EXTRATO DE: O FUTURO DO CAPITALISMO

 

TÍTULO DO ORIGINAL: THE FUTURE OF CAPITALISM

AUTOR: LESTER THURROW

EDITADO EM:    1996                    POR: ED. ROCCO

 

 Somos como um grande peixe que foi arrancado da água e está se agitando desesperadamente para voltar a ela. Em tal condição, o peixe nunca pergunta para onde o próximo movimento irá leva-lo. Apenas sente que sua atual posição é intolerável e que algo precisa ser feito.

Ditado chinês anônimo

 

PREFÁCIO (RAIMAR RICHERS)

Com a estagnação do capitalismo, a ênfase mudará para uma ideologia inteiramente diferente, talvez anticonsumista, talvez fundamentalista ou sacerdotal.

 

Sabemos que as ideologias se movimentam no traçado irregular das cobras, em altos e baixos....

 

É o risco da perda de ideologia que hoje ameaça o capitalismo. A ausência de inimigos o faz esmorecer e o torna passivo e vulnerável.

 

1 - NOVO JOGO, NOVAS REGRAS , NOVAS ESTRATÉGIAS

Os sistemas sociais [ou não] constróem defesas contra as  mudanças, assim como o corpo cria defesas contra doenças.

 

[Foi a existência do comunismo que fez o capitalismo se desenvolver. Todos os impérios entraram em decadência quando deixaram de ter oposição.]

 

Para curar os defeitos do capitalismo, os socialistas acreditavam que seria possível construir um novo ser humano - um “indivíduo social”, que seria “a pedra fundamental da produção e da riqueza”.  O comunismo fracassou porque, na pratica, ninguém conseguiu criar aquele novo ser humano. (...) Na competição entre valores individuais e valores sociais, venceram os valores individuais.

 

No inicio dos anos 40 o capitalismo estava à beira da extinção. O capitalismo que hoje parece irresistível poderia ter desaparecido, bastando uns poucos passos errados.

 

[a natureza] ocasionalmente ocorre algo que os biólogos conhecem como “equilíbrio interrompido”. O ambiente muda subitamente e aquela que havia sido a espécie dominante desaparece rapidamente e é substituída por outra.

 

Os dinossauros dominaram a terra por mais de 130 milhões de anos mas subitamente todos se extinguiram. Seja lá o que tenha acontecido, aconteceu rapidamente, mudando profundamente quem iria dominar e quem seria extinto.

 

Os exércitos de Napoleao e Julio Cesar se movimentavam igualmente, a cavalo, apesar de separados por 2000 anos. Mas 70 anos após a morte de Napoleao, trens a vapor podiam atingir velocidades superiores a 180 quilômetros por hora.

 

Durante períodos de equilíbrio interrompido tudo está mudado, o desequilíbrio torna-se a norma e reina a incerteza.

 

As 5 placas tectônicas econômicas:

1.   o fim do comunismo

2.   uma mudança tecnológica para uma era dominada por industrias de poder cerebral feito pelo homem

3.   uma demografia jamais vista

4.   uma economia global

5.   uma era em que não há nenhuma potência dominante, econômica, militar ou social

 

Quem for economicamente dominante poderá criar, mobilizar e organizar o poder cerebral que determina sua localização.

 

Nas sociedades industriais os setores econômicos tinham lares geográficos naturais dados por Deus.

 

A população do mundo esta crescendo mudando de lugar e ficando mais velha.

 

 Mudanças em tecnologia, transportes e comunicações estão criando um mundo onde tudo pode ser feito e comercializado em qualquer parte no planeta.

 

O século XXI não terá uma potência dominante, capaz de conceber, organizar e impor as regras do jogo econômico.

 

As placas econômicas flutuam sobre uma mistura fluida de tecnologia e ideologia.

 

O capitalismo precisava de um mundo no qual a avareza fosse uma virtude e um mercador pudesse ser muito agradável a Deus.

 

Normalmente os sistemas sociais antigos e bem-estabelecidos precisam ter um fracasso visível antes que lhes seja possível adaptar-se a um novo ambiente.

 

As sociedades florescem quando crenças e tecnologias são congruentes.

 

O prestígio romano não era determinado pela renda ou pelo papel da pessoa na economia, mas por seu sucesso militar.

 

Como pode funcionar um sistema capitalista em uma era de poder cerebral, quando este não pode ser possuído?

 

Como podem as nações-estados forçar o cumprimento de suas regras e regulamentos, quando as empresas podem mudar-se eletronicamente para algum outro lugar na face da Terra onde esses regulamentos não existem?

 

Por definição as utopias não podem ser construídas, mas elas proporcionam elementos que podem ser incluídos em nossos imperfeitos sistemas econômicos correntes para permitir que eles se adaptem a novas circunstancias.

 

Entre 93 e 95 o downsizing nos Estados Unidos foi de 1 milhão e meio de demissões. Reduções tão drásticas na força de trabalho criam um enigma econômico. Como podem empresas eficientes e lucrativas anunciar que irão continuar atendendo seus clientes existentes, mas em curto período de tempo reduzir suas forças de trabalho em 10 a 30%? Uma resposta é que os downsizings não foram tão grandes quanto pareciam. Alguns foram simplesmente uma passagem para fornecedores externos.  (...) Até certo ponto, o downsizing era uma técnica para reduzir salários sem ter que lidar com a sociologia de uma forca de trabalho insatisfeita por ter tido seus salários reduzidos.

 

No futuro, a motivação  para cooperação e esforço não serão salários acima do mercado, mas o “medo” - o medo de  ser demitido e atirado a uma economia de salários reais em queda.

 

Há hoje nos Estados Unidos mais homens presos ou em liberdade condicional do que desempregados. Quarenta por cento dos homens sem-teto solteiros já estiveram na prisão.  (...) A causa maior é a economia. Ela simplesmente não necessita, deseja ou sabe como usar um grande grupo de seus cidadãos.

 

Os homens acabam tendo um forte incentivo econômico para abandonar as relações e as responsabilidades familiares. Quando eles deixam suas famílias, seu padrão de vida real sobe 73% - embora o padrão da família deixada para trás caia 42%.

 

Pode-se obrigar as mães solteiras a trabalhar, mas isto, infelizmente, custa mais ao Estado do que o simples envio de cheques de assistência social.

 

A família de classe média onde um só ganhava está extinta.

 

Os asiáticos não conseguem acreditar no sistema europeu de bem-estar social para pessoas em idade economicamente ativa. Cinco semanas de ferias! Um mês de bonificação de Natal! 80% do salário repostos pelo seguro em caso de desemprego! Este sistema não pode continuar. As empresas podem mudar-se para o Extremo Oriente e evitar todos esses custos de benefícios marginais europeus.

 

Mediante a transferência de parte da sua produção para o Alabama e a Carolina do Sul, a Mercedes e a BMW reduzirão à metade seus custos de mão-de-obra na Alemanha.

 

Se as rendas per capita estão em alta mas os salários em queda, alguém deve estar ficando com toda essa renda extra. Como veremos em detalhe no Capitulo 5, esse alguém são os idosos. São eles que, no futuro, estarão impulsionando o sistema econômico.

 

O desenvolvimento de novos produtos em outros setores também irá focalizar cada vez mais os idosos. O sistema eletrônico de compras sem sair de casa é um bom exemplo.

 

O que será comprado eletronicamente depende do que os norte-americanos querem comprar vivendo uma experiência social e o que eles querem simplesmente comprar.

 

Os homens de marketing aprenderão que embora seja difícil transformar os idosos em seus clientes, uma vez convencidos, os idosos não se apressam a experimentar produtos de outros fabricantes. Se eles já são seus clientes, as dificuldades para mudar suas preferências tornam-se um ativo e não um passivo.

 

3 - PLACA UM; O FIM DO COMUNISMO

O terremoto que acabou com o comunismo lançou desordenadamente 1,9 bilhão de pessoas no mundo capitalista.

 

Todo sistema social faz bem algumas coisas e mal outras.

 

Por que alguém deveria pagar 75 mil dólares por ano a um Ph. D em Física americano, quando pode contratar um prêmio Nobel na antiga URSS por 100 dólares mensais?

 

A china cresce à taxa de mais de 10% ao ano há mais de 15 anos!!!! Mas...Os governantes regionais chineses recebem bonificação dependendo das taxas de crescimento de suas regiões e são eles mesmos os encarregados da coleta de estatísticas econômicas. O resultado é que se deve subtrair, em media, 4 pontos percentuais dos números atualmente divulgados.

 

Em qualquer pais, se a inflação for subestimada a produção será superestimada, uma vez que a produção real é simplesmente uma medida da produção monetária da economia, da qual foi subtraída a inflação.

 

Quando os salários subirem para cobrir os custos de vida reais, em pouco tempo a China deixará de oferecer a mão-de-obra de menor custo do mundo. (...) Mas os custos são baixos porque as fabricas já existem [o sistema comunista as construiu e amortizou]. Porém com o tempo todas as fabricas existentes e que podem ser reabilitadas estarão operando com eficiência máxima, e o volume de investimento necessário para sustentar qualquer taxa de crescimento irá subir.

 

A China, começando de onde está hoje, levará mais de um século para chegar ao mundo desenvolvido. O Japão levou esse tempo e nenhum pais foi tão rápido.

 

Stalin apaixonou-se por instalações com a da Ford em Detroit e 77% de todos os produtos feitos na antiga União Soviética, um pais com 280 milhões de habitantes, eram feitos em uma única fabrica gigantesca.

 

Em contraste, Mao aprendeu economia combatendo os japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Ele percebeu que se a China não tivesse nada de vital para ser destruída ou conquistado, seria grande demais para ser conquistada. Os japoneses poderiam colocar um soldado em cada aldeia chinesa e metade das aldeias da China não teria nenhum soldado japonês.

 

Pelas taxas de intercâmbio de mercado, a China representa apenas 1% do PNB mundial.

 

“Os homens práticos são normalmente escravos de um economista morto”. Lord Keynes.

 

Durante a Guerra Fria, a URSS e os Estados Unidos concordavam em um ponto: era perigoso permitir alterações em fronteiras nacionais, pois as duas grandes potências estavam demasiado inclinadas a se envolverem nas resultantes disputas fronteiriças entre seus clientes. (...)ambas sabiam que se fossem atraídas para disputas fronteiriças locais por seus clientes, havia uma chance grande demais dos mísseis começarem a voar entre Washington e Moscou.

 

Com o fim do comunismo as fronteiras estão mudando. Alguns desses novos países não existiram como nações-estados por mais de meio século, alguns tiveram histórias muito curtas, algumas deixaram de existir por centenas de anos e alguns nunca haviam existido.

 

Com a morte da ideologia do comunismo e as mortes de seus lideres revolucionários (Stallin, Tito...), os grupos étnicos descobrem que não mais podem viver juntos. É como se eles tivessem subitamente saído de uma idade do gelo, descongelassem e recomeçassem a lutar sem se lembrar do intervalo de décadas de paz.

 

Todas as fronteiras na África estão essencialmente no lugar errado - o lugar em que por acaso os exércitos britânico e francês se encontraram. As fronteiras existentes não fazem sentido geográfica, étnica, lingüistica, histórica ou economicamente.

 

A Índia nunca foi um pais, exceto quando unificada por um invasor de fora. Ela é um subcontinente de muitas religiões, muitas línguas, muitos grupos étnicos e muitas etnias.

 

Os naturais de Quebec acreditam (e estão certos) que se lhes for permitido continuar no NAFTA eles poderão obter quaisquer econômicas de escala que se possam obter e manter seus padrões de vida sem que precisem ser politicamente associados ao Canada de língua inglesa.  (...) Ser parcialmente governado à distancia por semidesconhecidos é simplesmente muito melhor do que ser totalmente governado por quem se conhece bem demais e está perto.

 

Ditaduras autoritárias ainda existem e continuarão a existir. As visões utópicas servem para dominar a lealdade voluntária da massa.

 

4 - PLACA DOIS: UMA ERA DE INDUSTRIAS DE PODER CEREBRAL FEITO PELO HOMEM.

 

O capitalismo é um processo de destruição criativa, no qual novas e dinâmicas pequenas empresas estão continuamente substituindo outras, grandes e velhas, que não foram capazes de se ajustar às novas condições.

 

Os setores de crescimento mais rápido nos anos 90 e inicio do século XXI são todos setores de poder cerebral feito pelo homem que poderiam estar localizados em qualquer parte do planeta. Sua localização irá depender de quem organizar o poder cerebral para cativa-las. 

 

O Japão possui a maior industria siderúrgica do mundo e não tem carvão, nem minério de ferro.

 

O que mais importa é ser líder em tecnologias de processos e o que menos importa é ser líder em tecnologias de novos produtos. (...) Para poder dominar as tecnologias de processos, uma empresa de sucesso precisa ser gerenciada de forma que haja uma teia impecável entre invenção, projeto, fabricação, vendas, logística e serviços, que os concorrentes não possam igualar.

 

O que a teoria diz é que aqueles que ganham com o comércio internacional recebem uma renda extra de suas atividades suficiente para que eles compensem aqueles que perdem quando se inicia o comércio internacional. Se essa compensação não é paga, então aqueles que perdem têm razão quando se opõem ao comércio internacional.

 

A cada instante a economia está operando em um período de desequilíbrio dinâmico a curto prazo, movendo-se na direção do equilíbrio, mas com as  mudanças dinâmicas vindo tão depressa em relação aos prazos que seriam necessários para atingir o equilíbrio, esses períodos de desequilíbrio a curto prazo nunca têm chance de se transformar em períodos de equilíbrio a longo prazo.

 

Na economia do futuro, aqueles  com habilidade de terceiro mundo irão ganhar salários de terceiro mundo, mesmo que vivam no primeiro.

 

Se você joga na defesa o tempo todo e nunca parte para a ofensiva, jamais vence.

 

As informações só fluem pela cadeia de comando acima quando as noticias são muito boas ou quando alguma coisa saiu muito errada e não pode ser omitida.

 

A sala de uma pessoa é sua toca. Ordenar simplesmente que as pessoas abram mão de suas salas pessoais iria causar uma revolução. Os vencedores serão aqueles que descobrirem uma forma de mudar a sociologia, para fazer com que a sala temporária se pareça com uma toca física pessoal na qual o trabalhador possa se refugiar.

 

O adolescente americano médio assiste vinte e uma horas de TV por semana, enquanto passa cinco minutos por semana a sós com seu pai e 20 minutos com sua mãe.

 

O mundo de comunicações por escrito enfatiza argumentos lógicos lineares que passam de um ponto ao seguinte com cada ponto apoiando-se logicamente no anterior. Apelos emocionais são certamente possíveis, mas é mais difícil faze-los numa folha de papel do que face a face.

 

Apelos lógicos podem ser feitos pelo veículo eletrônico, mas este é muito melhor para misturar emoções do que para transmitir informações lógicas. É preciso aprender a ler. Isto requer trabalho, tempo e investimento. Não é preciso aprendizado para assistir TV.

 

O publico diz que não gosta de propaganda política negativa. As pessoas acreditam que ela corrompe o processo político, tornando-as cépticas em relação a todos os políticos. Mas os anúncios políticos negativos funcionam - eles garantem as eleições para aqueles que os usam. Aquilo que o público rejeita logicamente, ele aceita emocionalmente.

 

Em 1995 os orçamentos penitenciários da Califórnia eram o dobro daqueles das universidades, com os gastos do Estado por pessoa na prisão quatro vezes maiores que os gastos por pessoa nas suas universidades.

 

O que vende é excitação. Se os cidadãos não comprassem os itens de que dizem não gostar, estes não seriam produzidos.

 

O que vende é velocidade e recompensa instantânea. [ Ligue agora para ganhar]

 

Emocione-se, não pense. Comunique-se, mas não se comprometa. Seja céptico porque todos os heróis acabarão sendo mostrados como tolos.

 

A família da TV é muito mais rica que a família americana media (4 vezes mais), que deixa a família americana real com uma noção errônea e exagerada do quanto o americano médio é de fato rico. Comparando-se com essa família mítica, todos acabam com sentimentos de privação relativa.

 

A aldeia eletrônica irá inevitavelmente conduzir o mundo na direção de democracias mais diretas do que representativas. (...) Aquilo que a tecnologia permitir, nossa ideologia irá exigir. Por que deveriam os eleitores filtrar suas crenças através de representantes eleitos, se isto não é mais uma necessidade física?

 

PLACA TRÊS: DEMORAFIA - CRESCENDO, MUDANDO, ENVELHECENDO

O Banco Mundial projeta um aumento da população mundial, dos atuais 5, 7 bilhões para 8,5 bi em 2030. O que assusta a respeito da previsão do Banco Mundial não é tanto o aumento de 50%, 2,8 bi de pessoas a mais, mas que 2 bi delas irão nascer em países onde as rendas diárias são inferiores a 2 dólares.

 

Ao longo de sua vida, um bebê americano nascido em 1990 produzirá 1 milhão de quilos de resíduos atmosféricos, 10 milhões de quilos de resíduos líquidos e 1 milhão de quilos de resíduos sólidos. Para ter o padrão de vida americano médio, ele precisará consumir 700.000 quilos de minerais, 24 bi de BTUS de energia (4000 barris de petróleo), 25.000 quilos de alimentos vegetais e 28.000 quilos de produtos animais (a matança de 2.000 animais).

 

Nenhum país consegue chegar ao primeiro mundo sem um século de crescimento populacional igual ou inferior a 1%.

 

[Assumindo a estimativa americana de que são necessários 250.000 mil dólares por pessoa em investimentos em educação, infra-estrutura, fabricas e equipamentos, habitação e alimentos até que novos cidadãos estejam em idade de trabalhar e assumindo que o Brasil mantenha sua taxa atual de crescimento populacional em torno de 2,4% e uma população atual de 160 milhões de habitantes.... os brasileiros irão precisar investir 960 bilhões ou seja, 48 bilhões de dólares por ano, durante 20 anos, para cada ano de aumento populacional. Isto apenas para manter a renda per capita] !!!! Mas o PNB brasileiro hoje é de somente 800 bilhões.

[Isto significa decidir entre duas alternativas: não aumentar a renda per capita ou aumenta-la e, consequentemente, aumentar o contingente abaixo da linha de pobreza. E não se falou em crescimento do PNB.]

 

A sabedoria convencional diz que as populações que estão se modernizando, urbanizando, enriquecendo e recebendo uma educação melhor experimentam uma queda nas taxas de crescimento população. Os países do golfo Pérsico têm todas essas características, mas também têm algumas das mais altas taxas de crescimento população do mundo.

 

A enorme transferência de recursos para os mais idosos transformou-os em eleitores de um só assunto (se o Governo aumenta ou reduz suas pensões ou os benefícios da assistência medica). Nas democracias, os eleitores de um só assunto têm um impacto desproporcional sobre o processo político, pois não dividem seus votos devido a interesses conflitantes em outras questões.

 

Excluindo os juros sobre a divida nacional, a metade do orçamento federal vai para os idosos. Em 2003 eles tomarão 75%. (...) Na Europa Oriental os problemas são ainda piores, pois os comunistas foram ainda mais generosos em suas promessas aos idosos.

 

A alíquota do imposto de seguridade social, atualmente de 15%, teria que ser elevada a 40% em 2029 para prover os benefícios que foram prometidos.

 

Na Bélgica a divida publica é de 142% do PNB.

 

Poderão governos democráticos cortar benefícios de um grupo de eleitores que estarão perto de ser a maioria? Se a resposta for não, a democracia não terá futuro a longo prazo.

 

Todos nós acabaremos ficando velhos e todos nós, em especial aqueles que estão perto da velhice, preferimos usar nosso próprio dinheiro para os luxos da vida e deixar que o Governo pague por nossas necessidades quando ficarmos velhos.

Hoje o grupo com maior proporção de pobreza é dos jovens abaixo de 18 anos. Contudo, o Governo gasta nove vezes mais per capita com os idosos (que votam) do que com os jovens (que não votam). Precisamente o grupo que mais necessita de investimentos para que haja uma economia americana de sucesso no futuro é o grupo que está recebendo menos.  (...) Nos próximos anos, a guerra de classes poderá não ser dos pobres contra os ricos, mas dos jovens contra os idosos. Nos Estados Unidos este conflito já é claro. Os idosos votam sistematicamente contra leis a favor do ensino sempre que têm esta oportunidade.

 

Embora os idosos estejam, provavelmente, ainda interessados em seus próprios netos, não vivem mais nas mesmas comunidades que eles. Cada um daqueles idosos eleitores de Kalkaska pôde votar contra a educação dos netos de outros e convencer a si mesmos de que, de algum modo, outros eleitores americanos iriam tratar seus netos de forma diferente.

 

As sociedades podem garantir um número fixo de anos de aposentadoria (10,15, 20), mas ninguém mais pode garantir aposentadoria a idade determinada, como 65 anos, quando a expectativa de vida está se alongando.

 

A realidade é que as pessoas  não poupam, a menos que sejam forçadas a faze-lo.

 

Em um sistema de transferencias entre gerações, a grande beneficiada é a primeira. Os membros desta geração recebem benefícios quando estão velhos, sem ter tido que pagar nada ao sistema quando eram jovens, uma vez que o sistema não existia. Eles recebem, mas não pagaram. A grande perdedora é  a ultima geração. Seus membros contribuem para o fundo durante a vida inteira, mas não existem jovens atrás deles para lhes pagar os benefícios. Eles pagam, mas não recebem.

 

Se os trabalhadores de hoje são forcados a poupar para sua própria velhice, mas nada é feito para cortar os custos do atual sistema para aqueles que já são idosos, então os trabalhadores de hoje precisam financiar ao mesmo tempo, os idosos de hoje e sua própria velhice. Em conseqüência disso, a passagem de um sistema de transferências entre gerações para um de auto-financiamento só pode ocorrer muito lentamente - deve-se pensar em um prazo de 50 a 75 anos. A passagem deve ser feita lentamente, a longo prazo, mas isto não muda aquilo que precisa ser feito a médio prazo.

 

Aquilo que os seres humanos sempre tiveram passa a parecer, em pouco tempo, um direito e não um privilegio.

 

6 - PLACA QUATRO: UMA ECONOMIA GLOBAL

C3=COMUNICAÇÃO, COMANDO E CONTROLE

 

[situação geo-política dos Estados Unidos] = no pós-guerra eles eram um pais rico, militarmente dominante e tinham a proteção de grandes oceanos a leste e a oeste e vizinhos grandes, amistosos e militarmente fracos ao norte e ao sul.

 

Foi provavelmente a ameaça indireta que o comunismo global representava para o capitalismo global que fez pender a balança em favor do internacionalismo.

Na visão de Marx uma ideologia comunista universal iria varrer as políticas nacionais e criar um sistema social global unificado com padrões de vida igualitários mundiais. Aos seus olhos, o nacionalismo era um dos maiores inimigos do comunismo. As ligações com nações teriam que ser esmagadas e substituídas pelo comunismo de um só mundo.“ Como os primeiros cristãos, quase todos os socialistas anteriores a 1914 acreditavam na grande mudança apocalíptica que iria abolir todo o mal e criar uma sociedade sem infelicidade, opressão, desigualdade e injustiça.”

 

Com o comunismo morto, as ameaças que serviram para produzir uma economia capitalista global não mais existem. Mas deter seu desenvolvimento poderia não ter sido difícil no inicio, mas desmantela-la agora seria muito difícil - provavelmente impossível.

 

Em um sentido muito real, a economia global incorporou-se fisicamente aos nossos portos, aeroportos e sistemas de telecomunicações. Mais importante, ela incorporou-se às nossas mentalidades.

 

O que acontecerá aos países que ninguém quer em seus grupos comerciais e não são suficientemente importantes para exigir acesso? [África ao sul do Saara]

 

Historicamente, a taxa de sobrevivência das áreas de livre comércio é muito baixa. Elas nunca duraram muito tempo.

 

As razões são claras. Áreas de livre comércio nivelam por baixo salários e preços, enquanto mercados comuns usam investimentos sociais para nivela-los por cima. Aqueles que se beneficiam com o livre comércio tendem a ser mais numerosos mas seus ganhos são em geral muito pequenos em relação às suas rendas totais.

 

Os mercados comuns têm uma visão de algo maior.

 

Periodicamente os governos das Américas se reúnem para discutir as Áreas de Livre Comércio das Américas (FTAA - Free Trade Áreas of the Américas). Mas eles somente concordam que irão fazer algo, ninguém sabe o quê, lá por 2005. Se esse esforço fosse sério, os países latino-americanos seriam autorizados a entrar para o NAFTA um de cada vez, desde que satisfizessem certos critérios prefixados, no lugar de tentar organizar algo totalmente novo.

 

É claro que os britânicos ainda são os britânicos. Mas no final eles irão concordar, porque não têm escolha. Fora da Europa, os britânicos não têm futuro econômico.

 

No Anel do Pacifico simplesmente não existem os fundamentos para um bloco comercial. Como no NAFTA, ninguém tem uma visão maior de unificação política. Os países estão em estágios muito diversos de desenvolvimento econômico e necessitam de regimes comerciais muito diferentes. Os ricos querem livre comércio em serviços; os pobres querem proteção. O maior mercado de todos é os Estados Unidos. Sem acesso a esse mercado, todos fracassariam. Todos estão espremidos entre o mercado americano de que necessitam e os fundos japoneses que desejam.

 

Os problemas da Europa são políticos. Ela pode dilacerar-se com conflitos étnicos. Entretanto, esses conflitos parecem não ameaçar a integração regional. Ao contrario, eles a fortalecem, pois os micropaíses que são criados querem todos juntar-se a uma união econômica maior.

 

Em vez de um mundo no qual as políticas nacionais guiam as forcas econômicas, uma economia global leva a um mundo em que as forcas geoeconomicas extranacionais ditam as políticas econômicas nacionais. Com a internacionalização, os governos nacionais perdem muitos dos seus instrumentos tradicionais de controle econômico.

 

No mercado globalizado as leis antitruste terão que valer para todos. O fato de não valerem leva ao absurdo das empresas aéreas americanas serem discriminadas em seus próprios mercados domésticos, por seu próprio governo. Para complicar ainda mais as coisas, aquelas empresas com sedes no exterior, que escapam às leis antitruste americanas, poderiam ter cidadãos americanos como acionistas dominantes.

 

A era da regulamentação das empresas por governos nacionais simplesmente acabou. As atividades vão para onde não são regulamentadas e, muitas vezes [cada vez mais], essa relocalizacao pode acontecer sem qualquer mudança física. Atividades de seguros e financeiras são eletronicamente realizadas nas Bermudas ou nas Bahamas, embora quase todos aqueles que as realizam estejam sentados em suas salas em Nova York ou Londres.

 

Agora que existem tecnologias e instituições financeiras que permitem a transferência de capitais usando-se um computador pessoal, é difícil imaginar como se fazer respeitar os controles de capitais. As leis poderiam ser decretadas, mas não seriam viáveis.

 

As providencias do Tratado de Maastrich para a criação de uma moeda comum aumentam as pressões pela necessidade de uma harmonização implícita de níveis de gastos, uma vez que os encargos fiscais totais devem ser basicamente semelhantes porque exigem convergência nas políticas orçamentárias e de endividamento dos governos. No final, os governos nacionais perdem grande parte do seu poder.

 

No mercado global, todas as pressões pela harmonização são para baixo.

 

Mas a era da regulamentação nacional está terminando e a era da regulamentação econômica global ainda não chegou. Ao menos por algum tempo, o capitalismo será testado com muito menos regulamentações governamentais.

 

O coração do sistema GATT-Bretton Woods é aquilo que é conhecido como NMF (Nação Mais Favorecida). NMF significa que cada pais proporcionará a todos os países o mesmo que proporciona ao seu parceiro comercial mais favorecido - sua nação mais favorecida. Mas isto é exatamente o que ninguém está disposta a fazer agora. Os Estados Unidos não oferecem ao Brasil as mesmas condições proporcionadas ao México. O México está no NAFTA; o Brasil não. O clube ainda existe, mas não conta mais com um conjunto de princípios que diga o que fazer.

 

Para que o terceiro ou o segundo mundo se desenvolvam usando estratégias de exportação, o primeiro mundo terá que importar mais. Mas por que os países do primeiro mundo estariam de repente dispostos a fazer isso? A Franca é a quarta maior economia do mundo; contudo, o que ela mais importa do terceiro mundo são bananas.

 

Dentro do mundo desenvolvido, a questão da proteção cultural será central.

 

A questão foi colocada de forma dramática por Jacques Delors, então dirigente do Mercado Comum Europeu: “Eu gostaria simplesmente de colocar uma pergunta aos nossos amigos americanos: Temos o direito de existir? Temos o direito de preservar nossas tradições, nossa herança, nossas linguagens? ...A defesa da liberdade inclui o esforço de cada pais para usar a esfera audiovisual para garantir a proteção da sua identidade?”

Mas não é fácil traçar a linha entre economia e cultura. Oitenta por cento dos filmes exibidos na Europa são americanos, mas somente 1% dos filmes exibidos nos Estados Unidos são europeus. Filmes são produtos culturais, mas são eles, e não aviões, o maior item das exportações americanas.  A afluência e a eletrônica transformaram a cultura no maior dos grandes negócios.

 

Uma economia global encoraja a falta de compromisso. Por que um pais deveria pagar por pesquisa básica e desenvolvimento, se suas empresas podem usar quaisquer novas tecnologias desenvolvidas em qualquer pais do mundo?

 

...as pressões para que as verbas federais de P&D sejam distribuídas de forma mais igualitária entre os estados, em vez de dirigidas àqueles melhor equipados para pesquisas. As atividades de P&D das multinacionais tendem a ser realizadas onde está sua sede (87% em 91), mas a maior parte dos empregos é criada onde os resultados de P&D são usados. [Ou seja, quem vai financiar P&D  serão os países consumidores dos resultados.]

 

O ISO 9000 é um padrão europeu que está sendo aplicado ao resto do mundo. Até certo ponto, o Mercado Comum irá escrever as regras do comercio mundial simplesmente porque é hoje o único grupo internacional com poder para dita-las.

 

Na Europa, a ideologia está empurrando a economia; no mundo a economia está empurrando a ideologia.  (...) a cooperação irá exigir abandono de uma grande dose de soberania nacional. Taxas de juros e equilíbrios orcamentários precisam ser acordados coletivamente por grupos de países. (...) mas tanto a direita como a esquerda estão certas ao afirmar que isto é antidemocrático. É antidemocrático ser regido por estrangeiros ou, pior ainda, por burocratas internacionais.

 

Em períodos de equilíbrio interrompido, os níveis de incerteza sobem enormemente.

 

7 - PLACA CINCO: UM MUNDO MULTIPOLAR SEM UMA POTÊNCIA DOMINANTE

[Para ter uma idéia da dimensão do plano Marshall]. Os pagamentos chegaram a 2% do PNB americano. Para os tomadores, isso representava 10% de seus PNBs. Atualmente, uma transferência de 2% do PNB eqüivaleria a cerca de 140 bilhões de dólares por ano em auxílio econômico. Em contraste, os Estados Unidos proporcionam hoje somente 8,7 bilhões em ajuda humanitária e econômica e 5,3 bilhões em ajuda militar - 0,3% do PNB.

 

[A conseqüência é que] o resto do mundo capitalista simplesmente não precisa tanto dos Estados Unidos como no passado. Hoje é muito mais fácil dizer não.

 

As pessoas se importam muito mais com as mortes quando os soldados estão morrendo em tempo real na TV do que jamais se importaram quando essas mortes apareciam em seus jornais.

 

A TV não mais reflete a realidade; ela é a realidade. [O que está na TV existe; o que não está, não existe.]

 

Hoje o caos continua o mesmo na Somália, mas a mídia se foi - e com ela as tropas americanas e da ONU. Os resultados são esquizofrênicos. O publico quer que seu governo faca algo na Somália, mas não quer ver nenhum dos seus soldados feridos.

 

A Bósnia é um pais com 4 milhões de habitantes. Se mais de 500.000 soldados da OTAM lá estivessem, como estiveram no golfo Pérsico, haveria um soldado sob cada árvore no país [1 para cada 8 habitantes]. Entretanto, ninguém quis comprometer suas tropas até que a limpeza étnica e a exaustão tivessem seguido seu curso.

 

Os contribuintes americanos simplesmente não irão pagar pela defesa de pessoas mais ricas que eles contra um inimigo que não pode ser especificado ou imaginado. Por outro lado, a Europa não deseja o choque de uma rápida retirada americana, mas também não quer mais ter os americanos dirigindo suas políticas militar e externa.

 

Do ponto de vista da preservação da liderança mundial, pode-se dizer que os americanos deveriam fazer aquilo que fosse necessário, interna e externamente, para preservar o valor do dólar e manter seu papel como moeda para reservas. Mas os americanos não irão agir. No restante do mundo, os governos adotam políticas dolorosas para impedir a queda do valor das suas moedas, pois existem enormes pressões domesticas, por parte do publico, para que eles ajam. Nos Estados Unidos, entretanto, essas pressões não existem.

 

Como a queda do dólar não acelera a inflação norte-americana, aqueles que pensam que perdem quando ela sobe, não têm interesse em pedir providencias para o fortalecimento da moeda. Eles têm muito mais a perder com as taxas de juros mais altas, necessárias para deter a queda do dólar, do que a ganhar com um dólar mais forte.

 

A ameaça à liderança americana pode ser vista no processo de paz no Oriente Médio. O congresso disse claramente a Clinton que não tentasse comprar a cooperação da Síria no processo de paz. Comprar a paz no Oriente Médio estava certo quando havia a ameaça de intervenção da URDD pela lealdade árabe, mas não valia a pena gora que a ameaça do comunismo desapareceu. Por que os contribuintes americanos não-judeus deveriam ser generosos em pagar pela paz entre Israel e os árabes? Deixe que eles lutem se quiserem, os russos não irão intervir e, seja lá o que acontecer, não afetará os EAU. Porém, no processo os Estados Unidos também terão perdido sua capacidade para liderar a paz no Oriente Médio.

 

A Europa não será líder mundial por no mínimo meio século, pois terá que se concentrar em consumar sua própria unificação.

 

Um líder global precisa ter uma economia e uma sociedade que estrangeiros possam entender e nas quais possam penetrar. Não é o caso do Japão.

 

Para durar muito, qualquer sistema social precisa ser fortalecido por uma poderosa ideologia integradora. Quando desaparecem as ameaças externas e as ideologias unificadoras, o próximo passo é encontrar unidade dirigindo a raiva contra um conjunto de membros da sociedade que sejam por ela desprezados.

 

Infelizmente, nem o capitalismo nem a democracia são ideologias unificadoras. Ambos são ideologias de processo que afirmam que, se a pessoa seguir os processo recomendados, estará melhor do que se não o fizer. Espera-se que os eleitores votem em seus próprios interesses.

 

[Aqui eu discordo frontalmente de Thurrow. Ele fala de uma ideologia integradora como algum propósito coletivo mas não é. As ideologias integradoras apenas fazem uso de propostas individualistas apresentadas com uma promessa que interessa à maioria dos cidadãos. O Confucionismo não prega a integração pela integração e sim porque apresenta uma proposta de que a integração é melhor para o indivíduo no futuro. Ele também se confunde quando diz que:]

 

“Nas mais rigorosas expressões da ética capitalista, crime é simplesmente mais uma atividade econômica, que por acaso tem um alto preço (prisão) se o criminoso for apanhado. Não existe nenhuma obrigação em obedecer à lei. Não existe nada que alguém “não deva” fazer. Deveres e obrigações não existem. Só existem as transações de mercado.”

 

[É interessante observar como um pensador brilhante de repente comete um deslize tão infantil como este. Não é uma questão cultural, mas biológica,  a condição humana de só fazer o que lhe desagrada se for obrigado e de não fazer algo que o atrai sem o aceno de uma penalização. Isto não é do sistema capitalista. É do ser humano. No mundo muçulmano não é o capitalismo o responsável pelas sanções mas a religião. É conhecido que em determinados países o roubo é punido com a decapitação das mãos. ]

 

[Com a perda, temporária,  de um inimigo visível, a  unidade do mundo capitalista será mantida daqui para a frente exatamente com a imagem da falência do comunismo. A mensagem é: olhe o que irá lhe acontecer se você quiser abandonar este sistema. Por outro lado, as diferenças étnicas explodindo em conflitos nacionais também fará seu papel. Outro inimigo que não pode ser esquecido são as sociedades fundamentalistas que confrontam drasticamente com as culturas democráticas e pluralistas.]

 

Quando há lideres fracos em toda parte, isto diz mais a respeito dos tempos do que a respeito dos indivíduos. Em um período de equilíbrio interrompido não há lideres, uma vez que ninguém compreende com clareza as ameaças - ou as oportunidades do ambiente. Tudo está fluido, sem pontos constantes a parti dos quais se pode ganhar alavancagem política.

 

Uma das duras realidades a respeito do veículo eletrônico é que ele destrói seus astros com a mesma velocidade com a qual os cria [e recria].

 

Para se ter alguma idéia de para onde está indo a marcha, é preciso organiza-la e lidera-la antes que ela se forme.

 

[Mas...]

 

O perito em sondagens de opinião publica (o assessor mais importante de qualquer político) diz ao político para onde está indo a marcha pública para que este possa saltar à sua frente e parecer um líder, quando na verdade ele é um seguidor.

 

Nossa única experiência moderna de um mundo multipolar sem um líder dominante ocorreu entre as duas guerras mundiais. A Rússia comunista; Alemanha, Japão e Itália fascistas; e Franca, Grã-Bretanha e Estados Unidos, democracias capitalistas, colidiram em um mundo sem centro de gravidade. Os resultados não foram felizes.

 

8 - AS FORCAS Que ESTÃO REMODELANDO A SUPERFÍCIE ECONÔMICA DA TERRA.

Todos os países industrializados do mundo acabaram chegando à conclusão de que a única cura para a inflação seria usar taxas de juros mais altas e políticas fiscais mais severas (impostos mais altos ou gastos menores) para deliberadamente conter o crescimento, elevar o desemprego, forcar os salários para baixo e manter os preços sob controle.


A inflação foi conquistada mas seus combatentes concentraram-se tanto em continuar lutando que não conseguem reconhecer que venceram.

 

Neste processo de busca ao redor do mundo pelos mais altos retornos, onde eles estiverem, os preços, alugueis, salários, juros e dividendos tornam-se mais homogêneos. Os salários sobem nos países com baixos salários e caem nos países com altos salários - um processo conhecido pelos economistas como “equalizacao do fator preço”.

 

Embora ainda existam as complementaridades entre os qualificados e os não-qualificados, as modernas tecnologias de transportes e comunicações permitem que as partes qualificadas dos processos de produção sejam executadas em países do primeiro mundo, enquanto as partes não-qualificadas são executadas em países do terceiro mundo.

 

A China é um caso especial somente no sentido de que levará muito tempo para que os salários de 1,2 bi de pessoas venham a se parecer com aqueles do primeiro mundo.

 

Os únicos diferenciais salariais que podem sobreviver a longo prazo são aqueles justificados pelas habilidades que resultam em maior produtividade.

 

No topo da força de trabalho, o americano é, ao mesmo tempo, o mais qualificado e, de longe, o mais bem remunerado. Na faixa de pessoas com formação de nível secundário, que não concluíram o curso superior, os trabalhadores alemães e japoneses são muito mais qualificados que os americanos.  Na base da forca de trabalho, os Estados Unidos pagam menos e têm muito mais pessoas não-qualificadas, que não alcançariam os padrões de desempenho de um europeu ou japonês com formação de segundo grau.

 

Os americanos “emburrecem” o processo de produção. As empresas alemãs operam com menos gerentes e profissionais elevando a qualificação da base da força de trabalho. Ambos os sistemas funcionam, assim como a “sobrevivência do mais apto” não significa que somente uma espécie sobrevive na Terra.

 

Os salários individuais não refletem apenas as habilidades individuais; eles têm um componente de equipe. Aqueles que têm a sorte de trabalhar para uma equipe de alta produtividade (uma boa empresa) recebem mais que aqueles, com as mesmas habilidades, que trabalham para uma equipe de baixa produtividade (uma empresa pobre). Os sortudos ganham mais.

 

Em contraste com a redução dos  empregos nas áreas produtivas, os empregos burocráticos cresceram, a despeito do uso maciço de tecnologias da informação em áreas como contabilidade e financias. Misteriosamente, a produtividade dos trabalhadores de escritório cresceu lentamente ou mesmo declinou. Isso parece ter mudado em meados dos anos 90.

 

Uma força de trabalho mal-humorada e não cooperativa, especialmente nos quadros gerenciais, pode elevar os custos acima daquilo que pode ser ganho com reduções salariais.

 

9 - INFLAÇÃO: UM VULCÃO EXTINTO

OEM=FABRICANTES ORIGINAIS DE EQUIPAMENTOS

 

Taxas de juros mais altas muitas vezes atuam como freios com defeito. O motorista pisa no pedal e inicialmente nada acontece. Então ele pisa mais forte. De repente, os freios pegam e o carro é atirado para fora da estrada.

 

Nossas sociedades toleram o alto desemprego porque somente uma minoria sofre com ele. A maioria dos figurões da sociedade sabe que não será afetada.

 

Os eleitores dão valor aos aumentos salariais mas sentem-se enganados por aumentos de preços.

 

As empresas, em seu planejamento, precisam se preparar simultaneamente para um mundo onde não existe inflação, mas onde haverá recessões deliberadas periódicas, concebidas para combater inflações imaginárias.

 

A mão-de-obra [os cidadãos] continuará vivendo em um mundo onde os governos falam (discursam] a respeito da necessidade de se restaurar o crescimento real dos salários, mas criam excessos de mão-de-obra [agem] para empurrar os salários para baixo. Como resultado, ninguém deve prestar atenção quando eles falam a respeito de restaurar uma economia com altos salários e rendas reais crescentes. Salários sobrem quando há escassez de mão-de-obra, não quando há excesso.

 

10 - Japão: A GRANDE FALHA ENTRE O COMÉRCIO MUNDIAL E O ANEL DO PACIFICO

O déficit americano de 145 bi (94) e o superávit japonês de 130 bi são essencialmente, imagens especulares mutuas. Nenhum pode existir sem o outro. Falar a respeito de um é falar a respeito do outro. Considerado apenas o bilateral ele é de 66 bi.

 

Exceção de uns poucos, todos os países têm grandes déficits comerciais com o Japão, os quais eles financiam [compensam] através de superávits comerciais ainda maiores com os Estados Unidos.

 

O déficit comercial americano só irá desaparecer com importações menores ou exportações maiores. Não há outras opções. [Mas] Se os Estados Unidos importarem menos, as industrias do resto do mundo que vendem os produtos para os Estados Unidos precisarão encolher. Se os Estados Unidos exportarem mais, as industrias do resto do mundo que concorrem com as exportações americanas precisarão encolher.

 

Suponha que alguma comibnação de maiores importações e menores exportações leve o comércio americano a um equilíbrio. Nesse ponto o resto do mundo precisará, por um processo simples de subtração, manter um déficit agregado de 130 bi de dólares com o Japão. [Como isto é impossível] o resto do mundo precisaria deixar de comprar produtos japoneses rapidamente, assim como o México deixou de comprar produtos americanos na esteira da sua crise cambial.

 

Ninguém pode manter para sempre um grande déficit comercial. O pais é muito grande, pode tomar emprestadas grandes quantias e vender muito antes de quebrar, mas em algum ponto os mercados financeiros mundiais irão se fechar para ele, assim como se fecharam para o México.

 

A pergunta não é se irá ou não ocorrer um terremoto. Certamente irá. A única pergunta é quando (...)

 

Estamos no ponto em que os Estados Unidos vêm mantendo um grande déficit comercial há tanto tempo, mais de 20 anos, que todos estão dispostos a acreditar no impossível. Aqueles que diziam que o déficit não poderia durar para sempre se calaram. Como ervas daninhas, brotaram teorias para explicar por que os Estados Unidos são um pais singular (...) Nenhuma delas faz sentido. Em algum ponto, os Estados Unidos perderão a capacidade para financiar seu déficit comercial.

 

Os juros e o principal da divida americana somam 1 trilhão de dólares.

 

Economicamente, enquanto o Japão estiver disposto a absorver os prejuízos em seus ativos no exterior e a vender os produtos exportados por preços inferiores àqueles do mercado interno (o consumidor japonês continua disposto a subsidiar o consumidor estrangeiro), não haverá pressões econômicas para que ele aja. E na verdade o Japão não irá agir.

 

Como os preços americanos (até de produtos japoneses) são muito inferiores aos preços dos mesmos bens no Japão, então o mercado japonês é fechado. O Toyota MR2 é vendido por 30 mil dólares no Japão e por 24 mil nos EAU.

 

Empresas estrangeiras produzem 17% do PNB americano e 24% do PNB alemão. Quanto elas produzem no Japão? Somente 0,2% e a metade disso é produzida por uma empresa - a IBM do Japão.

 

Para reduzir seu superávit comercial, o Japão teria de mudar seu sistema social e ele não quer faze-lo.

 

O Japão está sentado na estagnação, esperando pela tradicional locomotiva econômica americana do pós-guerra. Mas essa locomotiva não anda mais.

 

Nas palavras de Seymour Martin Lipset, existe um choque entre as crenças americanas no excepcionalismo americano e as crenças japonesas na singularidade do Japão. Cada um recomenda que o outro mude para ficar mais parecido com ele. Contudo, nenhum dos dois gosta particularmente do estilo de vida do outro. Nem o Japão nem os Estados Unidos irão tomar as providências que deveriam tomar.

 

Qualquer um que coloque seus ativos em iene ou marco em vez de dólar, ou assine contratos nessas moedas no lugar de em dólar, ficará muito mais rico que aqueles que usaram o dólar.

 

Todos saberão que o fim está próximo quando o resto do mundo se recusar a emprestar aos Estados Unidos em dólar e exigir que seus empréstimos sejam em outra moeda. Se os Estados Unidos concordarem com essas exigências, estarão cometendo uma enorme estupidez - sobrecarregando-se com dividas que crescem com a queda do dólar.

 

Suponha que os Estados Unidos comecem a poupar mais. Mais poupanças (ou menos consumo, pois são apenas duas maneiras diferentes de se fazer a mesma coisa) levam a uma demanda menor por bens e serviços; a produção cai, pessoas são demitidas, há menos investimento e o PNB cai. A balança de pagamentos melhora exatamente porque as rendas estão mais baixas e as pessoas não podem se dar ao luxo de comprar produtos importados.

 

Agora suponha, por outro lado, que os Estados Unidos tentem resolver seu desequilíbrio comercial mediante a imposição de quotas de importação. Com menos exportações para os Estados Unidos, a produção e as rendas cairão no resto do mundo. Com rendas menores, um pais como o Japão irá poupar menos, levando investimento e poupanças a se equilibrarem. Nos Estados Unidos aqueles que gastavam seu dinheiro com importados precisarão poupar mais ou optar por produtos domésticos com preços mais altos. À medida que eles comprarem esses produtos o desemprego cairá, as rendas crescerão e, consequentemente, aumentarão também as poupanças. Além disso, com o aumento da produção domestica e preços mais altos, crescerão as poupanças das empresas.

 

11 - INSTABILIDADE ECONÔMICA

Os ciclos de negócios são tão intrínsecos ao capitalismo como os terremotos à geologia da Terra.

 

Teoricamente, o capitalismo não deveria ter ciclos de negócios. A produção se ajusta mais depressa do que salários ou preços - exatamente o reverso daquilo que deveria acontecer.

 

Em termos técnicos, as recessões acabam oficialmente com dois trimestres de crescimento positivo.

 

Os mercados financeiros do mundo podem hoje movimentar tanto dinheiro ao redor do mundo com uma velocidade tão grande, que as políticas monetárias precisam ser ajustadas aos seus ditames - e não às necessidades domesticas da economia. Muitas vezes os governos, para evitar fugas de fundos, elevam as taxas de juros quando a fraca demanda domestica e os recursos produtivos desempregados (humanos e físicos) exigiriam exatamente o contrario - juros mais baixos.

 

Novos governos que enfrentam altos níveis de desemprego falam a respeito de estímulos, mas acabam adotando medidas de austeridade (impostos mais altos e cortes nos gastos) exatamente opostas àquelas que Lord Keynes teria prescrito e que eles mesmos prometeram durante sua campanha eleitora.

 

Estados Unidos, Japão e Alemanha constituem 50% da economia mundial.

 

Em meados de 87, os observadores econômicos previam que 88 seria um ano medíocre. Em novembro de 87, as expectativas eram de que ele seria um ano muito ruim. Na verdade, porém, 1988 foi o melhor ano da década.

 

Os cidadãos não gostam de ver seus governos humilhados pelos mercados financeiros mundiais. Eles descarregam sua raiva resultante, não sobre financistas amorfos, mas sobre os políticos que elegeram. Se os políticos não podem realizar aquilo que os cidadãos querem que seja feito, por que te-los?

 

Como seres humanos, inteligentes sob outros aspectos, puderam deixar de ver que os ativos estavam superavaliados? A resposta está na ganância.

 

[Penso que é mais complexo. Se fosse verdade, a ganância deveria levar à proteção daquilo que se tem na perspectiva de que aquilo pode ser perdido. Mas não é o que acontece. Penso que as pessoas não acreditam que sejam tão inteligentes.  Alguém que, num momento de euforia do mercado de ações, venha com um discurso de “crash” vai ser considerado louco. E ninguém quer ser visto assim. Além do mais, se ele fizer a sua parte, ou seja, vender suas ações, e a bolsa não reverter num médio prazo, ele não só se verá como “otário” como será conhecido no mercado como tal. Mesmo aquele que teve coragem para tanto, ao se ver como otário, recompra as ações agora por um valor ainda mais alto e então.... não vende antes que seja tarde.]

 

Todos pulam para dentro dos mercados pensando que serão suficientemente espertos para sair antes que o fim chegue. Quem sai cedo demais perde muita renda em potencial.

 

No fim de cada uma dessas bolhas todos declaram que aquilo não acontecerá novamente mas sempre acontece. As memórias se vão e os enormes lucros no caminho até o pico da bolha são irresistíveis.

 

[Tem sempre pato novo.]

 

Ao longo das décadas de 70 e 80, as regulamentações adotadas para impedir uma repetição da Grande Depressão foram extintas.

 

Quando o dinheiro pode ser movimentado instantaneamente em um computador pessoal, toda a idéia de controle desaparece.

 

Em um dia normal os mercados mundiais de capitais movimentam 1,3 trilhão de dólares, mas todas as exportações do mundo somam apenas 3 trilhões por ano.

 

Em qualquer momento sempre haverá um elo fraco no sistema financeiro mundial.

 

Apenas 6 meses antes o México estava sendo amplamente citado como o pais que estava fazendo tudo certo. O presidente Sallinas era um herói nas capas de todas as revistas. Um ano depois, ele estava no exílio e sendo acusado de quase todos os crimes conhecidos pelos homens. Como os mercados não podiam ser culpados por aqueles que os operam, foi preciso achar corrupção (drogas, assassinatos) e demônios (o irmão do presidente).

 

Em fevereiro de 94 o México possuía reservas de 30 bilhões de dólares. Em dezembro elas estavam reduzidas a 6. Dispondo de informações privilegiadas sobre o que estava acontecendo com suas minguantes reservas, os cidadãos mexicanos parecem ter iniciado a debandada em busca das saídas financeiras. Tão logo os estrangeiros souberam o que estava acontecendo, também correram para as saídas.

 

Na realidade, o empréstimo de 52 bi protegeu mais os fundos mútuos americanos do que o México, mas a conta foi deixada para os mexicanos. Diante desta realidade, por que deveriam os cidadãos mexicanos pagar os custos daquilo que é, essencialmente, uma apólice de seguros para estabilizar o sistema financeiro mundial? Deixe que aqueles que usam o sistema paguem os prêmios de seguros necessários. “Não pode pagar, não paga”.

 

Como taxas de juros mais altas são os únicos instrumentos de que os governos dispõem para deter a fuga de capitais, elas são um dos resultados de um mundo onde grandes volumes de capital podem ser rapidamente movimentados de um pais para outro.

 

Uma vez que um dólar em queda causa pouco sofrimento nos Estados Unidos, não haverá apoio político doméstico para as necessárias ações curativas e a probabilidade de que o Governo americano seja capaz de impor, ao público americano, o mesmo sofrimento econômico imposto ao México é nula.

 

12 - VULCOES SOCIAIS: FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO E SEPARATISMO ÉTNICO

A ascensão do fundamentalismo religioso é um vulcão social em erupção. A conexão com a economia é simples: os economicamente ignorantes se refugiam no fundamentalismo religioso.

 

A despeito do que os seres humanos dizem com freqüência - “Gostamos de mudar” - todos eles detestam mudar. A maldição chinesa “Que você viva em tempos interessantes (de mudanças)” (mais ou mento equivalente à maldição ocidental “Que você queime no inferno”) é a que melhor expressa as verdadeiras visões humanas.

 

Historicamente, os períodos de incerteza sempre testemunharam uma ascensão do fundamentalismo religioso.

 

Os indivíduos escapam da incerteza econômica do seu mundo real refugiando-se na certeza de um mundo religioso, onde lhes dizem que, se seguirem as regras prescritas, eles certamente serão salvos. No mundo deles não há incertezas.

 

Na Argélia, fundamentalismo islâmico significa de 30 a 40 mil civis mortos (...) Em Israel, jovens fundamentalistas islâmicos prendem bombas a seus corpos e explodem pessoas em pontos de ônibus ou no centro de Tel Aviv.

 

Como encontrar os novos valores morais, que irão contribuir para a sobrevivência humana, sem um período de experimentação que irá perturbar muitos?

 

Os fundamentalistas religiosos são ditadores sociais. Como eles conhecem o caminho correto que leva ao céu, obrigar os outros a segui-lo é o que deve ser feito. Se está “certo”, não é ditatorial. A mídia libertaria pede que se deixe o vizinho sozinho; os fundamentalistas religiosos consideram seu dever religioso forcar o vizinho a se “comportar”.

 

Somente a experimentação social pode determinar o que funciona, e é isto que os fundamentalistas mais detestam. Como resultado, a maior parte do terrorismo do fundamentalismo religioso ainda está por vir.

 

Os conceitos de sangue e de pertencer estão na mente, não na terra.

 

Hoje a identidade grupal é, muitas vezes, definida por quem você quer mandar de volta para casa ou eliminar da Terra.

 

Sem uma ideologia interna ou uma ameaça externa, viver em conjunto pacificamente tornou-se muito mais difícil.

 

O público quer que algo seja feito a respeito de cada novo problema, mas só por pouco tempo.

 

No passado, todos pensavam que a divisão de um pais em partes menores significava um padrão de vida mais baixo; hoje todos sabem que isso não é verdade. Como resultado, é possível seguir sozinho, sem ter que cooperar com outros grupos étnicos, e ter um alto padrão de vida. Com este conhecimento, desaparece um dos impedimentos anteriormente existente ao feudalismo étnico.

 

13 - DEMOCRACIA VERSUS O MERCADO

Democracia e capitalismo têm crenças muito diferentes a respeito da distribuição adequada de poder. O capitalismo é perfeitamente compatível com a escravidão. A democracia não.

 

Nas sociedades democrático-capitalistas o poder vem de duas fontes - riqueza e posição social. Nestas sociedades sempre foi possível converter poder econômico em poder político ou, reciprocamente, poder político em poder econômico.

 

A distribuição de QI é muito achatada em comparação à distribuição de renda ou de riqueza. O 1% do topo da população possui 40% de todo o patrimônio liquido, mas eles não possuem nada parecido com 40% do total de QI.  Simplesmente não existem pessoas com Qis milhares de vezes mais altos (basta ter um QI 36% acima da média para estar na faixa de 1% do topo).

 

[A taxa real de juros nos Estados Unidos nos últimos 10 anos foi de 2,2%.]

 

As economias capitalistas são, essencialmente, como Alice no País das Maravilhas, onde é preciso correr muito para ficar parado.

 

A mensagem desses programas [de bem-estar social] era: não importa o quanto o capitalismo o está tratando mal, a democracia está do seu lado. A democracia preocupa-se com a desigualdade econômica capitalista e está trabalhando para reduzi-la. A combinação deu certo. O conflito em potencial, entre o poder capitalista e o poder democrático, não explodiu.

 

A existência simultânea dos dois sistemas de poder nunca foi testada durante um período em que o rápido crescimento das desigualdades era amplamente conhecido e o Governo estava determinado a nada fazer a respeito delas. Este teste está em andamento agora.

 

Quanta desigualdade o Governo pode impedir antes de atingir o limite do excesso?

 

A democracia, como um meio de todos votarem, é um sistema social muito novo e ainda não provou que é a forma política “mais apta” disponível. Na antiga Atenas, a democracia não se aplicava às mulheres nem a um grande número de homens - talvez a maioria - que eram escravos. A antiga Atenas era aquilo que chamaríamos hoje de aristocracia igualitária. Ela não era aquilo que hoje entendemos por democracia.  O direito universal de voto é um fenômeno do século XX.

 

Nas sociedades do antigo Egito, Roma imperial, China clássica, incas, astecas, em todas elas existiam ideologias sociais congruentes com suas realidades econômicas. Nenhuma delas acreditava em igualdade em qualquer sentido - teórica, política, social ou economicamente. No antigo Egito e em Roma, a ideologia oficial exigia uma divisão muito desigual do poder e das recompensas econômicas. Na antiga Roma, grande parte da população era constituída por escravos e a ideologia oficial afirmava que a escravidão era boa para aqueles com mentalidade de escravos.  A escravidão era justa, tanto para grandes pensadores como Aristoteles como para os escravos trazidos para aquelas sociedades.

 

Capitalismo e democracia são incongruentes porque igualdade política não é compatível com desigualdade econômica.

 

O economista Herbert Spencer, no século XIX acreditava que era dever dos economicamente fortes levar os economicamente fracos à extinção. Spencer chegou a criar o movimento da eugenia para impedir os ineptos de se reproduzirem, uma vez que esta seria simplesmente a forma mais humana de fazer aquilo que a economia iria fazer de forma mais brutal (inanição) se deixada por sua conta.

 

Em Hong Kong o Governo é dono de todas as terras e mais de um terço da população vive em habitações públicas.

 

O uso do poder político para reduzir as desigualdades do mercado requer um alto grau de equilíbrio. Se a taxação for alta demais, tirando muita renda daqueles que a ganharam pelas regras do capitalismo e entregando-a a outros segundo critérios não baseados em seu esforço produtivo, deixam de existir os incentivos capitalistas.

 

Pode-se cobrar mais impostos para financiar programas de treinamento de habilidades, sem conseqüências adversas, do que para financiar programas de transferência direta de renda, uma vez que o beneficiário do treinamento ganha algo do Governo, mas precisa trabalhar para tirar proveito daquele incentivo.

 

Para os seres humanos, a infelicidade ocorre quando a realidade fica abaixo das expectativas (salários reais em queda numa terra que espera que eles subam) e quando as regras para se ter sucesso são desconhecidas e estão em mutação (o que é preciso fazer para elevar sua renda, quando os salários reais estão caindo para os homens em todos os níveis de renda?)

 

A visão de Spencer, de que os defeitos individuais conduzem a inadequações econômicas que não podem ser corrigidas por ações sociais, está hoje refletida em livros como The Bell Curve. Aqueles que estão no fundo do sistema econômico merecem estar lá e não podem ser ajudados devido às suas inadequações pessoais.

 

É bom lembrar que o Estado do bem-estar social não foi implantado por esquerdistas furiosos. Seus parteiros foram, quase sempre, conservadores aristocráticos esclarecidos (Bismark, Churchill, Roosevelt) que adotaram políticas de bem-estar social para salvar, não destruir, o capitalismo, protegendo a classe media.

 

O poder é o bem de consumo supremo. Quase só ele é desejado, e pode ser usado, em quantidades ilimitadas.

 

As eleições transformam-se em pesquisas de população girando em torno de questões triviais e dependentes de quem aparece melhor na televisão. As eleições acabam sendo vistas como a substituição de um grupo de escroques por outro grupo de escroques. Todos votam para garantir que seu grupo étnico, e não outro, obtenha os cargos no Governo. Eu voto a favor do meu estreito egoísmo econômico, sem levar em conta o quanto ele prejudica você.

 

A democracia, para funcionar, precisa de uma visão de utopia - um caminho para uma sociedade melhor - uma visão que transcenda o estreito egoísmo sectário.

 

Os partidos de esquerda têm uma tarefa mais difícil. Sua tarefa é ter uma visão utópica do gu que proporcione a força da locomotiva para  mudanças. Com freqüência suas visões são inatingíveis e inexeqüíveis(...)

 

A cobiça individual simplesmente não é uma meta que possa manter qualquer sociedade unida a longo prazo.

 

Existem algumas maneiras para as sociedades se manterem unidas sem uma visão.

 

·      As sociedades podem se unir para resistir a uma ameaça externa.

·      As sociedades podem se unir no desejo de conquista - de construção de um impérios.

·      As sociedades podem se unir no desejo de [se tornarem mais puras] - na falta de uma visão, qualquer sociedade acabará recuando para a etnia. Elimina aqueles que têm uma religião diferente, um idioma diferente ou uma herança étnica diferente e, de algum modo, o mundo magicamente ficará melhor.

 

Um grupo de 10% dos eleitores que esteja disposto a votar a favor ou contra um político a respeito de um assunto é suficiente para faze-lo ganhar ou perder a maioria das eleições.

 

No passado era preciso dirigir-se à população inteira, uma vez que não era possível atingir um pequeno segmento da mesma. Mas hoje é fácil enviar uma mensagem somente àqueles que poderão ser simpáticos a ela.

 

É muito melhor transformar-se em um grupo de interesse especial poderoso do que tentar transformar-se em maioria. Porém, forçar as minorias a falar entre si é a maneira de ensina-las a fazer concessões, maneira pela qual elas se transformam em maiorias.

 

O veto da minoria substitui o voto da maioria.

 

Se a sociedade quer que aconteça algo de positivo, algo que se some ao bem-estar liquido, então ela deveria pagar por um parque em vez de impedir um proprietário de aproveitar comercialmente seus terrenos e forca-los a prover um parque publico às suas expensas privadas.

 

Mas o princípio da compensação deveria ser aplicado a tudo, não apenas às regulamentações ambientais. Embora haja pessoas que não viveriam perto de usinas nucleares por dinheiro algum, há outras que fariam isso por quantias surpreendentemente pequenas. A usina nuclear Pilgrim, em Boston, ficava numa localidade isolada. Hoje há casas ao seu redor. As pessoas se mudaram para lá exatamente porque os impostos prediais e territoriais são mais baixos do que em outras áreas.

 

Na Idade Media, o público foi espremido pelo privado. Para estarem seguras em suas casas, as pessoas não podiam dormir no andar térreo; elas iam dormir no segundo andar usando escadas removíveis. Gangues de jovens e a violência nas ruas eram duas das principais razões para aquela retirada.

 

Na Califórnia existe uma comunidade com muro, fosso, ponte levadiça e um dispositivo denominado bollard que arremessa um cilindro metálico de um metro para dentro do assoalho de carros não autorizados.

 

Seus residentes muitas vezes pagam taxas muito pesadas pelos serviços (elas seriam chamadas de impostos se fossem cobradas por governos) e estabelecem regulamentos (cores das casas, alturas de arvores, nada de mastros de bandeira nem varais visíveis, nada de estacionar nas ruas, nada de estranhos nas ruas e parques da comunidade) que seriam inconstitucionais se fossem decretados numa cidade pública.

 

À medida que o Império Romano foi escorregando para as profundezas da Idade Média, o privado gradualmente espremeu o público até que o setor privado efetivamente engoliu tudo e o setor público desapareceu. Perdeu-se a intensa devoção dos romanos pela res publica. Cada indivíduo, no lugar de ser um cidadão romano, estava ligado a um senhor feudal que controlava todos os aspectos da sua vida - trabalho, habitação, direito de reprodução, justiça.

 

No ano 600 d. C., somente 3% da população da França vivia em cidades.

 

A mudança nas atitudes daqueles que possuem habitações foi da simpatia para a apatia e depois para a antipatia.

 

Os homens que dirigiam a Igreja na Idade Média têm sido descritos como “os menos cristãos dos homens; os menos devotos, menos escrupulosos, menos compassivos e da pior espécie - devassos, quase sem exceção.”

 

A mensagem da história é clara. As instituições sociais não cuidam de si mesmas.

 

Na teoria do capitalismo, as instituições cuidam de si mesmas. As sociedades com instituições eficientes eliminam aquelas com instituições ineficientes, pois são mais produtivas.

 

Na ausência das instituições certas, as melhores tecnologias nunca foram de valor para a China e os benefícios das suas brilhantes invenções nunca surgiram. Os ineficientes acabam sendo derrotados.

 

Se o Governo não deve ser um proprietário socialista dos meios de produção, nem um provedor de benefícios de bem-estar social, o que deve ser ele? A resposta teórica do capitalismo é que quase não existe necessidade de um governo ou de qualquer outra forma de atividades públicas. Os mercados capitalistas podem prover com eficiência todos os bens e serviços que os seres humanos desejam ou dos qusi necessitam, com exceção daqueles poucos itens conhecidos como bens públicos puros.

 

A primeira característica de um bem público puro é que seu consumo por qualquer pessoa não importa o quanto ele seja extenso, não reduz a quantidade disponível para o consumo das outras.

 

A segunda característica de um bem público puro é que é impossível impedir os outros de usá-lo. Se o sistema de defesa Guerra nas Estrelas do presidente Reagan tivesse sido construído, ele teria protegido todos ou ninguém.

 

A terceira característica deriva das duas primeiras. Pelo fato de todos poderem usar simultaneamente esses bens, e de ninguém poder ser impedido de usa-los, todos têm um incentivo para ocultar sua verdadeira demanda por esses bens para não ter que pagar sua justa parcela dos custos.

 

Além dos bens públicos puros, algumas atividades possuem aquilo que os economistas chamam de “externalidades” positivas ou negativas. A educação pode proporcionar externalidades positivas nas quais se eu trabalhar com outras pessoas educadas, minha produtividade subirá.

Os governos existem para preservar a propriedade privada - não para tirá-la.

 

É muito mais eficiente inculcar valores sociais que levem as pessoas a não roubar. Com esses valores, a propriedade privada é protegida a custo zero.

 

As sociedades não funcionam muito bem, a não ser que a maioria dos seus membros se comporte bem a maior parte do tempo.

 

Os grupos surgiram muito antes dos indivíduos. Os seres humanos são feitos de apoio e pressão sociais.

 

Nenhum grupo significativo de seres humanos jamais viveu em um estado de natureza individualista. Nenhum conjunto de indivíduos selvagens jamais se reuniu para decidir formar um governo em seu próprio interesse. O governo, ou organização social, existe desde que existe a humanidade. Foram os valores sociais que formaram os valores individuais, e não o contrário. A individualidade é um produto da comunidade e não algo que precisa ser sacrificado à mesma. [Discordo de Thurow. Está mais que provado que existe uma parte herdada de nossa personalidade. E é exatamente isso que faz com que pessoas de um mesmo grupo gostem de cores diferentes, por exemplo.]

 

As sociedades bem-sucedidas precisam manter em equilíbrio os dois lados da espécie humana. A questão não é de opção individual em contraposição a laços sociais, mas sim de descobrir a melhor mistura de ações individuais e comunais que permita à sociedade persistir e florescer.

 

Valores não são, nem serão, inculcados pela família, pela Igreja ou qualquer outra instituição, no presente ou no futuro. Eles são - e serão - inculcados pela mídia eletrônica e visual.

 

Pode-se até argumentar que a mídia necessita romper normas cada vez mais fundamentais para gerar excitação, pois a violação de qualquer código de conduta torna-se entediante se a vimos violada muitas vezes. Roubar carros e ser perseguido pela polícia é excitante na primeira vez, e talvez na centésima, mas acaba deixando de sê-lo e é preciso cometer a violação de uma norma mais fundamental para gerar excitação. Excitação vende. A obediência às normas sociais, existentes ou novas, não é excitante e não vende. Resistir ao impulso de roubar um carro nunca é excitante. É simples assim.

 

14 - UM PERÍODO DE EQUILÍBRIO INTERROMPIDO

A comunicação entre ativos torna-se mais importante que a concentração de ativos.

 

Seguindo este procedimento, o valor líquido presente dos futuros bens de consumo que poderão ser ganhos por meio de investimento sempre deve ser superior ao valor dos bens de consumo correntes que precisam ser deixados de lado para que eles façam os investimentos.

 

Se os salários para homens estão caindo em todos os níveis de educação, qualquer que seja o valor financeiro de uma educação hoje, seu valor como ativo no futuro será menor.

 

Com uma taxa de desconto de 7,2% (a taxa livre de riscos paga pelo Governo em 1994 para um instrumento financeiro de 16 anos), US$1,00 daqui a 16 anos vale somente UmaS$0,30 hoje. Usando a taxa de risco da economia privada (12,2%), aquele US$1,00 daqui a 16 anos vale hoje somente US$0,16. Mesmo em um ambiente livre de riscos, se somarmos o dinheiro que terá que ser investido e o prazo até sobrevir o retorno, é altamente improvável que um investimento educacional traga retorno à pessoa. Se adicionarmos um fator de risco que eleve a taxa de desconto em 30% (à taxa usada por muitas empresas capitalistas na tomada de decisões de investimentos arriscados), US$1,00 daqui a 16 anos valem agora somente US$0,02.

 

Nenhum pai capitalista empedernido investiria (nem deveria faze-lo) em 16 anos de educação para seus filhos. Um bom bônus do Governo é um investimento muito melhor.

 

Enquanto eu estava na fila para fechar minha conta de um hotel em Nova York, na minha frente estava um entregador analfabeto que precisava entrar na fila para que o funcionário do hotel lesse o nome no pacote e lhe dissesse o número do quarto no qual o pacote deveria ser entregue. O analfabeto leva mais tempo para executar seu trabalho, mas sua ignorância também gasta o tempo do funcionário do hotel e o tempo de todos aqueles que estavam na fila atrás dele. Todos nós nos tornamos menos eficientes devido à ignorância dele.

 

O ensino 100% público e obrigatório somente pode ser justificado se for reconhecido que existem metas sociais, bem como individuais, retornos sociais que não necessariamente vão para investidores individuais e investimentos de que o capitalismo necessita para sobreviver, mas não pode fazer e não fará por si mesmo.

 

Nos Estados Unidos, os investimentos públicos em infra-estrutura foram reduzidos à metade nos últimos 25 anos e chegaram ao ponto em que o suprimento de capital público está declinando em relação ao PNB -= caindo de 55 para 40% do PNB na ultima década.

 

Canção de ninar prussiana:

 

Por falta de um prego, perdeu-se a ferradura.

Por falta de uma ferradura, perdeu-se o cavalo.

Por falta de um cavalo, perdeu-se o cavaleiro.

Por falta de um cavaleiro, perdeu-se a batalha.

Por falta de uma batalha, perdeu-se o reino.

E tudo pela falta de um prego de ferradura.

 

Infelizmente, o capitalismo não inclui um conjunto de normas sociais que compense a tendência individual humana de enfatizar o curto prazo. No capitalismo ninguém pode dizer que um indivíduo deve consumir menos e investir mais.

 

A realidade mostrada por esta análise é que os indivíduos e suas preferências são produzidos pela sociedade e pelas influências sociais. Não existe nenhum conjunto intrínseco de preferências individuais. [Existe sim.]

 

Como as pessoas não sabiam o quanto iriam viver e dependiam de suas próprias poupanças na velhice, cada uma tinha que se preparar (poupar) para a possibilidade de viver muito. Era preciso poupar muito antes de se aposentar e ser muito parcimonioso depois de aposentado. Na ausência das pensões, públicas ou privadas, era necessário poupar para a velhice, mesmo que a taxa de retorno dessas poupanças fosse negativa. Quem não poupasse morreria de fome na velhice.

 

A seguridade Social é um sistema de transferencias entre gerações, dos jovens para os velhos, sem nenhum poupança liquida - o dinheiro que entra é aproximadamente igual àquele que sai.

 

Viver sem programas de bem-estar social quando eles não existiam é muito diferente de livrar-se deles depois que eles existem.

 

Se o que se deseja é mais poupança, a técnica correta não é reduzir os impostos sobre a renda, mas penalizar o consumo com impostos progressivos.

 

Os países conseguem mais investimentos estimulando-os e não tentando elevar os índices de poupança.

 

Pelas regras de decisão capitalistas, a resposta quanto ao que deve ser feito hoje para prevenir esses problemas é muito clara - nada. Por maiores que sejam os efeitos negativos daqui a 50 ou 100 anos, seu valor descontado liquido presente é zero. SE o valor corrente das futuras conseqüências negativas é zero, então nada deve ser gasto hoje para impedir a ocorrência desses problemas distantes. Porém, se os efeitos negativos forem muito grandes daqui a 50 ou 100 anos, será demasiado tarde para se tentar melhorar a situação, uma vez que qualquer providencia então tomada só terá efeito depois de outros 50 ou 100 anos, E aqueles que viverem no futuro, se forem bons capitalista, também decidirão nada fazer, por piores que sejam os seus problemas. Finalmente chegará uma geração que não poderá sobreviver no meio ambiente alterado da Terra, mas então será tarde demais para que ela faça qualquer coisa para impedir sua própria extinção. Cada geração toma boas decisões capitalistas, mas o efeito liquido é o suicídio social coletivo.

 

Todas as sociedades precisam de uma mistura de autocontrole e controle social, mas até mesmo o autocontrole é instalado socialmente. Aprender é uma atividade social, não individual. As comunidades não são agregações de indivíduos, mas interações entre indivíduos - das quais conversar e contar historias são vitais.

 

As tecnologias foram desenvolvidas para satisfazer metas especificas. Dar dinheiro aos pesquisadores e dizer-lhes que façam coisas boas não funciona.

 

As indústrias de poder cerebral feitas pelo homem irão se localizar onde alguém organizar o poder cerebral para atrai-las.

 

O emprego vitalício seria substituído pela “empregabilidade” vitalícia. Um contrato como este exigiria grandes  mudanças nas políticas normais de recursos humanos.

 

15 - OPERANDO EM UM PERÍODO DE EQUILÍBRIO INTERROMPIDO.

Os governos enfrentam dificuldades em todo o mundo pois não têm resposta para os problemas e preocupações reais enfrentados por seus cidadãos. As políticas que estão sendo decretadas devido à grande vitoria republicana em 1994 nem mesmo tratam dos problemas dos salários reais em queda e da crescente desigualdade.

 

Para mudar, as democracias precisam persuadir grandes números de seus cidadãos médios (muito mais que 51%) de que as  mudanças são necessárias. As maiorias são inerentemente conservadoras, pois uma mudança significa que a própria maioria precisa abandonar velhos caminhos. Sem uma crise é difícil persuadir uma grande maioria de que alguma coisa deve mudar. Sem uma crise, as minorias prejudicadas pela mudança sempre podem obstruí-la.

 

Não é possível ter uma ideologia de igualdade (democracia) e uma economia que gera desigualdades cada vez maiores com reduções absolutas de renda para a maioria da população votante.

 

Poupar não é divertido. Mas participar de um processo de utilização dos fundos liberados pela poupança para construir algo pode ser divertido. O crescimento não é um processo automático de movimento silencioso de um ponto de equilíbrio para outro.

 

Para que as pessoas tenham uma mentalidade de construtor, o governo precisa ser um construtor ativo e visível.

 

Os alemães reclamam, mas têm salários maiores e mais dias remunerados sem trabalhar (42 feriados mais dias de ferias e 19 dias por doença) do que os americanos e japoneses.

 

Todos os dias os rochedos vencem. As ondas batem contra eles e parece que nada acontece. Mas sabemos, com certeza absoluta, que um dia todos aqueles rochedos serão grãos de areia. As ondas perdem todos os dias, mas a longo prazo elas vencem.

 

Colombo consta na história como o maior explorador do mundo, talvez o homem mais famoso da história, porque ele descobriu algo completamente inesperado, as Américas, e aconteceu que elas estava cheias de outro, A moral da história é que é importante ser inteligente, mas é ainda mais impo ter sorte. Mas Colombo não teve sucesso porque tinha sorte. Ele teve sucesso porque fez o esforço de partir numa direção nunca antes seguida, a despeito de muita resistência daqueles que o cercavam. Sem aquele enorme esforço, ele poderia não ter estado em posição de ter uma boa sorte colossal.

 


SÍNTESE DE “O FUTURO DO CAPITALISMO”

Lester Thurow

 

 

 

1)                 É o risco da perda de ideologia que hoje ameaça o capitalismo. A ausência de inimigos o faz esmorecer e o torna passivo e vulnerável.

2)                 “Equilíbrio interrompido” : o ambiente muda subitamente e aquela que havia sido a espécie dominante desaparece rapidamente e é substituída por outra.

3)                 Durante períodos de equilíbrio interrompido tudo está mudado, o desequilíbrio torna-se a norma e reina a incerteza. Em períodos de equilíbrio interrompido, os níveis de incerteza sobem enormemente.

4)                 As 5 placas tectônicas econômicas:

·                    o fim do comunismo

·                    uma mudança tecnológica para uma era dominada por industrias de poder cerebral feito pelo homem

·                    uma demografia jamais vista

·                    uma economia global

·                    uma era em que não há nenhuma potência dominante, econômica, militar ou social

5)                 A população do mundo esta crescendo mudando de lugar e ficando mais velha.

6)                 As placas econômicas flutuam sobre uma mistura fluida de tecnologia e ideologia.

7)                 Como pode funcionar um sistema capitalista em uma era de poder cerebral, quando este não pode ser possuído?

8)                 Os downsizings não foram tão grandes quanto pareciam. Alguns foram simplesmente uma passagem para fornecedores externos.

9)                 A economia [capitalista ou não] não necessita, deseja ou sabe como usar um grande grupo de seus cidadãos.

10)            A família de classe média onde um só ganhava está extinta.

11)            O que será comprado eletronicamente depende do que os norte-americanos querem comprar vivendo uma experiência social e o que eles querem simplesmente comprar.

12)            Todo sistema social faz bem algumas coisas e mal outras.

13)            Quando os salários subirem para cobrir os custos de vida reais, em pouco tempo a China deixará de oferecer a mão-de-obra de menor custo do mundo.

14)            Ditaduras autoritárias ainda existem e continuarão a existir. As visões utópicas servem para dominar a lealdade voluntária da massa.

15)            O que mais importa é ser líder em tecnologias de processos e o que menos importa é ser líder em tecnologias de novos produtos.

16)            Na economia do futuro, aqueles  com habilidade de terceiro mundo irão ganhar salários de terceiro mundo, mesmo que vivam no primeiro.

17)            Se você joga na defesa o tempo todo e nunca parte para a ofensiva, jamais vence.

18)            Aquilo que o público rejeita logicamente, ele aceita emocionalmente.

19)            O que vende é excitação. O que vende é velocidade e recompensa instantânea. [ Ligue agora para ganhar]

20)            Aquilo que a tecnologia permitir, nossa ideologia irá exigir.

21)            Nenhum país consegue chegar ao primeiro mundo sem um século de crescimento populacional igual ou inferior a 1%.

22)            A enorme transferência de recursos para os mais idosos transformou-os em eleitores de um só assunto.

23)            Poderão governos democráticos cortar benefícios de um grupo de eleitores que estarão perto de ser a maioria? Se a resposta for não, a democracia não terá futuro a longo prazo.

24)            A realidade é que as pessoas  não poupam, a menos que sejam forçadas a faze-lo.

25)            Aquilo que os seres humanos sempre tiveram passa a parecer, em pouco tempo, um direito e não um privilegio.

26)            Fora da Europa, os britânicos não têm futuro econômico.

27)            No mercado globalizado as leis antitruste terão que valer para todos.

28)            A era da regulamentação das empresas por governos nacionais simplesmente acabou.

29)            No mercado global, todas as pressões pela harmonização são para baixo.

30)            Dentro do mundo desenvolvido, a questão da proteção cultural será central.

31)            O ISO 9000 é um padrão europeu que está sendo aplicado ao resto do mundo.

32)            O resto do mundo capitalista simplesmente não precisa tanto dos Estados Unidos como no passado. Hoje é muito mais fácil dizer não.

33)            A TV não mais reflete a realidade; ela é a realidade. [O que está na TV existe; o que não está, não existe.]

34)            A Europa não será líder mundial por no mínimo meio século, pois terá que se concentrar em consumar sua própria unificação.

35)            Quando desaparecem as ameaças externas e as ideologias unificadoras, o próximo passo é encontrar unidade dirigindo a raiva contra um conjunto de membros da sociedade que sejam por ela desprezados.

36)            Quando há lideres fracos em toda parte, isto diz mais a respeito dos tempos do que a respeito dos indivíduos.

37)            A inflação foi conquistada mas seus combatentes concentraram-se tanto em continuar lutando que não conseguem reconhecer que venceram.

38)            Neste processo de busca ao redor do mundo pelos mais altos retornos, onde eles estiverem, os preços, alugueis, salários, juros e dividendos tornam-se mais homogêneos.

39)            Os salários individuais não refletem apenas as habilidades individuais; eles têm um componente de equipe.

40)            Taxas de juros mais altas muitas vezes atuam como freios com defeito.

41)            A mão-de-obra [os cidadãos] continuará vivendo em um mundo onde os governos falam (discursam] a respeito da necessidade de se restaurar o crescimento real dos salários, mas criam excessos de mão-de-obra [agem] para empurrar os salários para baixo.

42)            O déficit americano de 145 bi (94) e o superávit japonês de 130 bi são essencialmente, imagens especulares mútuas. Nenhum pode existir sem o outro.

43)            A pergunta não é se irá ou não ocorrer um terremoto. Certamente irá. A única pergunta é quando (...)

44)            Para reduzir seu superávit comercial, o Japão teria de mudar seu sistema social e ele não quer faze-lo.

45)            Todos saberão que o fim está próximo quando o resto do mundo se recusar a emprestar aos Estados Unidos em dólar e exigir que seus empréstimos sejam em outra moeda.

46)            Os ciclos de negócios são tão intrínsecos ao capitalismo como os terremotos à geologia da Terra.

47)            Em termos técnicos, as recessões acabam oficialmente com dois trimestres de crescimento positivo.

48)            Os mercados financeiros do mundo podem hoje movimentar tanto dinheiro ao redor do mundo com uma velocidade tão grande, que as políticas monetárias precisam ser ajustadas aos seus ditames - e não às necessidades domesticas da economia.

49)            [Em relação à crise do México:] Como seres humanos, inteligentes sob outros aspectos, puderam deixar de ver que os ativos estavam superavaliados? A resposta está na ganância.

50)            Todos pulam para dentro dos mercados pensando que serão suficientemente espertos para sair antes que o fim chegue. Quem sai cedo demais perde muita renda em potencial.

51)            No fim de cada uma dessas bolhas todos declaram que aquilo não acontecerá novamente mas sempre acontece. As memórias se vão e os enormes lucros no caminho até o pico da bolha são irresistíveis. [Tem sempre pato novo.]

52)            Quando o dinheiro pode ser movimentado instantaneamente em um computador pessoal, toda a idéia de controle desaparece.

53)            Em qualquer momento sempre haverá um elo fraco no sistema financeiro mundial.

54)            Uma vez que um dólar em queda causa pouco sofrimento nos Estados Unidos, não haverá apoio político doméstico para as necessárias ações curativas e a probabilidade de que o Governo americano seja capaz de impor, ao público americano, o mesmo sofrimento econômico imposto ao México é nula.

55)            A ascensão do fundamentalismo religioso é um vulcão social em erupção. A conexão com a economia é simples: os economicamente ignorantes se refugiam no fundamentalismo religioso.

56)            No mundo do fundamentalismo religioso não há incertezas.

57)            A mídia libertaria pede que se deixe o vizinho sozinho; os fundamentalistas religiosos consideram seu dever religioso forcar o vizinho a se “comportar”.

58)            Somente a experimentação social pode determinar o que funciona

59)            Os conceitos de sangue e de pertencer estão na mente, não na terra.

60)            Hoje a identidade grupal é, muitas vezes, definida por quem você quer mandar de volta para casa ou eliminar da Terra.

61)            O público quer que algo seja feito a respeito de cada novo problema, mas só por pouco tempo. [Até porque novos problemas - prioridades - surgem a cada dia.]

62)            O capitalismo é perfeitamente compatível com a escravidão. A democracia não.

63)            A mensagem desses programas [de bem-estar social] era: não importa o quanto o capitalismo o está tratando mal, a democracia está do seu lado.

64)            Capitalismo e democracia são incongruentes porque igualdade política não é compatível com desigualdade econômica.

65)            O poder é o bem de consumo supremo. Quase só ele é desejado, e pode ser usado, em quantidades ilimitadas.

66)            A democracia, para funcionar, precisa de uma visão de utopia - um caminho para uma sociedade melhor - uma visão que transcenda o estreito egoísmo sectário.

67)            Existem algumas maneiras para as sociedades se manterem unidas sem uma visão.

·                    As sociedades podem se unir para resistir a uma ameaça externa.

·                    As sociedades podem se unir no desejo de conquista - de construção de um império.

·                    As sociedades podem se unir no desejo de [se tornarem mais puras] - na falta de uma visão, qualquer sociedade acabará recuando para a etnia. Elimina aqueles que têm uma religião diferente, um idioma diferente ou uma herança étnica diferente e, de algum modo [é a promessa], o mundo magicamente ficará melhor.

68)            É muito melhor transformar-se em um grupo de interesse especial poderoso do que tentar transformar-se em maioria. O veto da minoria substitui o voto da maioria.

69)            A mensagem da história é clara. As instituições sociais não cuidam de si mesmas.

70)            A primeira característica de um bem público puro é que seu consumo por qualquer pessoa, não importa o quanto ele seja extenso, não reduz a quantidade disponível para o consumo das outras.

71)            A segunda característica de um bem público puro é que é impossível impedir os outros de usá-lo. Se o sistema de defesa Guerra nas Estrelas do presidente Reagan tivesse sido construído, ele teria protegido todos ou ninguém.

72)            A terceira característica deriva das duas primeiras. Pelo fato de todos poderem usar simultaneamente esses bens, e de ninguém poder ser impedido de usa-los, todos têm um incentivo para ocultar sua verdadeira demanda por esses bens para não ter que pagar sua justa parcela dos custos.

73)            É muito mais eficiente inculcar valores sociais que levem as pessoas a não roubar. Com esses valores, a propriedade privada é protegida a custo zero.

74)            As sociedades não funcionam muito bem, a não ser que a maioria dos seus membros se comporte bem a maior parte do tempo.

75)            Os grupos surgiram muito antes dos indivíduos. Os seres humanos são feitos de apoio e pressão sociais.

76)            A questão é descobrir a melhor mistura de ações individuais e comunais que permita à sociedade persistir e florescer.

77)            Valores não são, nem serão, inculcados pela família, pela Igreja ou qualquer outra instituição, no presente ou no futuro. Eles são - e serão - inculcados pela mídia eletrônica e visual.

78)            Excitação vende. A obediência às normas sociais, existentes ou novas, não é excitante e não vende. Resistir ao impulso de roubar um carro nunca é excitante. É simples assim.

79)            A comunicação entre ativos torna-se mais importante que a concentração de ativos.

80)            Se os salários para homens estão caindo em todos os níveis de educação, qualquer que seja o valor financeiro de uma educação hoje, seu valor como ativo no futuro será menor.

81)            Nenhum pai capitalista empedernido investiria (nem deveria faze-lo) em 16 anos de educação para seus filhos. Um bom bônus do Governo é um investimento muito melhor.

82)            Infelizmente, o capitalismo não inclui um conjunto de normas sociais que compense a tendência individual humana de enfatizar o curto prazo. No capitalismo ninguém pode dizer que um indivíduo deve consumir menos e investir mais.

83)            A seguridade Social é um sistema de transferencias entre gerações, dos jovens para os velhos, sem nenhum poupança liquida - o dinheiro que entra é aproximadamente igual àquele que sai.

84)            Se o que se deseja é mais poupança, a técnica correta não é reduzir os impostos sobre a renda, mas penalizar o consumo com impostos progressivos.

85)            Os países conseguem mais investimentos estimulando-os e não tentando elevar os índices de poupança.

86)            Todas as sociedades precisam de uma mistura de autocontrole e controle social, mas até mesmo o autocontrole é instalado socialmente.

87)            O emprego vitalício seria substituído pela “empregabilidade” vitalícia. Um contrato como este exigiria grandes  mudanças nas políticas normais de recursos humanos.

88)            Sem uma crise é difícil persuadir uma grande maioria de que alguma coisa deve mudar. Sem uma crise, as minorias prejudicadas pela mudança sempre podem obstruí-la.

89)            Para que as pessoas tenham uma mentalidade de construtor, o governo precisa ser um construtor ativo e visível.

90)            Colombo consta na história como o maior explorador do mundo, talvez o homem mais famoso da história, porque ele descobriu algo completamente inesperado, as Américas, e aconteceu que elas estava cheias de outro, A moral da história é que é importante ser inteligente, mas é ainda mais impo ter sorte. Mas Colombo não teve sucesso porque tinha sorte. Ele teve sucesso porque fez o esforço de partir numa direção nunca antes seguida, a despeito de muita resistência daqueles que o cercavam. Sem aquele enorme esforço, ele poderia não ter estado em posição de ter uma boa sorte colossal.