tinham que atingir uma taxa de retorno do investimento de 15% ou a empresa seria vendida. Não conseguiram, e a empresa foi vendida.  (....) Assim que os americanos se retiram do mercado, as firmas estrangeiras assumem a cota de mercado abandonada e aumntam os preços para conseguirem uma boa taxa de retorno do investimento. (....) No Japão, 50% das novas idéias de produtos acredita-se que tenham origem com os clientes. (....) A boa empresa é aquela cuja produtividade lhe permite pagar bons salários e com isso poder contar com indivíduos altamente qualificados capazes de operar novas tecnologias sofisticadas. A fórmula do sucesso é: alta qualificação + especialização flexível.  (....) A História ensina uma lição muito clara: é muito difícil ficar rico. Observando as 20 nações mais ricas do mundo em 1870 e depois em 1988, uma diferença de 118 anos, verifica-se que elas são domindas pelos mesmos protagoistas europeus e norte-americanos. (....) A possibilidade de qualquer país entrar para a lista das nações mais ricas do mundo no fim do século XXI é muito remota - por mais bem-sucedido que ele possa parecer no ano 2000. É simplesmente impossível para qualquer país tornar-se rico no contexto de uma população que cresce rapidamente. Durante os últimos cem anos, o Japão teve uma taxa real média de crescimento de 4% ao ano, enquanto a sua população crescia 1,1%. Isso produziu um aumento de 2,9% da renda percapita ao ano. (....) As Histórias dos países mais ricos do mundo ilustram uma lei férrea de desenvolvimento econômico. Nenhum país pode se tornar rico sem ter tido previamente um século de bom desempenho econômico e um século de crescimento populacional muito pequeno.  (....) A Arábia Saudita, por exemplo, senta-se à mesa do jogo. Sem ela, uma escassez de petróleo logo se faria sentir nos preços muito mais elevados da energia para o consumidor médio. Bangladesh não participa do jogo. Se desaparecesse, a vida econômica não se alteraria substancialmente no resto do mundo. (....) Os E. Unidos não podem continuar a comprar quase a metade das exportações de produtos manufaturados do Terceiro Mundo. Durante a década de 90, os E. Unidos provavelmente terão que sanar o déficit de sua balança de pagamentos. Quando o fizer, as importações terão que diminuir e as exportações aumentar. Quando isso acontecer, o mercado americano estará efetivamente fechado ao mundo em desenvolvimento.  (....) O que serão no ano 2000 as nações que não constam (o Brasil é uma delas) atualmente da lista ? (....) A China, durante a década de 80, ao liberar e introduzir encentivos de mercado, se tornou uma das mais bem-sucedidas economias mundiais - crescendo a quase 10% ao ano. As rendas rurais dobraram em apenas 6 anos. Mas enquanto a China não atingir níveis de renda muito mais altos, o seu impacto econômico sobre o resto do mundo continuará a ser pequeno. (....) Quanto à América Latina, 4 problemas têm que ser resolvidos. Em primeiro  lugar, administrações internas caóticas precisam ser substituídas por governos capazes de administrar eficientemente  e que saibam quando devem se abster de intervir na economia. Em segundo lugar, o progresso técnico tem que sugstituir as matérias primas como fonte de vantagem comparativa. Em terceiro, as taxas de crescimento populacional precisam ser controladas. Por último, é preciso fazer alguma coisa com relação às dívidas internacionais. Eles não poderão crescer se tiverem que saldar dívidas na proporção das existentes. Mas também não poderão crescer se repudiarem unilateralmente suas dívidas. É o mundo desenvolvido que tem de perdoar as dívidas. (....) A África ao sul do Saara é a causa perdida da economica mundial Se Deus a desse de presente e fizesse de você seu ditador econômico, a única atitude seria devolvê-la a Ele. (....) No século XX, o clube dos ricos admitiu  apenas um novo sócio industrial - o Japão. Não seria uma grande surpresa se não fosse admitido nenhum outro sócio no século XXI.

 

CAPÍTULO 7 - PROBLEMAS INFECCIOSOS

A poluição causada por qualquer indivíduo não provoca um efeito perceptível no meio-ambiente esse indivíduo. (....) Nos estados em que o depósito de cascos é objeto de legislação específica, não se vêem garrafas espalhadas pelos parques e pelas estradas. (....) No caso da energia solar, são produzidos alguns resíduos extremamente tóxicos (arsênico, por exemplo) no processo de produção de células solares, e os coletores constituem uma tecnologia de recurso intensiva que requer muito espaço e grandes quantidades de cobre. Toda e qualquer técica concebível, em princípio, é capaz de matar pessoas, mas os benefícios proporcionados pela eletricidade justificam os riscos.  (....) A parte rica do mundo vai ter que pagar um aluguel pelas florestas trpicais de modo que o seu plantio torne-se mais lucrativo do que a sua devastação. (....) O problema principal é a premência de tempo. Quando uma coisa como o ar deixa de ser de graça e passa a custar dinheiro, ninguém quer aceitar essa realidade. E se quisermos ar puro daqui a 30 anos, essas árvores têm que ser plantadas agora. (....) Se o mundo precisa de árvores, é mais prático usar parte da renda de Ohio para subsidiar um maior número de árvores no Brasil do que reconverter Ohio à produção de árvores. Isso poderia ser feito facilmente com o uso de satélites, que mediriam hectares de florestas brasileiras, e pagando ao Brasil um aluguel anual suficientemente alto para permitir-lhe ganhar mais plantando árvores do que derrubando-as para criar gado.  (....) Em última análise, um bom meio-ambiente tem a ver com a sua capacidade de conter seres humanos. O uso de quase tudo e o refugo de quase tudo é diretamente proporcional ao número de pessoas que habitam o globo. Quantas pessoas a boa nau Terra pode abrigar confortavelmente? (....) Com alguma surpresa, os economistas descobriram que era possível adquirir uma dieta balanceada por 283 dólares por ano: refeições à base de soja e de toucinho, com um mínimo de suco de laranja e fígado para prover os minerais, as vitaminas e as proteínas que faltavam na soja e no toucinho.  (....) Nos países pobres, as crianças constituem o sistema de pensão dos velhos. Em 1979, no Paquistão, um camponês explicava, assim, porque ele tinha que ter 17 filhos. Primeiro, porque na realidade ele só tinha nove, uma vez que oito morreriam antes dele. Segundo, porque na realidade ele só tinha 3, uma vez que outros seis seriam muito pobres para poder cuidar dele na velhice. Terceiro, porque na realidade ele só tinha um, uma vez que dois dos suficientemente ricos para tomar conta dele na velhice seriam mesquinhos e egoístas e se recusariam a fazê-lo. Conclusão: se ele não quisesse passar fome na velhice, precisava ter pelo menos 17 filhos.

 

Com os transportes modernos, perdeu-se o controle das fronteiras. Principalmente quando existem enormes diferenças de renda entre regiões contíguas (E. Unidos e México, por exemplo). Se um país pretende continuar fazendo parte do Primeiro Mundo, não tem outra alternativa senão fazer os necessários investimentos nos imigrantes e seus filhos. Mas isso baixa o padrão de vida dos que já vivem no país tanto quanto se eles próprios tivessem mais filhos.  (....) A ajuda econômico-financeira deve ser focalizada naqueles países subdesenvolvidos onde a população está crescendo mais lentamente ou onde estão sendo feitos os melhores esforços no sentido de reduzir as taxas de crescimento demográfico. (....) O que acontecerá quando a Alemanha Oriental estiver reequipada e integrada a uma máquina exportadora alemã mais forte? O superávit comercial esrutural da Alemanha provavelmente reaparecerá mais forte do que nunca. (....) Quando um país toma dinheiro emprestado no resto do mundo, o seu consumo pode exceder a sua renda(produção). Com um déficit comercial, os americanos passam a consumir 100 bilhões de dólares extras de bens que não produziram. E quanto maior a adição de hoje, maior a subtração de amanhã. Os americanos ficaram tranqüilos em relação a essa futura subtração porque os empréstimos passaram a ser uma  prática tão comum que a impressão que se tem é que poderão continuar eternamente. Mas não podem. (....) No final de 82, os americanos possuíam 152 bilhões de dólares de ativos a mais no resto do mundo do que o resto do mundo possuía nos E. Unidos. No início de 91, o resto do mundo possuía cerca de 757 bilhões de dólares a mais de ativos nos E. Unidos do que os americanos possuíam no resto do mundo.  (....) É comun  os americanos dizerem que os estrangeiros estão comprando a América, mas a realidade é que eles a estão vendendo para manter os seus hábitos de consumo. Se continuarem por muito tempo, acabarão vendendo toda a sua herança capitalista. Os empréstimos cessarão claramente antes que isso aconteça (os estrangeiros terão razão de recear o risco de expropriação), mas ninguém sabe até onde o processo poderá chegar. (....) Se os países superavitários optarem por um crescimento mais rápido, as suas importações aumentarão e o crescimento mundial será acelerado - mas correm o risco da inflação. Não há solução indolor. (....) O mundo precisa criar uma  instituição que fiscalize um  sistema de comércio justo, mesmo que esse sistema seja um sistema de comércio administrado. (....) O verdadeiro problema não é a iminência de um desastre, porque na hora de uma recessao mundial, os grandes se comporão para administrá-la [vide crise do México de Jan/95]. Como aconteceu durante quase toda a década de 80, a verdadeira questão é uma taxa de crescimento mundial tão baixa que o padrão de vida cairia em boa parte do mundo, mas não tanto a ponto de ameaçar a estabilidade do sistema.  (Eu acrescento: isto explica pelo menos parte do que aconteceu com a nossa "década perdida") (....) Na década de 90, nenhum país começa numa posição suficientemente forte para ser a locomotiva econômica do mundo. (....) O Banco Mundial e o FMI podem protelar o colapso, mas não podem restituir a saúde aos sistemas financeiros do Segundo e do Terceiro mundos. (....) Com guinadas violentas nas taxas de câmbio, simplesmente não é possível gerir economias com eficiência. No caos, o resultado é um aumento desnecessário no risco e na incerteza; crescente instabilidade devida ao protecionismo; horizontes de tempo mais curtos, na medida em que as empresas procuram limitar o risco e a incerteza evitando compromissos a longo prazo; reduções em novos grandes investimentos a longo prazo; expectativa de futuros choques inflacionários quando mudanças repentinas nos valores da moeda provocam aumento no preço das importações; e a conseqüente instabilidade das taxas de juros. Sem sinais claros indicando onde investimentos de longa duração e capital intensivos devem ser feitos, as emrpesas reduzem os investimentos. Qual a companhia que deseja investir em projetos de maturação de longo prazo para constatar que mudanças repentinas no valor das moedas podem converter um investimento lucrativo num possível prejuízo? (....) Recusando-se a cooperar, os E. Unidos têm nas mão o poder de explodir o sistema econômico mundial do século XXI.

 

 

 

CAPÍTULO 8 - A QUEM PERTENCE O SÉCULO XXI?

Quanto mais depressa um país cresce hoje em dia, mais fácil lhe será crescer mais depressa amanhã. Quanto mais lentamente o país crescer hoje, certamente mais devagar crescerá amanhã. ( Eu acrescento: esta lição ainda não foi dada aos nossos Pérsios Aridas e corja). (....) A chance dos E. Unidos tornarem-se donos do século XXI depende da resposta a  uma pergunta simples: poderá a taxa de crescimento da sua produtividade alcançar os padrões de seus principais rivais? (Eu acrescento: olha aí a causa do stress do Rubenzinho!) (....) Felizmente para os americanos, a maioria dos países com bons sistemas de ensino básico não conseguiu criar bons sistemas de ensino superior.  (....) Mesmo que fosse possível estruturar um mercado comum norte-sul-americano, ele não ajudaria muito os E. Unidos. Na verdade, é muito difícil estabelecer mercados comuns entre países com níveis de renda muito diferentes porque a mobilidade de mão-de-obra inerente a um mercado comum faz com que muita gente se transfiira dos países de baixos salários para os de altos salários.  (....)

 

CAPÍTULO 9 - UM  PLANO DE JOGO AMERICANO

Um país inteligente, interessado em assegurar o seu futuro, admite o pior e começa a defender suas posições desde logo. (....) A vontade nacional decorre de uma comprensão gerral de que o mundo mudou e que as realidades externas requerem mudanças internas. (....)

Se um sistema de ensino que permite milhares de conselhos escolares locais eleitos independentemente para gerir escolas fosse um bom sistema (se o índice de reprovação for muito elevado, um novo conselho escolar terá que ser eleito), seria razoável esperar-se que pelo menos um dos quinze mil sistemas escolares americanos fosse capaz de diplomar alunos do curso secundário em condições de competir com os estudantes da Europa ou do Japão. Nenhum deles é capaz. (Eu acrescento: quando os americanos estão criticando o ensino básico deles desta maneira, o que dizer do nosso!?) (....) Programar uma dieta não é nenhum problema: seguir à risca uma delas é que é um problema que não tem tamanho. (....) A Alemanha exige 40% de sinal na compra de imóveis; na Itália a entrada é de 50%.  (....) A "doença" americana é a convicão de que salários baixos resolvem todos os problemas. Mas a estratégia raramente funciona. (Eu acresconto: e a gente não aprende!) (....) Para criar uma produtividade que justifique altos salários, o ensino básico tem que melhorar. Numerosos estudos definiram claramente o problema.  (....) Cingapura introduziu um sistema de vinculação pelo qual os empregados que recebem treinamento firmam acordos de empréstimos com seus empregadores, que deverão ser reembolsados caso o empregado deixe a companhia antes de um determinado período de tempo.  (....) Submeter pessoas a um sistema que não lhes confere qualificações úteis não é nunhuma façanha. O primeiro objetivo é fazer com que o curso secundário americano funcione para aqueles que o freqüentam - depois então é que devemos nos precocupar com os problemas dos que não o freqüentam. (Eu indago: tudo bem, é muito bonitinho, mas como é que a gente faz com a marginalização dos que vão ficar de fora?) (....) Os E. Unidos não podem continuar a manter um sistema onde um terço dos que ensinam física nunca fizeram um curso de física de nível universitário. (....) As empresas, em cada estado, elaborariam um teste de desempenho abrangendo o que elas acham que um jovem com o curso secundário completo precisa saber para trabalhar nas melhores empresas americanas. Os conselhos escolares municipais continuariam diplomando quem bem endendessem, mas aqueles que passassem nesse teste de desempenho prodissional teriam essa condição carimbada em seus diplomas. (...) O Estado cobriria as despesas de avaliação e administração com o teste de desempenho, mas ele seria concebido por empresários e futuros empregadores para que os americanos compreendesem claramente o que os seus filhos precisariam aprender para conseguir empregos bem remunerados. Não seria um teste elaborado por professores enclausurados em torres de marfiim nem por burocratas do ensino. (....) Os que se aplicaram mais durante o curso secundário deviam ser recompensados com a admissão nas universidades, públicas e privadas. Os que não se aplicaram não deveriam ser admitidos - por mais espertos que sejam. (Eu exclamo: cruel, ele é cruel!) (....) Nenhuma sociedade gosta de mudar; entretanto, nenhuma sociedade sobrevive através dos séculos se não o fizer. ( Eu observo. Vamos ser mais corretos. A sociedade é a soma dos indivíduos, portanto, melhor seria dizer que nenhuma sociedade sobreviverá se as pessoas não mudarem. Talvez, no futuro, se perceba que esta é a função mais importante do Estado - administrar pressões sobre os iindivíduos de forma a mudá-los na direção necessária. Além disso, 99% dos cidadão de um país jamais terão alguma idéia do que seja economia internacional. Mal dão conta de administrar seus conflitos familiares.) (....) As leis atuais (anti-truste) muitas vezes equivalem a dar um tiro no pé. A GM tem autorização para formar uma joint-venture com a Toyota que na verdade constitui um ataque à FORD e à CHRYSLER, mas não lhe é permitido formar joint-venture com a FORD para repelir a invasão japonesa do mercado automobilístico americano. (....) Novas firmas não conseguem crescer porque estão sempre perdendo os seus elementos mais talentosos, que, ao se deligarem para se estabelecer por conta própria, impedem que a nova firma e a outra, mais nova ainda, adquiram massa crítica.  (....) Qualquer país pode ser competitivo enquanto país de baixos salários. Qualquer  país pode reduzir o seu nível salarial desvalorizando a sua moeda. A questão não é equilibrar as contas comerciais e sim ser competitivo e pagar salários altos. (....)

 

O problema não está na severidade das soluções necessárias. O problema mais sério é a necessidade de se consientizar de que há problemas que precisam ser resolvidos. A menos que nos conscientizemos desssa realidade, nada poderá ser feito.

Em 30/05/94