EXTRATO DE: GUERRA E ANTI-GUERRA: SOBREVIVÊNCIA NA AURORA DO SÉCULO XXI

 

TÍTULO DO ORIGINAL: WAR AND ANTI-WAR: SURVIVAL AT THE DAWN  OF THE TWENTY-FIRST CENTURY

AUTOR: ALVIN & HEIDI TOFFLER

EDITADO EM:    93                     POR: RECORD

 

 

"Você pode não estar interessado na guerra mas a guerra está interessada em você."

                    Trotsky

 

PRIMEIRA PARTE - CONFLITO

1. ENCONTRO INESPERADO

2. O FIM DO ÊXTASE

7,2 milhões de soldados foram abatidos em guerras e conflitos civis desde 1945. Este é o número apenas das mortes, não dos feridos, torturados ou mutilados. Tampouco inclui número muito maior de civis sacrificados. Ou daqueles que morreram em conseqüência dos combates. Ironicamente, em toda a Primeira Guerra Mundial, o número de soldados mortos foi apenas moderadamente maior: aproximadamente 8,4 milhões. Isso significa, de modo impressionante, que em termos de mortes em combate, mesmo descontando-se ampla margem de erro, o mundo tornou a matar quase que o equivalente à Primeira Guerra Mundial desde 1945. Quando são acrescentados os civis, a soma chega ao total astronômico de 33 q 40 milhões. (....) Em anos recentes, quase um trilhão de dólares tem sido gasto todos os anos para fins militares, principalmente pelas superpotências e seus aliados. Essas quantias imensas podem ser consideradas como "prêmios de seguro" pagos pelas principais potências para evitar que grassem guerras quentes dentro de suas fronteiras. (....) Já em 86, em A Ascensão do Estado Mercantil, Richard Rosecrance, do Centro de Relações Internacionais da Universidade da Califórnia, afirmava que as nações estavam se tornando tão interdependentes do ponto de vista econômico que reduziam a tendência de lutarem umas  com as outras. O comércio, e não o poderio militar, era agora o caminho para o poder mundial. Em 1987, Paul Kennedy contrapôs similarmente a força econômica e a força militar em Ascensão e Queda das Grandes Potências. Kennedy salientou os perigos do "exagero da distensão militar".  (....)

 

3. UM CHOQUE DE CIVILIZAÇÕES

Como as mudanças amplas na sociedade não podem ocorrer sem conflito, acreditamos que a metáfora da história "ondas" de mudança é mais dinâmica e reveladora do que falar-se sobre uma transição para o "pós-modernismo". As ondas são dinâmicas. (....) As orientações da civilização da Segunda Onda estão sendo discutidas. Alguns historiadores traçam suas raízes até o Renascimento, ou ainda para trás. Mas a vida só mudou fundamentalmente para grande número de pessoas, grosso modo, há trezentos anos. Foi quando surgiu a ciência newtoniana. Foi quando usou-se o motor a vapor, pela primeira vez, com fins econômicos e as primeiras fábricas começaram a proliferar na Inglaterra, na França e na Itália. Camponeses começaram a mudar-se para as cidades. Ousadas idéias novas começaram a circular, a idéia de progresso; a estranha doutrina dos direitos individuais; a noção rousseauniana de  contrato social; o secularismo; a separação entre a Igreja e o Estado; e a nova idéia de que os líderes deveriam ser escolhidos pela vontade popular, não pelo direito divino.  (....) Nas economias de Terceira Onda a produção desmassificada é a lâmina de corte da manufatura. Ativos intangíveis como a informação tornam-se o recurso chave. Trabalhadores sem instrução ficam desempregados. Os sindicatos de trabalhadores do setor de produção em massa encolhem. Os meios de comunicação são desmassificados, acompanhando a produção, e as gigantescas redes de TV se atrofiam, à medida que proliferam novos canais. O sistema familiar, também, torna-se uma forma minoritária, enquanto que famílias de pais ou mães solteiras, casais que se recusaram, famílias sem filhos e pessoas que vivem sozinhas proliferam. (....) Ao mesmo tempo, o ritmo da mudança tecnológica, das transações e da vida diária se acelera. Na verdade, as economias da Terceira Onda funcionam a velocidades tão aceleradas que seus fornecedores pré-modernos mal acompanham o seu ritmo. (....)

 

SEGUNDA PARTE - TRAJETÓRIA

4. A PREMISSA REVOLUCIONÁRIA

Uma verdadeira revolução muda o próprio jogo, inclusive suas regras, seu equipamento, o tamanho e a organização das "equipes", seu treinamento, sua doutrina, suas táticas, e praticamente tudo o mais. Não faz isso numa única "equipe", mas em muitas ao mesmo tempo. O que é ainda mais importante, ela muda o relacionamento entre o jogo e a própria sociedade. (....)

 

5. A GUERRA DA PRIMEIRA ONDA

O grande senhor feudal Shang, escrevendo na China antiga, preparou  um manual dirigido aos estadistas, extremamente parecido com o que Maquiavel fez 1.800 anos depois. Nele, Shang declara: "O país depende da agricultura e da guerra para ficar em paz." Shang serviu ao Estado de Ch'in de 359 a 338 [Morreu com 21 anos???] a. C. Repetidas vezes em seu manual político-militar, ele aconselha o governante a manter o povo ignorante, a evitar ritos, música e quaisquer frivolidades que possam desviar-lhe a mente da agricultura e da guerra. "Se aquele que administra um país puder desenvolver a capacidade do solo ao máximo e fazer com que o povo lute até a morte, serão conseguidos ao mesmo tempo fama e lucro."

A receita de Shang para manter a disciplina militar dá idéia de sua maneira de pensar: "Em combate, cinco homens são organizados para formar um esquadrão; se um deles for morto, os outros quatro serão decapitados." Por outro lado, os oficiais vitoriosos deverão ser recompensados com grão, escravos ou até mesmo com "uma cidade pagadora de impostos de 300 famílias".

 

6. A GUERRA DA SEGUNDA ONDA

Depois de 1792, escreve o historiador de Yale, R. R. Palmer, uma onda de inovações "revolucionou a guerra, substituindo a guerra 'limitada' do Velho Regime  pela guerra 'ilimitada' dos tempos subseqüentes. (...) A guerra antes da Revolução Francesa era essencialmente um choque entre governantes. A partir daquele evento, ela tem-se tornado cada vez mais um choque entre povos". Foi-se tornando também, cada vez mais, um choque de exércitos conscritos.  (....) Por toda parte, a racionalização ao estilo industrial tornou-se a ordem do dia. Assim escrevem Meirion e Susie Harries em Soldados do Sol, sua impressionante história do exército imperial japonês: "A década de 1880 foi o período em que o exército evoluiu e arraigou uma organização profissional, capaz de reunir informações secretas, formular políticas, planejar e dirigir operações; recrutar, treinar, equipar, transportar e administrar uma moderna força armada. " (....) Ao contrário de Sun-tzu, que afirmava que o general mais bem-sucedido era aquele que atingia seus objetivos sem que houvesse combate ou com um mínimo de baixas, Carl von Clausewitz (1780-1831), o pai da estratégia moderna, ensinava uma lição diferente. Embora em trabalhos posteriores ele fizesse muitas alegações sutis e mesmo contraditórias, a sua máxima que dizia que "a guerra é um ato de violência levado ao seu limite máximo" reverberou pelas guerras da era industrial. (....) No seu sentido amplo, a guerra total deveria ser travada politicamente, culturalmente e propagandisticamente, e a sociedade inteira convertida numa só "máquina bélica". Era a racionalização ao estilo industrial levada ao máximo.

 

7. A BATALHA AR-TERRA

"Não faz diferença quem está em vantagem  ou desvantagem numérica".  A outra inconfundível lição foi que quem tomar a iniciativa, "quer esteja em desvantagem ou em vantagem numérica, quer esteja atacando, quer defendendo", vai ganhar.

"Percebi que tínhamos de retardar e desintegrar, bem lá dentro da área de batalha do inimigo. O avanço ordenado de seus escalões que vêm em seguida teria de ser detido. Não precisaríamos destruí-los. Seria ótimo se pudéssemos. Mas tudo o que realmente teríamos a fazer seria evitar que eles chegassem à batalha, a fim de que não dominassem os defensores." (....) Tão aceleradas são as mudanças na cena mundial, que agora as revisões doutrinárias   que costumavam acontecer a cada 40 ou 50 anos    são necessárias de ano em ano ou de 2 em dois anos. Assim, no dia 14 de junho de 1993, apareceu a mais recente revisão do Regulamento de Serviço (RS) 100-5. "Experiências recentes nos deram exemplo rápido de novos métodos de conflito armado", declara o resumo executivo da mais recente doutrina. "Esses métodos eram o fim da guerra da era industrial e o começo da guerra na era da informação." (....) Essa versão mais nova dá grande ênfase à versatilidade, a capacidade de o exército passar de um tipo de conflito para outro, de forma rápida e precisa. Ela muda do enfoque europeu ao enfoque global e da idéia do desenvolvimento avançado   para a idéia e uma força baseada nos Estados  Unidos que possa deslocar-se depressa para qualquer lugar do mundo. Desvia-se da preocupação com a ameaça da guerra global com os soviéticos para a ênfase em contingências regionais. Além domais, a nova doutrina dedica atenção ao que chama de operações outras que não a guerra" que, em seus próprios termos, abrangem auxílio por ocasião de calamidades, distúrbios civis, manutenção da paz e atividades de combate às drogas. (....) Ela explica cuidadosamente que o exército dos EUA é responsável perante o público americano que "espera vitória rápida e abomina baixas desnecessárias" e que "reserva-se o direito de reexaminar o seu apoio se qualquer uma dessas condições não for atendida".  (....)

 

8. A MANEIRA DE CRIARMOS RIQUEZA...

Em 68, a AT&T encomendou um estudo para ajudá-la a redefinir sua missão. Em 72, ela recebeu o relatório instando a empresa a reestruturar-se de forma drástica e a subdividir-se.

O relatório esboçava as maneiras pelas quais uma gigantesca burocracia da Segunda Onda, ao estilo industrial, poderia transformar-se numa organização que avançasse com rapidez. Mas a AT&T abafou o relatório durante 3 anos, antes de deixar que ele circulasse pela alta administração. A maioria das principais companhias norte-americanas ainda não tinha começado a pensar além da reorganização incremental. A idéia de que seria necessária uma cirurgia radical para que elas sobrevivessem na emergente economia baseada no conhecimento parecia exagerada. No entanto, a to lançou, em pouco tempo, muitas das maiores organizações do mundo na mais dolorosa restruturação de sua história.  (....) O conhecimento, usado de forma adequada, torna-se o substituto máximo de outros insumos. Economistas e contabilistas convencionais anda têm problemas com essa idéia, porque ela é difícil de quantificar, mas o conhecimento é, agora, o mais versátil e mais importante de todos os fatores de produção, possa ele ser medido ou não. (....) O que faz a economia da to verdadeiramente revolucionária é o fato de que enquanto a terra, o trabalho, as matérias-primas e talvez até mesmo o capital podem ser considerados como recursos finitos, o conhecimento é, para todos os efeitos, inexaurível. Ao contrário de um único alto-forno ou de uma linha de montagem, o conhecimento pode ser usado por duas companhias ao mesmo tempo. E elas podem usá-lo para gerar ainda mais conhecimento. (....) O valor real de companhias como a Compaq ou a Kodak, a Hitachi ou a Siemens, depende mais das idéias, percepções e informações que estão na cabeça de seus empregados e nos bancos de dados e patentes que essas companhias controlam do que nos caminhões, linhas de montagem e outros ativos físicos que possam ter. Assim, o próprio capital se apoia, agora, cada vez mais, em bens intangíveis. (....) O deslocamento para as "flex-techs" (tecnologias flexíveis) promove a diversidade e alimenta a escolha do consumidor a ponto de uma loja da cadeia Wal-Mart poder oferecer ao comprador quase 110.000 produtos de vários tipos, tamanhos, modelos e cores à sua escolha. (....) Mas a Wal-Mart é um vendedor em massa. Cada vez mais, o próprio mercado de massa está se dividindo em nichos diferenciados à medida que as necessidades do consumidor divergem e melhores informações possibilitam às empresas identificar e servir a micromercados. (....) Enquanto isso, a propaganda é dirigida para segmentos cada vez menores do mercado, alcançados através de meios de comunicação cada vez mais desmassificados.  (....) A força muscular é essencialmente fungível. Assim, um trabalhador de baixa qualificação, que peça demissão, pode ser substituído com rapidez e a custo baixo. Em contraposição, os crescentes níveis de especialização exigidos pela economia da to tornam mais difícil e mais dispendioso encontrar a pessoa certa com a habilitação certa. (...) A crescente especialização e mudanças rápidas nas exigências de aptidões reduzem a intercambialidade da mão-de-obra.

Em termos tradicionais, trabalhadores diretos, ou "produtivos", são aqueles que, na fábrica, realmente fazem o produto. Produzem valor agregado. Todos os demais trabalhadores são descritos como "não-produtivos" ou proporcionando apenas uma contribuição "indireta".  Hoje, essas distinções ficam indefinidas à medida que a relação entre trabalhadores fabris e burocratas, técnicos e profissionais diminui, mesmo na fábrica. Pelo menos a mão-de-obra "indireta" produz um valor igual ao da mão-de-obra "direta", senão maior. (....) Algo da ordem de 1.000 novos produtos são colocados nos supermercados dos EUA todos os meses. (....) Lutando para se adaptar às mudanças em alta velocidade, as companhias estão correndo para desmontar suas estruturas burocráticas da Segunda Onda. (....) (...) estão sendo despejados bilhões de dólares em redes eletrônicas que unem computadores, bancos de dados e outras tecnologias da informação. Essa vasta estrutura de informações eletrônicas, freqüentemente com base em satélites, une companhias inteiras, muitas vezes ligando-as aos computadores e redes tanto de fornecedores como de clientes. Outras redes unem redes. O Japão destinou 250 bilhões de dólares para desenvolver redes melhores, mais rápidas, ao longo dos próximos 25 anos. O vice-presidente Gore, quando ainda estava no Senado, apoiou uma legislação que oferece 1 bilhão de dólares em 5 anos para ajudar a pôr em funcionamento uma "Rede Nacional de Pesquisa e Educação", com a finalidade de fazer pela informação o que as superauto-estradas fizeram pelos automóveis. Essas estradas eletrônicas formam a infra-estrutura essencial da economia da terceira onda. (....)  concorrência é tão intensa e as velocidades exigidas tão altas que a velha regra que diz que "tempo é dinheiro" vai ficando cada vez mais atualizada para "cada intervalo de tempo vale mais do que o anterior". (....) Expressando a nova urgência, DuWayne Peterson, alto executivo da Merrrill Lynch, diz: "O dinheiro se desloca à velocidade da luz. A informação tem de se deslocar mais depressa." Assim, a aceleração empurra a empresa da tercera onda cada vez mais para perto do tempo real.

 

9. A GUERRA DA TERCEIRA ONDA

A essência do novo pensamento é, talvez, expressa da melhor maneira por Fátima Mernissi, socióloga e feminista marroquina muitíssimo inteligente e ardente crítica muçulmana do papel norte-americano na Guerra do Golfo. "A supremacia do ocidente não deve tanto ao seu equipamento militar quanto ao fato de que suas bases militares são laboratórios e seus soldados são cérebros, exércitos de pesquisadores e engenheiros". (....) Pode muito bem chegar o dia  em que o número de soldados portando computadores será maior do que o de soldados que portam armas. O Dep. De Defessa dos EUA  deu um  passo nessa direção em 93, quando a Força Aérea dos EUA fez um contrato para a compra de até 300.000 Pcs. (....) Hoje um só F-117 voando uma única surtida e largando uma só bomba, pode realizar o que exigia bombardeiros B-17 voando 4.500 surtidas e largando 9.000 bombas para ser feito, na Segundas Guerra Mundial, ou 95 surtidas e 190 bombas no Vietnã. (....) A esta altura, todos compreendem que a nova economia "inteligente" requer também, trabalhadores inteligentes. À medida que o trabalho braçal diminui, grandes quantidades de trabalhadores não qualificados são substituídas, cada vez mais, por menor número de trabalhadores altamente treinados e máquinas inteligentes. (....) A idéia de que a Guerra do Golfo foi uma guerra de alta tecnologia em que o elemento humano em combate foi eliminado é uma fantasia. A verdade é que as forças enviadas pelos aliados ao Golfo formavam  o exército mais instruído e tecnicamente capacitado jamais enviado para um combate. O TRADOC de Starry, de fato, treinou muitos deles. Foram preciso quase 10 asno para preparar as forças armadas norte-americanas para o novo tipo de guerra baseado na batalha ar-terra.  (....) "O lema da década de 60, 'questionem a autoridade', fincou raízes nos lugares mais improváveis", escreveu Steven D. Stark no Los Angeles Times, descrevendo o ethos modificado das forças armadas norte-americanas. A disposição de perguntar e pensar pode bem prevalecer mais nas forças armadas dos EUA do que em muitas empresas. (....) Entre os pilotos, os níveis de treinamento são, agora, muito mais elevados do que em qualquer período anterior. Na Segunda Guerra Mundial, jovens pilotos podiam ser postos em ação depois de algumas horas na cabina. Hoje, por trás de cada piloto de F-15 está um treinamento que custou milhões de dólares. E são precisos vários anos, e não dias ou meses, de preparação. (....) O combate da terceira onda  envolve muito mais do que puxar um gatilho. A força de trabalho e a força de guerra mudam juntas. Guerreiros irracionais são para a guerra da Terceira Onda o que os trabalhadores manuais não-qualificados são para a economia da to  uma espécie ameaçada de extinção. (....) Como na economia civil, menor número de pessoas com tecnologia inteligente pode realizar mais do que muitas pessoas com as ferramentas da força bruta do passado. (....) Nas forças armadas da terceira onda , exatamente como na empresa da Terceira Onda , a autoridade decisória está sendo empurrada para o nível mais baixo possível. (....) A Forbes, a revista especializada na área empresarial, estava certa quando escreveu: "Os EUA venceram a guerra militar (...) da mesma maneira que os japoneses estão vencendo a guerra de comércio e manufatura de alta tecnologia contra nós: usando uma estratégia de ciclos rápidos, baseada no tempo." (....)

 

10. CHOQUE DE FORMAS DE GUERRA

 

TERCEIRA PARTE: EXPLORAÇÃO

11. NICHOS DE GUERRA

Aparecem os nichos de mercados, seguidos por nichos de produtos, nichos de financiamentos e nichos de jogadores nas bolsas de valores. Os nichos de propaganda enchem nichos de meios de comunicação, como a televisão por cabo. (....) Haverá mais casos como o da Somália ou do Zaire, onde os governos terão desmoronado por completo e reina a anarquia. Outros países irão intervir para se proteger, para cortar o tráfico de drogas, para evitar que imensas ondas de refugiados atravessem uma fronteira, ou para deter a disseminação da violência racial através de suas fronteiras. (....)  Hoje  diz Andy Messing temos a capacidade de levar uma equipe,  fazê-la pular de 11.000 metros, a 40 km do objetivo, à noite, com os homens descendo, planando, com um olho aberto e o outro olhando para um aparelho de raio infravermelho. Eles podem ler um mapa enquanto descem. Podem trocar entre si um código de identificação com raio infravermelho   um sujeito piscando 2 vezes por segundo, um outro piscando 5 vezes  e podem voar até descer bem em cima de uma área de 10 metros quadrados. (....) Os pára-quedas FXC Guardian podem  proporcionar 1,40 metro de planeio para a frente para cada 33 centímetros de descida, de modo que um espião ou uma equipe de forças especiais pode ser lançada sobre águas internacionais e entrar planando silenciosamente num país à noite, sem ser detectada pelo radar. (....) Hoje, é possível "lançar com segurança cargas úteis de 10.000 quilos de aviões de carga deslocando-se a velocidades de 150 nós. Cada um desses lançamentos feitos é feito com uma precisão impressionante, milimétrica.  Esse sistema ímpar utiliza um conjunto de retrofoguetes que disparam à medida que a carga se aproxima da terra, mais um altímetro que utiliza raio laser e um sistema seqüenciador que diz aos foguetes exatamente quando disparar. (...) Em breve vamos poder lançar cargas úteis de até 30.000 quilos. Veículos de combate como o tanque Sheridan, já montado e pronto para rodar."  (....) Dentre suas futuras exigências, o tenente-coronel Michael Simpson relacionou: "gostaríamos de ter uma  unidade de rádio leve, resistente, que combine uma unidade de posicionamento global, um fax, e capacidade de codificar e decodificar on-line". Um artefatos desse, disse ele, iria "tirar quinze quilos da mochila do soldado".  (....) Aqueles que sonham com um mundo mais pacífico devem pôr de lado os velhos pesadelos de um "inverno nuclear" e começar a pensar com imaginação, agora mesmo, na política, na moralidade, e nas realidades militares dos nichos de guerras no século XXI.

 

12. GUERRAS ESPACIAIS

Diz o general da força aérea Donald J Kutyna: "Num futuro de forças reduzidas em número e despesas, iremos nos valer ainda mais do espaço. Os sistemas espaciais serão sempre os primeiros a chegar." Essa crescente ênfase no espaço altera todo o equilíbrio do poder militar global.  (....) Quase sem ter sido percebido pelo público e pela imprensa, está se ampliando, hoje, uma divisão entre "potências espaciais" e "potências não-espaciais". (....) (...) tratados visando evitar a guerra ecológica no futuro  dependem da verificação de seu cumprimento. Mas só vale a pena ter um tratado se o comportamento de seus signatários puder ser monitorizado. E a principal forma de monitoramento e verificação é a observação via satélite.

        Quem governar o espaço circuntererrestre mandará no planeta Terra.

        Quem governar a Lua mandará no espaço circunterrestre.

        Quem governar L4 e L5 mandará no sistema Terr-Lua.

 

L4 e L5 são pontos de libração lunar, locais, no espaço, em que a atração gravitacional da lua e da terra são exatamente iguais. Em teoria, bases militares ali instaladas poderiam ficar em  posição por períodos muito longos, sem precisar de muito combustível. Elas podem ser o equivalente ao "terreno elevado" para os guerreiros espaciais de amanhã.

 

13. GUERRAS DE ROBÔS

Num trabalho interno escrito pouco depois que a Guerra no Golfo terminou, o engenheiro eletrônico Henry C. Yuen, alegava que "um dos principais objetivos no desenvolvimento de novos armamentos deveria ser a redução ou a total eliminação do risco humano." (....) Simplesmente falando, as armas e os equipamentos que pudessem causar danos a quem os usava não deviam, na medida do possível, ser tripulados", isto é, deviam ser robóticos. Yuen esboçou planos para tanques sem motorista que operariam em equipes sob o controle de uma estação de combate remota. (....) (...) A pergunta que agita os roboteiros militares, não é como tornar inteligentes as armas-robôs, mas quão inteligentes podem vir a ser. (....) Está acontecendo entre esses engenheiros um debate sem alarde que levanta algumas das mais importantes questões que a raça humana tem pela frente. A questão diz respeito não apenas `guerra e à paz, mas também à possível subordinação de nossa espécie a robôs assassinos superinteligentes, cada vez mais cônscios de sua personalidade.  (....) Projetados por Israel e construídos por uma firma norte-americana, os aviões de controle remoto Pioneer passaram quase despercebidos pelos meios de comunicação, sem falar nos iraquianos. Alguns foram lançados do convés do couraçado USS Wisconsin, outros por unidades terrestres do exército e do corpo de fuzileiros navais dos EUA. Segundo Edward E. Davis, subgerente de programa da marinha para "veículos aéreos não-tripulados", os Pioneer voaram 330 surtidas e passaram mais de 1.000 horas no ar tão logo a Tempestade no Deserto começou. Um deles ficou voando 24 horas por dia ao longo de todo o período de combate. (....) A marinha dos EUA está gastando mais de meio bilhão de dólares num programa secreto chamado Retract Maple, que vai permitir que o comandante do navio 1 receba sinais de radar e outras informações instantâneas do navio 2 e dispare mísseis automaticamente dos navios 3, 4 ou, mesmo, 10 ou 20. O Retract Maple também pode enviar iscas e bloquear o sistema de orientação de mísseis inimigos que se aproximam. Isso dá ao comandante de uma força-tarefa o controle remoto de toda a força-tarefa que consista num grande número de navios, de cruzadores e contratorpedeiros para baixo. (....) A Universidade de Kyoto e dois órgão governamentais estão construindo um pequeno avião robô com potencial de funções meteorológicas, ambientais e de transmissões de rádio. Ele está projetado para ficar no ar indefinidamente, com energia fornecida por microondas enviadas do chão. A komatsu Ltd. enquanto isso, criou um artefato robótico de várias pernas para uso em construções debaixo d'água.  (....) Se o trabalho nos pontos extremos da robótica militar um dia chegasse a convergir para as pesquisas que estão sendo realizadas no campo da biologia e evolução computacionais, todas as apostas atuais estariam realmente canceladas. NO T-13 Complex Systems Group do Los Alamos National Laboratory, pesquisadores de Vida-A estudam sistemas feitos pelo ser humano que imitam sistemas vivos que evoluem e desenvolvem a capacidade de um comportamento independente. Os cientistas que atuam nesse campo estão permanentemente preocupados com as implicações morais e militares. Doyne Farmer, um físico do Los Alamos, especulou num ensaio escrito em conjunto com Alletta D'A. Belin, que "uma vez colocadas em ação máquinas de guerra que se auto-reproduzem, mesmo que mudássemos de idéia (...) pode tornar-se difícil desmontá-las; elas podem estar literalmente fora do nosso controle." (....)

 

14. SONHOS DE DA VINCI

Outros planejadores imaginam um campo de batalha todo elétrico, significando o fim da Era da Pólvora para a da artilharia. Nesse cenário, a eletricidade impulsiona o projétil e a eletrônica o guia até o alto. Todos os veículos são elétricos, recarregados, talvez, por aeronaves que os sobrevoam e disparam energia elétrica para eles. (....) (...)Essas e outras faculdades seriam, todas, integradas numa roupa que acabou de sair do departamento de efeitos especiais de Hollywood, uma roupa inteligente, exosquelética, que aprende a realizar as repetitivas tarefas do soldado, para que ele possa marchar dezesseis quilômetros e tirar uma soneca enquanto marcha... uma roupa que multiplica por várias vezes a força de quem a usa. Como dia o general Harrison, "Eu quero esse sujeito numa espécie de roupa exosquelética que lhe permita saltar sobre prédios altos com um único impulso." A alusão ao Superman está clara. (....) Parecendo, ou não, ficção científica, Forster observa, "O exosqueleto ou exo-homem está sendo amplamente discutido, e muito embora esteja muito longe do convencional, todas essas cosas se encontram dentro das leis de física conhecidas. Não é preciso alterar as leis para fazê-las. A verdadeira chave está em fazê-las de forma econômica e confiável. (....)

 Imagina o que você poderia fazer com uma formiga se pudesse controlá-la  diz Smits, engenheiro eletricista da Univ. De Boston, que detém a patente de um motor elétrico de menos de 1 milímetro de comprimento.  Poderia fazer com entrasse andando na sede da CIA.

Não é preciso de muita imaginação para avaliar o que uma infestação de formigas robóticas poderia fazer às instalações de radar de um inimigo, ou a motores de aviões ou a um centro de computadores.  (....) O trabalho sobre nanotecnologia está sendo efetuado nos EUA e no Japão, onde os pesquisadores Uotaro Hatamura e Hiroshi Miroshita prepararam um  estudo sobre o Acoplamento Direto Entre o Mundo Nanométrico e o Mundo Humano. Segundo um levantamento de 25 cientistas trabalhando na nanotecnologia, dentro dos próximos 10 a 25 anos iremos poder não só criar dispositivos em escala molecular, mas ser capazes de gerar auto-réplicas, o que significa que poderemos procriá-los. (....) Em 92, Bo Rybeck, diretos do Instituto Sueco de Pesquisas sobre a Defesa Nacional , salientou que quanto tivermos condições de identificar as variações do ADN de diferentes grupos raciais e étnicos, "poderemos determinar as diferenças entre negros e brancos e orientais e judeus e suecos e finlandeses e criar um agente que mate apenas um [determinado] grupo". Pode-se imaginar os usos a que uma tecnologia desse tipo seria dada pelos "limpadores étnicos" do futuro.

O aviso sobre armas específicas para raças adquire nova urgência à luz de recentes avanços científicos ligados à Human Genome Iniciative, que visa descobrir os segredos do ADN. Levado um passo mais adiante ela evoca o uso da bioengenharia ou da engenharia genética para alterar soldados ou gerar "para-humanos"para o combate. Fantástico, sem dúvida, porém não fora dos extremos da possibilidade.  (....) (...) Esses atos são primitivos quando comparados com algumas das imagináveis (e imaginadas) possibilidades de armas ecológicas sofisticadas. Por exemplo, provocar terremotos ou erupções de vulcões à distância, ao gerar certas ondas eletromagnéticas, desviando correntes de ventos; enviar um vetor de insetos geneticamente alterados para devastar uma plantação selecionada; usar raios laser para cortar um buraco sob medida na camada de ozônio sobre a terra de um adversário; e até modificar as condições meteorológicas.  (....) Lester Brown, salientou já em 1977 que "tentativas deliberadas de alterar o clima estão-se tornando cada vez mais comuns", aumentando a perspectiva de "uma guerra meteorológica quando os países que estiverem precisando com urgência expandir seus estoques de alimentos começarem a competir pela chuva existente". (....) Discussões sobre o aquecimento global estão invocando imagens horríveis de linhas costeiras subindo no mundo inteiro à medida que as calotas polares se derretem. Mas pouca gente se lembra, hoje, do impressionante plano de derreter o oceano Ártico que, segundo dizem, foi apresentado por Lênin pouco depois da Revolução Russa.  (....) Um acordo internacional proíbe "o uso hostil, militar ou de outra natureza, de técnicas de modificação ambiental que tenham graves efeitos amplos e duradouros". Mas não é provável que Saddam Hussein tenha ficado acordado lendo aquela cláusula da Conferência de Desarmamento de Genebra, na noite anterior ao dia em que despejou petróleo no Golfo Pérsico ou quando escureceu o céu do Kuwait com uma nuvem de petróleo. (....) O mundo deve começar a se preocupar com as armas que irão surgir daqui a 30 anos.

 

15. GUERRA SEM SANGUE?

Janet e Chris Morris decidiram se dedicar a tirar o derramamento de sangue das  batalhas. A missão dos dois tem sido criar uma estratégia e uma doutrina para a guerra não-mortal. Definem como "não-letais" as tecnologias "que possam prever, detectar, frustrar ou negar o uso de mios letais, m inimizando, com  isso, a matança de pessoas".  (....) Perry Smith, analista militar da CNN, diz: "Os planejadores militares têm que olhar além do uso de bombas e mísseis para um ataque preciso dos alvos. A tecnologia poderá, em breve, permitir a destruição de elementos chave de um alvo militar sem matar soldados ou destruir totalmente o alvo. Se é possível tornar impotente um tanque inimigo ao evitar que o motor funcione ou ao arruinar os computadores que disparam o canhão, poderá ser possível ganhar guerras por meios que em grande parte sejam não-letais".  (....) Para avaliar as possibilidades das armas não-letais, uma vez desenvolvidas sistematicamente, precisamos imaginar algumas das situações em que elas poderiam ser utilizadas. Quando milhares de agitadores se aproximam do conjunto norte-americano cercado por muros, seus líderes caem ao chão vomitando e defecando. Centenas de protestadores se dobram para a frente e parecem desorientados. Nenhum deles chega mais perto do muro do que a uma distância de meio quarteirão da cidade. À medida que o número de protestadores enjoados e inutilizados pela diarréia aumenta, a turba se desfaz e aos poucos se afasta, com alguns de seus membros gritando que Alá os está castigando.

Num mundo em que grassam hostilidades religiosas, raciais e regionais, nas quais as armas letais podem muito bem ser contraproducentes, intensificando ódios e violência, em vez de sufocá-las, as armas não-letais deverão ter aceitação cada vez maior.  (....) Veja, por exemplo, o conceito de "antitração". Como um dos documentos do CEG explica, "a antitração torna as superfícies escorregadias. Usando sistemas de ataque ou agentes humanos de pára-quedas, podemos espalhar ou pulverizar lubrificantes do tipo Teflon, ambientalmente neutros, em trilhos de ferrovias, ladeiras, rampas, pistas de pouso e até escadas e equipamentos, impedindo o seu uso por um período considerável". Como alternativa, é também possível colar as coisas de modo a que elas não possam se mexer. "Adesivos polímeros, levados pelo ar ou de forma seletiva, no chão, podem "colar" um equipamento no lugar  e evitar que ele funcione."

É muito bom falar em imobilizar tanques com antitração. Mas o que poderiam as guerrilhas urbanas fazer com os carros da polícia parados do lado de fora da delegacia local? E se os piratas sociopatas de computadores infectarem computadores com vírus, o que é que eles, ou outros, poderiam fazer um dia com armas que usam microondas? (....) Muitas dessas armas podem ser usadas por estados repressivos contra seus próprios cidadãos que protestem pacificamente. Algumas das tecnologias são tão indicadas para uso no controle de multidões ou na dispersão de protestos, que as democracias poderão ter de redigir novas regras de combate para suas polícias. (....) Poderia a adoção de métodos de guerra não-letais levar a uma nova rivalidade  uma corrida por parte dos países para espalharem armas não-letais por toda parte? Poderia isso acabar redundando em menos matança  e também menos democracia  se os Estados puderem cegar, tontear, desorientar e derrotar de outras maneiras não-letais os seus críticos?  (....)

 

QUARTA PARTE: CONHECIMENTO

 

16. OS GUERREIROS DO CONHECIMENTO

À medida que a forma de guerra da Terceira Onda se configura começa a aparecer uma nova estirpe de "guerreiros do conhecimento", intelectuais com e sem uniforme dedicados à idéia de que o conhecimento pode vencer, ou evitar, guerras. (....) "A história da guerra é a história da doutrina", diz Paul Strassmann chefe dos serviços de informação da Xerox Corporation. "Temos uma doutrina para desembarques em praias, uma doutrina para bombardeios, uma doutrina para a batalha ar-terra. (...) O que está faltando... 'e uma doutrina para a informação".  (....) Duane Andrews é o antigo chefe de Strassmann no Pentágono. Andrews, que serviu como secretário-assistente de defesa para o C3I (Comando, Controle, Comunicações e Inteligência), assinalou a diferença quando chamou a informação de "ativo estratégico". Isso significa que não é apenas uma simples questão de informações secretas no campo de batalha ou ataques táticos contra as redes de radar e telefone do outro lado, mas uma poderosa alavanca capaz de alterar decisões de alto nível por parte do oponente. (....) O "Memorandum of Policy No. 30" define "comando e controle" como o sistema pelo qual a autoridade e a direção são exercidas por comandantes legítimos. (...) O memorando alarga os parâmetros oficiais em torno do conceito de guerra de informações e ao estender a gama para incluir operações psicológicas que visem influenciar as "emoções, os motivos, o raciocínio objetivo e, por fim, o comportamento" dos outros. (....) Para os estudiosos da RAND Corporation, "ciberguerra" implica "tentar saber tudo sobre um adversário enquanto evita que ele saiba muito sobre você. Significa virar "o saldo da informação e do conhecimento" a seu favor, em especial se o saldo das forças não estiver a seu favor".  E, exatamente como na economia civil, significa "usar o conhecimento de modo que se possa gastar menos capital e menos mão-de-obra". (....) Certas coisas estão claras. Qualquer força armada  como qualquer companhia ou empresa   tem de realizar pelo menos quatro funções chave no que diz respeito ao conhecimento. Tem de adquirir, processar, distribuir e proteger informações, enquanto as nega ou distribui seletivamente a seus adversários e/ou aliados. SE, portanto, dividirmos cada um desses passos em seus componentes, começaremos a construir um arcabouço abrangente para a estratégia do conhecimento, uma chave para muitas, se não para a maioria, das vitórias militares de amanhã. (....) "Um dos grandes segredos do Vale do Silício é roubar capital humano do Terceiro Mundo. Talvez os nativos [do vale] estejam indo embora. Isso é compensado, com sobras, pelos indianos e taiwaneses que chegam." (....) Bombas estúpidas podem ter o se Q. I. aumentado pela adição de componentes que não possuíam originalmente e que dependam de programas para sua manufatura ou seu funcionamento.  (....) Políticas que orientem o desenvolvimento e o uso da tecnologia da informação em geral, e dos programas em particular, são um componente vital da estratégia do conhecimento. (....) Como as redes avançadas permitem que os usuários se comuniquem entre si em todos os níveis da hierarquia, isso significa que capitães podem falar com outros capitães, coronéis com outros coronéis, sem que as mensagens passem , primeiro, pelo topo da pirâmide. Mas isso é precisamente o que presidentes e primeiros-ministros totalitários podem não querer.

"É por isso", acredita Stuart Slade, um cientista de informações e analista militar, "que as novas redes de comunicações favorecem as nações democráticas". (....) "O terrorista de amanhã poderá ter condições de causar mais dano com um teclado do que com uma bomba."  (Computers in Crisis, relatório do Conselho Nacional Ce Pesquisas) (....) (..) o soldado e o civil estão informacionalmente interligados. O grau de competência com que o mundo civil  empresas, governo, associações não lucrativas  adquire, processa, distribui e protege seus ativos de conhecimento afeta profundamente o grau de competência com que as forças armadas irão cumprir suas tarefas.

 

17. O FUTURO DO ESPIÃO

Assemelhando-se a um  especialista em marketing empresarial, Andrew Shepard, analista da CIA, insiste para e que os peritos em informações desmassifiquem sua produção: "Para adaptar o serviço rotineiro de informações aos interesses particulares dos clientes, precisamos da capacidade para produzir diferentes apresentações para cada consumidor chave. Prevemos uma montagem final de entrega de informações rotineiras acabadas no "ponto de venda".  (....) Numa era de crescente intangibilidade na guerra, pode ser igualmente importante monitorar "fatores de conhecimento", como as opiniões religiosas dos soldados inimigos, sua cultura, perspectiva do tempo, nível de instrução e treinamento, fontes de informações, os meios de comunicação a que assistem nas horas de folga, e outros elementos relacionados com o poder do conhecimento. Em suma, conhecer o terreno do conhecimento será tão importante para os exércitos da Terceira Onda quanto foi, no passado, o conhecimento da geografia e da topologia do campo de batalha.  (....) O que a Terceira Onda tem feito é expandir explosivamente a quantidade de informações (inclusive de informações erradas) que se desloca pelo mundo.  (....) Preocupar-se com a guerra ou a antiguerra no futuro sem repensar o serviço de informações e ver como ele se encaixa no conceito de estratégia do conhecimento é um exercício em futilidade. A reestrutura e a reconceituação do serviço de informações  e o serviço militar de informações como parte dele  é um passo em direção à formulação de estratégias do conhecimento necessárias a combater ou impedir as guerras do amanhã.

 

18. ENGENDRAR

Durante a Primeira Guerra Mundial, tanto a Alemanha como a Grã-Bretanha tentaram atrair o apoio norte-americano. Os guerreiros do conhecimento britânicos eram muito mais (....) sofisticados do que os alemães e aproveitavam-se de todo evento simbólico para pintar os alemães como antinorte-americanos. Quando um submarino alemão torpedeou o navio norte-americano Lusitania, que agora sabemos que podia estar transportando munições para os britânicas, a opinião norte-americana sentiu-se ultrajada. Mas o verdadeiro ultraje foi orquestrado um ano depois pelos ingleses. Ao descobrirem que um artista alemão fizera uma medalha de bronze para celebrar o afundamento do navio, os ingleses cunharam réplicas da medalha, colocaram-nas em caixas e enviaram centenas de milhares aos norte-americanos, juntamente com um folheto de propaganda antigermânica. No fim, é claro, os EUA entraram na guerra ao lado dos ingleses, condenando os alemães.  (....) Uma das "ferramentas" mais comuns para torcer a mente é a acusação de atrocidades. Quando uma jovem kuwaitiana de 15 anos depôs perante o congresso durante a Guerra do Golfo, dizendo que soldados iraquianos no Kuwait estavam matando bebês prematuros e roubando as incubadoras para levá-las para o Iraque, ela tocou muitos corações. O mundo não foi informado de que ela era filha do embaixador do Kuwait em Washington e membro da família real, ou que seu comparecimento tinha sido dirigido pela firma de relações públicas Hill & Knowlton, em nome dos kuwaitianos. (....) Uma outra "chave de grifa" mental na caixa de ferramentas do militar, doutro em efeitos, é o endemoninhamento e/ou a desumanização do adversário. Para Saddam, assim como para seus inimigos no vizinho Irã, os EUA eram "o Grande Satã", Bush era "o Demônio da Casa Branca". Por sua vez, para Bush, Saddam era um "Hitler". A rádio Bagdá se referia ao pilotos norte-americanos como "ratos" e "animais predadores". Um coronel norte-americano descreveu um ataque aéreo como "quase como você acender a luz na cozinha à noite e as baratas começarem a correr de um lado para o outro, e nós as matarmos".  (....) Uma quarta ferramenta é a polarização. "Quem não está do nosso lado está contra nós". (....) Talvez a mais poderosa de todas as chaves de grifa seja a metapropaganda  a propaganda que desacredita a propaganda do outro lado. Porta-vozes da coalizão no Golfo repetida e acuradamente salientavam que Saddam tinha um controle total da imprensa iraquiana e que, portanto, a verdade era negada ao povo do Iraque e as ondas de transmissão de rádio e televisão estavam cheias de mentiras. A metapropaganda é especialmente potente porque, em vez de contestar a veracidade de uma única história, põe em dúvida tudo o que vem do inimigo. Seu objetivo é produzir uma descrença no atacado, não no varejo. (....) O aparelho de TV acabará por ser substituído por uma unidade (sem fio) que irá combinar um computador, um scanner, um fax, um telefone e um aparelho de mesa para criar mensagens de multimídia, todos formando uma unidade e ligados uns aos outros. E, em vez de teclados, esses "telecomputadores" podem vir a ser operados por ordens orais, em linguagem natural.  (....) (...) na maioria dos assuntos a influência da imprensa escrita está declinando. "Com a Guerra do Golfo", escreve Ignacio Ramonet em Le Monde Diplomatique, a televisão "assumiu o poder", dando forma ao estilo e, acima de tudo, ao ritmo e ao andar do jornalismo impresso. A TV conseguiu impor-se aos outros meios de comunicação, salienta Ramonet, "não apenas  porque apresenta um espetáculo, mas porque tornou-se mais rápida do que os outros".

 

Em 1815, 2.000 soldados norte-americanos e ingleses mataram-se uns aos outros na Batalha de Nova Orlelans porque a notícia de um tratado de paz, assinado duas semanas antes, em Bruxelas, não os alcançou a tempo. As notícias se deslocavam a um passo glacial. Hoje, batalhas e tratados de paz tornam-se notícia antes de serem concluídos. Quando as forças norte-americanas chegaram à Somália, um exército de câmeras de TV estava na praia para saudá-las. Presidentes e primeiros-ministros sabem do que está acontecendo pela TV, antes que os diplomatas possam informá-los. O coronel Alan Campel alega que os cidadãos de uma democracia podem ter tanto o direito quanto a necessidade de saber o que está acontecendo. Mas será que precisam saber disso em tempo real?  (....) Antes da revolução industrial, as populações camponesas eram analfabetas e provincianas, baseando-se em histórias contadas por viajantes, dogmas da Igreja, ou mitos e lendas para suas imagens de eventos distantes em tempo ou lugar. Em contraste, os meios de  comunicação da Terceira Onda estão começando a criar uma sensação de irrealidade quanto a eventos reais. Essa crescente ficcionalização da realidade é encontrada não apenas onde ela fica bem, nas comédias de situações e nos dramas, mas também na programação de noticiosos, onde pode provocar a mais mortal das conseqüências. (....) Novas tecnologias de simulação tornam possível montar falsos eventos de propaganda com os quais os indivíduos interagem, eventos que são intensamente vívidos e "reais". Os novos meios de comunicação tornarão possível retratar batalhas inteiras que não aconteceram ou uma reunião de cúpula mostrando (falsamente) um líder rejeitando uma negociação de paz. Antigamente, governos agressivos montavam, às vezes, provocações para justificar a ação militar; no futuro, eles talvez possam apenas simulá-las. No futuro que vem chegando com rapidez, não apenas a verdade, mas a própria realidade pode ser uma das baixas da guerra.  (....) O lado bom de tudo isso é que um público acostumado a usar a simulação para muitas outras finalidades, em casa, no trabalho e nas horas de lazer, pode aprender que "ver" ou mesmo "sentir" não é acreditar. O público deverá ficar cada vez mais sofisticado em matéria de meios de comunicação com o passar do tempo e, é de se esperar, também mais cético. [ a pergunta que fica é: em que (ou quem) o indivíduo poderá acreditar?] (....) Pequeninas antenas parabólicas em lares do mundo inteiro irão captar, um dia, o jornal da noite de todas as partes e em todas as partes  Nigéria ou Holanda, ilhas Fiji ou Finlândia. A tradução automática vai acabar significando que uma família alemã poderá ver um programa de jogos transmitido pela Turquia traduzido automaticamente para o alemão. Católicos ortodoxos na Ucrânia poderão ser bombardeados por mensagens de um satélite do Vaticano conclamando-os a abandonarem sua igreja e tornarem-se católicos romanos. Aiatolás em Qum poderão estar pregando a lares do Quirguistão ao Congo, ou, mesmo, à Califórnia.

 

QUINTA PARTE: PERIGO

19. TRANSFORMANDO RELHAS DE ARADO EM ESPADAS

Palavras do decreto de 23/AGO/1793 do governo Francês: "A partir deste momento (...) todos os franceses estão em requisição permanente a serviço dos exércitos. Os jovens irão lutar; os homens casados irão forjar armas e transportar suprimentos; as mulheres irão fazer barracas e roupas e servir em hospitais; as crianças irão transformar velhas peças de linho em bandagens; os idosos irão comparecer a lugares públicos para despertar a coragem dos soldados(...)" Essa convocação introduziu a guerra em massa na história moderna e foi, em breve, combinada com inovações na artilharia, nas táticas, nas comunicações e na organização, fazendo, assim, surgir uma poderosa nova maneira de fazer a guerra. (....) Como certa vez nos disse o ex-secretário de Defesa do EUA, Dick Cheney, no mundo real "o orçamento guia a estratégia, a estratégia não guia o orçamento". O que é ainda pior, os orçamentos que "guiam" tampouco são determinados de maneira remotamente racional. Em todos os países, armas e exércitos são o máximo de fundos aplicados com  fins políticos, proporcionando empregos, lucros e subornos. O poder político interno e as rivalidades entre os serviços, não a lógica, impulsionam o processo do orçamento.  (....) Nos EUA, manchetes diárias informam a dispensa de cientistas, engenheiros, técnicos e trabalhadores menos especializados da área de defesa. A General Dynamics, por exemplo, fabricante de aviões de combate e submarinos, despediu 17.000 trabalhadores em 20 meses. Nos EUA, como um todo, com muitas fábricas militares vazias, cerca de 300.000 empregos na área de defessa desapareceram em menos de 2 anos depois das queda do Muro de Berlim, e muitos mais se seguiram desde então.  (....) Por "civilitarização" queremos dizer a transferência de trabalho militarmente relevante, que antigamente era realizado por indústrias bélicas específicas, para indústrias de orientação civil. (....) Mas, mesmo quando políticos e os meios de comunicação de várias nações louvam as bênçãos da conversão, um contraprocesso muito mais extensivo está convertendo indústrias civis à potencialidade de uso militar. Isso é civilitarização. Isso é que é a verdadeira "conversão". O que ela faz é exatamente o oposto do que se pretendia inicialmente: transforma relhas de arados em espadas.  (....) O espaço também forneceu  aos aliados informações antecipadas durante a Guerra do Golfo. Mas a Motorola, hoje, está planejando colocar um anel de satélites em trono da Terra. Esse sistema comercial, chamado Iridium, poderia fornecer a usuários em qualquer parte comunicações que essencialmente não podem sofrer interferências. Além do mais, à medida que as redes eletrônicas proliferam na superfície da Terra, em breve será impossível negar a um futuro adversário o acesso a informações confidenciais baseadas em satélites. (....) É verdade que os EUA e outras nações militarmente avançadas detêm certas vantagens  soldados mais instruídos, capacidades mais desenvolvidas e melhor integração de sistemas. Mas a assimetria da Guerra do Golfo não deverá ser repetida no futuro, na medida em que alguns elementos, pelo menos, do armamento da Terceira Onda estão difundidos pelo mundo todo, impulsionados pelo processo de civilitarização. (....) A pesquisadora Carol D. Campbell, ao procurar mercados comerciais para Hughes, chegou à conclusão de que a sua tecnologia, baseada na inteligência artificial para reconhecimento de padrões, inicialmente projetada para determinar o alvo de mísseis, também poderia ser usada para reconhecer caligrafias, uma coisa útil para o serviço postal norte-americano. "Se o nosso sistema pode distinguir um B-1 de um F-16 a quilômetros de distância, explicou ela à revista Business Week, "poderá distinguir A de B ou 6 de 9".  (....) "Agora é possível", informa o N. Y. Times, "mandar peças pelo fax a locais remotos." Essa e outras tecnologias similares irão acelerar e simplificar a projeção do poderio militar, reduzindo a necessidade de bases no exterior ou depósitos de suprimentos permanentes. (....) Em Powershift escrevemos: "Por definição, tanto a força como a riqueza pertencem aos fortes e aos ricos. A verdadeira característica revolucionária do conhecimento é o fato de poder ser adquirido também pelos fracos e pelos pobres. O conhecimento é a mais democrática fonte de poder." [Será? Isto contrasta com as questões da especialização e dos nichos. A quantidade de conhecimento cresce em progressão geométrica, impossibilitando (e mesmo desestimulando) o acúmulo de conhecimento. A ignorância tenderá a ser um padrão]

 

20. O GÊNIO LIBERADO

Segundo  o jornal russo Izvestia, as instalações e a manutenção dos silos de mísseis ucranianos são tão pobres que existe a ameaça de uma outra Chernobyl. Os trabalhadores estão expostos ao dobro dos níveis de radiação permitidos e os sistemas de segurança foram rompidos em 20 locais em que existem armas.  (....) Na supostamente "segura" Rússia, essas "pequenas" armas estão armazenadas em instalações totalmente inadequadas. Diz o membro do parlamento e ex-cosmonauta soviético Vitaly Sevastyanov: "Os depósitos existentes estão lotados de ogivas e algumas são até guardadas em vagões de estrada de ferro." Aos russos faltam pessoal técnico, estrutura e, acima de tudo, dinheiro necessário para a salvaguarda dessas armas. (....) Governos, sindicatos do crime e grupos terroristas do mundo inteiro estão ansiosos para pôr as mão em algumas dessas armas. As forças armadas russas, por sua vez, inclusive unidades que se presume as estejam vigiando, são muito mal pagas, mal abrigadas, e não estão acima da corrupção. Oficiais russos já ofereceram outras armas a compradores ilegais em transações por baixo da mesa. (....) Antes da Guerra do Golfo, a AIEA utilizava o equivalente a apenas 42 inspetores de tempo integral para inspecionarem 1.000 usinas atômicas no mundo inteiro. Em comparação, os EUA em mantém em ação 7.200 inspetores em tempo integral para verificar a existência de salmonela ou psitacose na carne de vaca e de aves domésticas, 171 para cada inspetor enviado pela comunidade mundial para investigar a disseminação da doença nuclear mundial. Gastam 2  vezes e meia mais, todos os anos, para certificar-se de que suas carnes de aves e de vaca estão sadias do que a AIEA gasta para garantir a segurança nuclear no globo. (....) A situação radicalmente nova na década de 90 confirmou o aviso do estrategista nuclear Thomas Schelling, em 1975, de que "em 1999 a nossa capacidade de regulamentar as armas nucleares no mundo todo não será melhor do que a de controlarmos, hoje, as armas baratas, fáceis de esconder, a heroína e a pornografia." (....) De acordo com ma reportagem publicada em The Economist, "já houve mais de 50 tentativas extorquir dinheiro dos EUA com ameaças nucleares, algumas terrivelmente verossímeis". O que é ainda pior, à lista atual de possíveis ameaças tem que ser acrescentada mais uma, que tem sido largamente desprezada. Não apenas governos, terroristas e barões das drogas, mas belipotentados podem estar, agora, à procura de armas nucleares. (....) Diz Michael Golay, professor de engenharia nuclear do MIT: "O que é confidencial, hoje, é como construir uma boa arma, não como construir uma arma".  (....) "O fluxo de informações para dentro ou para fora de uma nação já não pode ser controlado com eficiência pelo Estado; a informação está em toda parte e é acessível. Participar dos benefícios econômicos do mundo do comércio que desabrocham significa adotar práticas que solapam o controle do Estado(...)" (....) "Na era da informação as raízes do poder estão no livre acesso à informação."

 

21 A ZONA DA ILUSÃO

Um dos duradouros efeitos posteriores do êxtase coletivo que tomou conta do Mundo depois que o Muro de Berlim caiu é uma convicção de que mesmo que as guerras proliferem nos anos vindouros, elas praticamente não irão atingir as democracias de alta tecnologia. O transtorno ficará confinado a conflitos locais ou regionais, principalmente entre povos pobres, de pele escura, em lugares remotos [premonição da Somália?]. (....) O sistema financeiro de hoje é, na verdade, extremamente vulnerável porque está em processo de reestruturação para servir a uma economia da Terceira Onda que se globaliza com rapidez. Ao liberalizar fluxos de capital além das divisões nacionais, políticos e líderes financeiros míopes desmantelaram muitos dos dispositivos de segurança e freios que outrora poderiam ter limitado os efeitos de um sério colapso a uma só nação. Eles pouco têm feito para substituir essas salvaguardas. (....) Duas outras forças estão desafiando as fronteiras nacionais. A emergente economia da Terceira Onda, baseada na manufatura e em serviços de uso intensivo do conhecimento, ignora cada vez mais as fronteiras nacionais existentes. Conforme já sabemos, grandes companhias formam alianças que ultrapassam as fronteiras. Mercados, fluxos de capital, pesquisa, manufatura todos estão se estendendo além dos limites nacionais. Mas essa "globalização" altamente divulgada é apenas um lado da história. Novas tecnologias estão simultaneamente reduzindo o custo de certos produtos e serviços ao ponto em que já não precisam mais dos mercados nacionais para sustentá-los.  (....) Continuar democrática, por sua vez, tem como ponto pacífico certo grau de estabilidade política ou mudança ordeira. No entanto, muitas das nações da presumida zona de paz estão avançando rapidamente para um período turbulento de perestroika política ou reestruturação.  (....) Perot, foi uma criação da CNN, tendo lançado sua campanha em frente às câmaras daquela rede e tendo aparecido com freqüência em seus canais dali por diante. Buchanan, imediatamente antes de sua campanha política, foi, na verdade, o co-apresentador, diante das câmeras, do programa diário da CNN, Crossfire. Em nenhuma campanha política anterior, nos EUA, os meios de comunicação, quanto menos um só canal, tiveram um papel tão essencial. (....) Mas os novos meios de comunicação fazem mais do que alterar resultados de eleições. Ao focalizarem a câmera primeiro sobre uma crise, depois quase que da noite para o dia sobre outra, os meios de comunicação armam a agenda pública e obrigam os políticos a lidar com constante fluxo de crises e controvérsias. Hoje, o aborto. Amanhã, a corrupção. Depois, impostos. Depois, assédio sexual...déficits do governo... violência racial...  ajuda a estados de calamidade... crime... O efeito é acelerar a vida política, obrigando os governos a tomar decisões sobre assuntos cada vez mais complexos num ritmo cada vez mais rápido. Eles se tornam vítimas, por assim dizer, do choque do futuro.  (....) Os congressos, parlamentos e tribunais lentos de hoje são produtos da Primeira Onda. As gigantescas burocracias dos ministérios e governamentais são, em sua maior parte, produtos da Segunda Onda. Os meios de comunicação de amanhã  da televisão por cabo ao satélite de transmissão direta às redes de computadores e outros sistemas  são produtos da Terceira Onda . As pessoas que os dirigem estão prestes a desafiar as elites políticas preexistentes e, com isso, transformar a luta política. (....) Em todas as democracias modernas, incessante guerra política tem sido travada, até hoje, entre políticos e burocratas. Essa luta oculta pelo poder é, com freqüência, mais importante do que a batalha às claras entre partidos da esquerda ou da direita. Com raras exceções, esta é a verdadeira natureza da luta política, de Paris e Bonn a Tóquio e Washington. (....) Como as ameaças e as crises militares podem materializar-se mais depressa do que o consenso pode ser organizado, os militares poderão ficar paralisados quando houver necessidade de ação. Ou poderão, ao contrário, mergulhar numa guerra sem  apoio democrático. (....) Muita bobagem tem sido escrita sobre uma ONU renovada e mais forte. A menos que seja dramaticamente reestruturada, a ONU bem poderá representar um papel menos eficiente e menor, não maior, nos assuntos mundiais nas décadas futuras. (....) As organizações internacionais que forem incapazes de incorporar, cooptar, enfraquecer ou destruir as novas fontes não nacionais de poder irão despencar na irrelevância. (....) Um último mito reconfortante embutido na teoria da zona de paz precisa de correção, o mito da interdependência pacífica. (....) Quando a Alemanha e a Inglaterra começaram a guerrear em 1914, cada qual era o maior parceiro comercial da outra. Os livros de história também dão inúmeros outros exemplos. (....) Interdependência significa que o país A não pode tomar uma atitude sem provocar conseqüências e reações nos países B, C, D, e assim por diante. A mudança para fibra óptica nos EUA pode , em princípio, fazer cair os preços do cobre no Chile e provocar instabilidade política no Zâmbia, cujas receitas do governo dependem das exportações de cobre. (....) A interdependência não torna necessariamente o mundo mais seguro. Às vezes, faz o oposto.

 

22 UM MUNDO TRISSECADO

A Terceira Onda é acompanhada por um impressionante fato novo, o crescente risco de revolta por parte dos ricos. (....) As elites chinesas já estão desagradando o governo central em Beijing. Quanto tempo vai demorar para que decidam que não mais tolerarão a interferência política de Beijing e se recusem a contribuir com os recursos de que o governo central precisa para melhorar as condições rurais ou acabar com a agitação agrária?  (....) A população do Brasil, 155 milhões de habitantes, também está fervilhando. Aproximadamente 40% da força de trabalho ainda são agrícolas  grande parte dos quais mal subsistindo nas mais abomináveis condições. Um grande setor industrial e um pequenino mas progressista setor da Terceira Onda formam o resto do Brasil. (....) Mesmo enquanto massas de camponeses da Primeira Onda passam fome no Nordeste e migrações descontroladas soterram as cidades da Segunda Onda de São Paulo e Rio de Janeiro, o Brasil já enfrenta um organizado movimento separatista no Rio Grande do Sul, uma região rica do Sul com uma taxa de alfabetização de 89% e telefone em quatro de cada cinco casas. (....) O Sul produz 76% do PIB do país e, de forma rotineira, tem sua representação no governo ultrapassada numericamente pelo Norte e Nordeste, cuja contribuição econômica, medida naqueles termos, é de apenas 18%. Além do mais, o sul alega que está subsidiando o Norte. Dizendo, a título de piada, que o Brasil seria rico se acabasse logo ao norte do Rio de Janeiro, os sulistas já não estão rindo. Eles alegam que enviam 15% de seu PIB para Brasília e recebem de volta apenas 9%. (....) "O separatismo", diz o líder de um partido que pretende dividir o Brasil, "é a única maneira de o Brasil desfazer-se de seu atraso". Pode, também, ser um caminho para o conflito civil. (....) Por todo o mundo, os ricos querem pular fora. (....) Diante dessa poderosa onda de concorrência, as forças empresariais dos EUA, com apoio dos sindicatos de classe, orquestraram uma campanha de propaganda maciça pedindo ao Tio Sam que proteja ou subsidie sua  produção nacional. Uma campanha paralela, ainda mais intensa, contra importações asiáticas, está acontecendo na Europa.  (....) Em escala mundial, a guinada de volta à religião reflete a desesperada busca de algo para substituir as fés da Segunda Onda que desmoronaram, o marxismo ou o nacionalismo ou, mesmo, o cientificismo. No mundo da Primeira Onda, ela é alimentada por lembranças da espoliação da Segunda Onda. Assim, é o ressaibo do colonialismo que torna as populações islâmicas da Primeira Onda tão violentas contra o Ocidente. (....) Estamos entrando aceleradamente num estranho e novo período da história do futuro. Aqueles que quiserem evitar ou limitar a guerra têm de levar em conta esses novos fatos, ver as invisíveis conexões entre eles e reconhecer as ondas de mudança que transformam o nosso mundo.

No período de turbulência e perigo extremos que virá, a sobrevivência irá depender de fazermos algo que ninguém fez em pelo menos dois séculos. Assim como inventamos uma nova forma de guerra, teremos de inventar  uma nova "forma de paz".

 

 

SEXTA PARTE: PAZ

23. SOBRE FORMAS DE PAZ

O duelo exemplifica um dos métodos salva-vidas adotados por povos primitivos para minimizar os efeitos da violência. Em vez de tribos ou clãs inteiros fazendo-se em pedaços, muitos grupos primitivos resolviam suas disputas armando combates simples, a escolha de um defensor para representar cada lado.  (....) Na lenda homérica, Menelau, pelos gregos, e Páris, pelos troianos, travam um duelo igualmente decisivo. Antropólogos têm encontrado indícios de combates isolados entre os homens das tribos tlingit, no sul do Alasca, maori, na Nova Zelândia, e outras comunidades do Brasil à Austrália.  (....) Por horrível que fosse a escravatura, ela foi uma das muitas inovações da Primeira Onda que tiveram o efeito de reduzir a contagem de corpos no campo de batalha. Ela fez parte da forma de paz da civilização da Primeira Onda. (....) O industrialismo quando surgiu pela primeira vez na Europa ocidental, deu forte ênfase às relações contratuais. Os contratos tornaram-se parte do dia-a-dia da vida empresarial. Sistemas políticos eram justificados como exemplares típicos de "contrato social" entre líderes e liderados. Tratados e acordos tornaram-se, assim, elementos chave da forma de paz da Segunda Onda. Alguns estabeleciam limites éticos para o comportamento do soldado. (....) A crise que o mundo enfrenta hoje é a ausência de uma forma de paz da Terceira Onda que corresponda às novas condições do sistema mundial e às realidades da forma de guerra da Terceira Onda. (....)

 

24. A PRÓXIMA FORMA DE PAZ

Infelizmente é ingênuo presumir que as Nações Unidas, dada a sua estrutura atual, poderiam abafar as chamas da guerra desde que tivesses apoio financeiro adequado. Há coisas demais que a ONU não pode fazer, e não poderia fazer ainda que tivesse todo o dinheiro que quisesse.  (....) Em vez de lamentar o custo das tecnologias de vigilância baseadas no espaço e dos sensores de mar e terra, precisamos considerar esses itens como despesas sociais vitais para a preservação da paz.  (....) O intercâmbio de dados, informações e conhecimento num mundo cada vez mais marcado por corridas armamentistas regionais é, nitidamente, uma ferramenta da Terceira Onda para a paz. (....) São essas especulações pura ficção científica? Segundo um bem-informado alto funcionário da indústria bélica, não. Na verdade, disse-nos ele, "poderíamos ter codificado todos os aviões que vendemos. Poderíamos ter colocado um rótulo ou um identificador em todos os chips que operam aviões que vendemos ao Oriente Médio. (...) Na eventualidade de uma ação hostil, iríamos poder nos comunicar com aquele chip e ele iria dar defeito. Isso tem de estar acontecendo de uma forma ou de outra". Esse alto funcionário não foi o único anos dizer isso.

Será que o comprador pode descobrir o componente embutido? "Muito difícil", dizem os altos funcionários, "extremamente difícil (...) quase impossível".

Existe também o problema da evasão de cérebros que deverá crescer. No setor privado, está surgindo toda uma nova legislação relativa à propriedade intelectual. A GM processa um ex-executivo por ter levado, segundo se alega, 14 caixas de discos de computador e documentos para a Volks. A IBM processa um ex-empregado para evitar que ele trabalhe para a Seagate, fabricante de unidades de disco para computadores. São tentativas de regulamentar o fluxo de poder mental entre companhias por motivos puramente comerciais.  (....) Foram precisos 2 anos depois do estouro da guerra para que os EUA finalmente anunciassem que iriam lançar uma Rádio Sérvia Livre, mas apenas em ondas curtas, sendo explicado, de forma pouco convincente, que uma emissora em ondas médias iria precisar de transmissores maiores perto da área alvo. Em 1920, a Marconi Company, da Inglaterra, transmitiu um concerto de Dame Nellie Melba que foi ouvido até na Grécia, mas em 1993 alguma coisa tornava impossível alcanças Zagreb ou Belgrado, digamos, da Itália ou dos oceanos próximos. Havia, àquela altura, exatas 500.000 antenas parabólicas na Sérvia e em Montenegro e outras 40.000 na Croácia, mas nenhuma agência internacional se aproveitou delas.  (....) Como a pobreza não é amiga da paz, a dr. Elin Whitney-Smith, diretora da Micro Information Systems Inc., propõe usar "nossas forças armadas e o poder da revolução digital para dar ao resto do mundo o máximo de informações e de tecnologia da informação, a fim de que povos de nações subdesenvolvidas possam tornar-se parte da comunidade global.(...) A velha ordem mundial construída ao longo dos séculos industriais, já está em pedaços. Temos alegado o tempo todo que a ascensão de um novo sistema de criação de riqueza e de uma nova forma de guerra exige uma nova forma de paz. Mas a menos que essa forma de paz reflita com exatidão as realidades do século XXI, ela poderá vir a ser não só irrelevante, mas perigosa.

 

25. O SISTEMA GLOBAL DO SÉCULO XXI

Poucas palavras são pronunciadas com maior imprecisão do que o termo "global". Dizem que a ecologia é um problema "global". Os meios de comunicação, segundo dizem, estão criando uma aldeia "global". Companhias anunciam, orgulhosamente, que estão se "globalizando". Economistas falam de crescimento ou recessão "global". E não existe politico, alto funcionário da ONU ou especialista dos meios de comunicação que não estejam preparados para nos fazer uma preleção sobre o "sistema global".  (....) Existe, é claro, um sistema global. Mas não é o que a maioria das pessoas imagina.  (....) Nos últimos 3 séculos, a unidade básica do sistema mundial tem sido a nação-estado. Mas esse bloco sobre o qual se construiu o sistema global está mudando. (....) Ao depor perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado, o secretário de Estado Warren Christopher avisou que "se não encontrarmos uma maneira pela qual diferentes grupos étnicos possam viver juntos num país (...) teremos 5.000 países, em vez dos cento e tantos que temos agora".  (....)  Muitos dos estados de hoje irão dividir-se ou reformar-se e as unidades resultantes podem não ser, em absoluto, nações integradas, no sentido moderno, mas uma variedade de outras entidades, de federações tribais a cidades-estados da Terceira Onda. As Nações Unidas poderão vir a ser, em parte, um clube de ex-nações ou de fausses nações, outros tipos de unidades políticas usando as roupas de uma nação.

Os setores mais dinâmicos da nova economia não são nacionais: são subnacionais, supranacionais ou transnacionais. (....) Além do mais, enquanto grupos pobres, sem poder, exigem "soberania", os estados mais poderosos e economicamente mais avançados estão perdendo a sua.  (....) Os mais básicos componentes do sistema global, tal como se entende até agora, estão se decompondo. Há mais estados no sistema, e nem todos, apesar de sua retórica, são nações. (....) A serem incluídos em breve na mais recente e terceira camada do sistema estão as "tecnópolis". Nas palavras de Riccardo Petrella, da Com. Européia, "empresas transnacionais (...) estão criando (...) redes que não passam pelo arcabouço da nação-estado.(...) "As verdadeiras potências tomadoras de decisões do futuro (...) serão as companhias transnacionais aliadas a governos citadino-regionais." (....) As Nações Unidas descrevem 35.000 companhias como empresas transnacionais. Essas companhias têm, em conjunto, 150.000 filiadas. Essa rede tornou-se tão extensa que se calcula que um quarto de todo o comércio mundial consiste, agora, em vendas entre subsidiárias da mesma firma. (....) Médicos, físicos, jogadores de golfe, metalúrgicos, escritores, sindicatos de classe e grupos ambientais têm, todos, interesses maiores do que os nacionais e suas próprias organizações e agendas globais. (....) Redes ligam todos, de extremistas locais a inerrantes bíblicos, fascistas zen, sociedades criminosas e admiradores acadêmicos dos terroristas do Sendero Luminoso, do Peru, todos formando parte de uma "sociedade civil transnacional" que prolifera com rapidez e que nem sempre pode agir com civilidade. (....) Nada destaca o momento histórico de hoje do período anterior de forma mais notável do que a aceleração da mudança. Quando assinalamos isso pela primeira vez em O Choque do Futuro, há muitos anos, o mundo ainda precisava ser convencido de que os acontecimentos estavam, realmente, aumentando a velocidade. Hoje, poucos duvidam disso. A sensação de que os acontecimentos estão se passando mais depressas é palpável. (....) Essa aceleração, em parte impulsionada pela comunicação mais rápida, significa que pontos quentes podem materializar-se e a guerra pode estourar no sistema global quase que da noite para o dia. Acontecimentos dramáticos exigem respostas antes que governos tenham tido tempo de compreender o seu significado. Políticos são compelidos a tomar cada vez mais decisões sobre coisas que conhecem cada vez menos a um ritmo cada vez mais rápido.  (....) Essas diferenças produzem visões de mundo acentuadamente diferentes. Por exemplo, é difícil, para a maioria dos norte-americanos, cuja vida diária está entre as mais rápidas do mundo e cujos horizontes do tempo estão truncados, sentir empatia pelos sentimentos de árabes e israelenses em luta que defendem suas posições citando alegações que têm 2.000 anos de idade. Para os norte-americanos, a história desaparece em si mesma com muita rapidez, deixando apenas o instante imediato. Em outras palavras, estamos construindo não apenas um sistema  global de três níveis, mas um sistema que funciona em três faixas de velocidades diferentes. (....) Para as economias da Primeira Onda, terra, energia, acesso a água para irrigação, óleo de cozinha, alimentos em épocas de desespero, um mínimo de alfabetização, e mercados para produtos agrícolas ou matérias-primas são, de modo geral, os pontos essenciais para a sobrevivência. Sem terem indústria e serviços exportáveis baseados no conhecimento, elas consideram seus recursos naturais, de florestas tropicais a suprimento de água a áreas de pesca, como seus principais ativos vendáveis. (....) Os estados na camada da Segunda Onda, ainda valendo-se das mão-de-obra manual barata e da manufatura em massa, são nações com economias nacionais concentradas, integradas. Por serem mais urbanizados, precisam de vultosas importações de alimentos, seja de seu próprio interior, seja do exterior. Precisam de altos insumos de energia por unidade de produção. Precisam de matérias-primas em bruto para manter  suas fábricas em atividade  ferro, aço, cimento, madeira, petroquímicos e semelhantes. São a pátria de pequeno número de empresas globais. /são os principais produtores de poluição e outros pontos negativos ecológicos. Acima de tudo, precisam de mercados de exportação para seus produtos manufaturados em massa. (....) As "pós-nações" das Terceira Onda formam a mais nova camada do sistema global. Ao contrário dos estados agrícolas, não têm grande necessidade de mais território. Ao contrário dos estados industriais, não precisam de vastos recursos naturais próprios. (por não ter esses recursos naturais, o Japão da Segunda Onda apossou-se da Coréia, da Manchúria e de outras regiões ricas em recursos. O Japão da Terceira Onda, em comparação, ficou incomensuravelmente rico sem ter colônias ou matérias-primas próprias.) (....) As "pós-nações" da Terceira Onda, é claro, ainda precisam de energia e de alimentos, mas o que também precisam é de conhecimento conversível em riqueza. Precisam do acesso ou do controle de bancos de dados e de redes de telecomunicações. Precisam de mercados para produtos e serviços que fazem uso intensivo da inteligência, para serviços financeiros... consultoria administrativa...software...programação de tevê... seguro... pesquisa farmacêutica...gerenciamento de redes... integração de sistemas de informações... informação econômica...sistemas de treinamento... simulações... serviços noticiosos... e todas as tecnologias de informações e telecomunicações das quais tudo isso depende. Precisam de proteção contra a pirataria de produtos intelectuais. E, quanto à ecologia, querem que os países "imaculados" da Primeira Onda protejam suas florestas, seus céus e o seu verde para o "bem global"  ainda que isso, às vezes, impeça o desenvolvimento econômico. (....) Por fim, neste momento crítico, o sistema é tudo, menos racional.  Está na verdade, mais suscetível ao acaso do que nunca, o que quer dizer que o seu comportamento é mais difícil, talvez até impossível, de prever. (....) Entre 68 e 90 ocorreram aumentos maciços da população global, mas apesar das previsões de um dia do juízo final;, as ofertas de alimentos per capita no mundo aumentaram mais depressa ainda, segundo a FAO, e o número de pessoas cronicamente subnutridas teve uma queda de 16%.