EXTRATO DE: PÍLULAS DE NEUROCIÊNCIA PARA UMA VIDA MELHOR

AUTORA: SUZANA HERCULANO-HOUZEL

EDITORA: SEXTANTE

 

 

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O aprendizado depende ao menos de 3 fatores: (1) repetição, base das mudanças sinápticas que implementam a nova maneira de agir, pensar ou sentir; (2) retorno negativo, que informa quando se erra e é preciso tentar de novo de outra maneira; e retorno positivo, que sinaliza quando se fez a coisa certa que deve ser repetida no futuro.

 

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(...) o cérebro que conta um conto sempre aumenta um ponto.

 

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Em 2009, uma descoberta feita pela equipe da antropóloga Helen Fisher, forçou-a a mudar de opinião: o sistema de recompensa do cérebro de pessoas ainda apaixonadas pelo cônjuge em casamentos de cerca de 20 anos responde à visão da pessoa amada com a mesma euforia e empolgação dos casais recém-apaixonados.

 

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Deveria ser lugar-comum, mas infelizmente nem todo mundo sabe que receber carinho é bom – e o que há de melhor neste mundo para uma criança. Ao menos agora não será mais por falta de conhecimento: nos últimos anos, a neurociência vem descobrindo como exatamente o carinho faz bem, a ponto de mudar o cérebro pra o resto da vida.

 

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Experimentos com mães ratas adotivas mostraram que o determinante é o comportamento da mãe, biológica ou não: carinho gera carinho – e o mesmo vale para humanos.

 

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A dica da neurociência é tirar partido da própria ativação automática de idéias e aprender a usá-la a seu favor. Isso requer algum treino, é verdade, mas você, adulto, tem muito mais chances de conseguir que uma criança não pule do muro alto se fizer o seu córtex pré-frontal, o seu, leitor, já crescidinho – conter o impulso de gritar “Não pule!” e, em vez disso, dizer “Fique bem quietinho!” enquanto você se aproxima. Graças justamente à ativação automática dos programas motores, é muito mais fácil conseguir, com uma ordem, que uma criança faça algo inofensivo, como ficar parada, do que obterde seu córtex pré-frontal controle suficiente para não fazer algo perigoso.

 

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Um estudo levanta uma possibilidade intrigante: a elevada incidência de diabetes adulto em idosos e obesos pode estar relacionada a distúrbios do sono, comuns nessas pessoas, ou ao menos ser acentuada neles pela falta de sono.

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O sistema nervoso conta com “sensores de sede” que medem no líquor que banha o cérebro sua concentração de sal e passam a informação ao hipotálamo. Este, por sua vez, espera até que o aumento de sódio no sangue chegue a uns 2% - ou viveríamos com sede! -, e então ativa o córtex cingulado, responsável por comportamentos motivados, que dispara a sensação de sede que nos motiva a buscar água.

 

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Beber água sem sede, é algo que apenas os idosos precisam fazer, por conta de alterações no cérebro que reduzem a sensação de sede. Beber dois litros de água por dia, uma recomendação comum desde quando se constatou que adultos perdem diariamente cerca de dois litros de água, é um exagero. Grande parte da agual de que o corpo precisa vem da comida; outra parte vem do ar inspirado. Para suprir o resto, basta beber um litro de água ao longo do dia – o que significa, em resumo, que você deve beber agual quando sentir sede. Pois é...

 

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Acontece que, desde os anos 1970, sabemos que os sentidos dependem de experiência para se firmarem no cérebro. Daí, por exemplo, a importância de corrigir o estrabismo cedo: se o cérebro não tiver experiência com imagens convergentes dos dois olhos ao mesmo tempo, ele não aprende a enxergar profundidade, e pode acabar praticamente cego para um dos olhos. O mesmo vale para sons, cheiros e imagens que não vemos nunca: o cérebro não aprende a percebê-los. Um cérebro que nunca viu movimento, por exemplo, não sabe o que fazer com isso. E um que nunca viu araras ou ultravioleta não sabe imaginar o que é uma arara ou a cor do ultravioleta. Se a imaginação depende dos sentidos e os sentidos dependem de experiência, então a imaginação depende de experiência.

 

 

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Flexibilidade cognitiva – a capacidade de mudar o conjunto de regras em uso no momento.

 

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O TOC (transtorno obsessivo compulsivo) atinge cerca de 2 pessoas em 100, que têm que reorganizar sua vida para acomodar “excentricidades” como não usar marrom, precisar fechar todas as portas ou lavar todos os copos antes de sair de casa.

 

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Talvez nossa espécie tenha sobrevivido a bactérias, vermes e outras imundícies dos séculos e milênios passados graças a alguma tendenciazinha compulsiva de nossos ancestrais a aparar com os dentes até a vigésima unha e catar uns nos outros até o último parasita. Na história evolutiva da humanidade, sabonetes, tesouras e alicates de unha são invenções recentes.

 

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Por mais que se pende som otimismo em ganhar dinheiro ou colares de diamantes, eles não chegarão pelo correio sozinhos apenas pela força do seu pensamento. Não basta pensar: é preciso agir sobre o mundo e usar o cérebro para mudar a realidade física por meio de nossas ações.

 

Se o alerta sobre os limites do pensamento positivo soa pessimista, pense de novo. Uma descoberta importante da neurociência é que receber um prêmio ou dinheiro sem fazer força pode até ser bom, mas não é nada que se compare ao prazer de conquistá-lo à força do nosso próprio suor. O cérebro gosta de ter trabalho e ser recompensado por isso. Segredo mesmo é fazer para então merecer.

 

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O efeito placebo – na expectativa de se sentir melhor, ele vai provocando desde já alterações em seus sistemas internos de analgesia, de motivação e de controle da resposta ao estresse.

Aumentando a liberação de dopamina e de substancias semelhantes ao ópio produzidas por ele mesmo, o cérebro aplaca suas dores, aumenta sua motivação e melhora a sensação de bem-estar como um todo. Mesmo que não cure tumores, infecções graves e tantas outras doenças fora de sua alçada, o efeito placebo é a maneira como seu cérebro ajuda a si mesmo – inclusive a ir buscar mais ajuda.

 

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Quanto ao reducionismo cientifico....

A resposta longo começa com a lembrança de que René Descartes, o pensador francês que bolou o método do reducionismo, buscava uma maneira de abordar aquelas questões tão incrivelmente grandes e complexas que desafiavam tentativas de compreendê-las em toda a sua extensão. Descartes, então, propôs quebrar inicialmente tais questões em partes menores, essas sim abordáveis. Compeendidas as partes, torna-se possível passar ao nível seguinte: entender como elas se encaixam – e da sua interação imergem outras propriedades, não explicadas pelas unidades.

 

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Se a ciência mostra que somos punhados de moléculas organizadas de maneiras tão específicas que nos tornam capazes de nos apaixonar, querer o bem e até achar nossa existência um milagre, então ela só torna a vida ainda mais extraordinária. Moléculas não pensam – mas se de sua organização nasce a mente, então isso não é poesia pura?