SOCIEDADE PREDATÓRIA

 

A imagem na tela da TV me revolta, me embrulha o estômago, me dasafia: o agricultor abandonando a terra que foi obrigado a vender antes que ela valesse menos que a dívida contraída. Abandonando seu sustento, seu trabalho, sua dignidade, seu passado, seu sonho de futuro. Seus 15 hectares de vida. Um homem de 50 anos chorando no ombro do pai a vergonha da derrota para um inimigo invisível. Ali estava um espécime humano, encarado pelo sistema como "de qualidade inferior", perdendo a luta pela vida e ouvindo palavras de consolo: "O que vale, meu filho, é a gente se manter honesto." É mesmo o que vale? Como superar a perda? Como levantar no dia seguinte?

 

O homem colocou seus bens na carroceria do caminhão e foi pra cidade "ser mais um desempregado", como diz a repórter. Mas não foi sozinho. Ao despedir-se dos vizinhos, um deles fazia o mesmo. Trocas de boa sorte. Sorte! Fazer o quê, agora? "Ser caminhoneiro", diz ele tentando acreditar no quase impossível. Do cabo da enxada para o volante. Das mãos na terra para a graxa. Da paisagem imutável da janela da sala para a correria das paisagens na janela do truck. Dos sonhos na cama do quarto para os pesadelos na boléia. Qual o custo desta passagem? Ela será possível? Quais suas chances de sobrevivência na nova selva?

 

Você se sentiria um derrotado se lhe retirassem as ferramentas de trabalho? Ou, pior, se o seu inimigo fosse invisível e capaz de lhe causar golpes e possuísse armas muito mais poderosas que as suas?

 

Na teoria da evolução de Darwin, apenas um aprimoramento da espécie. Nada mais do que a sociedade matando sua fome. Desempenhando o seu papel predatório para a manutenção do desequilíbrio de forças.