EXTRATO DE: PÍLULAS
DE NEUROCIÊNCIA PARA UMA VIDA MELHOR
AUTORA:
SUZANA HERCULANO-HOUZEL
EDITORA:
SEXTANTE
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O
aprendizado depende ao menos de 3 fatores: (1) repetição, base das mudanças
sinápticas que implementam a nova maneira de agir, pensar ou sentir; (2)
retorno negativo, que informa quando se erra e é preciso tentar de novo de
outra maneira; e retorno positivo, que sinaliza quando se fez a coisa certa que
deve ser repetida no futuro.
31
(...)
o cérebro que conta um conto sempre aumenta um ponto.
41
Em
2009, uma descoberta feita pela equipe da antropóloga Helen Fisher, forçou-a a
mudar de opinião: o sistema de recompensa do cérebro de pessoas ainda
apaixonadas pelo cônjuge em casamentos de cerca de 20 anos responde à visão da
pessoa amada com a mesma euforia e empolgação dos casais recém-apaixonados.
52
Deveria
ser lugar-comum, mas infelizmente nem todo mundo sabe que receber carinho é bom
– e o que há de melhor neste mundo para uma criança. Ao menos agora não será
mais por falta de conhecimento: nos últimos anos, a neurociência vem
descobrindo como exatamente o carinho faz bem, a ponto de mudar o cérebro pra o
resto da vida.
53
Experimentos
com mães ratas adotivas mostraram que o determinante é o comportamento da mãe,
biológica ou não: carinho gera carinho – e o mesmo vale para humanos.
60
A
dica da neurociência é tirar partido da própria ativação automática de idéias e
aprender a usá-la a seu favor. Isso requer algum treino, é verdade, mas você,
adulto, tem muito mais chances de conseguir que uma criança não pule do muro
alto se fizer o seu córtex pré-frontal, o seu, leitor, já crescidinho – conter
o impulso de gritar “Não pule!” e, em vez disso, dizer “Fique bem quietinho!”
enquanto você se aproxima. Graças justamente à ativação automática dos programas
motores, é muito mais fácil conseguir, com uma ordem, que uma criança faça algo
inofensivo, como ficar parada, do que obterde seu córtex pré-frontal controle
suficiente para não fazer algo perigoso.
163
Um
estudo levanta uma possibilidade intrigante: a elevada incidência de diabetes
adulto em idosos e obesos pode estar relacionada a distúrbios do sono, comuns
nessas pessoas, ou ao menos ser acentuada neles pela falta de sono.
164
O
sistema nervoso conta com “sensores de sede” que medem no líquor que banha o
cérebro sua concentração de sal e passam a informação ao hipotálamo. Este, por
sua vez, espera até que o aumento de sódio no sangue chegue a uns 2% - ou
viveríamos com sede! -, e então ativa o córtex cingulado, responsável por
comportamentos motivados, que dispara a sensação de sede que nos motiva a
buscar água.
165
Beber
água sem sede, é algo que apenas os idosos precisam fazer, por conta de
alterações no cérebro que reduzem a sensação de sede. Beber dois litros de água
por dia, uma recomendação comum desde quando se constatou que adultos perdem
diariamente cerca de dois litros de água, é um exagero. Grande parte da agual
de que o corpo precisa vem da comida; outra parte vem do ar inspirado. Para
suprir o resto, basta beber um litro de água ao longo do dia – o que significa,
em resumo, que você deve beber agual quando sentir sede. Pois é...
176
Acontece
que, desde os anos 1970, sabemos que os sentidos dependem de experiência para
se firmarem no cérebro. Daí, por exemplo, a importância de corrigir o
estrabismo cedo: se o cérebro não tiver experiência com imagens convergentes
dos dois olhos ao mesmo tempo, ele não aprende a enxergar profundidade, e pode
acabar praticamente cego para um dos olhos. O mesmo vale para sons, cheiros e
imagens que não vemos nunca: o cérebro não aprende a percebê-los. Um cérebro
que nunca viu movimento, por exemplo, não sabe o que fazer com isso. E um que
nunca viu araras ou ultravioleta não sabe imaginar o que é uma arara ou a cor
do ultravioleta. Se a imaginação depende dos sentidos e os sentidos dependem de
experiência, então a imaginação depende de experiência.
177
Flexibilidade
cognitiva – a capacidade de mudar o conjunto de regras em uso no momento.
180
O
TOC (transtorno obsessivo compulsivo) atinge cerca de 2 pessoas em 100, que têm
que reorganizar sua vida para acomodar “excentricidades” como não usar marrom,
precisar fechar todas as portas ou lavar todos os copos antes de sair de casa.
182
Talvez
nossa espécie tenha sobrevivido a bactérias, vermes e outras imundícies dos
séculos e milênios passados graças a alguma tendenciazinha compulsiva de nossos
ancestrais a aparar com os dentes até a vigésima unha e catar uns nos outros
até o último parasita. Na história evolutiva da humanidade, sabonetes, tesouras
e alicates de unha são invenções recentes.
186
Por
mais que se pende som otimismo em ganhar dinheiro ou colares de diamantes, eles
não chegarão pelo correio sozinhos apenas pela força do seu pensamento. Não
basta pensar: é preciso agir sobre o mundo e usar o cérebro para mudar a
realidade física por meio de nossas ações.
Se
o alerta sobre os limites do pensamento positivo soa pessimista, pense de novo.
Uma descoberta importante da neurociência é que receber um prêmio ou dinheiro
sem fazer força pode até ser bom, mas não é nada que se compare ao prazer de
conquistá-lo à força do nosso próprio suor. O cérebro gosta de ter trabalho e
ser recompensado por isso. Segredo mesmo é fazer para então merecer.
188
O
efeito placebo – na expectativa de se sentir melhor, ele vai provocando desde
já alterações em seus sistemas internos de analgesia, de motivação e de
controle da resposta ao estresse.
Aumentando
a liberação de dopamina e de substancias semelhantes ao ópio produzidas por ele
mesmo, o cérebro aplaca suas dores, aumenta sua motivação e melhora a sensação
de bem-estar como um todo. Mesmo que não cure tumores, infecções graves e
tantas outras doenças fora de sua alçada, o efeito placebo é a maneira como seu
cérebro ajuda a si mesmo – inclusive a ir buscar mais ajuda.
189
Quanto
ao reducionismo cientifico....
A
resposta longo começa com a lembrança de que René Descartes, o pensador francês
que bolou o método do reducionismo, buscava uma maneira de abordar aquelas
questões tão incrivelmente grandes e complexas que desafiavam tentativas de
compreendê-las em toda a sua extensão. Descartes, então, propôs quebrar
inicialmente tais questões em partes menores, essas sim abordáveis.
Compeendidas as partes, torna-se possível passar ao nível seguinte: entender
como elas se encaixam – e da sua interação imergem outras propriedades, não
explicadas pelas unidades.
190
Se
a ciência mostra que somos punhados de moléculas organizadas de maneiras tão
específicas que nos tornam capazes de nos apaixonar, querer o bem e até achar
nossa existência um milagre, então ela só torna a vida ainda mais
extraordinária. Moléculas não pensam – mas se de sua organização nasce a mente,
então isso não é poesia pura?