EXTRATO DE: MANUAL DE PSICOLOGIA

 

TÍTULO DO ORIGINAL: ABRÉGÉ DE PSYCHOLOGIE

AUTOR: JEAN DELAY E PIERRE PICHOT

EDITADO EM:    1973                  POR: GUANABARA KOOGAN

 

1 - DEFINIÇÕES E MÉTODOS DA PSICOLOGIA. SUAS RELAÇÕES COM AS DISCIPLINAS AFINS

 

2 - ORIENTAÇÃO DA PSICOLOGIA MODERNA. CLASSIFICAÇÃO DA PSICOLOGIA. A PSICOLOGIA MÉDICA.

I - Orientação da Psicologia Moderna. Os Grandes Problemas

A - A NOÇÃO DE ORGANISMO

B - HEREDITARIEDADE E MEIO

O organismo humano adulto é resultado de um processo complexo de crescimento que começa no estado unicelular e que fica submetido a duas séries de influências, umas internas e outras externas.

1º - O Papel Respectivo da Hereditariedade e do Meio.

Existem diferenças de acordo com o traço pesquisado, sendo a inteligência mais determinada pela hereditariedade do que a personalidade, mas nesta os traços afetivos fundamentais, como a tonalidade geral do humor, a força dos impulsos ou a tendência ao nervosismo, eram mais hereditárias do que outros.

2º - Modo de Combinação da Hereditariedade e do Meio

K. Lewin salientou que o meio não é uma noção objetiva. O meio é o que nós percebemos como sendo nosso meio. Dois indivíduos colocados objetivamente no mesmo meio não o estruturarão da mesma maneira, pois sua estruturação será influenciada por sua personalidade, sua experiência e suas necessidades.

C - CONCEITO DE NORMALIDADE

1º - A normalidade estatística

2º - A normalidade ideal - de origem social

3º - A normalidade funcional - de origem interna (características e fins do indivíduo)

II - CLASSIFICAÇÃO DA PSICOLOGIA

A - CLASSIFICAÇÃO DAS PSICOLOGIAS SEGUNDO SEU OBJETIVO DE ESTUDO

1º - A psicologia animal. Behaviorismo - doutrina que fez da psicologia a ciência do comportamento.

Etologia - Esta, cujos fundadores são K. Lorenz e N. Tinbergen, salienta a observação do comportamento global do animal em um meio tão próximo quanto possível do natural, sem descuidar para tanto de certos dispositivos experimentais.

2º - A psicologia humano. A psicologia geral considera o homem independentemente do meio social no qual ele vive; a psicologia social insiste sobre o papel desse meio. A distinção é freqüentemente muito difícil. (....) Atualmente assistimos a uma extensão progressiva do domínio da psicologia social, sendo que numerosos problemas inicialmente considerados sob um ponto-de-vista geral são agora abordos sob o ponto-de-vista social.

 

3 - A SENSAÇÃO E A PERCEPÇÃO. BASES NEUROFISIOLÓGICAS.

I - As Bases Neurofisiológicas da Excitação - Reação

Nos organismos superiores, existem três sistemas especializados distintos: os órgãos receptores, os órgãos efetores e os órgãos de transmissão.

Fala-se de sensação quando a excitação "é transmitida pelas fibras nervosas, sob a forma de mensagem, até aos centros que registram a conduta global do ser vivo, e inscreve as experiências de modo a assegurar a adaptação dessa conduta, não somente atual como também posteriormente".

Para um neurônio determinado, a excitação só age acima de certo limiar de intensidade, mas, após a variação de potencial desencadeada, é independente, em sua amplitude, da intensidade da excitação. Ela está ligada unicamente às propriedades do neurônio.  Ë a lei do tudo ou nada,  válida tanto para os neurônios do receptor como para os neurônios de retransmissão. Cada excitação é seguida de uma fase refratária de um milissegundo, durante a qual a célula é completamente inexcitável.

III - Os Diversos Sistemas

A - VISÃO. O receptor é constituído pela retina, à qual o aparelho óptico do olho transmite as vibrações eletromagnéticas da luz.

B - O OUVIDO.  O aparelho receptor é constituído por cerca de 25.000 células ciliadas (células de Corti) ajustadas em uma membrana em espiral contida na cóclea, às quais um aparelho complexo (tímpano, ossículos, líquido endolinfático etc.) transmite as vibrações aéreas. Estas, cuja freqüência está compreendida entre 20 e 20.000 Herz dão lugar a uma sensação auditiva, som, quando se trata de vibrações simples periódicas, barulho nos casos contrários, sob a condição que a intensidade energética transmitida seja inferior a 120 decibéis, sendo que uma intensidade superior proporciona uma sensação dolorosa.

C - AS SENSIBILIDADES CUTÂNEAS. A pele contém quatro sistemas de receptores que correspondem à pressão (tato), às variações térmicas, ao frio e ao calor, às excitações intensas, qualquer que seja sua natureza (dor). (....) Existe para toda a superfície cutânea cerca de 1,2 milhão de pontos de dor, 700.000 pontos de tato, 250.000 pontos de frio e 30.000 pontos de calor. (....) Para as modalidades de tato, frio e calor (mas muito pouco para a dor), existe uma adaptação, isto é, um estímulo de nível constante contínuo cessa rapidamente de produzir uma sensação. [???]

D - AS SENSIBILIDADES QUÍMICAS

Relacionam-se com os corpos químicos em solução aquosa  (sabor) e sob a forma gasosa (olfato).  (....) Os dois tipos de receptores são susceptíveis de adaptação rápida em caso de excitação contínua.

E - AS SENSIBILIDADES CINESTÉSICA, ESTÁTICA E PROPRIOCEPTIVA

Os receptores informam o organismo sobre a posição dos diferentes segmentos do corpo, sobre a resistência ao movimento e sobre a posição do corpo no espaço. Existem dois sistemas receptores:

a) os receptores de sensibilidade motora. compreendem formações do tipo tátil variado, situadas na região profunda do derma, nas articulações, na inserção dos tendões e,  talvez [???], nos fusos musculares. As sensações que fornecem, dificilmente analisáveis, informam sobre as atitudes segmentares e os movimentos.

b) a sensibilidade estatocinética.  os receptores compreendem células ciliadas que se situam, de um lado, nas duas cavidades globulosas...A excitação informa sobre a posição da cabeça em relação a uma vertical aparente (sensibilidade estática).

III - A Sensação

A - A PSICOFÍSICA.  A excitação cresce com o logaritmo da excitação.

B - O ESTUDO EXPERIMENTAL DAS DIFERENÇAS SENSAÇÕES

1º - As Sensações Elementares e Complexas

2º - As Sensações Elementares. Para certas modalidades é difícil atingir, pelos métodos experimentais a sensibilidade protopática e só exploramos, em geral, a sensibilidade epicrítica: é o caso habitual, por exemplo, da sensibilidade mecânica (sensação de peso, sentido de posição, que são, na realidade, percepções complexas). [???????]

A SENSAÇÃO

1º - o domínio temporal. Duas excitações podem produzir sensações simultâneas, sob a condição de que se sucedem dentro d um breve período, chamado "ponto de tempo". A dimensão desse ponto de tempo varia de acordo com  o sistema sensorial considerado: é de aproximadamente 2m para a audição, 10m para os estímulos táteis, 30 a 40 para a vista. (....) A sucessão regular de estímulos uniformes é percebida como estímulos independentes, se seu espaçamento temporal é superior ao ponto de tempo, e como um estímulo contínuo, se esse espaçamento é nitidamente inferior.

2º - O domínio espacial. A espacialização tátil e proprioceptiva, a espacialização visual, a espacialização auditiva e a espacialização vestibular [equilíbrio].

3º - O domínio espaço-tempo. Na maior parte dos casos, as características espaciais e temporais da excitação não são separáveis a não ser artificialmente. Um caso particular é constituído pela percepção do movimento que sobrevém quando uma série de estímulos de freqüência elevada se acompanha de um deslocamento do estímulo. A cinematografia utiliza-se desse fato.

 

4 - A PERCEPÇÃO. ASPECTOS PSICOLÓGICOS E PSICOPATOLÓGICOS

I - A Percepção.  como já disse Malebranche: "nossos sentidos nos foram dados para a conservação de nosso corpo."

A - AS LEIS DA PERCEPÇÃO

1º - O princípio fundamental, que governa todas as leis perceptivas, é o seguinte: um conjunto é mais que a soma das partes que o compõem. Ele possui propriedades autônomas, não derivadas das partes. Três experiências fundamentais serviram de ponto de partida para essa concepção:

a) o movimento aparente. Se dois estímulos visuais (por exemplo, dois segmentos de reta A e B que constituem os dois lados de um ângulo reto) são apresentados sucessivamente com um intervalo de aproximadamente 0.05seg, perceberemos um só segmento de reta em movimento deslocando-se de A para B, ocupando sucessivamente todas as posições intermediárias.

b) as ilusões óptico-geométricas. elas não podem ser explicadas de maneira satisfatória senão  admitindo-se que o conjunto da estrutura perceptiva tenha propriedades originais, que sua percepção é primitiva e que as propriedades das partes derivam dela.

c) o efeito Tau de Gelb.  Ele combina as duas séries precedentes. Quando três pontos luminosos, A, B e C, igualmente espaçados, são apresentados sucessivamente, sendo o intervalo temporal que separa A e B inferior ao que separa B de C, os pontos A e B são vistos mais aproximados no espaço do que B e C.

2º - As leis relativas aos efeitos do campo

a) os elementos perceptivos isolados apresentam uma tendência espontânea à estruturação.

b) as Formas ou Gestalten tendem a se destacar como conjuntos limitados, estruturados, tendo uma unidade subjetiva, a constituir uma Figura que se destaca do Fundo não estruturado.

c) a percepção de uma forma implica na percepção de um significado. Esse princípio se deduz da lei da generalização perceptual.

d) Toda Forma tem uma qualidade, chamada Pregnância, que determina a facilidade com que ela é percebida como Figura em relação ao Fundo.

e) As boas Formas [???] tendem a guardar suas características próprias apesar das modificações da apresentação (princípio da constância).

f) Todas as Formas se desenvolvem a partir de estados primitivos dinâmicos até as Formas pregnantes bem diferenciadas.

 

B - OS FATORES DA PERCEPÇÃO

1º - Percepção e Personalidade

a) A união entre percepção e componente afetivo deriva, no plano primitivo, da função vital da percepção. (....) Uma emoção desagradável (repulsa) está associada a um sabor amargo. (....) No homem, porém, em um grande número de casos [???], é a história individual que condiciona o componente afetivo de cada percepção.

b) A influência da personalidade  sobre a percepção é um fenômeno muito geral, mas que pode, sobretudo, ser posto em evidência quando, no campo perceptivo, as Formas são menos significativas. [Ele substitui o conceito de valor por personalidade.]

 

1º - O papel da hipótese

O ato de perceber compreende três etapas:

a) uma previsão ou uma hipótese;

b) a recepção de informações vem do meio

c) uma verificação

A informação recebida confirma ou infirma a hipótese.

O papel da hipótese na estruturação do campo perceptivo depende de sua força. Esta é função:

a) da freqüência de confirmações anteriores: temos a tendência de perceber o que temos o hábito de perceber;

b) do monopólio: quanto menor é o número de hipótese em um dado momento, maior é sua força;

c) das conseqüências cognitivas: quanto mais a hipótese está integrada em um sistema de convicções e de outras  hipóteses, maior a sua força;

d) das conseqüências motivacionais: quanto maior a confirmação de uma hipótese para o desenvolvimento de uma atividade orientada para um objeto, maior será sua força: nós vemos o que temos desejo ou necessidade de ver.

2º - A motivação. No plano afetivo, a motivação é o fator mais importante que determina a força da hipótese (....) um indivíduo com idéia de perseguição perceberá em uma conversação mais ou menos distinta (campo perceptivo mal estruturado) palavras insultantes a seu respeito. [Na verdade o que ele parece dizer é que motivar é criar necessidade]

3º - O tipo perceptivo. Comparam-se, habitualmente, os indivíduos de percepção analítica, que têm tendência a perceber Formas isoladas, e que apresentam grande dificuldade em reuni-las em uma estrutura única, com os indivíduos de percepção sincrética que têm características inversas: apresentam dificuldades em perceber os detalhes independentemente do conjunto.

2º - Os fatores Sociais da Percepção

(....) a observação científica ou medica original depende da capacidade que tem o indivíduo de se libertar das normas do grupo, de estruturar a situação de um modo original.

C - AS TEORIAS DA PERCEPÇÃO

1º - A teoria de Th. Reid (1764). Admite a existência de unidades elementares (sensações) primitivas que se combinam entre si e que, por associação a representações baseadas sobre nossas experiências passadas, levam à percepção.  (....) É uma teoria empirista.

Admite-se, atualmente, sem discussão, que a percepção da estrutura é primitiva, que há, sempre, uma gnosia (Princípio da generalização).

b) A teoria dos tipos perceptivos e as teorias do campo sensoriotônico.  supõe que as características do estilo perceptivo são ligadas à estrutura hereditária do sistema nervoso.

c) As teorias empiristas.  Atualmente as mais numerosas, elas conservam da Psicologia da Forma, a primazia da percepção da estrutura, mas criticando-lhe o aspecto puramente nativista. (....) Em toda percepção há ação, ato perceptivo, no curso do qual estruturamos o mundo.  (....) Experiências realizadas na Universidade de Innsbruck, mostraram que essa capacidade de modificar a percepção por aprendizagem era quase específica do homem.

(....) Estes últimos autores [Bruswik, Ames, Bruner e Postman) enfatizaram o papel principal que representam, na previsão perceptiva, as motivações e, de um modo mais geral, os fatores afetivos.

Atualmente, se bem que o campo da percepção seja um dos que ocasionaram maior número de trabalho , não existe uma teoria geral plenamente satisfatória. É necessário lembrar que nossa percepção é determinada por um conjunto de fatores inatos e adquiridos. A percepção de estruturas nervosas estão, evidentemente, em relação com as estruturas motoras. A forma dessas estruturas é relativamente hereditária, como as diferenças individuais nas modalidades de estruturação. Mas elas podem ser modificadas pela experiência e por elementos pulsionais e afetivos.

 

D - AS PERCEPÇÕES COMPLEXAS

1º - A Percepção do Tempo

a) O presente psicológico. Quando as sensações estão afastadas entre si por uma duração superior ao ponto do tempo, elas são percebidas como sucessivas, mas se o intervalo que as separa não é muito longo, percebemos o encadeamento das alterações, isto é, sua sucessão. (....) O tempo é irreversível e nós não temos a possibilidade de voltar para desenvolver uma análise que permita uma estruturação mais complexa. Os presentes psicológicos sucedem-se em nossa consciência sem que percebamos o hiato que os separa. A descontinuidade perceptiva é mascarada profissional uma continuidade que apresenta a tonalidade afetiva dos acontecimentos e a unidade de sua significação.

A percepção é essencialmente função de nossas atitudes, das quais a mais importante parece ser a atenção colocada no tempo percebido. Quanto maior essa atenção, mais longo parece o intervalo. Sendo tudo igual nesse plano, a percepção da duração depende da natureza das modificações percebidas e, por conseqüência, dos processos perceptivos centrais cuja organização determina a duração aparente.

b) A estimativa do tempo. Um período de nossa vida, no curso da qual nenhum acontecimento particular vem romper a monotonia do seu desenvolvimento, nos parecerá sem lentidão. Inversamente, uma viagem interessante será vivida como muito curta, mas nós a recordaremos como longa. Diderot havia notado essa discordância na fórmula: "Trabalhemos, pois o trabalho, entre outras vantagens, tem a de nos encurtar os dias e prolongar a vida."

c) O tempo autístico. é o que se estuda no sonho e no curso de estados oniróides provocados por certos medicamentos. (....) Conhecemos o célebre sonho relatado por Maury: sonhou que a vivia durante o Terrorismo que compareceu diante do tribunal revolucionário, foi condenado à morte, definhou durante vários meses em uma masmorra para ser, enfim guilhotinado. Acordando em sobressalto, constatou que uma haste de sua cama lhe tinha caído sobre o pescoço. Esta sensação inicial serviu de ponto de partida para seu sonho que se desenrolou, certamente, em poucos instantes, se bem que correspondesse a um longo período vivido.

2º - A Percepção do Espaço.

A percepção da profundidade e do relevo depende de 8 fatores diferentes, de importância desigual:

1.       a percepção cinestésica do grau de contração do cirstalino no curso da fixação do objetivo (acomodação)

2.       A percepção cinestésica proveniente dos músculos motores do olho no curso da convergência dos dois eixos oculares.

3.       A percepção visual da disparidade das imagens retinianas de um mesmo objeto pelos dois olhos.

4.       A percepção visual da modificação que sofre a imagem retiniana com os movimentos de rotação da cabeça (efeito de paralaxe(.

5.       A percepção visual dos efeitos de revestimento. Um objeto colocado diante de outro oculta-o parcialmente

6.       A perspectiva aérea. Os objetos afastados têm contornos menos delineados do que os objetos próximos.

7.       A percepção visual da estrutura do campo que nos separa do objeto (efeito de perspectiva).

8.       O conhecimento aproximado do tamanho real do objeto. Esse conhecimento resulta de nossas experiências anteriores em que participou nossa sensibilidade tátil e cinestésica na infância.

A integração dos fatores prossegue no curso do desenvolvimento. Sua complexidade explica por que os cegos por catarata congênita, operando na idade adulta, são incapazes de adquiri-la completamente e nunca têm uma visão completa do espaço.  [Talvez porque ficaram muito tempo com a "visão" do escuro].

 

5 - NECESSIDADES, INSTINTOS E PULSÕES. BASES NEUROFISIOLÓGICAS

I - INTRODUCAO

Chama-se de necessidades às "manifestacoes naturais de sensibilidade interna que despertam uma tendência para realizar um ato ou procura uma categoria de objetos"(Piéron).

O termo é ambíguo, porque pode significar tnato uma deficiência biológica (o homem tem necessidade de vitaminas para viver), como o fato pelo qual essa deficiência é sentida ( a fome é uma necessidade de alimento).

O termos objetivo designa o objeto específico que o indivíduo procura ou evita seletivamente no curso do comportamento motivado. (....) Mas é preferível definir o objetivo por: (a) o aparecimento de uma redução da pulsão e saciedade;  (b) a orientacao seletiva do organismo para um objeto, quando este existe, quer se trate de uma procura, quer se trate de uma abstenção.

Denomina-se comportamento dirigido para um objetivo o comportamento específico associado a uma motivação particular e desencadeado por um estímulo definido do meio.

O comportamento motivado é, pois, constituído por três elementos: (a) o desencadeamento da pulsão; (b) a atividade dirigida para um objetivo; c) a saciedade.

II - Bases Neurofisiologicas das Necessidades

A - A NOÇÃO DE HOMEOSTASI

Desde 1856, Claude Bernard tinha salientado que as manifestacoes vitais tinham por objetivo a manutenção da constância do meio interior. O termo homeostasia  foi introduzido por W. B. Cannon para designar essa tendência geral ao restabelecimento do equilíbrio sempre que ele era destruído: "O SER VIVO É UM ORGANISMO FEITO DE TAL MODO QUE CADA INFLUÊNCIA NOCIVA PRODUZ UMA ATIVIDADE DE COMPENSAÇÃO PARA NEUTRALIZAR OU CORRIGIR OS DANOS."

C. P. Richter estendeu esse conceito ao domínio psicológico, considerando o comportamento dirigido para uma finalidade como tendo uma função de autoregulacao, tendende a corrigir os desvios do meio interior em colaboracao com os mecanismos fisiológicos. (....) Certas necessidades não dão lugar a comportamentos compensadores (a ausência de oxigênio no ar respirado não é sentida como uma necessidade. (....) Por outro lado existem comportamentos motivados aos quais não corresponde nenhuma necessidade, mas apenas uma modificação não deficitária do meio interior (Por exemplo, na pulsão sexual).

B - AS DIFERENTES NECESSIDADES

Distinguem-se habitualmente, as pulsões primárias (freqüentemente chamadas necessidades primárias) que correspondem diretamente às condições fisiologicas do organismo, e as motivacoes secndarias (holl) que se desenvolvem pela aprendizagem.

1º - A Concepção Nervosa Central Multifatorial

Lorenz e Tinbergen, mostraram que o comportamento instintivo depende de modificações internas e, simultaneamente, de estimulos esternos que desencadeiam o comportamento, liberando o mecanismo nervoso central.

2º - Necessidades Primárias

a) A fome

b) A sede

c) O sono

d) A necessidade de oxigênio [discordo]

e) A atividade sexual

f) A atividade materna [???]

g) A atividade exploradora [???]

 

III - O INSTINTO

A psicologia clássica opôs, sistematicamente, o instinto e a inteligência, esta última própria do homem. O instinto é, pois, "um conjunto complexo de reações exteriores,, determinadas, hereditárias, comuns a todos os indivíduos de uma mesma espécie e adaptadas a um objetivo para o qual o indivíduo geralmente não tem consciência." [Na minha concepção, instinto é a grade da espécie, sob a qual se estruturará a grade do indivíduo.]

A psicologia animal moderna define o institno como "um mecanismo nervoso organizado hierarquicamente, sensível a certos impulsos que o provocam, o desencadeiam e o dirigem, aos quais ele responde ppor movimentos bem coordenados que têm por objetivo a preservacao do indivíduo ou da espécie"(Tinbergen).

Os comportamentos são cada vez menos preformados e cada vez mais ligados à aprendizagem. (....) Pode-se dizer que existe um institno de acasalamento no rato, mas uma pulsão sexual no chimpanzé, cujo objetivo é o acasalamento. [Está aí, a prova de que não podemos nos basear no estudo dos ratos para deduzir o comportamento humano.]

Em conjunto, os comportamentos dirigidos para uma finalidade são, no homem, aprendidos. [Ora bolas, somos ou não somos decendentes do macaco!? Como podemos negar em nós o que adminitimos nos animais.]

IV - As Pulsões no Homem

Se umchimpanzé está acostumado a apanhar senhas em uma caixa para obter o alimento, continuará a acumular as senhas, mesmo depois que se tenha recomeçado a lhe fornecer o alimento sem a troca delas.

No homem, as motivacoes secundárias são, sem comparacao, as mais numerosas e mascaram as pulsões primárias que lhes servem de base.

A - AS TEORIAS PSICANALÍTICAS DAS PULSÕES

Todo estímulo produz uma quota de energia que provoca o desprazer, rompendo o equilíbrio do organismo. Este procura evitar essa tensão (princípio do prazer, a que Freud chamou inicialmente de princípio do desprazer). Ele consegue, encontrando no meio o objetivo que permite interromper o estímulo e, ao mesmo tempo, descarregar a energia acumulada. (....) Se concordarmos em dar para finalidade de toda poulsao uma redução da tensão, veremos nessa o resultado de um desequilíbrio que pode provir de um excesso ou de uma insuficiência de estimulacao. (....) Os fatos mostram que o restabelecimento do equilíbrio homeostático, sem descarga da pulsão, é suficiente para suprimir esta última. [O QUE PROVA QUE NÃO EXISTE ENERGIA NENHUMA A SER DESCARREGADA. ISTO É UMA BOBAGEM.]

B - A TEORIA PERSONOLÓGICA DAS NECESSIDADES

No quadro de sua teoria personológica da personalidade, o psicologo Henry H. Murray propôs uma classificacao do que chama as "necessidades"(Needs), "conceitos hipotéticos que representam forças..., produzindo por parte do organismo uma atividade e mantendo-a até que a situação organismo-meio esteja modificada de modo a reduzir a necessidade.Certas necessidades são acompanhadas de emoções ou de sentimentos especiais, sendo freqüentemente associadas a ações instrumentais particulares cujo efeito é o de produzir o efeito final desejado. " Se bem que Murray admita que essas "necessidades" correspondem a processos fisiologicos subjacentes, seu objetivo não é o de precisar sua filiacao a partir de um pequeno número de "necessidades primárias", como a psicanalise. Ele julga que não se pode compreender as motivacoes do comportamento humano senao recorrendo-se a um número sufivientemente grande de variáveis, cuidadosamente definidas de forma empírica, o que permite preencher a lcacuna entre a  descricao clínica e a pesquisa empírica. Murray, baseado na análise do comportamento de um número limitado de indivíduos estudados profundamente, estabeleceu uma lista de 20 necessidades fundamentais, como a necessidade de agradar e de ganhar a afeicao de outrem, a agressão, a independência, a dominacao, a exibicao etc. Para cada uma dessas necessidades, Murray deu uma definição precisa, ilustracoes e determinou o tipo de emoções que as acompanham. As necessidades são  divididas em viscerogênicas (que correspondem às pulsões fisiológicas primárias), como as necessidades alimentares, sexuais etc, e psicogênicas, derivadas, provavelmente, das precedentes, mas sem relação imediata com as satisfacoes físcas, como a independência, a dominacao ou a exibicao. Ele opõe, igualmente, as necessidades manifestas (abertas) que se podem exprimir livremente, e as necessidades ocultas (cobertas) cuja manifestação no comportamento é, geralmente impedida pelas convencões sociais e que encontram sua expressão no jogo ou nos fantasmas. Conforme os objetos das necessidades sejam precisos ou variados, Murray distingue as necessidades focais ou difusas; segundo elas encontrem sua causa de desencadeamento sobretudo no interior do indivíduo ou no mundo exterior, ele contrpõe as necessidades "proativas" e as "reativas", etc.

O sistema de necessidades de Murray tem uma grande  utilidade descritiva, tanto mais que existem métodos psicológicos que permitem determinar, em dado indivíduo, as necessidades mais ativas. (teste de Muray ou T. A. T., por exemplo.)

 

6 - CONFLITOS, TENDÊNCIAS E MOTIVAÇÕES. A NOÇÃO DE FRUSTRAÇÃO.

I - A Teoria da Frustração e do Conflito

Para atingir um mesmo fim, o homem pode recorrer a comportamentos diversos. (....) O termo frustração designa o tipo de situação na qual um obstáculo (ou acontecimento frustrante) modifica a conduta do indivíduo. (....) Freqüentemente, o objetivo de um comportamento motivado não é consciente, de modo que o indivíduo apresentará as conseqüências da frustração, por exemplo emoções, como a cólera ou a angústia, sem ser capaz de descobrir-lhes as verdadeiras causas. (....) É da combinação de 3 grupos de influência (natureza do obstáculo, força da motivação do comportamento frustrado e personalidade do indivíduo) que dependerá a natureza e a forma de reação à frustração e a reestruturação posterior da personalidade.

A - MODALIDADES DA FRUSTRAÇÃO

1ª - A Frustração Primária - ausência de alimentos para um indivíduo esfomeado

2ª - A Frustração Secundária

         a) Obstáculo passivo externo - para o rato, a grade que o separa do alimento

         b) Obstáculo passivo interno -  inferioridades físicas que provocam complexo de          inferioridade ou supercompensação.

         c) Obstáculo ativo interno - uma pulsão do mesmo objeto, mas de sentido oposto à          pulsão inicial. Essa competição entre duas pulsões é, sem dúvida o tipo de frustração que          tem a maior importância em psicologia (....)

         d) Obstáculo ativo externo - proibição, sob ameaça de punição, uma atividade à criança          ou a superfície eletrificada que um rato deve transportar.

Denomina-se de conflito as situações de frustração originárias em obstáculos ativos.

B - AS REAÇÕES À FRUSTRAÇÃO

No homem adulto, com efeito, a complexidade de organização da personalidade mascara, sob disfarces freqüentemente difíceis de perceber, a natureza das reações.

1º -- A Frustração em Psicologia Animal

a) Agressão reacional e deslocamento da agressão.  A agressão e a fuga são os modos mais habituais de reação à frustração.

b) Frustração e rigidez de comportamento. Quando, sob a influência de frustrações repetidas, o indivíduo adotou uma modalidade de comportamento reacional, eventualmente bem adaptada à situação frustrante, ele tende a utilizar de maneira rígida esse comportamento nas novas situações, mesmo que seja inadaptada. [ Olha aí as referências.]

c) Influência das frustrações da juventude sobre o comportamento posterior.  As frustrações sobrevidas na juventude têm, em particular um efeito que dura por toda a vida: as modalidades de reação adotadas na primeira frustração reaparecerão quando novas situações evocarem a situação inicial.

 

 

ETAPA         GRUPO A      GRUPO B

RATOS JOVENS

DUAS SEMANAS      ALIMENTO ILIMITADO        RESTRIÇÕES ALIMENTARES (TEMPO E QUANTIDADE)

APARECE HOARDING (RESERVA DE ALIMENTO)

TEMPO NÃO DEFINIDO      ABUNDÂNCIA DE ALIMENTO        ABUNDÂNCIA DE ALIMENTO

RATOS ADULTOS

3 DIAS RESTRIÇÕES ALIMENTARES

HOARDING    RESTRIÇÕES ALIMENTARES

HOARDING MAIS INTENSO

ESTE EXPERIMENTO PROVA A EXISTÊNCIA DAS REFERÊNCIAS E QUE ELAS NÃO SÃO APAGADAS POR OUTRAS EXPERIÊNCIAS, APENAS SUBSTITUÍDAS TEMPORARIAMENTE COMO REFERÊNCIA PRINCIPAL (OU PRIMÁRIA), OU QUE AS REFERÊNCIAS GRAVADAS  COM SINAIS DE DOR SÃO GRAVADAS DE UMA FORMA MAIS INDELÉVEL DO QUE AS REFERÊNCIAS GRAVADAS COM SINAIS DE PRAZER.

        

2º - A Frustração na Criança - Uma parte das modalidades de reação do adulto será determinada pelas frustrações sofridas na infância e pelo estilo de reação que foi então adotado.

a) Reações imediatas à frustração observadas no dia-a-dia.

Cólera, agressão, isolamento, hipersensibilidade, dependência.

b) Reações à frustração observadas em situações experimentais.

Regressão

Em um experimento realizado com crianças de 5 anos, os autores constataram que a regressão era tanto mais profunda quanto maior a frustração.

c) Frustração proveniente de pais e do comportamento social.

Um comportamento agressivo no curso do teste pode corresponder a uma inibição da agressividade nas situações sociais reais e, por conseguinte, a interpretação dos resultados dessas provas deve ser feita com extrema prudência

d) Evolução das reações em função da idade. À medida que a criança cresce, as reações imediatas à frustração perdem em freqüência e em intensidade. Essa evolução está sob a influencia da maturação, que tende a elevar o limiar de tolerância, e da educação. (....) as reações de cólera e de agressão direta são geralmente condenadas pelos pais, podendo, ao contrário, as reações de isolamento e de independência serem mais facilmente toleradas e até mesmo, em certos casos, favorecidas. (....) a doença no adulto constitui uma frustração que favorece o reaparecimento, no quadro da regressão, de reações infantis cuja dependência, por exemplo em relação ao médico, é um dos aspectos freqüentemente encontrados.

3º  A frustração no adulto. Relações entre frustrações e agressão

A reação perde freqüentemente em intensidade imediata o que ganha em profundidade, podendo revestir-se de uma intensidade patológica nos indivíduos predispostos.

Entre as reações à frustração, a agressão, (....) ocupa um lugar central em razão de sua importância nos comportamentos sociais. A hipótese de que a agressividade é conseqüência de uma frustração é muito antiga, mas sua primeira formulação moderna foi dada por Freud. (....) No quadro desse conceito, Freud elaborou a idéia do deslocamento da agressão que permite ao indivíduo reagir à frustração escapando ao castigo. (....) Contra essa hipótese, o próprio Freud formulou críticas que o levaram a elaborar uma nova teoria. Estudando o problema do masoquismo, ele postulou a existência de uma segunda pulsão fundamental, o instinto de morte, oposto à libido, e visando à destruição do próprio indivíduo. (....) A noção de instinto de morte não encontrou confirmação experimental, e a hipóteses da agressão-frustração é a mais geralmente adotada.

A formulação moderna da teoria pode-se reduzir aos seguintes pontos essenciais:

a) a frustração tende a provocar uma agressão direta contra o que a origina;

 b) O ato agressivo direto pode ser inibido;

c) a modificação do objetivo da agressão (transferência) - quanto mais forte a inibição da agressão direta, mais marcada é a tendência à transferencia;

d) a modificação da forma de agressão. A agressão direta é, em geral, inibida pela cultura sob qualquer que seja sua forma.  (....) certas formas de ironia podem representar uma agressividade transferida e modificada.

e) o problema da auto-agressão - a auto-agressão sobrevém quando a hetero-agressão é mais fortemente inibida do que a auto-agressão.

f) todo ato de agressão constitui, em qualquer grau, uma catarse que reduz a incitação a novas agressões.

C - MODELOS TEÓRICOS DO CONFLITO

Denomina-se conflito a situação criada pela existência de duas pulsões que entram em competição em um mesmo indivíduo.

Um indivíduo com uma forte pulsão sexual, mas que teme as conseqüências das relações heterossexuais, substituirá o objetivo inicial, cuja aproximação o colocará em situação de conflito, pela masturbação. Fala-se de alvo substitutivo ou, em termos psicanalíticos, de transferência.

II - A Frustração e o Conflito em Psicologia Humana

O organismo tende sempre ao mesmo objetivo [equilíbrio], acomodando-se, porém, às condições apresentadas pelo mundo exterior. (....) A maturação é feita de uma série de resoluções de conflitos, que utiliza mecanismos psicológicos particulares e leva a uma substituição progressiva do princípio do prazer pelo princípio da realidade. Isso corresponde a uma elevação do nível de tolerância, à substituição de reações inadequadas por reações adequadas.

Para descrever o mecanismo desses diferentes fenômenos conflituais, a psicologia psicanalítica recorre a uma representação esquemática, que compreende três sistemas de motivações:

1º - O Id. É constituído pelo conjunto de pulsões primárias, governadas pelo princípio do prazer

2º - O Ego. É o resultado da diferenciação do Id em contato com a realidade. (....) A qualidade e a natureza das resoluções dos conflitos dependerão, em grande parte, do que se denomina a força do Ego, característica individual básica, resultante de fatores congênitos e adquiridos. [Se eu não sou meio burro, o que está dito é as pessoas são diferentes em relação às  suas capacidades de resolver conflitos? Por acaso a tal "força do ego" depende da natureza do caráter do indivíduo? Eu, hein!]

3º - O Superego. Representa um complexo de motivações ligado à interiorização das proibições morais.

A - A SOLUÇÃO DOS CONFLITOS

A escolha do mecanismo de solução do conflito dependerá do conflito em causa e das características do indivíduo, em termos psicanalíticos das qualidades do Ego. [???]

Sãos seguintes os mecanismos: recalque, sublimação, transferência, fantasia, substituição, projeção, identificação, compensação, regressão, dissociação e conversão (patológicos).

O inconveniente da repressão é que a energia da pulsão reprimida permanece inaplicada a atividades úteis.[Não é isso. A questão é que a repressão não resolve o que tem a ser resolvido: uma necessidade ou um valor.]

A repressão de certas pulsões sexuais terá, em contrapartida, a rejeição de toda sexualidade. A psicanálise considera que muitos "traços" ou desvios de caráter têm essa origem.

A maior parte dos valores humanos encontra na sublimação sua origem (para os psicanalistas), quer se trate de valores estéticos, religiosos ou sociais [religioso não é social?], sendo a agressividade, por exemplo, sublimada em espírito competitivo, a impulsão à exploração em curiosidade científica.

Uma forma muito freqüente de transferência é a simbolização. Nesse mecanismo, é escolhido um objeto que represente o motivo inicial, mas de maneira tão indireta que o Ego seja incapaz de reconhecer a correspondência. [???]

Na fantasia a pulsão se realiza sob a forma de produções imaginárias, ou fantasmas.

Substituição é quando, por exemplo, o indivíduo se coça ou esfrega as mãos quando se encontra numa situação de tensão emocional.

A regressão é um mecanismo ineficaz, pois acaba por levar o indivíduo a um nível inferior de adaptação.

Na dissociação as impulsões inaceitáveis são isoladas da personalidade consciente e realizam-se sem que o indivíduo as atribua a si mesmo.

B - O PAPEL DO CONFLITO EM PSICOLOGIA NORMAL E PATOLÓGICA

O conflito é indispensável à maturação da personalidade e é, freqüentemente, graças ao mecanismo de sublimação, a origem dos mais elevados [???] valores humanos.

Quando se observa uma ausência quase completa de proibições na educação, a cultura correspondente tende a estagnar ou a desaparecer. [Cultura indígena?]

A resolução desfavorável dos conflitos é a origem de comportamentos mais ou menos patológicos, especialmente dos distúrbios chamados neuróticos.

Quanto mais intenso o conflito, menores os recursos do organismo, e maior a probabilidade de uma solução patológica. 

Uma das finalidades fundamentais da psicoterapia é a de substituir esta última por uma solução adaptativa, tarefa que será tanto mais difícil quanto mais antigos e mais fortemente inscritos na estrutura da personalidade forem os hábitos reacionais.

III - Tendências e Motivações 

A - A SOCIALIZAÇÃO DAS NECESSIDADES E DAS PULSÕES

Desde seu nascimento, a criança não pode alcançar as finalidades que procura senão graças a uma colaboração de seres humanos, a principio sua mãe; depois, seu ambiente familiar; enfim, seu ambiente social e profissional.

(....) quando se estudam as motivações no adulto, somos levados a unir muitos comportamentos às motivações de natureza social: a "necessidade" [o valor] de ser aprovado pelos membros do próprio grupo, a "necessidade" [o valor] de adquirir um poder pessoal, prestígio ou situação no interior do grupo.

B - CLASSIFICAÇÃO DAS TENDÊNCIAS

Tendência é uma conduta incompletamente ativada.

C - ASPECTOS TEÓRICOS DAS TENDÊNCIAS E DAS MOTIVAÇÕES

1º - O nível de aspiração

Os fatores sociais manifestam-se, ao mesmo tempo, na escolha do objetivo ao qual o indivíduo aspira e no valor que ele dá a esse objetivo, isto é, no objetivo e na intensidade da tendência.

[Por experiências chegou-se à conclusão de que] quando o indivíduo tem, para uma prova, uma nota real inferior a que ele aspira, ele baixará seu nível de aspiração na prova seguinte e a elevará, em caso contrário.

2º - A autonomia funcional

Chamou-se de autonomia funcional à teoria segundo a qual as tendências adquirem uma independência absoluta em relação às pulsões que lhes deram nascimento, estando essa autonomia relacionada não apenas aos objetos das tendências como também ao elemento dinâmico.

D - AS ATITUDES E OS INTERESSES

As atitudes são conjuntos de respostas simbólicas aprendidas, associadas a objetos, pessoas ou situações.  (....) Existe certo grau de ambivalência ou, mais especificamente, ambitendência, na maioria de nossas atitudes...

Apesar da contribuição de fatores indivíduo, as atitudes são, em grande parte, moldadas pelo grupo social ao qual pertence o indivíduo.

A classificação dos valores mais utilizada é a de Spranger. Ela distingue as seguintes categorias: valores teóricos (interesse pelas atividades racionais e científicas), econômicos, estéticos, sociais (interesse pelas atividades que incluem relações humanas), políticos, religiosos. [???????]

Demonstrou-se que o êxito numa profissão depende, com freqüência, mais do interesse que se lhe dedica do que das aptidões intelectuais que lhe são necessárias, limitando-se, muitas vezes, o papel da aptidão a uma eliminação: (....) Além desse nível mínimo o grau de êxito dependerá mais da força do interesse do que do grau de aptidão.

Verifica-se que os interesse são de um modo geral, extremamente estáveis e aparecem já com nitidez desde os 11 a 12 anos, freqüentemente sem que a pessoa tenha disso consciência.

E - A MEDIDA DAS TENDÊNCIAS DAS ATITUDES E DOS INTERESSES

1.       Apreciação das tendências

2.       Apreciação da reação habitual à frustração

3.       Estudo do nível de aspiração

4.       Estudo das atitudes e dos interesses

 

7 - EMOÇÕES E SENTIMENTOS. BASES NEUROFISIOLÓGICAS E DESENVOLVIMENTO AFETIVO

I - Classificação dos Estados Afetivos

A - A PSICOLOGIA INTROSPECTIVA CLÁSSICA

Distingue as :

1.       emoções (medo, cólera, angústia) - são súbitas, sob a forma de crises mais ou menos violentas e mais ou menos passageiras;

2.       os sentimentos (simpatia, amor, ressentimento, inveja, vergonha) - são estáveis, duradouros e menos intensos. Sentimentos ideais ligados ao sistema de valores.

3.       e as paixões - intensidade e durabilidade. [?] A paixão é um efeito persistente das emoções (....)

 

II - Estudo Descritivo das Emoções

A - A RESPOSTA EMOCIONAL IMEDIATA

1º - Tipos de Comportamentos Globais

a) o comportamento de surpresa - é o único comportamento global imediato capaz de ser observado em todas as pessoas. Ele é desencadeado por um estímulo imprevisto e representa, eventualmente, um estado preparatório aos comportamentos de medo e de cólera. Sua natureza primitiva é confirmada por sua estabilidade, apesar das tentativas de adaptação do corpo: os músculos do pescoço distendem-se, as espáduas elevam-se, os braços são impelidos ligeiramente para diante, as pálpebras baixam-se, e a boca contrai-se num ríctus. O conjunto da reação dura de um quarto de segundo a meio segundo e só pode ser analisado com o auxílio do registro cinematográfico.

b) o comportamento de medo-cólera - Quando a situação é percebida pelo indivíduo como ameaçadora, o comportamento de surpresa pode ser seguido, imediatamente, quer por um comportamento de cólera, sendo uma das manifestações possíveis a agressão física; quer por um comportamento  de medo. (....) Um estudo sobre o comportamento de medo-cólera (....) salientou o c caráter adaptativo das modificações observadas, pois elas visam preparar o indivíduo para uma atividade violenta (ataque ou fuga) necessária à sua conservação.

c) a síncope - um estímulo emocional penoso produz uma síncope [desmaio]. (....) O conjunto desse comportamento está ligado a uma queda da pressão venosa, produzindo um acúmulo de sangue nas partes inferiores do corpo e, por conseqüência, uma anoxia cerebral.

2º - Fenomenologia e Expressão Facial

Os estudos experimentais mostraram que é extremamente difícil fazer corresponder uma expressão mímica a um conteúdo de consciência, se  não dispusermos de outras informações e, em particular, se não percebemos simultaneamente a situação que a desencadeou.

O pequeno número de comportamentos gerais ou mímicas isoláveis de maneira estável opõe-se à complexidade das descrições fenomenológicas introspectivas.

3º - As Manifestações Fisiológicas

Considera-se que o sistema simpático e o parassimpático são antagonistas; a excitação Ce um age sobre um determinado órgão de maneira oposta à excitação do outro.

Sabe-se, há muito tempo, que as emoções desencadeiam fenômenos, como a aceleração ou retardamento do pulso e da respiração, a transpiração, a palidez ou o rubor da face, a dilatação pupilar, a secura da boca, a necessidade de micção, para citarmos apenas alguns exemplos.

(....)

Seria inexato acreditar que as manifestações neurovegetativas das emoções vão de uma predominância absoluta do simpático (realizada no estado medo-cólera) a uma predominância relativa do parassimpático (nas emoções de tonalidade agradável) ou a uma predominância absoluta deste sistema (na síncope emocional). A experiência mostra que existe, mesmo quando um sistema é predominante, certa estimulação do sistema antagônico.

B - A RESPOSTA EMOCIONAL SECUNDÁRIA

A resposta emocional imediata é seguida de uma fase de natureza diferente. Assim, as emoções de tonalidade agradável são, em geral, seguidas de um sentimento de descanso, ao mesmo tempo que se instala um início de bem-estar e de satisfação sobre cuja base se vão organizar sentimentos complexos.

Os estados de medo e de cólera intensos necessitam da mobilização de força do organismo e não podem ser mantidos durante um longo período.

C - OS EFEITOS PERSISTENTES DAS EMOÇÕES

O organismo tende a criar hábitos que visam a prolongar ou provocar os efeitos secundários agradáveis das emoções e, ao contrário, eliminar os efeitos negativos.

Os hábitos emocionais constituem o elemento essencial das motivações do indivíduo.

III - As Determinantes das Emoções

A - AS SITUAÇÕES QUE DETERMINAM AS EMOÇÕES

A maioria dos estímulos emocionais são aprendidos (....). a extinção do condicionamento é muito mais difícil do que sua criação. (....) Na constituição do estado emocional, o próprio estímulo representa apenas um papel desencadeante. Ele é o ponto de partida de uma série de associações que lembram situações anteriores de valor emocional.

B - OS FATORES INDIVIDUAIS

A "disposição emocional" depende dos antecedentes pessoais do indivíduo, de seus condicionamentos anteriores, em resumo, da estrutura de sua personalidade.  (....) Constatou-se que a freqüência dos acessos de cólera eram o dobro do normal durante os períodos imediatamente precedentes à refeição, isto é, no momento em que a criança tinha fome.

IV - Genética das Emoções

A - O EFEITO DA MATURAÇÃO SOBRE AS EMOÇÕES

Três emoções fundamentais de Watson: o medo, a cólera e o amor.

Para Bridges, nas primeiras semanas de vida, todo estímulo, qualquer que seja sua natureza, produz uma manifestação emocional única, que ele denominou de "excitação". No fim do primeiro mês, é possível distinguir dois tipos de reação: "prazer" e "desprazer".  Depois aparecem, sucessivamente, a cólera, a mágoa, o medo, o ciúme, do lado das emoções negativas; satisfação, prazer (com a presença de um adulto) do lado das emoções "positivas"

B - FATORES SOCIAIS NO DESENVOLVIMENTO DAS EMOÇÕES

A emoção é um fenômeno social num duplo sentido. [Assim como é determinada em parte pelo meio] por outro lado as reações emocionais do indivíduo modificam e orientam as dos membros de seu grupo social.

V - Bases Neurofisiológicas e Teorias das Emoções

A - O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO

(....) há uma tendência para se produzir, em cada estado emocional particular, um equilíbrio específico (entre o simpático e o parassimpático).

B - O SISTEMA NERVOSO CENTRAL

1º Interações Córtex-Hipotálamo

O hipotálamo é indispensável à expressão das emoções. (....) É nessa região que se localizam os mecanismos reguladores das pulsões. (....) Enfim, o hipotálamo contém os centros que comandam os dois sistemas nervosos autônomos, simpático e parassimpático.

3º - Função do Hipotálamo na "Aprendizagem Emocional"

Parece existir íntimas ligações entre os "pontos de prazer" e as zonas que controlam as pulsões. A excitação de certas zonas é mais eficaz, por exemplo, quando o animal tem fome do que quando já se alimentou. (....) Isto mostra o estreito entrelaçamento entre os fenômenos de aprendizagem, as emoções e as motivações.

C - AS TEORIAS DAS EMOÇÕES

A teoria de Arnold-Lindsley -  O estímulo desencadeia uma excitação que alcança o córtex. Produz-se, então, uma "tomada de posição emocional", ao mesmo tempo que o córtex desencadeia o esquema dinâmico hipotalâmico que se irá manifestar na periferia. Essas modificações periféricas são , por sua vez, percebidas, e esta percepção tende a modificar a "tomada de posição emocional" que se localiza ao nível do córtex.

 

8 - PATOLOGIA DAS EMOÇÕES. O HUMOR, SUA REGULAÇÃO E SEUS DESAJUSTES

As emoções ocupam um lugar central na vida psíquica; estão, com efeito, intimamente ligadas às tendências: a satisfação de uma pulsão origina-se de uma emoção de tonalidade agradável; sua frustração, de uma emoção de tonalidade desagradável. (....) as perturbações da vida emocional serão o reflexo ou a causa de uma grande variedade de transtornos.

I - Aspectos Psíquicos da Patologia das Emoções

A - AS REAÇÕES PATOLÓGICAS IMEDIATAS

No estímulo, importa mais a significação psicológica pra o indivíduo que a ele foi submetido (a maneira como percebeu) do que sua intensidade. [Isto quer dizer o seguinte: não importa o valor do prêmio, o que importa é o prêmio. Vide o sucesso do Kinder Ovo. E o inverso: não importa a quantidade de castigo, o que fere é o castigo em si mesmo. Uma reprovação é um desastre por si mesma e não como ela é feita.]

Acontecimentos aparentemente insignificantes, como uma simples advertência indelicada, a perda de um objeto sem valor, poderão constituir uns traumatismos violentos, se representam, para o indivíduo, conforme sua história individual e sua personalidade, uma agressão ou a privação de algo de grande valor afetivo. [A palavra chave é valor.]

1º - Os Fatores das Reações Patológicas Imediatas

Sob o ângulo da psicologia, o controle das emoções é uma função essencial de uma das três instâncias que constituem a personalidade, o Ego.

No curso de certas cerimônias religiosas (vuduísmo, em Haiti), os indivíduos apresentam reações emocionais de uma intensidade e de uma natureza tais que seriam descritas como reações patológicas histéricas em nosso meio no qual são observadas.[O mesmo se dá na Umbanda e no Candomblé.]

Certas pessoas sentem profundamente as emoções e não as exprimem em seu comportamento, ao passo que outras exprimem com intensidade emoções que sentem levemente.

Por outro lado, cada indivíduo tem uma estrutura de resposta emocional particular.

O ancião tem, geralmente, reações emocionais intensas, desproporcionais à situação que as desencadeou; mas, paradoxalmente, sente fracamente essas emoções.

2º - Os Tipos Clínicos de Reações Patológicas Imediatas

A cólera e o medo são as duas emoções mais penosas mais freqüentes e geram duas reações típicas.

a) A reação explosiva da cólera. Em certos indivíduos, um estímulo mesmo pequeno desencadeia uma cólera cega, como uma tempestade, durante a qual o indivíduo se poderá entregar a agressões violentas, sem considerar as conseqüências que lhe poderão advir. (....) Com muita freqüência entra em jogo um mecanismo de acúmulo. O estímulo desencadeante apenas representa a ocasião que libera uma reação constituída no curso de traumatismos afetivos anteriores e que se encontrava, até então, inibida.

b) a reação de medo e a angústia. Quando a intensidade afetiva do estímulo é superior à capacidade de reação do organismo, sobrevêm comportamentos de medo que serão patológicos na medida de sua inadaptação.

Designa-se angústia, um medo sem objetivo aparente ou, por extensão, quando existe um fator desencadeante, um medo produzido por um estímulo que não provoca qualquer reação e um indivíduo norma. A angústia pode proceder de um conflito pulsional, como é o caso mais freqüente. [Ansiedade é não saber o vem a seguir; angústia é não saber que futuro escolher.]

II - Aspectos Somáticos da Patologia das Emoções

A - AS REAÇÕES PSICOSSOMÁTICAS

A emoção é um stress que obriga o organismo a mobilizar suas defesas para enfrentar uma situação ameaçadora.

Quanto menos uma emoção se manifesta tanto mais ela é interiormente perturbadora. O nervoso aparentemente impassível que reprime os gestos de agressão ou de fuga, com uma vontade decisiva, é o mais exposto aos distúrbios internos.

IV - O Humor e sua Regulacao

O humor é a disposição afetiva fundamental, rica de todas as instâncias emocionais instintivas, que dá a cada um de nossos estados de alma uma tonalidade agradável ou desagradável, que oscila entre dois pólos, um patético e o outro apático.

A - AS VARIAÇÕES NORMAIS DO HUMOR

1º - A Ciclotimia

O ciclotímico é um dos dois tipos de indivíduos que existem (de acordo com uma classificação feit por Kretschmer com base na qualidade de seu humor). O ciclotímico tem o humor ardoroso e instável, vibrando de acordo com todas as solicitacoes do ambiente; passa facilmente da alegria à tristeza, e da satisfação à dor. A associação desse calor afetivo constante com a variacao fásica da qualidade do humor constitui a base do temperamento ciclotímico. (....) Esses indivíduos são sociáveis, realistas e capazes da daptacao. O temperamento oscila com o meio, de modo que não há oposição brusca entre o Ego e o mundo. Para eles, a "tonalidade afetiva é tudo, a refexao é a coisa menos importante".

No esquizotímico o humor é mais frio, distante em relação aos acontecimentos, parecendo testemunhar certa atonia afetiva. Na realidade, tal insensibilidade é apenas aparente. Da mesma forma que o temperamento ciclotímico oscila entre a alegria e a tristeza, o temperamento esquizotímico oscila entre a sensibilidade e a indiferença, uma "distânciaa aristocrática" que acarreta uma ausência de certa ressonancia afetiva direta característica dos ciclotímicos, como bem o mostrou Bleuler; se chegamos a penetrar no íntimo dessas personalidades frias, encontramos na parte mais produnda um núcleo de sensibilidade exacerbada. No esquizzotímico, as reações íntimas ganham em produndidade o que perdem em superfície; entre o acontecimento e ele interpõem-se defesas e isolamentos que tanspõem aquela, sobre o plano de intâncias sentimentais, elaboradas e intgelectualizadas. Ao ciclotímico, voltado para o mundo ao qual ele reage com uma simplicidade cordial e direta, opõe-se o esquizotímico, voltado para seu mundo interior ou, como diz Jung, à extroversão opõ-se a introversão. (....)  De um modo geral, existe sempre um "gelo" entre o indivíduo e o meio. Nos indivíduos hiperestésicos, isso se manifesta por uma antítese entre o "Ego" e o "Mundo". Poderão ser de um egoísmo brutal e frio, mas também ser capazes de sacrifícios algtruístas quando esses sacrifícios visam a ideais impessoais. (....) Os esquizotímicos são "indivíduos complexos nos quais as pequenas excitações diárias acumuladas, mesmo as representações de forte carga afetiva, continuam agindo sem poderem ser descarregadas, sob uma capa ou sob a forma de uma tensão, e podem manifestar reações afetivas em saltos quando alguém desencadeia involuntariamente, o detonador". Da mesma forma, seu modo de pensar oscila entre a tenacidade e a abstração sistemática por um lado, e a dissociação por outro. Entre eles não existe uma posição afetiva média. O temperamento esquizóide é supertenso. Ele "não oscila, mas salta e se emperra".

As mesmas emoções se manifestam no ciclotímico é no esquizotímico, mas adquirem aspectos bem diferentes. Há muita diferença entre a cólera do ciclotímico, às vezes violenta, mas sempre intimamente ligada à situação que a desencadeou, permanecendo com freqüência relativamente superficial e esgotando-se rapidamente, e a cólera fria do esquizotímico, explosão de uma carga emocional lentamente acumulada, às vezes dificilmente compreensível tão complexas foram as experiências que a ela conduziram.

B AS VARIAÇÕES PATOLÓGICAS DO HUMOR

E. Kretschmer foi levado a descrever esses dois tipos de temperamentos normais a partir do estudo das duas grandes psicoses, a psicose maníaco-depressiva e a esquizofrenia. Ele tinha notado que elas se desenvolviam de preferência nos indivíduos que apresentavam o tipo psicológico correspondente (a psicose maníaco-depressiva nos ciclotímicos, a esquizofrenia nos esquizotímicos)  e que, por outro lado, os caracteres psicológicos dos tipos temperamentais reproduziam, nos limites das variações normais, os que a psicose levava a um grau de intensidade patológica e, por isso, tornava-os mais acentuados e mais fáceis de perceber.

1º - O Humor Melancólico

2º - O Humor Maníaco

3º - O Humor Esquizofrênico

Se os humores melancólico e maníaco se apresentam como exageros patológicos das variações normais observadas no ciclotímico, o humor esquizofrênico ocupa uma posição análoga em relação à esquizofrenia. A psicose endógena funcional que desde Bleuler se chama de esquizofrenia, apresenta várias formas clínicas e, se o distúrbio de humor está sempre presente, ele atinge sua intensidade máxima e se destaca na cena em uma forma particular chamada hebefrenia.

Nos casos mais típicos trata-se de jovens que, nos anos que se seguem à puberdade, se tornam indiferentes, apáticos e se desinteressam pouco a pouco de tudo. Não se lhes conhece nenhum apego sentimental, nem afeição por seus pais, nem amizades, nem camaradagens, nem amor. Parecem ter perdido todo entusiasmo. O humo é inexpressivo. Desde o princípio fica-se impressionado pela frieza desses doentes com os quais se tenta, em vão, estabelecer um contato. Parece que neles as fontes de afeição estão geladas, e o gelo não pode ser rompido. Parecem distantes, longínquos, ausentes. Entretanto, as mímicas emocionais não estão abolidas, mas elas, por assim dizer, se lançam no vazio. As atitudes afetadas, os sorrisos enigmáticos, os risos imotivados que não representam nenhuma alegria, dão ao observador uma impressão de constrangimento. Não basta dizer que o humor hebefrênico é inexpressivo, frio, discordante, é necessário acrescentar que ele é bizarro.

C - BASES NEUROFISIOLÓGICAS DA REGULAÇÃO DO HUMOR

Numerosos fatos demonstram que o humor, como as emoções e as impulsões, dependem de um mecanismo complexo onde funcionam as interações hipotálamo-corticais.

 

9 - OS PROCESSOS DE AQUISIÇÃO

I - Introducao

Para sobreviver, o animal e o homem devem-se adaptar às modificações do meio. (....) Chama-se de aprendizagem à aquisicao desses novos tipos de comportamentos que se misturam com os comportamentos inatos que aparecem à medida que o organismo amadurece.

II - Os Tipos de Aprendizagem

A - O ESTUDO DAS ASSOCIAÇÕES

O primeiro tipo de aprendizagem pode ser chamado de aprendizagem por associação. A idéia de associação foi introduzida por Aristóteles. Este havia notado que, quando procuramos uma impressão conservada em nossa memória, essa procura é facilitada se nos podemos lembrar de impressões que tinham, com as que procuramos, relações de semelhança, de oposição ou de proximidade temporal ou espacial. (....) Estas três condições foram consideradas como as "leis primárias de associação", porque elas é que determinavam a força das ligações entre as idéias.

III - As Leis da Aprendizagem

A - OS MÉTODOS EXPERIMENTAIS

Há aprendizagem quando, na realizacao de uma tarefa, a eficiência do indivíduo é melhorada, como se testemunha por um aumento da produto, uma diminuição do tempo e uma diminuição de erros.

Os métodos empregados para estudar a aprendizagem pertencem a quatro grandes tipos:

1.       caixas-problemas

2.       labirintos

3.       os aparelhos de discriminacao

4.       os aparelhos de condicionamento

5.       aparelhos para aprendizagem motora

6.       aprendizagem verbal

7.       problemas de múltipla escolha

B - AS ETAPAS DE APRENDIZAGEM E A CURVA DE APRENDIZAGEM

Em toda aprendizagem existem, fundamentalmente, três fases. A primeira corresponde à motivação. Esta desencadeia o comportamento e o dirige para um objetivo.

Aprendizagem por condicionamento já é demonstrável no feto. (Sendo o estímulo não condicional um ruído violento; o estímulo condicional, a vbracao de um diapasao aplicado sobre o agdome materno, a reação é um movimento brusco.)

A motivação e a participação. Uma motivação de nível médio melhora a aprendizagem. Esta é muito mais lenta, se a motivação for muito fraca ou muito forte. a motivação muito forte produz, com efeito, uma desorganizacao do comportamento que inibe a aprendizagem. A ansiedade, do mesmo modo, tgende a diminuir a velocidade da aprendizagem, se bem que ela possa favorecer a formação de condicionamento.

A existência de uma experiência preliminar à tarefa favorece a aprendizagem. A aprendizagem de certa tarefa não desenvolve uma faculdade geral para aprender, mas prepara o indivíduo para defrontar situações análogas. Ela cria o que chamamaos de uma atitude de aprendizagem. Por outro lado, a aprendizagem é mais eficiente quando se apóia em elementos precisos que serão utilizados no fim da aprendizagem.

2º - Condições de Aprendizagem

b) Recompensa, Reforço, Inibição e Extinção

Numa aprendizagem é necessário uma motivação e, por fim, uma recompensa. (....) No reflexo condicionado o reforço é obtido pela apresentação do estímulo não condicional. (....) a impulsão para evitar a dor é mais forte do que para procurar a escuridão. Um método semelhante é utilizado em medicina para a cura do alcoolismo. Faz-se com que o indivíduo ingira a bebida alcoólica a que está habituado ao mesmo tempo que se lhe administra um medicamento que provoca vômitos. No fim de certo número de experiências, a simples vista da bebida provoca náuseas, e o indivíduo recusa beber.

Na criança e no adulto, a dor pode ter um valor diferente em função do contexto. Uma punição física em uma criança pode constituir um reforço positivo de um mau hábito, porque, por exemplo, o fato de ter suportado corajosamente essa punição aumentará seu prestígio em relação a seus companheiros. [É o que se passa com os presos políticos que são torturados.]

(....) Quando o comportamento a ser substituído é fortemente motivado, o reforço negativo deve ser violento. Ora, isso provoca no indivíduo uma desorganizacao do comportamento cujo resultado final é imprevisível. Por outro lado, a ação de um reforço negativo nessas condições é apenas temporária.

No homem, o conhecimento dos resultados obtidos durante a aprendizagem constitui um reforço. A aprendizagem de uma série de sílabas é mais rápida quando o indivíduo pode constatar, depois de cada leitura, o que aprendeu, do que quando ele não aprende senão no fim. Os trabalhos de Skinner mostraram que os melhores reusltados eram obtidos quando a tarefa a aprender era dividida em unidades elementares, as menores possíveis, e quando a aprendizagem de uma nova unidade só era realizada quando o indivíduo tivesse verificado que tinha aprendido a unidade precedente. [Para mim, o aprendizado é tão mais rápido quanto maior é o interesse da pessoa em obter o determinado conhecimento. Isto se dá por um fato muito simples: ao ter interesse, a pessoa procura criar conexões por sua livre e espontânea vontade, independente das conexões que possam ter sido sugeridas.]

Em uma experiência, com certos indivíduos, todas as vezes que era manifestada uma opiniao, o experimentador pronunciava uma frase como: "com efeito",  "é verdade",  "de acordo". Essas frases podiam ser consideradas como reforços secundários de comportamento que consistiam em manifestar opiniões. Com efeito, verificou-se que nas pessoas submetidas ao reforço, o número de opiniões expressas aumentava à medida que prossegui a conversacao, ao passo que , nos indivíduos que não eram submetidos ao reforço, o número de opiniões expressas permanecia fraco e constante.

Tal experiência encontra sua aplicacao em medicina. No interrogatório do doente pelo médico, a atitude compreensiva deste reforça a tendência do doente em descrever completamente seu estado físico e psíquco. A pressão social ou a aprovacao social contituem reforços secundários cuja importância é capital para o aparecimento de comportamentos sociais e, freqüentemente, mais importante do que os reforços primários (recompensas e punicoes dadas pelos pais).

Quando ficou estabelecida uma aprendizagem (ou um condicionamento), o reforço parcal basta para mantê-lo. [Algo errado: um condicionamento não precisa de reforço, portanto, aprendizagem é uma coisa e condicionamento é outra.]

Todo comportamento aprendido, principalmente quando a aprendizagem está no início, pode ser extinto por uma modificação do meio, mesmo graca.

No cérebro senil, uma modificação brusca do meio habitual terá efeitos catastróficos sobre sua adaptação, inibindo os mecanismo sociais aprendidos. Em medicina da senilidade (geriatria), é importante tomar em consideração esse fator e expeerimentar criar de toda maneira possível, no novo meio (retiros, serviço hospitalar), condições o mais possível parecidas com as do meo a que o indivíduo está acostumado. [reconstruir o ambiente]

A inibição é um caso particular do processo de extinção. Quando se realizou uma aprendizagem ou se estabeleceu um  condicionamento, eles tendem, quando não reforçados, a desparecer progressivamente. [Continuo discordando.]

De um modo geral, o reforço parcial produz uma aprendizagem mais lenta, mas igualmente uma extinção mais lenta do que o reforço constante. Tudo se passa como se um indivíduo que não foi recompensado a cada vez, continuasse por mais tempo a realizar esta ação sem recompensa do que um indivíduo que é recompensado todas as vezes e ao qual se suprime subitamente a recompensa. [Isto é óbvio pois os intervalos fazem parte do condicionamento.] A extinção e o esquecimento correspondem ao mesmo processo fundamental, existindo, porém, diferenças. A extinção sobrevém quando uma resposta que se procurou estabelecer na auxência de esforço se enfraquece e desaparece. O esquecimento sobrevém espontaneamente quando não se procura obter a resposta. Por outro lado, a exitncao é um fenômeno temporário [Se é temporário não há extinção, pôrra!]   Se, depois de ter obtido a extinção da salivacao à luz, deixarmos o cão descansar durante algum tempo e recomeçarmos a apresentar-lhe a luz isoladamente, constataremos que o cão volta a salivar. Ao contrário, esse fenômeno de reaparecimento espontâneo não se observa no esquecimento.

c) Generalizacaoa e Transferência

Um indivíduo que adquiriu em sua infância uma atitude passiva ou agressiva em relação a seu pai, adotará, posteriormente, a mesma atitude em relação a pessoas que representam a autoridade, como o professor na escola, o chefe hierárquico no trabalho.

Chama-se diferenciação a um processo oposto ao da generalização. (....) A diferenciação não é possível senão na medida em que as capacidades perceptivas do homem permitem a distinção entre os dois estímulos.

Ao problema da generalização liga-se o da transferência. Fala-se de transferência positiva quando uma aprendizagem anterior facilita a aquisicao de um novo comportamento; de transferência negativa, quando, ao contrário, interfere com ele.

Amplas experiências foram feitas por Thorndike e seus alunos sobre a aprendizagem escolar. Existe muito pouca transferência entre matérias escolares, fora certas transferências positivas fracas (por exemplo, a aprendizagem de álgebra facilita ligeiramente a de geometria).

IV - Teorias da Aprendizagem

A - A TEORIA DA CONTIGÜIDADE DE GUTHRIE

Seu princípio é que "uma combinação de estímulos que acompanhou um movimento, quando se apresentar de nvo, terá de ser seguida por esse movimento".

A extinção é devida au nova aprendizagem que interfere com os hábitos antigos, pois uma nova resposta deve ser condicionada a um antigo sinal.

B - A TEORIA DE REFORÇO DE HULL

Para Hull, a aprendizagem é a formação mecânica de hábitos hierarquizados. Existe uma aprendizagem quando um ato, resultante de uma impulsão primária, é reforço pela situação.

Para Guthrie e Hull, a aprendizagem se realiza a partir de uma ligação entre o estímulo e a resposta.

C - A TEORIA DA ORIENTAÇÃO DE TOLMAN

Para Toman o principal em todo comportamento é sua orientação para um objetivo.

D - A PSICOLOGIA DA FORMA E A INTUIÇÃO

Os autores mais recentes tendem a admitir que existem tipos diferentes de aprendizagem (teoria bifatorial de Mowrer), ou a construir uma síntese entre as idéias de Hull e de Tolman.

[De minha parte, a aprendizagem é o processo de gravar na memória uma associação de um estímulo e uma resposta, de tal modo que esta atenda aos interesses do indivíduo. Isto significa dizer que não há aprendizagem quando não se consegue este objetivo.]

V - Bases Neurofisiológicas da Aprendizagem. A Reflexologia.

Na associação clássica, a aprendizagem ótima era obtida quando os dois elementos a associar eram apresentados simultaneamente; na segunda, obtinham-se melhores resultados quando os estímulos condicionais precediam de 0,5seg. o estímulo não condicional. (....) o reflexo condicionado é uma reação a um sinal e não uma reação indondicional que continua a aparecer depois da associação dos dois estímulos.

Para Pavlov, enquanto que a excitação, uma vez provocada, persiste durante muito tempo (ela não é encoberta pela inibição), esta última é sempre muito passageira. Ela protege os tecidos nervosos durante o período de recuperacao, depois desaparece. É por isso que explica que um reflexo condicionado espontaneamente desaparecido possa se manifestar de novo depois de um período de repouso.

VI - Aplicacoes à Psicologia Médica

Os desvios da personalidade podem , em muitos casos, se reduzir, pelo menos em parte, às aprendizagens mal orientdas.

A - A APLICACAO DO CONDICIONAMENTO EM TERAPÊUTICA

É possível condicionar um indivíduo a adormecer, utilizando, no início, um medicamento hipnótico, depois, depois substituindo esse medicamento por um produto inativo (como o acúcar), mas apresentado da mesma forma que o medicamento ativo. (....) O indivíduo que tomou um hipnótico não poderá mais dormir sem este, se bem que clinicamente não necessite mais dele.

 

10 -  A MEMÓRIA E SUAS BASES NEUROFISIOLÓGICAS. AS DISSOLUÇÕES DA MEMÓRIA.

Os organismos vegetais e animais mais elementares conservam a marca das modificações que sofreram. Os ritmos vitais periódicos relacionados com influências exteriores, como a luz, o calor, as marés, persistem por um determinado tempo depois que estas influências deixam de agir. As flores que se abrem com o dia e se fecham com a noite conservam, durante algum tempo, este ritmo nictemérico, colocadas em escuridão contínua.

I - As Três Memórias

Concebida em um senso lato, a memória é uma função extensa na qual parece necessário distinguir três estruturas de níveis psicológicos diferentes que se escalonam do plano da síntese mental ao do automatismo: a memória social, a memória autista, a memória sensório-motora.

A - A MEMÓRIA SENSÓRIO-MOTORA

A memória sensório-motora ou biológica é a das sensações e dos movimentos. (....) O reconhecimento é ação e não pensamento; resume-se em um fenômeno de ordem motora.

B - A MEMÓRIA SOCIAL

A conduta da narração é uma memória lógica, que implica uma ordem racional, isto é, representações coletivas, universais, impessoais e estáveis.

C - A MEMÓRIA AUTISTA

No sono e na doença mental, a memória autista manifesta-se sob a forma de sonho e de delírio. (....) Enquanto a organização social da memória está interessada na vida, sua organização autista se desinteressa dela. A primeira é objetiva, a segunda é subjetiva. São as tendência profundas da afetividade que escolhem e congregam os automatismos montados, emprestados pela memória sensório-motora, e fragmentos dos quadros deslocados da memória social. É à memória autista que se torna necessário relacionar o que se chama a memória afetiva, feita de revivescências emocionais, onde o passado é revivido sem poder, sem que os quadros sociais da memória o reconheçam como tal.

Ao passo que a memória sensório-motora existe no animal e já aparece na criança muito nova (até mesmo no feto), vê-se, na idade de três anos, manifestar-se uma verdadeira memória autista:  a criança não sabe distinguir o passado do presente, o real do imaginário, misturando, constantemente, essas reminiscências com a realidade. Só progressivamente essa memória autista cederá lugar à memória social, à medida que se desenvolvem as categorias lógicas, para só reaparecer por meio do sono.

II - As Leis e as Condições da Memória

A - ESTUDO EXPERIMENTAL

1º - Métodos de Estudo

a) A técnica da memória imediata ou envergadura da memória

b) A reação retardada

c) A recordação

d) O reconhecimento

e) A reaprendizagem

F) A reconstrução

2º - Os Resultados

Em uma semana (cerca de 10.000 minutos), esquecemos apenas três vezes mais do que durante os primeiros 20 minutos, quatro vezes mais do que nos 10 primeiros. Pode-se dizer que a retenção é inversamente proporcional ao logaritmo do tempo escoado, independentemente do material e do método experimental.

A persistência de reflexos condicionados pode ser demonstrada, do mesmo modo, depois de períodos muito longos relacionados com a duração da vida do animal (4 anos e meio no pombo).

Se fizermos um indivíduo aprender uma lista de sílabas e se, depois que ele se tornou capaz de reproduzi-la sem erro, continua a fazer com que ele a releia, realiza-se uma seperaprendizagem. Esta é definida pelo número de provas suplementares, em relação ao número de provas necessárias para obter uma repetição correta (se utilizamos um total de 150 provas, quando no fim de 100 a aprendizagem já era perfeita, diz-se que há uma superaprendizagem de 50%). Quanto mais importante é a superaprendizagem, mais elevada é a curva de retenção, isto é, menos rapidamente o indivíduo esquece.

A curva de retenção exprime apenas o aspecto quantitativo do esquecimento. Ora, a lembrança não somente se torna mais fraca, aquilo de que se lembra se reestrutura espontaneamente de um modo diferente daquilo que caracteriza a situação por ocasião da aprendizagem. O mérito da psicologia da forma é o de ter mostrado que a evolução espontânea das lembranças obedecia às mesmas leis que a percepção (lei da pregnância das boas formas). Wulf esquematizou essas transformações espontâneas indicando que elas seguiam duas  tendências parcialmente opostas: tendência ao aumento da regularidade (em particular da simetria), tendência em valorizar detalhes particulares. (....) Pôde-se estudar com precisão a difusão de rumores. Encontram-se tendências para a simplificação e a estruturação. No material verbal, porém, ainda mais do que no material visual, os fatores afetivos acrescentam sua influência aos fatores puramente formais.

3º - Os Fatores da Retenção e do Esquecimento

a) As condições de aprendizagem. Representam um papel importante na retenção. O papel da superaprendizagem é apenas um aspecto da regra geral de que quanto melhor se aprende um material tanto melhor ele é retido. Todos os fatores que favorecem a aprendizagem favorecem também a retenção.

Três elementos devem ser particularmente discutidos: a atitude, a tonalidade emocional, a organização do material.

1º - A atitude, isto é, a intenção de aprender e de lembrar favorece a retenção. [Isto pra mim é "interesse". A atitude é conseqüência deste. A atitude é a ação originária do sentimento "interesse". Além disso, a atitude não favorece a retenção, a atitude favorece a memorização.]

2º - A tonalidade emocional do material a memorizar representa, também, um papel importante. [Tonalidade emocional pra mim é sistema de valor. Ou seja, é quão importante é para mim, ou melhor, é quão relacionado está este material com os meus mais significativos valores. Ou melhor, é com que referências este material se conecta.]

Os elementos mais bem retidos são os que, para o indivíduo, têm uma coloração emocional agradável, vindo depois os que têm uma tonalidade desagradável [INSETISAM] . Os elementos mais rapidamente esquecidos são os de tonalidade neutra.

Em um estudo realizado em 200 indivíduos adultos, verificou-se que a lembrança mais antiga se referia geralmente a um período compreendido entre as idades de 3 a 5 anos. 95% dessas lembranças tinham uma coloração emocional, estando as duas categorias mais freqüentes (30% cada) associadas a sentimentos de medo ou a um sentimento de prazer. Mas não há dúvida de que, no conjunto, uma coloração agradável favorece mais a retenção do que uma desagradável. [???] Produz-se, pois, durante a evolução espontânea das lembranças, uma seleção que se conjuga com as leis da organização formal. À medida que o esquecimento progride, a lembrança modifica seu conteúdo e sua forma nas direções da simplificação, do reforço da estruturação e da eliminação relativa dos elementos de tonalidade desagradável. [Caso da lembrança da Regina no evento "tapa"]. O conhecimento desses fatos é indispensável ao estudo dos testemunhos, cuja importância não é menor em psicologia médica do que em psicologia jurídica. Quando o médico recolher da boca do doente a história de sua vida, seus antecedentes pessoais e familiares, deve tomar em consideração as leis da evolução da lembrança a fim de tentar reconstituir os fatos tais como realmente se desenrolaram e tais como foram realmente sentidos pelo doente.

3º - Organização do material.  Quanto mais bem organizado inicialmente for o material em um todo significativo tanto mais bem memorizado será, assim, o esquecimento é muito mais lento para um texto do que para a lista de palavras que constituem esse texto, dispostas, porém, ao acaso. [Isto prova a minha teoria das referências.]  De um modo mais geral, um elemento é tanto mais bem memorizado quanto mais integrado estiver no conjunto da vida psíquica do indivíduo: a melhor conservação de lembranças de tonalidade emocional é um caso particular dessa lei.

[Vejo a questão da hipermnésia verificada em débeis mentais, como uma ociosidade mental que permite colocar toda a mente concentrada no processo. Para corroborar esta minha hipótese, veja o que o autor diz a seguir.]

Parece que muitos casos de hipermnésias para elementos desprovidos de ligações lógicas, cuja existência parece tanto mais notável quanto mais independente da inteligência e que pôde ser descrita em indivíduo de uma inteligência patologicamente fraca (débeis mentais calculadores de calendário, que podem indicar imediatamente o dia correspondente a certa data para um período de várias dezenas de anos, ou capazes de recitar o catálogo telefônico) correspondem, pelo menos em parte, à possibilidade de organizar esses elementos em estruturas geralmente visuais, que o indivíduo pode representar em imagens espaciais. (Outros fatores entram igualmente em jogo. O principal parece ser o interesse privilegiado para esse tipo de aprendizagem. O escopo absurdo dessa motivação faz com que, evidentemente, não seja encontrada muito senão nos débeis mentais, pois os indivíduos normalmente inteligentes, que seriam capazes, com a mesma aprendizagem de sucessos análogos, não utilizam habitualmente suas aptidões particulares de memorização para fins tão absurdos.)

A hipermnésia sensório-motora deve ser diferençada de um fenômeno muito particular, a memória eidética. Designa-se sob este termo a aptidão de certos indivíduos que são capazes, depois de uma única apresentação de uma visão rápida de uma página impressa, ou de um objeto, de descrever com uma perfeita exatidão e nos mais ínfimos detalhes o que viram. Poderiam, assim, descrever a posição exata das palavras no texto, a pontuação, as particularidades da impressão ou soletrar o texto às avessas. Tudo se passa como se o indivíduo tivesse registrado uma fotografia que ele poderia em seguida detalhar à vontade.

A organização da situação no momento da aprendizagem representa, pois, um papel essencial na retenção e esta será tanto melhor quanto mais a memorização se produzir numa situação estruturada de maneira vizinha. É provavelmente isso que explica a superioridade dos resultados obtidos pelo método de reconhecimento sobre o de recordação.

b) Os fatores que interferem com a memorização, isto é, que favorecem o esquecimento são de duas naturezas: a existência de outras atividades e os fatores afetivos.

É fácil demonstrar, tanto no homem como no animal, que a ausência de outras atividades favorece a conservação de lembranças. (....) O papel do sono corresponde a um período em que não ocorreu qualquer outra aprendizagem. Pode-se aliás demonstrar que é a atividade que interfere com a retenção (e não o sono que a favorece) mesmo nos animais inferiores. [De minha parte, eu diria que é a ausência de novos aprendizados que permite que o último aprendizado seja corretamente "processado".]  Esse fenômeno é conhecido como inibição retroativa, porque a nova atividade inibe a aquisição anterior. [O termo inibição é inapropriado. Não há inibição mas sim impedimento, obstrução, interrupção do processo de estabelecimento de conexões.]

No homem, entretanto, podem-se observar fatos mais complexos. Com efeito, certas atividades novas podem favorecer a retenção de atividades antigas por um efeito de transferência. Se é verdade que, de um modo geral, se verifica uma inibição, nem sempre é fácil prever com exatidão se uma atividade particular terá uma ação inibidora ou facilitadora. [Se, em relação a meus valores for significar um ganho (um prazer), será facilitadora. Se, ao contrário, for significar uma perda (dor), será inibidora. Não é a atividade em si que é inibidora ou facilitadora. É, novamente, o interesse (que é um sensação) que faz a diferença.]

O esquecimento (....) está ligado, mais provavelmente, à existência de fenômenos ativos de inibição.  (....) Para Freud, existe no psiquismo uma força que repele ou reprime no inconsciente os traços de acontecimentos ou os pensamentos cuja lembrança consciente provocariam a angústia. Essas lembranças recalcadas são apenas aparentemente esquecidas, são conservadas na zona inconsciente do psiquismo onde elas conservam um potencial dinâmico. (....) A técnica psicanalítica visa, particularmente pelo método das associações livres (*) a trazer essas lembranças à consciência.

(*) Durante o tratamento psicanalítico, o terapeuta pede ao indivíduo que emita a primeira idéia que lhe vem ao espírito e expresse, com toda franqueza, tudo que, em sua lembrança, está associado a essa idéia inicial. Produzem-se, então, esquecimentos seletivos (por repressão) quando a cadeia de associação atinge um acontecimento ou uma idéia reprimida. Uma das tarefas do terapeuta é a de reconhecer a existência desses esquecimentos seletivos e levar progressivamente o indivíduo, por eliminação progressiva da repressão, a fazer reaparecê-los na consciência.

No quadro da teoria geral de aprendizagem, pode-se considerar a repressão como um efeito de interferência onde funcionam fatores afetivos. Se certa situação evoca uma lembrança carregada de emoção penosa, esta obriga o indivíduo a fazer a aprendizagem que "reprime" a lembrança inicial. [O que e significa criar um mecanismo de evitação da dor.]

B - PSICOPATOLOGIA DA MEMÓRIA

1º - As Amnésias

Apesar da complexidade e diversidade das observações de amnésias, podemos classificá-las em dois grandes tipos: as amnésias sensório-motoras e as amnésias sociais, as primeiras correspondendo às dissoluções da memória sensório-motora; as segundas às da memória social.

1º - As amnésias sensoriais ou agnosias. Toda percepção é o encontro de uma intuição sensível e de um conteúdo mnésico. [??? Que tal traduzir para: é o encontro de uma sensação e de uma referência gravada na memória.]

Um doente que apresenta uma agnosia táctil direita que, de olhos fechados, deve reconhecer um lápis colocado na sua mão direita, descreve perfeitamente as características formais do objeto: ele diz  "é duro, alongado, cilíndrico, é plano em uma extremidade e na outra apresenta uma ponta"; mas é incapaz de reconhecer imediatamente que aquilo que ele descreve tão perfeitamente é um lápis, enquanto que este reconhecimento é imediato na outra mão.

 Este déficit não pode ser explicado senão quando se considera que o reconhecimento, que está no centro do fenômeno perceptivo, é uma recriação do objeto a partir da apreensão imediata de um significado abstrato, do símbolo desse objeto.

2º - As amnésias motoras ou apraxias. A apraxia é o esquecimento dos gestos. É necessário distinguir no gesto a concepção e a expressão. O esquecimento da primeira corresponde à apraxia ideatória, o da segunda à apraxia ideomotora.

b) As Amnésias Sociais. As amnésias sociais são caracterizadas pela perda da função social da memória.

É possível distinguir duas grandes variedades de amnésias sociais.

1º - As amnésias de memorização.

2º - As amnésias de rememoração.

C - AS TEORIAS DA MEMÓRIA

As teorias do esquecimento representam um aspecto das teorias da aprendizagem. Bastará insistir sobre a natureza do mecanismo do esquecimento. Enquanto a concepção clássica fazia do esquecimento um fenômeno passivo, os dados modernos da experimentação tendem a demonstrar a persistência muito prolongada, senão indefinida, da lembrança. O esquecimento é considerado como o resultado da ação de forças interferentes; estas fazem desvanecer-se transitoriamente a lembrança que poderá ressurgir posteriormente em condições adequadas. (....) Se a inibição interna ou externa pode suprimir um reflexo condicionado, este reaparecerá quando essa inibição, fenômeno passageiro na ação protetora contra a fadiga do sistema nervoso, tiver desaparecido espontaneamente. (....) Parece que o esquecimento é condicionado pelas interferências de novas aprendizagens ou de fatores afetivos. (....) Uma aprendizagem ou uma lembrança não desaparece, ela é apenas inibida e pode freqüentemente, mesmo após um longo período, manifestar-se novamente, se for possível eliminar os fatores que impedem o seu reaparecimento.

 

11 - AS CONDUTAS EXPRESSIVAS E SIMBÓLICAS. A EXPRESSÃO. A LINGUAGEM. A TEORIA DA INFORMAÇÃO.

Chama-se conduta de comunicação  a uma conduta cuja função é transmitir a outro indivíduo uma informação e, assim, contribuir para as interações sociais. A conduta de comunicação desenvolve-se a partir de reações diretas aos estímulos do mundo exterior. (....) Numerosas outras linguagens não verbais precedem e acompanham a linguagem verbal no homem. Essas linguagens se baseiam na motricidade, quer seja a motricidade facial (mímica), quer seja a do conjunto do corpo e particularmente das extremidades (pantomima). (....) As comunicações pela mímica, a pantomima e a fônica existem no lactente antes da linguagem  articulada. São mais primitivas e relacionam-se principalmente com a comunicação de estados emocionais e afetivos. (....) Por um lado esse emprego se relaciona a estados de forte carga emocional. Em grande parte, a compreensão que podemos ter do estado afetivo de nosso interlocutor provém dos elementos não  articulados de sua linguagem.

I - A Expressão

Diz-se de um indivíduo que sua mímica, seus gestos ou o tom de sua voz exprimem, por exemplo, tristeza. Do mesmo modo, a compreensão do conjunto da mensagem é feita por dois fatores:  o primeiro analítico, baseado na "decifração do código" dos elementos da linguagem de valor simbólico geral; o segundo, global e de coloração afetiva, denominado impressão.

A - A IMPRESSÃO

A impressão [percepção], nas relações interpessoais, é baseada, em primeiro lugar, no aspecto expressivo da lig. (....) As relações entre a expressão e impressão têm um papel fundamental nas relações interpessoais e, por conseqüência, em psicologia médica.

Sob o nome de fisiognomia, Aristóteles designou a arte de conhecer o caráter pela expressão facial. [???]

A grafologia, postula que os desvios indivíduos da escrita em relação ao sistema convencional são determinados por componentes emocionais, que constituem o aspecto expressivo da linguagem escrita. (....) Pulver desenvolveu um  "simbolismo espacial" da escrita, correspondendo à parte esquerda da folha escrita ao passado, e a parte direita, ao futuro etc.

C - ESTUDO EXPERIMENTAL DA EXPRESSÃO- IMPRESSÃO

Quanto mais um indivíduo teve ocasião de verificar a qualidade de suas impressões mais essa qualidade melhora. Nesse sentido, a formação clínica procura, colocando o estudante em contato com o doente, fornecer-lhe esse elemento que um conhecimento puramente teórico não poderia substituir. (....) Wellek pôde demonstrar, em um estudo experimental, que os indivíduos extrovertidos são mais fáceis de serem julgados que os introvertidos e que as impressões dos observadores extrovertidos são mais freqüentemente exatas do que as dos introvertidos. Trata-se apenas de tendências gerais,  porque alguns introvertidos podem fornecer julgamentos notavelmente exatos baseados em impressões. [???] Ainda existem inúmeros fatores desconhecidos nesse campo.

Se é relativamente fácil ter a impressão da existência de um estado emocional, o diagnóstico desse estado, quando não se percebe, ao mesmo tempo, a situação que a desencadeou, é muito mais difícil. Quando se utiliza a expressão facial como elemento de diagnóstico dos traços permanentes da personalidade os resultados são ainda mais incertos. (....) Parece que os elementos que fazem conferir, ao indivíduo fotografado, alguns traços de caráter e, por conseguinte, o tornam simpático ou antipático, não possuem de fato, qualquer valor objetivo.

Um comportamento de fuga, correspondendo provavelmente a uma impressão de perigo, é provocado pela apresentação de uma serpente, mesmo se o animal foi criado em cativeiro e jamais teve a oportunidade de ter visto uma serpente.

II - A Linguagem

A - LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO

A linguagem é constituída de uma série de sinais perceptíveis. Ela transmite mensagens que têm três funções: assinalam o estado ou a intenção de quem emite a mensagem (expressão), influenciam quem as recebe (apelo), informam sobre os objetos ou os acontecimentos (representação).

A linguagem humana é um sistema de sinais que se podem referir a sinais: é uma metalinguagem. O homem é o único a possuir essa possibilidade.

1º - Teorias Gerais Sobre a Origem da Linguagem

A teoria da conformidade natural das palavras - se apresentarmos adultos duas figuras geométricas e lhes perguntarmos qual das duas é um Malouma e qual é uma Takete, a quase totalidade identificará como Malouma a figura feita de linhas redondas e como Takete a figura feita de linhas quebradas em ângulos agudos. Haverá pois uma conformidade inata [É claro que não!!!] entre a estrutura perceptiva visual  e a morfologia das palavras correspondentes. (....) Tal simbolismo não é absolutamente inato.  (....) em crianças de cinco anos, não havia nenhuma conformidade fisionômica entre palavra e figura, que só aparece progressivamente e se torna completa na idade de dezesseis anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A criança terá aprendido cerca de 1.000 palavras aos dois anos; 2.000 aos quatro anos, e esse número cresce de modo sensivelmente linear até os 19 a 20 anos, quando a pessoa domina cerca de 20.000 palavras. O acréscimo se faz, então muito lentamente e se interrompe em média aos 25 a 30 anos. Entretanto, os indivíduos de elevado nível cultural continuam ainda lentamente até os 60 anos, pelo menos. [Acho ridícula esta análise. Primeiro porque palavras nada mais são do que coisas a serem aprendidas e portanto sujeitas a todas as variáveis já estudas sobre a aprendizagem. Segundo porque indivíduos de elevado nível cultural são indivíduos que vivem em constante aprendizado de palavras e não porque sejam "superiores". Terceiro, porque se a aprendizagem diminui a partir dos 20 anos é porque deixa de existir o interesse neste particular aprendizado. Não fosse isso, e teríamos que admitir que toda a capacidade de aprendizado declina a partir dos 20 anos. Isto sem falar no fato de que uma pessoa pode aprender uma nova língua (quantas palavras!!!) em 2 ou 3 anos, em qualquer fase da vida.]

C - OS CARACTERES E AS LEIS DA LINGUAGEM

O limiar de inteligibilidade da linguagem (25 decibéis) corresponde ao ponto em que as primeiras sílabas se tornam inteligíveis. O nível de conversação habitual corresponde a 50 a 60 decibéis. A velocidade de emissão corresponde à inteligibilidade. A velocidade média é da ordem de 15o a 200 sílabas por minuto. Se ela cresce, a inteligibilidade diminui lentamente. A modificação dos sons da linguagem diminui a compreensão, sobretudo quando se cortam as freqüências  elevadas. (....) É igualmente possível suprimir certos elementos da linguagem  para estudar a inteligibilidade. Supressões que atingem 25% não modificam praticamente a inteligibilidade. Esta se torna difícil ao redor de 50%.

60%  da linguagem falada utiliza cerca de 200 palavras.  (....) Na língua inglesa, os jornais têm um quociente de diversificação de 0,14 (empregam-se cerca de 6.000 palavras sobre um total possível de 44.000).

Chama-se escrita ideográfica, a escrita na qual cada sinal designa um objeto ou  um conceito.

Uma palavra tem, além de seu significado convencional, um significado em termos de avaliação (bonito-feiot, bom-mau, limpo-sujo), um significado em termos de força (forte-fraco, duro-mole, pesado-leve) e um significado em termos de atividade (rápido-lento, vivo-frouxo, agudo-grave). Essa análise sugere que o significado de cada palavra é mantido por três fatores que correspondem à emoção-motivação (avaliação), à percepção-motricidade (atividade) e à intensidade do comportamento (força).

E - A PSICOLOGIA MÉDICA DA LINGUAGEM

As afasias são distúrbios da função psíquica da linguagem.

III - A Teoria da Informação

A - O ESQUEMA DOS SISTEMAS DE COMUNICAÇÃO

Em uma transmissão radiotelegráfica existe inicialmente certa informação chamada de input. Essa informação é transformada em sinais (por exemplo, ondas elétricas), constituindo essa transformação a codificação. A informação assim codificada é transmitida a um segundo aparelho (o receptor telefônico ou telegráfico que descodifica a mensagem e a transforma em uma nova informação recebida pelo destinatário. Essa informação recebida é chamada output.

Quando falamos, as palavras que articulamos são a mensagem codificada que nosso interlocutor deverá descodificar para lhe compreender o significado. A teoria da informação também permitiu estudar, sob uma nova perspectiva, numerosos problemas de lingüística.

B - BASES DA TEORIA DA INFORMAÇÃO

De modo geral, a informação pode ser considerada como uma medida da incerteza. Quanto maior a incerteza, maior a informação necessária para esclarecê-la.

Todas as línguas têm uma forte redundância que é a condição de sua compreensibilidade. Essa redundância é, aliás, ainda mais forte na medida em que a linguagem mímica ou por gestos se vem j untar à linguagem falada. A redundância é pois uma necessidade psicológica.

A teoria da informação salienta que apenas uma parte da informação procedente do emissor alcança o receptor (informação transmitida.)

 

12 - AS CONDUTAS INTELECTUAIS. A FORMAÇÃO DE CONCEITOS. A INTELIGÊNCIA (SEUS FATORES, SUA MEDIDA, SEUS DISTÚRBIOS). A IMAGINAÇÃO.

O termo pensamento encobre uma série de atividades muito diversas geralmente agrupadas em três categorias principais, regidas por leis específicas:

        o pensamento autista, que se observa na fantasia ou no sonho

        o raciocínio, que constitui a base das condutas intelectuais

        e, a imaginação criadora

[Evidentemente eu não concordo com esta divisão. Falar em "imaginação criadora" como uma faculdade em si mesma, é puro delírio. Imaginação criadora nada mais é do que raciocínio objetivado. Ou seja, estabelecimento de conexões. Assim, a única diferença que existe entre o que ele coloca como "raciocínio" e "imaginação criadora" é o objetivo: conectar para entender ou conectar para estabelecer um novo entendimento. Já o "pensamento autista", nada mais é do que o raciocínio livre de "polices".]

I - As Condutas Inteligentes

A - CONDUTAS "INTELIGENTES" NO ANIMAL

1º - As condutas simbólicas. A existência de uma simbolização implica na possibilidade do desencadeamento de uma conduta na ausência do estímulo eficaz.

Quanto mais nos elevarmos na escala animal, mais longa poderá ser a demora (entre o estímulo e ação), ao emsmo tempo que deixa de ser necessária a manutenção de uma atitude postural.

O símbolo no homem é abstrato, isto é, não corresponde a um objeto ou a uma situação definida, mas a uma classe de objetos ou situações. Há uma generalização simbólica. [Não. O que há é uma SIMPLIFICAÇÃO SIMBÓLICA.]

2º - A generalização simbólica. No estudo da aprendizagem no animal, mostrou-se a possibilidade de generallizacao simbólica. Um gato é colocado em frente a duas caixas, uma das quais ';e fechada por um cartão representando um triângulo, a outra por um cartão representanto um triângulo, a outra por um cartão representanto um círculo. O alimento é sempre colocado na caixa sobre a qual foi desenhado um triângulo mas modifica-se constantemente a posição respectiva das caixas. No fim de certo tempo, o gato dirige-se regularmente para a caixa com o triângulo. Ele aprendeu a discriminar o círculo e o triângulo particulares. Se substituirmos o par de figuras por um círculo e um triângulo de forma ou cor diferentes, o gato escolherá sempre, sem hesitacao, o triângulo. Houve uma generalização do estímulo. Seria inexato deduzir dessa experiência que o gato possui o conceito de triangularidade, como se pretendeu afirmar durante muito tempo. Em um estudo recente, ensinou-se a macacos discriminar um dos dois elementos de uma série de pares de figuras. Há duas séries de pares. Em uma, o elemento  a aprender no par é sempre um triângulo. Na outra, a figura triangular do par deve ser ora retida, ora, ao contrário, eliminada. Na segunda série, compreensão do conceito de triangularidade não facilita em nada a aprendizagem, pois cada par é independente ao passo que na primeira ela fornece uma lei. A velocidade de aprendizagem nas duas séries é a mesma no macaco. Ao contrário, desde os cinco anos de idade, uma criança aprende mais rapidamente a série "regular". Assim, o animal é incapaz de ultrapassar o estádio da generalização do estímulo para atingir a formação de conceitos abstratos e aplicá-los a situações novas. Só é capaz de aplicar os símbolos a situações que tenham estreita semelhança com a situação inicial. [Do meu ponto de vista, o que ocorre é que os animais têm muito pouco capacidade de simplificação. Gostaria de saber mais sobre estes testes pois aqui não é explicado coisas como: gato e macaco enxergam da mesma maneira? que diferenças de cor e forma foram introduzidas no triângulo e no círculo?]

3º - O "insight". A conduta inteligente é um comportamento simbólico. O animal tem a noção do valor simbólico de um acontecimento concreto (reação diferida) e é capaz de aplicá-lo a situações análogas (generalização do ees'timulo). Ela não possui, porém, a faculdade que tem o homem de desenvolver a noção de classe (por exemplo, o conceito de triangularidade).

A conduta inteligente consiste na integração das experiências passadas e em sua utilizacao para resolver novos problemas sem ensaios e erros (insight). [O que ele está dizendo é: a conduta inteligente consiste na capacidade de estabelecer conexões entre referências de maneira infinita, seja com que objetivo for.] O animal é capaz de insight, mas é limitado pela necessidade de ter tido anteriormente experiências concretas com os objetos e as situações que deve organizar, ao passo que o homem tem a faculdade de integrar conceitos abstratos.

B - CONDUTAS INTELIGENTES NO HOMEM

1º - Definição

Para os logísticos, os coneitos são "nocoes gerais que definem classes de objetos dados ou construídos e que concordam de maneira idêntica e total em cada um dos indivíduos que formam essas classes, quer se possa ou não isolá-los" (Lalande). Para os psicólogos, são sistemas de respostas aprendidas que nos permitem organizar e interpretar elementos fornecidos por nossas percepções e que influenciam o comportamento, independentemente de todo estímulo proveniente do meio, permitindo-nos aplicar, automaticamente, nossa experiência anterior a situações atuais. [Esta definição abre caminho para uma corroboracao do meu conceito de que o estímulo depende de um interesse interno. Sob a minha ótica, todos os estímulos provêm de "dentro" do ser humano, o que explica a "falta de estímulo do meio".]

Vinacke reuniu em 7 pontos os caracteres dos coneitos:

1.       não são dados sensoriais, mas sitemas que representma o produto de nossas respostas anteriores a situações estímulo características

2.       a utilizacao de conceitos não é mais do que a aplicacao da experiência passada a uma situação atual

3.       os conceitos unem dados sensoriais independentes

4.       no homem, as palavras ou outros símbolos constituem os meios para unir elementos independentes de nossa experiência

5.       os conceitos têm dois modos de utilizacao principais. A utilizacao extensa é a idêntica para todos que empregam o conceito. É portanto, indispensável que a ligação entre o objeto estímulo e o conceito seja exposta objetiva e publicamente, como quando um pai diz a seu filho, mostrando-lhe animais: "isso é um cachorro, isso é um gato". A utilicacao intencional varia muito de um indivíduo para outro e depende da experiência individual. O conceito de cão exprimirá para um indivíduo sentimentos de prazer e de interesse, para outro de repulsa ou desgosto, de conformidade com as experiências às quais o coneito de cão estiver associado na história do indivíduo. Com efeito, cada conceito que utilizamos é parcialmente extensivo e parcialmente intencional, em proporcoes variáveis, e nós utilizamos um mesmo segundo asa circunstâncais que se acentuam sobre um ou outro aspecto.

6.       Um conceito não é obrigatoriamente "racional". A idéia de que a doença é o resultado de uma bruxaria é um conceito, da mesma forma que a noção de infeccao microbiana, se bem que a primeira não seja cientificamente demonstrável

7.       um  conceito pode existir sem ser formulado de maneira consciente.

[Testar os 7 pontos substituindo "conceito" por referência.]

2º - A Formação de Conceitos na Criança

Para Piaget, as condutas intelectuais superiores implicam dois elementos fundamentais: 1º - A descentração, isto é, a capacidade do organismo de controlar suas variações de orientadcao. Se, diante de uma crinça de nove meses, colcoarmos um objeto sob a aprimeira de duas almofadas, ela será capaz de ir lá e apanhá-lo. Se, porém, colocarmos o objeto sob a segunda almofada, a criança continuará a tentar alcançá-lo sob a primeira: será incapaz de descentracao. [Ou será que novamente aqui não está sendo considerada a capacidade visual?]

Piaget distinguiu 5 períodos de desenvolvimento correspondentes a modos de pensamentos diferentes.

1.       O período sensório-motor, que vai do nascimento até os 2 anos. A criança procurará atrás de um quadro um objeto que aí viu esconderem.

2.       O pensamento pré-operatório, que vai dos 2 aos 4 anos. A criança atribui aos objetos inanimados propriedades dos seres vivos. Ao mesmo tempo parece a imitaccao.

3.       O pensamento intuitivo, que vai dos 4 aos 7 anos. Se, diante de uma criança, passarmos esferas que estão em um vaso, para um outro vaso da mesma capacidade, mas de forma diferente, a criança não poderá admitir que o número de esferas tenha permanecido constante, ao passo que o admitirá se a passagem se fizer para um vaso de forma idêntica ao primeiro. Nessa idade a criança não pode conceber que a forma e a capacidade sejam duas qualidades independentes.

4.       As operacoes concretas caracterizam o período que vai dos 8 aos 11 anos. Aos 8 anos a criança é capaz de coordenar as relações de ordem temporal (antes-depois) com as de duração (mais longo-mais curto), enquanto que antes elas eram separadas.

5.       As operacoes formais que são as do pensamento adulto aparecem entre os 11 e 14 anos. O adolescente é capaz de ultrapassar o nível sensório-motor e as operacoes concretas, formar hipóteses e submetê-las à experiência.

Os diferentes estágios se superpõem e sua data de aparecimento não é rígida. Por outro lado, existem nesse domínio diferenças individuais importantes sobre as quais repousa a medida da inteligência.

3º - A Formação de Conceitos no Adulto

a) A lógica dos conceitos. Um conceito pode ser definido como uma categoria. Existem duas variedades: 1º - As classes de identidade: m grande número de objetos ou de acontecimentos são considerados como "o mesmo" objeto ouacontecimento. Por exemplo, a lua será "a mesma" quer apareça como um crescente prateado ou como um disco vermelh; um indivíduo será "o mesmo" quando era uma ccrinça ou quando se tornou um velho. [Aqui temos algo da maior importância. O fato da lua continuar sendo lua, prova que os "conceitos" dependem do meior. Não fosse isso, uma lua não seria lua, mas apenas algo redondo. Mas para ser lua, o conceito precisa ser formulado de outra forma: a lua é o único corpo celeste de tamanho um pouco menor que o sol, que tem uma forma variável entre o arco e a circunferência e percorre, continuamente, o céu (gira em torno da terra).] 2º - As classes de equivalência dizem respeito ao caso em que diferentes elementos são considerados como equivalentes em certo sentido: por exemplo,, as maçãs, os pêssegos e as peras são frutas. [Novamente esta conclusão depende do meio. As maçãs podem ser apenas objetos redondos se coloca entre coisas diversas a serem classificadas pela forma. Ou apenas um objeto vermelho se colocada entre objetos a serem classificados pela cor.]

Existem diversas varieddes de classes de equivalência. A mais freqüente utilizada é a categoria conjuntiva, que é definida pela presença simultânea de diversos atributos. Todo objeto que possui, ao mesmo tempo, os atributos a, b e c pertencem à categoria A. Existem, igualmente categorias disjuntivas, cuja formação é muito mais complexa. [Discordo. Os objetos não têm vários atributos. O que ocorre é que eles são arquivados várias vezes, uma para cada atributo. Assim, se eu não tiver tido uma experiência que me diga que uma maçã é uma fruta, maçã será apenas um objeto vermelho, ou apenas um objeto redondo, ou ambas. A maioria das pessoas não sabe que a pimenta é uma fruta. Aliás, não admitem que seja uma fruta porque o atributo que classifica como fruta é ser um comestível saboroso.]

b) A formação de categorias conjuntivas. Suponhamos o caso de umestrangeiro que chega a uma cidadezinha e a quem se designe certo número de seus moradores como "importantes". (....) O conjunto dessas diligências é uma estratégia que deve permitir atingir o objetivo com um número mínimo de informações, com certeza, independentemente do número de informações, reduzindo o mais possível o esforço da memória e com o menor número possível de categorias provisórias falsas.

No quadro das estratégias das recepcoes, existem duas estratégias possíveis que Bruner denominou eestratégia de convergência  e estratégia do exame sucessivo. Na estratégia de convergência você toma em consideração o que está incluído em sua hipótese e os fatos contraditórios que você encontra, e ignora o resto. O conceito inicial é utilizado como um foco e, em cada etapa, as informações recolhidas são integradas, de modo que a hipótese, em dado momento , é a soma de tudo que já se sabe, donde o nome de estra'tegia de convergência.

Na estratégia do exame sucessivo você escolhe, como hipótese na situação inicial, apenas uma parte dos atributos. O indivíduo faz uma aposta.

A estratégia de convergência é empregada com uma freqüência um pouco maior (62% dos casos.

[Constatação de um erro. Em  um teste proposto por Hanfmann-Kasanin com 22 blocos de madeira, que diferem na cor (cinco cores diferentes), forma (seis), espessura (duas) e superfície duas, grande e pequena), pede-se ao indivíduo para classific-a-las em 4 grupos. Dizem os autores que existe apenas uma única possibilidade: pequenos-espessos, pequenos-chatos, grandes-espessos, grandes-chatos. Entretanto, sem saber disso, eu os classiviquei a todos da seguinte forma com relação apenas à superfície: superfícies tringulares, quadriláteras, hexagonais e circulares (ou semi-sirculares)]

4º - Os Elementos da Conduta Inteligente no Homem

a) A aprendizagem. O papel da aprendizagem no desenvolvimento do pensamenteo é evidente: a criança aprende a pensar ao mesmo tempo que aprende, de seu ambiente, a utilizar a linguagem. (....) Em condições sensivelmente equivalentes, os indivíduos mostram diferentes importantes em suas aptiddoes.

b) A motivação e as atitudes.  Acontece freqüentemente, porém, que, no que concerne às formas mais elevadas do raciocínio, a resolução do problema se torna, por si mesma, o objetivo e a recompensa da atividade intelectual e constitui sua motivação. Trata-se de um caso particular do fenômeno mais geral, estudado a respeito das impulsões, em que os meios utilizados para atingir um objetivo se transformam nos próprios objetivos.

II - A Inteligência

A - DEFINIÇÃO DA INTELIGÊNCIA

1º - A inteligência e o desenvolvimento.

2º - A inteligência como aptidão. A definição mais geralmente aceita da inteligência identifica-a com a capacidade de se daptar a novas situações.  (....) [Mas] Para um professor, o aluno inteligente será o que se adapta bem à situação escolar; para um engenheiro, o trabalhador inteligente será o que se adapta bem à situação industrial.

Para resolver essas dificuldades, limittou-se o tipo de tarefa cuja solução caracteriza a inteligência. Definiu-se, assim, a inteligência como a capacidade de resolver problemas, sejam concretos (inteligência concreta) ou abstratos (inteligência verbal).

 

III - A IMAGINAÇÃO E O PENSAMENTO CRIADOR

A - OS HÁBITOS DO PENSAMENTO

Pode-se falar de imaginação criadora quando, colocado em face de um problema, um indivíduo descobre para ela uma solução original. A imaginação criadora consiste, pois, antes de tudo, na ruptura de hábitos do pensamento.

(...) os fatores afetivos podem-se opor, igualmente, ao pensamento criador e original. As atitudes orientam, em grande parte, nossa maneira de pensar. Satisfazendo necessidades afetivas profundas, elas têm uma grande estabilidade.

B - AS ETAPAS DO PENSAMENTO CRIADOR

Preparação, incubação, inspiração, verificação.

 

O indivíduo hipercrítico, todas as vezes que se encontra em face de uma hipótese ou de uma idéia nova, reagirá procurando demonstrar que ela é absurda e inexata. O indivíduo receptivo "joga com a nova idéia e especula sobre suas implicações possíveis se ela consegue ser demonstrada. Por causa da novidade da proposição, sua tendência é a de desejar que ela seja verdadeira" (Thurstone).