É MEIO INCONVENIENTE

Parte III - Final - Cai o Mito

 

“Parabéns pelo trabalho (...) me deliciei. É curioso lembrar que esses

momentos só foram possíveis graças ao recebimento de uma mensagem não solicitada.”

Daniel Martinez Castilla

 

 

Acredito que muitos dos que leram a minha confissão, a tomaram como um artifício literário para abordar questões delicadas. Com certeza. E se pensaram que coloquei em minha boca frases roubadas de outros, não estarão enganados. Mas o fiz, talvez, por me envergonhar de minhas originais falas. Portanto, é também absolutamente certo que cometi, na essência, todos os atos ali relatados.

 

Menos um. O de me esconder atrás de um user name como o revelador “Unknown Man” ameaçando-me com envio de milhares de emails bomb. Afora considerações morais, a ameaça se constitui numa grande bobagem dada a facilidade com que, neste meio, o feitiço vira contra o feiticeiro.

 

Mas vamos ao objeto deste terceiro artigo. Através da análise de alguns dados da experiência de lançar a lista INTERNET-MARKETING, pretendo mostrar o que sugeri no subtítulo: o mito das MNS caiu. Em queda livre.

 

Quando resolvi lançar a lista, logo surgiu como questão fundamental para o uso da Internet como ferramenta de marketing direto, o comportamento reinante sobre mensagens não solicitadas(?). Decidi enfrentar o problema incluindo, no lançamento, um grande número de pessoas do segmento que, presumidamente, seria o mais arredio, o acadêmico. Para piorar um pouco mais as coisas, depois  de ficar alguns dias vacilante entre a inscrição voluntária e a compulsória, optei por esta última, obrigando o destinatário a dar um reply para sair da lista.

 

Existia um outro problema, a incompatibilidade entre servidores (e sabe-se lá o que mais) que torna os textos com acentos e cedilhas, incompreensíveis. Incorretamente, imaginei que editando em texto puro e enviando-o “attached” estaria tudo resolvido. Só pude perceber o engano porque o Marcelo Savio me chamou a atenção. Prontamente incluí instruções para que se pudesse receber o texto sem acentuação. Mas não mudei o procedimento padrão de envio pois, usando o recurso de “attached”, quem está “compatível” recebe o texto como formatado no original.

 

A lista de lançamento, num total de 1620 endereços, ficou assim distribuída:

·      endereços em domínios comerciais (.com, .com.br, .net e .net.br) - 46,5%;

·      endereços em domínios de governo, não-governo e universidades  - 48,5%;

·      endereços em domínios de outros países (exceto Estado Unidos) - 5%.

 

Deste total, 27,5% apresentaram algum tipo de problema de expedição, desde erro na digitação até problemas com atualização de tabelas de DNS. Aproveito para assinalar o que considero uma falha de configuração de servidor causada por uma visão distorcida desta mídia. Explico. Recebi devolução de mensagens uma semana e 3 dias após a sua remessa!!! Ou seja, foi reconhecida a existência do domínio de destino, mas o roteamento não conseguiu achá-lo. Ora, a Internet é, por suas próprias características, um meio de rápida comunicação. Não tem sentido uma mensagem ficar à deriva na Rede por tanto tempo. Presumimos que toda mensagem que não nos é devolvida imediatamente pelo servidor é porque  chegou ao seu destino. De minha ótica, a prioridade sobre a comunicação de problemas no roteamento deve prevalecer sobre a tentativa de envio em outro momento. O servidor deve ser eficiente e não paciente. Se sou prontamente comunicado do problema, posso buscar alternativa de comunicação. Dez dias depois, por certo, será um pouco tarde, qualquer que seja o assunto. De minha parte, agradeceria se a devolução se desse num prazo máximo de 8 horas.

 

Excluídos os endereços com problema, 1175 pessoas receberam a mensagem de lançamento. Destas, 23,5% enviaram reply e foram retiradas da lista. Mas os dados mais significativos vêm agora. O primeiro deles é que de todas as pessoas que não se interessaram pela lista, apenas 6,9% delas explicitaram alguma declaração de protesto, aí incluído desde um simples “Favor retirar o endereço (...) desta lista porque não pedimos para ser inscritos” até uma grosseira mensagem apenas “login-assinada” (esta, sem pseudônimo). Em meio a estas, outras que reclamavam mas, curiosamente, pediam para ficar e até a de uma pessoa que viu fantasma na Carta Magna: “Não estou interessado e, por favor, não me associe (e a ninguém) sem a minha permissão a nada. Além de deselegante é proibido pela constituição.” Entretanto - e esta é a informação mais preciosa - apenas duas pessoas (as já citadas) foram agressivas de fato. Ou seja, assumindo a lista como uma amostra válida, o II (índice de intolerância) é de apenas 0,17%. Quer dizer, a probabilidade de uma reação desmesurada, que ultrapasse os limites da boa convivência, é de 1 a cada 588 envios. O detalhe a ressaltar é que os extremamente tolos têm o cuidado não assinar, com o verdadeiro e completo nome, seus emails. A tarefa de busca das razões para o anonimato e para a agressividade fica para cada um dos leitores.

 

Por outro lado e em oposição às mensagens de protesto, 18,5% das pessoas pediram sua exclusão de modo cortes, muitas delas, até mesmo se desculpando (!!!) por não ter interesse no assunto ou por não ter disponibilidade de tempo. Somadas às que simplesmente deram reply, temos que, do total dos pedidos de exclusão, 93,1% deles foi feito dentro dos limites da boa educação. Para a hipótese formulada de “cai o mito”, só me resta, como nas aulas de matemática, acrescentar à minha tese: c. q. d. (como queríamos demonstrar).

 

Depois desta experiência, fiz uma outra, exclusivamente com endereços de domínio “.com” extraídos da lista Marketing, da Esquina-das-listas. Na mensagem de lançamento, alterei o procedimento de inscrição, condicionando o recebimento dos artigos a um explícito pedido de inscrição. Obtive como resultado, uma semana depois, a inscrição voluntária de apenas 10%.  Comparando este retorno com a inclusão compulsória na lista de 76,5%, tiro duas conclusões. A primeira é a maior eficácia, do ponto de vista do criador da lista, da inscrição compulsória. A segunda é a constatação de um comportamento “já que está deixa ficar” o que, de certa forma, ainda prova que as pessoas não se incomodam nem um pouco com o custo (irrisório) das MNS.

 

Antes de terminar, quero deixar algumas reflexões com base nas mensagens que recebi. É evidente que vivemos entre o desejo de ser informados e o receio de termos nossas mail boxs inconvenientemente superlotadas. Esta “insustentável leveza do ser” se reflete na mensagem: “Interessante sua proposta! À primeira vista, como sempre, me deu raiva de receber um e-mail não solicitado. Mas você tem um jeito todo especial de quebrar as resistências. Parabéns!” Fica óbvia a necessidade de ferramentas que ajudem a administrar as informações para não a repudiarmos, por default.

 

O leitor da Internet World, Rodolfo Moeschke, escreveu à revista: “Já era de se esperar que surgisse também a mala direta eletrônica, as correntes (...) os trotes e tudo o mais (...) mas não acho que devamos tolher alguém por querer mandar propagandas, (...) [ela]  é a alma do negócio, certo?”. E, acrescento eu, o negócio é a informação.

 

A solução não está em proibir, mas em evoluir. Já posso instruir meu editor de mensagens para analisar as que me chegam (de corrente, de totem, de falso vírus, em fim, da maioria do que não me interessa) e automaticamente deletar as indesejáveis (por exemplo, as que contêm a expressão “Unknown Man”, porra, merda etc.). Elas têm um subject padrão e palavras-chave que podemos colocar numa função de filtragem. O que desgasta são as mensagens “pretensamente” solicitadas. Passei a observar o teor das mensagens de listas de discussão em que estou inscrito. Pelo menos 90% delas são absoluta inutilidade (por diversas razões) e só me fazem perder tempo. Com duas agravantes. Uma, o fato de só poder estabelecer sua inutilidade depois de lê-las e, a outra, o fato de não ter como filtrá-las. Mesmo não contando com filtros, é infinitamente mais dispendioso administrar estas do que meia dúzia de MNS.

 

Por fim, selecionei algumas frases para contrapor com outras. Por exemplo: 

·      Ao indignado que disse “(...) o absurdo de ser inscrito em uma lista pela qual nunca mostrei interesse” eu perguntaria como ele imagina mostrar interesse por alguma coisa se impede que lhe comuniquem que as coisas existem?

·      E para quem me aconselha a perguntar “se querem entrar na lista ou se querem sair de uma lista na qual foram compulsoriamente incluídas” pediria esclarecimentos quanto à diferença prática entre uma e outra se não existe nem custo nem comprometimento envolvidos?

·      For the one who wrote me in english “Please unsubscribe me from this list, and NEVER subscribe me to a list without my previous authorization” I would say: Ok, but how to obtain your previous authorization?

·      A quem manifestou a opinião “Não vejo sentido algum também em se montar uma lista pegando um monte de endereços eletrônicos por aí” lembraria que o marketing direto se desenvolve no mundo atual, exatamente porque as pessoas querem que as empresas se informem mais e mais sobre em que tipo de coisas elas estão interessadas.

·      E imagine se você batesse à porta da casa de alguém e ela reagisse assim: “POOOOORRRRRAAAA! Desculpe pelo palavrão, mas estou devolvendo a agressão do mesmo modo que me senti agredido. (Falar titica na porta da casa dos outros sem permissão [sic] é agressão!!!)”

·      Mas a minha predileta (já adaptada) é esta: “Como você conseguiu o número do meu telefone? Por acaso eu te pedi pra me ligar?".

 

E antes que me torne inconveniente, vou-me, não sem antes render homenagem ao Daniel que captou a essência do que conversamos até aqui. Abrir uma caixa de correio eletrônico é como garimpar em rio. Você tem que ser paciente e estar atento para, do meio de muito cascalho, extrair algo de valioso.

 

URGENTE! URGENTE! Deu no St. Petesburg Times de 9 de dezembro: “No meio do ano que vem, os clientes das companhias [nos Estados Unidos] poderão fazer constar das listas telefônicas seus endereços eletrônicos junto com os seus números de telefone.“

 

Use o lema: não bata, debata. Faz bem à liberdade e à democracia.