EXTRATO DE: TOLOS, FRAUDES E MILITANTES

Autor: Roger Scruton

Ed. Record: 2015/2020/2021

 

 

Os objetivos, libertação e justiça social, não são compatíveis.

 

Se a libertação envolve liberar o potencial do indivíduo, como impedir que os ambiciosos, determinados, inteligentes, bonitos e fortes saiam na frente, e o que devemos nos permitir como meios para reprimi-los?

 

Para Marx, depois da “ditadura do proletariado” o Estado “definhará”, não haverá leis nem necessidade delas e tudo será propriedade comum. Não haverá divisão do trabalho e cada pessoa viverá da ampla variedade de suas necessidades e desejos, “caçando pela manhã, pescando à tarde, cuidando do gado à noite e se engajado em crítica lideraria após o jantar”, como nos é dito em A ideologia alemã.

 

Os comunistas têm a convicção de que é possível modificar a realidade modificando as palavras. [A novilíngua]

 

Françoise Thom: O objetivo da novilíngua comunista tem sido o de “proteger a ideologia dos maliciosos ataques das coisas reais”.

 

Intelectuais são naturalmente atraídos pela ideia de uma sociedade planejada, na crença de que estarão encarregados dela.

 

De acordo com Nietzsche, o ressentimento (...) a empobrecida perda de caráter que ocorre quando as pessoas sentem mais prazer em rebaixar os outros que em elevar a si mesmas.

 

Instituições políticas mudam em resposta à necessidade econômica.

 

Existe uma indisputável rede de conexões entre a vida social e a vida econômica, mas não se pode determinar qual é causa e qual é efeito.

 

Um dos primeiros decretos de Lênin, de 21 de novembro de 1917, abolia os tribunais, a ordem dos advogados e a profissão legal e deixava o povo sem a única proteção que já tivera contra a intimidação e a prisão arbitrárias.

 

(...) foi o marxismo que tornou possível inventar o passado.

 

Nêmese: deusa da vingança.

 

Em quase todos os textos de Dvorkin, encontraremos esse pedido especial por ativismo judiciário, desde que os ativistas sejam políticos progressistas.

 

A existência de leis está pressuposta no próprio projeto de viver em sociedade – ou, ao menos uma sociedade de estranhos. A lei é real, embora tácita, muito antes de escrita.

 

Hayek indica que a lei escrita e a legislação soberana foram tardias na sociedade humana e ambas abrem caminho para abusos que, no direito consuetudinário, usualmente são autocorrigidos.

 

Não há nada para impedir que o legislador radical aprove leis que desafiam a justiça ao conceder privilégios, confiscar bens ou extinguir vantagens em nome dos interesses de alguma agenda pessoal ou política. Um sinal disso é a adoção da “justiça social” como objetivo do direito, em vez da justiça natural como limite procedimental.

 

As leis verdadeiras surgem da empreitada de cooperação social através do tempo.

 

As leis condensam informações que estão dispersas no passado de uma sociedade.

 

O conhecimento que necessitamos em circunstâncias desconhecidas da vida humana (...) nos é transmitido pelos costumes, instituições e hábitos de pensamento que se formaram ao longo de gerações, por meio de tentativas e erros das pessoas, muitas das quais pereceram durante sua aquisição.

 

As revoluções sociais começam com a anulação do estado de direito e por que a independência judicial raramente é uma característica dos Estados que desejam recrutar a sociedade para uma agenda imposta de cima para baixo.

 

Soberania significa o poder legitimo de comandar obediência.

 

Examine os argumentos de Galbraith e Dworkin atentamente, e encontrará apenas atalhos, retórica e desprezo pelas opiniões contrárias. Apesar de toda sua esperteza, eles deixaram as reais questões intelectuais exatamente no mesmo lugar onde encontraram.

 

Muito da literatura francesa de guerra seja devotada às complexidades da traição, cometida por pessoas frequentemente mais dispostas a baixar os braços em nome da segurança pessoal que a sacrificar a vida por um amigo.

 

O Livro Negro do Comunismo.

 

Os filósofos medievais tomaram de Aristóteles a ideia de que respondemos à pergunta “O que existe?” ao identificarmos a natureza essencial das coisas. Se isso diante de mim existe, então isso é algo. Se é algo, então há alguma coisa que isso é. E a coisa que isso é – um homem, um cão, um galho, uma pilha de areia – é definida por sua essência. Daí que “a essência precede a existência”.

 

O homem deve construir sua própria essência, e mesmo sua existência é, em certo sentido, uma realização: ele existe completamente apenas quando é o que pretende ser. (...) Mas para Sartre as essências, como construções do intelecto, desaparecem com a mente que as concebe. (...) [e que] a verdadeira premissa da filosofia é que “a existência precede a essência”. (...) O homem deve construir sua própria essência, e mesmo sua existência é, em certo sentido, uma realização: ele existe completamente apenas quando é o que pretende ser.

 

O desejo por uma ordem moral objetiva é uma exibição de má-fé e uma perda da liberdade sem a qual nenhum tipo de moralidade seria concebível.

 

Todos os amores, e basicamente todas as relações humanas, são fundados nessa contradição, enquanto tentamos ao mesmo tempo ser e não ser essa coisa que somos.

 

O marxismo abole a realidade em favor de uma ideia.

 

Numênico: relativo a número.

 

Como muitas palavras de uso litúrgico, “totalização” [usada por Lukács] não é definida, mas meramente repetida e aplicada com tal mesmerizante falta de sentido para atrair uma falange de admiradores preparados para servirem como sacerdotes da fé.

 

O que é trabalho não comprado, se não o trabalho escravo?

 

O que é a história se não o enxame de destinos individuais?

 

O marxismo se caracteriza pelo ódio patológico pelo imperfeito e pelo normal.

 

[Só nos resta resistir ao] projeto “totalizante” do intelectual iluminado.

 

É primariamente o intelectual que se beneficia de um relacionamento no qual apenas ele dita os termos. Seu zelo é baseado em uma necessidade emocional vasta e urgente demais para não ser tirânica. (...) Vendo o mundo da perspectiva “totalizante” do Reino dos Fins, não conseguem perceber a existência real, mas empírica, de suas vítimas. O operário é reduzido à mera abstração (...).

 

O encontro do intelectual com seu deus é um episódio puramente interior, uma devoção privada da qual o proletário real, com seu desejo por conforto, por propriedade e pelas coisas do mundo, deve ser permanentemente excluído.

 

O proletário real não tem vez na discussão marxista promovida pelo intelectual.

 

[Sartre, mesmo depois de saber sobre os campos de concentração na União Soviética] urgiu seus compatriotas a “julgarem o comunismo por suas intenções, e não por suas ações”.

 

Sartre, querendo apenas o que era abstrato e “totalizado”, condenou o que era real à miséria e à servidão. No fim, a totalidade totalizada é o que parecia ser no começo: o comprometimento total com a “práxis totalitária”.

 

Um profundo desapontamento com a realidade e o desejo de destruí-la em nome da Utopia tem sido a posição padrão da esquerda pensante na França, desde os jacobinos até hoje.

 

O sentimento antiburguês [do francês] manifesta seu poder, não na universidade, mas [na calçada] do café [parisiense]. (...) O café se torna o símbolo de sua posição social. Ele observa o show que passa, mas não se une a ele. Em vez disso, aguarda por aqueles que, atraídos por seu olhar, se separam da multidão e “se aproximam” de sua posição.

 

O gauchista, assim, torna-se o redentor da classe cujas ilusões ele foi nomeado para desmascarar. |(...) ele não faz nada além de latir para a mão que o alimenta. Nisso, demonstra sua grande sabedoria e um saudável instinto de sobrevivência.

 

Foucault devotou sua obra (...) a mostrar que todos os modos conhecidos de modelar a sociedade civil são reduzíveis a formas de dominação. (...) A linha unificadora de suas obras iniciais e mais influentes é a busca pelas estruturas secretas de poder.

 

Para Foucault foi somente desde a Renascença que o fato de ser homem (em vez de, digamos, fazendeiro, soldado ou nobre) adquiriu o significado especial que hoje lhe concedemos. Usando tais argumentos, poderíamos demonstrar que o dinossauro também é uma invenção recente.

 

Episteme: na filosofia grega, especialmente no platonismo, o conhecimento verdadeiro, de natureza científica, em oposição à opinião infundada ou irrefletida.

 

Foucault: O poder (...) distribui privilégios de maneira desigual através do espectro social.

 

Scruton, lendo as últimas obras de Foucault, foi constantemente tomado pele ideia de que seu beligerante esquerdismo era não uma crítica da realidade, mas uma defesa contra ela, uma recusa em reconhecer que, apesar de todos os seus defeitos, a normalidade é tudo que temos.

 

[Assim como aqui nos últimos 20 anos] Foi parcialmente através das universidades que o nazismo instilou seu veneno nas mentes da juventude (...).

 

Martin Heidegger nos lembra que mesmo um grande filósofo pode se aliar, quando chega o momento, às forças da destruição.

 

Se os fatos refutarem a teoria “total” do marxismo, “pior para os fatos”.

 

A tese de Quine e Duhen é de que qualquer teoria, adequadamente revisada, pode ser tornada consistente com qualquer dado e qualquer dado pode ser rejeitado em nome dos interesses de uma teoria.

 

No fetichismo, argumentou  Kant, o homem atribui seus próprios poderes a objetos que lhe são externos e, consequentemente, separados de sua própria vontade.

 

Desde que não cometa o supremo erro “oportunista” de consultar membros reais do proletariado, você pode se persuadir de que, ao realizar essas acrobacias mentais, está repudiando a poluída consciência da burguesia e se unindo à luta revolucionária da verdadeira classe operária.

 

A escolha verdadeiramente livre e autônoma é aquela que respeita a soberania do indivíduo, concedendo-lhe o direito de dispor de sua vontade, seu trabalho e sua propriedade.

 

Como em todas as ideologias, a principal tarefa é persuadir as ordens mais baixas a aceitá-la.

 

Hegel identificou os funcionários públicos como a verdadeira classe superior.

 

O entusiasmo de esquerda que tomou as instituições de ensino nos anos 1960 foi uma das mais eficazes revoluções intelectuais da história recente, obtendo apoio entre os afetados como raramente se viu em uma revolução no mundo da política. Foi a era da “produção intelectual”, na qual foi estabelecida a identidade do intelectual como membro honorário da classe operária.

 

Para Althusser o dogma é “revelado” ao ser oculto.

 

[O materialismo histórico é uma teoria marxista que defende a ideia de que a evolução e a organização da sociedade, ao longo da história, ocorrem de acordo com a sua capacidade de produção e com suas relações sociais de produtividade.]

 

A crença religiosa (...) postula um benefício inestimável para o crente e então, com um ato de ilusão, o persuade de que esse beneficio é razão (a não apenas motivo) suficiente para acreditar. (...) Ao acreditar, você se une aos eleitos (...).

 

[Os intelectuais ungidos fazem uma] distinção entre ciência e ideologia: meu pensamento é ciência, o seu é ideologia; meu pensamento é marxista (...) o seu é “idealista”; meu pensamento é proletário, o seu é burguês (...).

 

Althusser foi um dos acadêmicos alquímicos que ajudaram a nova geração de estudantes de ciências humanas a colocar o poder acima da verdade em sua escala de valores.

 

A mentalidade paranóica (...) inventa uma linguagem sem sentido, uma vez que o sentido constitui uma ameaça, e a sintaxe dessa linguagem é organizada pela busca pelo poder.

 

Nada possui significado e essa era a revolução, ou seja, a máquina de eliminar o sentido. [Vide a acusação ao Bolsonaro de genocida.]

 

Semiologia: ciência geral dos símbolos.

 

Existe uma ciência dos peixes (...) [mas] Não pode haver uma ciência geral dos botões, mas somente uma ciência de sua função. Símbolos claramente são mais como botões do que como peixes.

 

A fama de uma ideia vem de sua influência, não de sua verdade.

 

Lacan descobriu o infinito poder da falta de sentido, quando utilizada para exercer carisma pessoal.

 

Diferença e identidade são interdefiniveis e alguém que desloque um conceito necessariamente desloca o outro. Desde Aristóteles a identidade (algo sendo a coisa que é) tem sido tratada como logicamente anterior a todas as predicações, inclusive a diferença. Pois a identidade é pressuposta pela individuação, o ato de separar algo como objeto de referência.

 

Deleuze (...) faz abstrações das quais toda referência à realidade concreta e ao fluxo da vida humana foi extirpada.

 

Em todos os lugares e épocas, as pessoas acreditaram que havia um caminho para o eterno, uma porta fora do tempo para um lugar onde nada muda e toda a existência está em repouso.

 

E quando a diferença é identidade e a identidade é uma forma de diferença?

 

Todo desenvolvimento crítico da esquerda requer uma atmosfera de “luta”, como a existente em 1968, que fornece o necessário sentimento de solidariedade.

Gramsci devotou parte considerável de sua obra ao papel dos intelectuais, afirmando diretamente não apenas que são os verdadeiros agentes da revolução, mas também que devem sua legitimidade à “correção” de suas opiniões.[!!!]

 

Gramsci [achava que] da união entre intelectuais comunistas e as massas (...) emergirá uma nova forma de governo por consenso.[??????] Para o realista que pergunta como, nessa sociedade do futuro, os conflitos serão acomodados ou resolvidos, Gramsci não tem resposta.

 

Se as condições do conflito jazem, como evidentemente o fazem, na natureza humana, então a única esperança de removê-las é alimentar esperanças inumanas e se mover na direção de ações inumanas.

 

A revolução, de acordo com Gramsci, (...) pode ser realizada sem sujar as mãos na fábrica. Você pode calmamente continuar em qualquer cargo confortável que lhe tenha sido oferecido e trabalhar pela derrota da hegemonia burguesa enquanto aproveita seus frutos.

 

Por que é melhor que as massas sejam dominadas por uma elite intelectual que por uma hegemonia de honestos burgueses?

 

A produção de bens para venda é a real condição dos trabalhadores emancipados, que são capazes de transformar seu trabalho em dinheiro e, desse modo, em bens que não aqueles que produzem.

 

Como [esse idealizado mundo comunista prometido será alcançado] dado que conhecemos nossas limitadas simpatias, nossas finitas expectativas, nossos competitivos motivos e nossos medos mortais?

 

[Este tipo de proposta é o melhor caminho para a criação de escassez, privilégios de classes, mercado negro, sobrevivência do mais forte (literalmente) e injustiça.]

 

Entramos em um período de suicídio cultural, comparável ao sofrido pelo Islã após a ossificação do Império Otomano.

 

A teoria relativista existe a fim de apoiar uma doutrina absolutista.

 

A conclusão final das guerras culturais foi a de que a antiga cultura nada significa, mas apenas porque não há nada para significar.

 

Gramsci esperava substituir a cultura burguesa por uma nova e objetiva hegemonia cultural. [Mas como pode haver “hegemonia cultural” a partir da heterogeneidade dos seres humanos?]

 

De acordo com Paul Cohen há quatro maneiras pelas quais buscamos, criamos e permanecemos leais aos eventos importantes (ou seja, revolucionários): amor, arte, ciência e política.

 

Lacan: Nada existe exceto na medida em que não existe. [Quem precisa disso?]

 

Morfemas são as menores unidades de significação que formam as palavras e são classificados em desinência, raiz, radical, afixo, tema e vogal temática. O estudo dos morfemas compreende o estudo sobre a formação e a estrutura das palavras.

 

A subjetivação é a coisa pela qual “a verdade é possível”.

 

Essa elevação da revolução ao status de redenção pessoal é exatamente o que parece: uma ego trip autodirigida cujos benefícios são claros apenas para a pessoa que embarca nela.

 

Badiou presta pouca ou nenhuma atenção aos vastos sofrimentos que [as revoluções] causaram e vê a “lealdade” ao evento como justificativa suficiente para continuar em frente. (...) Chute-os para fora do caminho e continue com a tarefa.

 

Wittgenstein: um filósofo é um militante político (...).

 

Se a teoria do “Evento” e da lealdade dos intelectuais a ele justifica Lênin e Mao, também deveria justificar Hitler. Em longas e tortuosas passagens, Badiou lida com essa dificuldade, argumentando que a revolução nazista não foi um Evento real, mas um “simulacro”.

 

[As revoluções sempre favoreceram certas classes e condenaramm outras.]

 

O crime para Badiou não é crime, se o objetivo for a utopia. [Desde que não seja ele o objeto do crime!!!]

 

O objetivo de Badiou é induzir a desconfiança pela democracia parlamentar e pelo estado de direito – dois grandes benefícios que lhe concederam uma vida de segura aposentadoria após seus anos como professor na École Normale Supérieure.

 

Zizek reconhece que o problema com Hitler, e também com Stalin, é que “não foram violentos o suficiente”

 

Hegel argumentou que conceitos são determinados pela negação, por meio da qual estabelecemos limites para além dos quais eles não se aplicam. (...) Aprendemos a distinguir o mundo de nossa vontade ao encontrarmos um limite, uma barreira, que é a fronteira apresentada pela vontade que se opõe a nós – a vontade do outro.

 

Para Zizek o sujeito não existe antes da “subjetivação”. Mas, através da subjetivação, leio a mim mesmo na condição que precedeu minha autoconsciência. Sou o que me torno e me torno o que sou ao preencher o vazio de meu passado.

 

Zizek toma de Lacan a ideia de que o processo mental recai em três categorias distintas: fantasia, símbolo e busca pelo Real.

 

A ideologia, na análise marxista clássica, (...) é o sistema de ilusões por meio do qual o poder adquire legitimidade.

 

Para Zizek a ideologia é agradável em si mesma, da mesma maneira que a arte e a musica. (...) [E] o pensamento cancela a realidade quando é pensamento “de esquerda”.

 

É precisamente a impossibilidade da utopia que nos prende a ela: nada pode macular a pureza absoluta daquilo que jamais será testado.

 

[Na URSS] Os milhões de servos foram silenciosamente para o tumulo simplesmente para ilustrar alguma conclusão intelectual e dar aos argumentos o poder da prova decisiva de outro sofrimento sem esperança.

 

Aqueles que imaginaram, em 1989, que nunca mais os intelectuais seriam pegos defendendo o Partido Leninista ou advogando os métodos de Josef Stalin não consideraram o poder devastador do nonsense. (...) O nonsense constrói um modo de vida em torno de algo que não pode ser questionado. (...) Foi assim que a utopia entrou novamente, não questionada, no lugar deixado pela teologia a fim de erigir seu próprio mysterium tremendum et fascinans no centro da vida intelectual.

 

A hipótese comunista não pode ser testada e refutada. [Pois] é uma declaração de fé no incognoscível, no inominável, na “errância do nada”.

 

O saco de vento de Zizek e os nonsemas de Badiou servem ao propósito de desviar a atenção do mundo real, das pessoas reais, da moral ordinária e do raciocínio político. Existem para promover uma única e absoluta causa, a causa que não admite crítica nem compromisso e oferece redenção a todos que a esposarem. E que causa é essa? A resposta está em cada página de seus fátuos textos: o Nada.

 

9. O QUE É A DIREITA?

 

Uma vez identificado como de direita você está além do argumento, suas visões são irrelevantes, seu caráter é desacreditado e sua presença no mundo é um erro.

 

Busquei, em vão, nas obras [de diversos autores] uma descrição de como a “igualdade dos seres” defendida em seus atormentados manifestos pode ser alcançada. Quem controla o que e como no reino da pura igualdade e o que é feito para garantir que os ambiciosos, os atraentes, os dinâmicos e os inteligentes não perturbem o padrão que seus sábios mestres lhes impuseram? (...) [Suas descrições] propõem uma sociedade da qual tudo que torna a sociedade possível – leis, propriedade, costumes, hierarquia, família, negociação, governo, instituições – foi removido.

 

[A ideologia socialista/comunista ou a “práxis revolucionária” apenas] nos leva a destruir o que não sabemos substituir. (...) confina-se ao trabalho de destruição, não tendo nem o poder, nem o desejo de imaginar, em termos concretos, o fim para o qual trabalha.

 

Sempre após o ataque ao capitalismo, vem o desejo por um mundo “sem poder”. Mas esse desejo é incoerente. A condição para a sociedade é essencialmente de dominação, com pessoas comprometidas umas com as outras por meio de suas ligações, distinguidas pela rivalidade e pela competição.

 

Foucault: Um déspota estúpido pode prender seus escravos com correntes de ferro, mas um verdadeiro político os amarra ainda mais firmemente com as correntes de suas próprias ideia [...] o elo é ainda mais forte porque não sabemos do que é feito.

 

Mas a tentativa de conseguir ordem social sem dominação inevitavelmente leva a um novo tipo de dominação, muito mais sinistra que a deposta.

 

Os mercados existem porque os objetos de apetite são permutáveis. Eles podem ser trocados e precificados. Mas as coisas que realmente importam para nós não podem ser trocadas. O sexo, por exemplo, e o amor que deriva dele não são comercializáveis. Coloca-los à venda é esvaziá-los de sua essência humana (...).

 

Na visão esquerdista radical, todos os poderes no interior da sociedade civil são concedidos, explicita ou implicitamente, pelo Estado ou pela “classe” que o controla.

 

(...) classes não são agentes mas subprodutos da ordem econômica.

 

O mundo do comunismo é um mundo de dominação impessoal no qual todo o poder está nas mãos de um partido que jamais é acusado por suas ações ou responde por elas.

 

Sem estado de direito, a oposição não tem garantia de segurança e, onde a oposição não é protegida, ela desaparece. Um governo sem oposição não tem meios de corrigir seus próprios erros ou mesmo notar que os está cometendo (...).

 

A ideologia é um conjunto de doutrinas, na maior parte de assombrosa imbecilidade, criadas para fechar as avenidas da investigação intelectual. (...) A ideia de “ditadura do proletariado” não pretendia descrever uma realidade; pretendia pôr fim às indagações, de modo que a realidade não pudesse ser percebida.

 

A busca de igualdade a qualquer custo e de uma emancipação puramente numênica é vã e mesmo contraditória.

 

Claramente, estamos lidando com uma necessidade religiosa, uma necessidade plantada profundamente em nosso “ser genérico”. Existe um desejo por pertencimento que nenhuma quantidade de pensamento racional, nenhuma prova da absoluta solidão da humanidade ou da natureza irredimível de nossos sofrimentos pode erradicar. E esse desejo é mais facilmente recrutado pelo deus abstrato da igualdade que por qualquer forma concreta de compromisso social. Defender o que é meramente real se torna impossível quando a fé surge no horizonte com seus atraentes presentes de absolutos.