EXTRATO DE: COMO PERSUADIR FALANDO

TÍTULO DO ORIGINAL: o mesmo

AUTOR: MARQUES OLIVEIRA

EDITADO EM:                            POR: EDIÇÕES DE OURO

 

1. QUEM PRECISA APRENDER A PERSUADIR?

Quem fala, quem se comunica com seu semelhante, está constantemente persuadindo ou sendo persuadido.

 

A persuasão não passa da arte de mudar o comportamento alheio com palavras apenas. E, para isso, é preciso que o persuasor, antes de mais nada, sinta os problemas, os anseios, os desejos, as angústias da pessoa que vai persuadir. E quem pode ser duro ou severo com alguém, sabendo de suas frustrações e seus sonhos desfeitos.

 

Não são os melhores nem os mais capazes profissionais que enriquecem na profissão. São os melhores persuasores que ganham dinheiro profissionalmente.

 

Os patrões não podem conseguir a lealdade e o entusiasmo dos seus subordinados apenas pagando grandes salários. Precisam persuadi-los a cooperar.

 

Os políticos que pretendem "convencer" seus eleitores acabem clamando no deserto. (...) Fracassam por não terem usado nem violência, nem dinheiro, nem persuasão.

 

A persuasão é usada para fazer com que os outros façam AQUILO QUE NÃO QUEREM FAZER! E o persuadido, após fazer o QUE NÓS QUEREMOS, continuará não querendo fazer o que fez.

 

2. VIGARISTAS, CAMELÔS & POLÍTICOS

São os mestres da persuasão. (....) O que os une, todos, é o uso exclusivo da palavra FALADA e o conhecimento da alma humana.

 

A história do camelô e do livro "A Poesia e a Mulher". Mandou fazer uma cinta "Só para homens" e não vendia para mulheres, mesmo que quisessem pagar o dobro do preço.

 

4. PERSUADIR PESSOA OU AUDITÓRIO

A oratória é chamada por Aristóteles de "arte de persuadir".

 

O vendedor persuade o tempo todo.

 

De qualquer forma: isolada ou conjuntamente, são os humanos susceptíveis à direção hábil e inteligente.

 

5. A PALAVRA FALADA E A PERSUASÃO

Só persuadimos falando. [discordo] Por escrito podemos convencer, mas dificilmente persuadiremos. É falando que persuadimos. Como gastamos a maior parte de nosso tempo falando e ouvindo, podemos dizer com segurança: nossa vida é gasta persuadindo os outros e sendo por eles persuadidos.

 

A palavra falada contém mais coisas que a escrita: possui a capacidade de transmitir emoções, intenções e estado de alma de quem a pronuncia. (O teste com a palavra CUIDADO, escrita e "gritada")

 

A propaganda escrita, como a artilharia, abate as principais defesas do consumidor, mas não dispensa a conquista final realizada pelo vendedor, através da palavra falada.

 

6. A IMPORTÂNCIA DA PALAVRA FALADA

A persuasão, de fato, não se preocupa com a Inteligência do outro, mas cuida diretamente da sua Vontade. A Vontade é a faculdade que nos faz agir. O persuasor quer que o persuadido FAÇA alguma coisa e consegue.

 

Quem vai convencer deve cuidar da Inteligência do outro.

 

O homem age com a Vontade e não com a Inteligência. A Vontade pode agir de acordo com a Verdade, ou não. Pode mais: pode ir CONTRA  a Verdade!

 

Platão, o filósofo dos Ensaios, em duas obras (Górgias e Fédon) ataca a retórica como imoral e isso por não cuidar da Verdade como objetivo supremo. De fato: a retórica preocupa-se muito mais com a Verossimilhança (aquilo que PARECE verdade) do que com a Verdade em si. O filósofo grego não se conformava com isso!

Sendo idealista, ou melhor, acreditando que "as idéias são as únicas coisas que existem realmente", era natural que o discípulo de Sócrates assim agisse. Professor e aluno acreditavam bastar ao homem conhecer a Verdade, para a ela aderirem. Isso , infelizmente, não corresponde à realidade.

 

Os sofistas provaram uma coisa muito importante para a psicologia individual e coletiva: podemos, com palavras apenas, levar os homens para onde quisermos! Nisso consiste exatamente a ciência da persuasão: levar a humanidade através da PALAVRA FALADA, a fazer o que ela NÃO QUER!

 

Górgia foi um homem maravilhoso. O próprio Platão era seu admirador. Parece ter sido Górgia o único no mundo que em vida teve uma estátua de si mesmo, de outro maciço, em tamanho natural. Foi mandada fazer por ele próprio e paga com seu dinheiro! Górgia enriqueceu ensinando oratória, e fez muito moço obscuro chegar às mais altas posições políticas, apenas pelo PODER DA PALAVRA FALADA!

 

Aqui chegamos à única objeção válida contra a arte de persuadir: a persuasão CERCEIA, HABILMENTE, A LIBERDADE DE ESCOLHA da pessoa persuadida! [Discordo. Tudo o que a pessoa realiza é conseqüente de alguma persuasão. Somos persuadidos o tempo todo seja lá pelo que for. A vida é um jogo de persuasão.]

 

A PERSUASÃO ...

...é conselho dado

...mostra o que o outro poderia fazer, se quisesse

...indica caminho possível

...é suave e delicada

...refere-se à fé

...visa à ação atual, naquele momento

...visa somente uma ação

...lida com desejos e com a Vontade

...ao lado da Verdade, admite a Verossimilhança

...dá mais valor à opinião que à certeza

...tem como aliada a dúvida

...é prática e objetiva

...não tenta fazer o outro CONCORDAR conosco

 

8. A VONTADE

A Vontade é livre e rainha, quando decide e quer.

 

10. A VONTADE (III)

Todo mundo tem OBJETIVOS, NECESSIDADES E MOTIVOS.

 

Não se pode confundir VONTADE E DESEJO. Podem existir, na mesma alma, infinidade de desejos, mas a Vontade é uma só. Os desejos solicitam a vontade, a vontade combate os desejos, mas também pode ser vencida por eles. O querer ou não querer depende de nós. Mas o desejar ou não desejar é independente de nós.

No que se disse no parágrafo anterior aprendemos que a vontade pode sucumbir ao desejo. Guarde-se isso bem, pois, aqui está a maneira mais comum de persuadir: intensificar algum desejo já existente na pessoa que se que persuadir, ou mesmo criá-lo. O desejo, crescendo, poderá vencer a Vontade e esta obedecerá à sugestão recebida.

 

Todos, conforme aquilo que mais almeja, procuram os meios convenientes para atingir sua finalidade. Cada qual procura o que mais lhe agrada, o que mais deseja. E o que mais desejamos é, para nós, um BEM.

Importa, portanto, ao persuasor, descobrir, antes de mais nada, qual a coisa mais desejada, mais ansiada por aquele que vai ser persuadido.

 

11. COMO FAZER A VONTADE AGIR

Para conseguir que alguém aja conforme queremos, basta mostrar a ele que a ação proposta é MEIO para os FINS dele.

 

O excessivo amor à satisfação derivada dos cinco sentidos constitui a sensualidade e a justificação racional dessa atitude é chamada hedonismo.

 

Soneto de Vicente de Carvalho

 

         VELHO TEMA

(...)

 

(...)

 

Essa felicidade que supomos,

Árvore milagrosa que sonhamos

Toda arreada de dourados pomos,

 

Existe, sim: mas nós não a alcançamos

Porque está sempre apenas onde a pomos

E nunca a pomos onde nós estamos.

12. A DEUSA GREGA DA PERSUASÃO

A Deusa Grega da Persuasão se chamava Pitho, filha da deusa Vênus.  Ela procurava atrair um animal fabuloso de três cabeças: uma de cão, outra de gato e outra de macaco.

A cabeça de macaco é símbolo do desejo humano por coisas úteis.

A cabeça de gato é símbolo do desejo humano por coisas agradáveis.

A cabeça de cão é símbolo do desejo humano por coisas honestas.

 

O homem procura três tipos de bens: o útil, o agradável e o honesto.

 

Isso é persuadir: descobrir o que o outro quer e encaixar o que nós queremos naquilo que o outro quer.

 

13. O PENTEADO DA DEUSA PITHO

O persuasor não pretende PROVAR nada, nem mudar o PONTO DE VISTA de ninguém. O persuasor quer que o outro haja, tão-somente.

 

 

14. OS TRÊS CAMINHOS DE ARISTÓTELES

No Capítulo II de sua Arte Retórica, livro que não perdeu sua atualidade através dos séculos, Aristóteles define a Retórica como sendo a "arte de descobrir o que há de persuasivo em cada assunto".

 

Tanto Aristóteles como a mitologia grega pareciam considerar o Homem dividido em três setores bem distintos, sem perda de sua unidade. De fato, a trindade humana é bem marcada.

Alguém pode estar fazendo cálculos matemáticos e, nessa hora, é a Inteligência que vê, compreende, raciocina e conclui. Cansado de trabalhar, pode o homem abandonar suas contas e dirigir-se à janela, aberta para um lindo panorama do pôr do sol. Sentirá em sua alma a invasão da beleza ambiente, deleitar-se-á com o colorido maravilhoso das nuvens e comover-se-á com a luta baldada do Sol para não morrer de todo. Nesse momento o Homem será Sensibilidade. Lembrando-se do seu íntimo processar-se-á a luta entre o desejo de continuar a contemplação e a necessidade de concluir a obra. Finalmente, decide-se: volta à escrivaninha. Quando delibera e escolhe, o homem é Vontade. 

 

Vejamos um exemplo: queremos vender tecido a um comerciante. Não adianta mostrar-lhe quão duradouro será aquele pano para os seus fregueses, nem todas as alegrias que seus compradores terão ao possuir aquele tipo de mercadoria. Inútil será,  também, fazê-lo sentir a agradável sensação de passar a mão pela  peça. Mas se dissermos ao lojista que poderá revendê-la com lucro de cem por cento, então ele quererá adquirir quanto puder.

 

Outro exemplo: um contrabandista apresenta mercadoria realmente boa, por preço ínfimo. As pessoas que agem com a Cabeça de MACACO comprarão imediatamente. As que agem com Cabeça de GATO, embora relutantes, acabarão "caindo em tentação". As que agem com cabeça de Cão - não comprarão de maneira alguma! A única maneira de fazer estas últimas comprarem será demonstrando a honestidade da transação, por mais que as aparências indiquem o contrário.

 

15. RECOMENDAÇÕES DE CÍCERO

Os fins a serem atingidos pelo orador: AGRADAR, INSTRUIR, COMOVER.

 

O último estágio, o mais difícil e o mais eficiente, consiste em apelar diretamente para as paixões do persuadendo: provocadas estas, conseguiu a vitória. Para conseguir isto precisará, na verdade, fazer o que Cícero mandava: instruir, agradar e comover o persuadendo.

 

 

16. PLANEJAMENTO DA PERSUASÃO

Há três hipóteses em qualquer trabalho de persuasão:

1.       o ouvinte está favorável a nós ou a nossa idéia;

2.       o persuadendo está indiferente;

3.       o outro está hostil.

 

17. COMO PREPARAR O TERRENO PARA A PERSUASÃO: OUVINTE FAVORÁVEL

A história do Bispo e do Marxista.

 

18. COMO PREPARAR O TERRENO PARA A PERSUASÃO: OUVINTE HOSTIL

A hostilidade daquele que pretendemos persuadir quase sempre ajuda nosso trabalho de persuasão. E isso por razão simples: quem está contra, está tomando partido, portanto, não está inerte. A inércia é o grande obstáculo do persuasor. Quem já está em movimento, ainda que seja em sentido contrário, poupa ao persuasor o trabalho de vencer a inércia. É mais fácil mudar a direção de um corpo em movimento, que  pô-lo em marcha.

 

Aversão pela proposta:

1.       substituição da pessoa ou coisa proposta;

2.       dissimulação;

3.       solidariedade com os sentimentos dos ouvintes;

4.       citação do precedente;

5.       comparação do precedente com o nosso

 

Ouvinte já convencido por outra proposta:

1.       falar sobre o argumento mais sólido do nosso adversário

2.       começar usando exatamente as palavras do adversário, especialmente as últimas que foram pronunciadas;

3.       demonstrar incerteza sobre qual argumento irá responder de preferência, dando a entender que poderá responder satisfatoriamente qualquer deles.

 

Ouvinte cansado ou indisposto:

1.       Garantir brevidade

2.       Começar com algo inesperado

3.       Contar um caso interessante e curto, uma fábula ou anedota

4.       Quando a gravidade do caso não justificar coisas engraçadas, contar algo bem triste ou horrível mesmo.

 

19. PREPARANDO O TERRENO: O PAPEL DA RAZÃO NA ARTE DE PERSUADIR

O primeiro cuidado do persuasor é exatamente prestar atenção ao fato de que a persuasão quase nada tem a ver com raciocínios, com a lógica ou com a Verdade. A persuasão lida com instintos, desejos, necessidades, motivos e objetivos DA OUTRA PESSOA.

 

Os filósofos são os homens que amam a Verdade, que a pesquisam e demonstram melhor do que ninguém. Os políticos são os homens que fazem outros entrar em atividade, e, dessa forma, governam.

 

Ora, a poesia visa mais a beleza e os sentimentos que a razão. Quem quer influenciar deve pôr de lado a  "mania de raciocinar" que, ao invés de ajudar na persuasão, atrapalha.

 

Disse Will Durant: "Desejamos uma coisa não pelo fato de encontrarmos razoes; nós encontramos razoes, PELO FATO DE A DESEJARMOS. Até filosofias e teologias inventamos para encobrir nossos desejos."

 

Vejamos a recomendação da McCann Erickson para a confecção de textos de propaganda persuasivos:

1.       O texto deve reconhecer um DESEJO ou uma NECESSIDADE DO LEITOR.

2.       Deve conter OFERTA da satisfação desse desejo ou necessidade;

3.       Deve oferecer COMPROVAÇÃO  de que essa satisfação será real.

4.       Deve JUSTIFICAR a ação que, segundo se espera, o leitor tomará.

 

A razão pesa muito pouco na balança da vontade. Fazemos o que queremos fazer, o que desejamos, o que precisamos, o que devemos, o que nos interessa. E tanto isso é verdade, que uma das principais preocupações do persuasor deve ser DAR RAZÃO ao persuadendo. Dêem toda razão ao que vai ser persuadido e ele fará o que vocês querem.

 

Sugerimos aos futuros persuasores a observação dos seguintes passos:

1.       Mostre que seu desejo é o MEIO para o outro atingir SEUS FINS (desejos, interesses, necessidades, objetivos);

2.       Para conseguir isso é preciso que o outro ESCUTE MESMO.

3.       Para o outro escutar mesmo precisa ter o espírito aberto para você.

4.       Para o outro abrir-lhe o espírito você precisa abrir o seu espírito a ele.

5.       Você abre seu espírito a alguém, ESCUTANDO MESMO esse alguém, esforçando-se SINCERAMENTE para entender o ponto de vista DELE e;

6.       finalmente, AJUDANDO O OUTRO A TER RAZÃO.

 

A história de Getúlio e a pendenga entre os dois amigos. A indignação de Dona Darcy e a resposta: "Não é que você tem razão!"

 

20. A RACIONALIZAÇÃO

Os criminosos, especialmente após sua condenação, não admitem que tenham errado. (....) Suas razoes são impressionantes pela lógica que encerram.

 

21. PARA ATRAIR A CABEÇA DE MACACO

Quem quer os fins, quer os meios.

 

22. PRINCIPAIS MOTIVOS

 

TODOS QUEREM SER:       TODOS QUEREM OBTER    TODOS QUEREM FAZER     TODOS QUEREM EVITAR

bons pais     saúde          expressar suas personalidades  perda de tempo

sociáveis e hospitaleiros tempo         resistir à dominação dos outros         perda de dinheiro

atualizados dinheiro      satisfazer à curiosidade  trabalho

criadores     popularidade         emular o admirável         desconforto

orgulhosos de suas posses        melhor aparência  apreciar o belo      preocupações

influentes sobre os outros        conforto      adquirir ou colecionar coisas    dúvidas

gregários     lazer  ganhar a afeição alheia   riscos

eficientes    orgulho das realizações   melhorar-se, de modo geram    embaraço pessoal

primeiros em tudo progresso: profissional, econômico e social         

reconhecidos como autoridades         maior diversão              

 

 

23.  A FRAÇÃO DE PREFERÊNCIA

 

 

PREFERENCIA = Esperança de recompensa              Aquilo que o outro deseja

                            Esforço requerido           O que queremos que ele faça

 

 

O persuasor deve sempre falar mais do que o outro quer, insistir nisso, mostrara as vantagens disso. Quando à parte de baixo, falar o quanto menos, falar com pouco caso, em voz mais baixa, tornando a coisa quase sem importância.

 

A técnica redacional manda que o preço, ou aquilo que queremos do outro, fique no MEIO DAS SENTENÇAS.

 

24. AINDA A CABEÇA DE MACACO

A cabeça de macaco guia-se pela vantagem ou desvantagem da ação proposta pelo persuasor.

 

Aristóteles indicava a DEMONSTRAÇÃO como um dos caminhos para a persuasão.

 

A dificuldade em pôr numa sentença apenas o que pretendemos significa apenas uma coisa: não pensamos suficientemente no problema.

 

Raciocinando bem, ninguém deseja mesmo as coisas em si. Todos desejamos o que as coisas fazem por nós. Se desejássemos a comida em si, não a tocaríamos, mas a guardaríamos carinhosamente, para sempre. Queremos é MATAR A FOME, e a comida é MEIO para isso.

 

"QUEM QUISER VENDER BEM, CONHEÇA MELHOR O FREGUÊS"

 

Eis algumas diretrizes aconselhadas por ocasião de um seminário na Alemanha:

"quem quiser vender mais fácil, rápido e melhor, deve familiarizar-se com as mais diversas MOTIVAÇÕES dos seus fregueses: avidez de lucro, ambição, vaidade - de acordo com os psicólogos em questão, mais acentuados nos homens que nas mulheres -, comodismo e sentimento de segurança, como ainda instinto de imitação. Indo mais além: quem quiser vender deve elogiar, NÃO SOMENTE A MERCADORIA como também sua FINALIDADE, ou seja, não se compra uma máquina fotográfica mas a possibilidade de se conseguirem boas imagens. Analogamente, não se adquire uma chave, mas a certeza de fechar bem a casa, da mesma forma que no automóvel, a possibilidade de se locomover a grandes distancias e suas vantagens decorrentes."

 

25. A CABEÇA DE GATO

A sensibilidade é governada pelo PRAZER que busca; e pela DOR da qual foge.

 

Quando queremos atrair alguém apelando para a cabeça de Gato, devemos mostrar a ele os prazeres derivados da ação proposta, ou prometermos alivio de alguma dor.

Neste caso a Verdade não tem muita importância. Importa a Beleza. Beleza da coisa apresentada; beleza de nossas palavras; de nossas idéias; do ritmo e da entonação. A intenção é seduzir o persuadendo. Ora, a Beleza seduz.

 

Fale de beleza, prazer, suavidade, graça, elegância, e... aguarde. Não insista em nada, não prove nada, não se mostre entusiasmado.

 

Recomendamos as seguintes obras da Ediouro:

O Poder das Palavras - Walmírio de Macedo

Aprenda a Conversar -- idem

Prestígio e Personalidade - Lewis Victor

 

26. VÊNUS, DEUSA DA BELEZA E DOS PRAZERES

Os grandes persuasores são, antes de mais nada, grandes amantes.

 

Diz Gustave Le Bon:

"Qualquer que seja a raça ou o tempo considerado, o objetivo constante da atividade humana foi sempre a pesquisa da felicidade, a qual consiste, em última análise, em procurar o prazer e evitar a dor."

 

E mais: "A atividade dos seres se dissiparia se desaparecessem as duas certezas que são os seus grandes móveis: o PRAZER e a DOR."

 

Precisamos ter sempre em mente que prazer e dor são os dois pólos que obrigam o homem a agir. Portanto:

1.       para que alguém aja de acordo com nossa vontade, mostremos a ele que nosso caminho conduz a um PRAZER.

2.       para que alguém não faça aquilo que não queremos, mostremos a ele que essa atitude irá fatalmente terminar em DOR.

 

O persuasor deve lembrar-se do Cinturão Mágico e recordar as 7 virtudes da Deusa dos Prazeres:

1.       graça

2.       atrativos

3.       silêncio expressivo

4.       fala doce

5.       suspiro persuasivo

6.       eloqüência do olhar e

7.       sorriso sedutor

 

27. AINDA A CABEÇA DE GATO

As coisas agradáveis seriam então:

1.       Tender para nosso estado natural, como, por exemplo: descansar, quando se está cansado; aliviar-se de algum fardo; etc/..

2.       o elogio, a lisonja, as honras

3.       os hábitos

4.       a liberdade

5.       a segurança

6.       as recordações

7.       as esperanças

8.       a vingança

9.       a vitória

10.     a amizade

11.     praticar o bem

12.     receber o bem

13.     mandar

14.     tudo que provoque o riso

 

NÃO LISONJEIE! REFIRA-SE A LISONJAS FEITAS POR TERCEIROS.

 

28. AINDA A CABEÇA DE GATO: SINCERIDADE

Disse Plínio Salgado: "Só lhes tenho uma coisa a ensinar e isso cabe numa sentença: sejam eloqüentes."

 

"A conquista da confiança de um cliente não é questão de apenas desejar servi-lo adequadamente, mas também de executar esse trabalho de MODO AGRADÁVEL: é combinação do QUE fazemos com COMO FAZEMOS."

 

"Existe certa técnica em relações humanas que ultrapassa o mero desejo de torná-las eficientes. Essa técnica inclui PENSAMENTO CONSCIENTE e PLANEJAMENTO. Supõe o conhecimento da outra pessoa, consciência de onde reside seu verdadeiro INTERESSE, e de como conduzi-la à satisfação do mesmo por métodos que a não contrariam mas a agradam. "

"As pessoas não agem; reagem, apenas."

 

29. AINDA A CABEÇA DE GATO: MEIO OU FIM?

O vendedor continuará apelando para a cabeça de Gato se mencionar que naquele verão está havendo verdadeira batalha entre as mulheres disputando a melhor fazenda. Prosseguirá lembrando que pessoas de bom gosto admirarão aquele tecido. Poderá mostrar que o tecido é diferente de tudo que havia sido feito anteriormente, correspondendo a uma mudança na moda, ou, pelo contrário, que é um retorno ao que anteriormente já foi usado. Perguntará se a freguesa gosta de costurar ela mesma e como faria com aquele tecido? Dirá que confia no critério da compradora, pois percebeu estar tratando com pessoa sensata. Perguntará a opinião da outra sobre o modo de vestir--se de suas amigas e se elas comprariam um tecido como aquele.

 

AS COISAS FÁCEIS SÃO AGRADÁVEIS.

O anunciante não fala do automóvel em si, mas discorre sobre as COISAS AGRADÁVEIS que este proporcionará à compradora.

 

30. RECAPITULANDO

Resumindo, portanto, nossa técnica, teremos:

        descubra qual "cabeça" predomina na pessoa: macaco (útil), gato (agradável) ou cão (honesto).

        apele para a cabeça predominante mas não esqueça de "dar um toque" nas outras.

        se não houver predominância, siga a ordem: útil, agradável, honesto. Lembre-se do "instruir, agradar e comover".

        Sentindo que não está persuadindo, descubra se o outro:

1) não está prestando atenção

2) está cansado ou deseja no momento outra coisa

3) tem resistência contra sua idéia; já foi convencido por outro; antipatiza com você

        Não esqueça que, conforme o caso, a pessoa pode resolver  por Cabeça diferente da costumeira.

 

O velho Henry Ford acostumou seu filho a ter como regra suprema de conduta a pergunta: "Isto é direito?" Se fosse direito, tinha ampla liberdade de ação, custasse o que custasse. Poderia sempre agir com a consciência tranqüila.

 

31. A CABEÇA DE CÃO

O homem só escolhe seu próprio mal quando: a) está errado; b) está viciado (habituado); c) está apaixonado (comumente se diz: está cego)

 

A velha trilogia (Inteligência, Sensibilidade e Vontade) torna a aparecer. A inteligência é que pode estar certa ou errada. Os hábitos, bons ou maus, por serem segunda natureza, são agradáveis e referem-se, portanto, à sensibilidade. As paixões dizem respeito, diretamente, à vontade.

 

Patético é termo de origem grega composto de duas palavras: pathos= paixão e ethos= inclinação.

 

Vejamos, primeiramente, o que distingue uma da outra: a inclinação, ou inclinações são comuns a todos os homens, de qualquer raça, país ou tempo; as paixões podem existir em todos os homens em diferentes graus, mas nem todos os homens as possuem ou sentem todas. As inclinações são, de modo geral, nobres. As paixões, quase sempre são plebéias. A educação aprofunda mais ainda as inclinações e procura dominar e destruir as paixões.

A filosofia faz as seguintes distinções entre ambas:

PAIXÕES       INCLINAÇÕES

são violentas         são calmas

são passageiras     são permanentes

são antagônicas    são harmônicas

são egoístas são altruístas

procuram o prazer ou fogem da dor   satisfazem necessidade natural ou tendência humana

 

As inclinações constituem o que Quintiliano chamava de "ethos", palavra grega com o sentido de "costumes". De "ethos" deriva a palavra "ética", ou seja, "moral".  Interessante é notar que a próprio palavra "moral" vem do latim "mos, moris", que também quer dizer "costumes". Ética e moral são, portanto, sinônimos perfeitos.

 

Não se pode estar triste e alegre ao mesmo tempo. As paixões são antagônicas. Quando uma está presente as outras desaparecem. Isto é importantíssimo para quem quer persuadir: o homem não pode sentir, ao mesmo tempo, duas paixões!

 

Se o persuadendo está resolvido a fazer alguma coisa por causa de alguma paixão que o domina, basta provocarmos outra paixão e a primeira desaparecerá. Desaparecendo a primeira, não há mais motivo para que ele queira fazer o que pretendia...

 

O amor-próprio excessivo é prejudicial e provoca sentimento exagerado da próprio importância, sendo uma das principais causas de... timidez! Sim, o excessivo amor-próprio nos inibe de fazer aquilo de que somos capazes.

As paixões são uma espécie de hábito que adquirimos: há pessoas que se acostumam à ira, à tristeza ou ao ódio. São maus hábitos que devem ser combatidos, embora representem potencial enorme de energia psíquica que podemos, também usar para grandes realizações.

 

A história de Churchill que pergunta ao rapaz "Você sabe por que entrei para a política?" e responde "Pura ambição!". E depois pergunta "Você sabe por que continuei na política?" e responde "Por pura raiva!".

 

[A paixão é a única energia capaz de mover o homem em direção à realização de algo. Sem paixão, o homem se torna imóvel.]

 

32. AS INCLINAÇÕES

A perfeita saciedade pode gerar até aversão pelo mesmo objeto que nos atraía.

As inclinações podem ser:

        referentes à Inteligência: amor do conhecimento, da ciência, da verdade em geral.

        referentes à Sensibilidade: prazer em sentir emoções, necessidade de afeto e carinho (dar e receber).

        referentes à Vontade: amor da independência, da propriedade, da glória, da estima dos semelhantes, do poder, etc.

 

Não há ser humano que não sinta forte inclinação para a Verdade. A mentira é violência que fazemos a nós mesmos antes de prejudicar os outros.

 

Queremos ou precisamos também dar e receber carinhos e carícias. Os solteirões sempre acabam arranjando um cão para lhes fazer companhia e satisfazer essa tendência humana.

 

Anunciar algum produto alimentício no radio ou na televisão após a hora do almoço ou do jantar é contraproducente. Estando o espectador saciado, talvez o anúncio provoque repulsa do telespectador. A hora melhor para esses anúncios seria ANTES do almoço ou ANTES do jantar, quando o apetite estivesse desperto. Então a sugestão atingiria diretamente a inclinação correspondente, ficando lá como bomba de efeito retardado.

Outra observação interessante é a de que, por termos inclinações a sentir emoções, podemos sentir algum prazer até nas emoções dolorosas. Os homens gostam de amar, disse Santo Agostinho. Diríamos mais: os homens gostam de sentir. Esta é a razão pela qual espetáculos horríveis, como desastres, atraem o povo.

A surpresa, tão agradável, é, no nosso entender, "um medo logo desfeito" e só por ser originariamente medo agrada. A conclusão pratica é esta: para agradar uma platéia, temos que apelar para seus sentimentos e dedilhá-los habilmente. Enquanto estiverem "sentindo" conosco, estarão felizes.

 

33. PERVERSÃO DOS APETITES E TENDÊNCIAS

QUADRO DAS INCLINAÇÕES, BASEADAS NO AMOR DE NÓS MESMOS, E SUAS PERVERSÕES

NORMAIS      PERVERTIDAS

REFERENTE AO CORPO (APETITES)      

amor ao bem-estar (conforto físico)   moleza

fome  gula

sede   dipsomania

sexo   luxúria

referentes à alma (tendências) 

da inteligência: amor do conhecimento, da ciência e da Verdade       bisbilhotice, xeretismo, novidadeirismo

da sensibilidade: sentimentalismo sadio, emotividade    morbidez, pieguice

necessidade de amar      sensualidade

da vontade: amor da independência   ambição desmedida

amor da estima dos semelhantes       vaidade

amor da propriedade      avareza

 

34. AS INCLINAÇÕES SOCIAIS

Inclinações patrióticas:

1.       amor do bairro: bairrismo

2.       amor da cidade: urbanismo ou polifilia

3.       amor da região: regionalismo

4.       amor da província natal: provincialismo, cuja perversão é chamada separatismo

5.       amor da Pátria: patriotismo

6.       amor do continente: pan-americanismo, ...

7.       inclinações corporativas; corporativismo

 

O amor da corporação a que pertencemos é dos mais fortes sentimentos existentes na alma humana.

 

35. INCLINAÇÕES MORAIS OU RELIGIOSAS

Somente a impossibilidade de lutar contra a injustiça pode obrigar-nos a aceitá-la.

 

36. AINDA AS INCLINAÇÕES

O homem, embora ostente altiva a cabeça, olhando as estrelas, é mais coração que pensamento.

 

38. A CABEÇA DE CÃO: AS PAIXÕES

Quando sentimos vivamente uma emoção, comunicamos a mesma aos outros. Esse fenômeno chama-se simpatia, no sentido técnico do termo simpatia. Sim = syn, do grego, quer dizer "junto com"; patia = pathos, em grego, quer dizer "sofrimento",  "paixão". Simpatia, portanto, é "Sofrer junto com" ou "sentir paixão junto com outro".

As leis da simpatia são:

1.       simpatizamos de acordo com a intensidade do sentimento que a origina.

2.       simpatizamos com os sentimentos das pessoas que amamos ou admiramos

3.       simpatizamos conforme nossa próprio sensibilidade for mais ou menos impressionável

4.       simpatizamos mais facilmente conforme o número de pessoas a nosso lado que estejam sentido a mesma emoção.

 

O número de pessoas que sentem a mesma coisa influi grandemente na simpatia. Quando toda a multidão está irada, sentimos ira também.

 

39. AS PRINCIPAIS PAIXÕES

São as seguintes as paixões principais:

POSITIVAS    NEGATIVAS

AMOR ÓDIO

ALEGRIA       TRISTEZA

AUDÁCIA      MEDO

DESEJO        AVERSÃO

ESPERANÇA  DESESPERO

IRA

A lira de 11 cordas:

Esperança, desejo, audácia, alegria, amor, ira, ódio, tristeza, medo, aversão, desespero

 

43. COMO DISSUADIR

Para persuadir precisamos manter atitude confiante, otimista e sustentar pensamentos positivos. Para dissuadir devemos assumir ar de desconfiança, insegurança e procurar pensamentos negativos.

Quando alguém está disposto a agir em determinado sentido, sabemos, de antemão, que está procurando sua felicidade conforme a entende. A ação proposta é MEIO para que ele consiga o que julga ser um Bem.

Quem vai dissuadir deve mostrar duas coisas:

1.       que a ação proposta não conduz a um BEM ou

2.       que a ação proposta conduz certamente a um MAL

 

Não sei de frase mais eficaz para dissuadir alguém de qualquer empreendimento do que esta:

 Xii...! Você já pensou no trabalhão que isso vai dar?

 

Outro método excelente é o "método da sensatez". Ponderações "sensatas" em torno do empreendimento. Consideração pormenorizada dos obstáculos que poderão surgir, das dificuldades que fatalmente aparecerão, dos empecilhos e percalços, etc.

 

O que o dissuasor não pode perder de vista é aquilo que anteriormente já foi dito: ninguém faz nada apenas por fazer. Todos nós visamos alguma coisa quando agimos.

O dissuasor deve descobrir, antes de mais nada, o MOTIVO pelo qual alguém quer agir desta ou daquela forma. Enquanto não soubermos a verdadeira razão pela qual alguém quer agir, nada conseguiremos.

 

44. O VERDADEIRO MOTIVO

Dificilmente contamos aos outros POR QUÊ queremos isto ou aquilo, ou vamos agir desta ou daquela maneira.

 

Desperta um MOTIVO e depois TORNA FÁCIL satisfazê-lo.

 

Eu e você temos sempre uma razão bonitinha, apresentável, decente e... tremendamente LÓGICA para fazer tudo que fazemos. Mas no fundo de nossas almas, escondida e caladinha, está a verdadeira razão.

Quando perguntarmos a um homem POR QUÊ? e recebermos a razão que soa bem, concordemos de coração com ele. Deixemos que ele nos convença, pois, no fundo, está querendo convencer-se a si mesmo. Aceitemos estas razões, simpatizemos com elas, melhoremos sua apresentação e deixemos bem claro que DE FATO É ISSO MESMO! Em seguida, em tom mais suave, mais tranqüilo, façamos outra pergunta: "Sim, estou de acordo. Mas... ALÉM DISSO existe algum outro motivo?"

O ALÉM DISSO agem como saca-rolhas. O outro acaba "confessando" o verdadeiro motivo. Agora que tem certeza de que nós engolimos suas "razões" e o consideramos pessoa sensata e lógica, não fica mal dar como acréscimo, como coisa secundária, o verdadeiro motivo de sua ação.

 

Embora não confessemos, nós não agimos de maneira racional. Mas fazemos questão de provar a todos, especialmente a nós mesmos, que somos verdadeiras maquininhas de lógica e sensatez.

O dissuasor usará então o POR QUÊ e o ALÉM DISSO para descobrir o verdadeiro motivo pelo qual o dissuadendo quer fazer o que vai fazer. Quando souber isso, saberá qual o FIM de que a ação é meio. Para dissuadir o outro, bastará mostrar que aquele FIM não será atingido com a ação pretendida (MEIO).

Eis a técnica. Agora é praticar.

 

45. "SURSUM CORDA!"

O persuasor é psicólogo, é conhecedor da sua alma e da alma de seus semelhantes. (...) A religião, entendida como ciência da alma humana e de suas relações com a divindade, é repositório fértil de ensinamentos psicológicos.

 

O amor-próprio, fundamento de belas e desejáveis inclinações, é, também, a fonte de todos os pecados (o orgulho, a avareza, a inveja, a luxúria, a ira, a gula e a preguiça).

 

A alma humana não mudou, desde os tempos dos Faraós. O Homem é sempre o Homem, nem animal, nem anjo, e nunca meio termo.

 

Saiba o persuasor que poderá ser tão imoral como a Serpente Tentadora ou tão elogiável como um Enviado de Deus.