EXPLICANDO
MELHOR
OU,
PELO MENOS,
UMA
TENTATIVA DE.
Dei-me conta de que o artigo da semana passada
deveria ter sido melhor escrito depois de três
mensagens que recebi. A primeira veio do Rubens Mário Mazzini Rodrigues
<rsf3298@pro.via-rs.com.br>. Disse ele: “É realmente intrigante a
dificuldade que as pessoas têm de se adaptar ao novo”. Será que é isso mesmo?
Sei não. Se isto fosse verdade, as dificuldades no aprendizado nos primeiros
anos de vida deveriam ser tremendas. Não são. O problema está na barreira que
se estabelece a partir de uma prática freqüente por um determinado período de
tempo, de um “conhecimento” qualquer. Hábito é automatismo. Reflexo. Não é
ação, é reação. Não fosse ele e nossas manhãs seriam uma fonte de estresse
tantas as decisões que teríamos de tomar. Bocejamos ou não bocejamos?
Espreguiçamos ou não? Banho agora ou no final do dia? Ou as
duas vezes? Tomo ou não tomo café? Hábito assumido, problema resolvido. Por
que, então, fraquejar minhas certezas com suas não testadas proposições? Esta é
a questão.
Estou lembrando de
uma antiga crença popular que, com certeza, sobreviverá ao século e ao milênio:
manga com leite. Haverá quem nunca tenha ouvido dizer que faz mal? O que é isto
se não o hábito preservado e transmitido, boca-a-boca,
por anos e anos a fio. Por que haveriam as pessoas de
questioná-lo? E se for verdade? Melhor assumir que faz mal, e pronto. Não se
pensa mais nisso. Não temos dificuldade em absorver o novo
mas somos quase incapazes de nos libertar do velho.
O Rubens também me alerta que “(...) Internet
já se tornou um hábito. Veja o caso do IRC.” Concordo. Para os jovens. Exceções
à parte. Qualquer plano de marketing que incorpore um objetivo de aumento do market share no
longo prazo vai começar por este público. Ele apresenta três vantagens: está
pré-disposto a novas propostas, não tem hábitos arraigados e, depois de
conquistado, será o consumidor conservador, avesso a mudanças, no futuro.
Já o Claudio Henrique Falcão
<CFALCAO@boavista.com.br> acha que hábito é coisa que se aplica mais a
serviços, pois produtos “estão mais expostos a outros tipos de relações
psicológicas”. Hummmmm! Eu diria que para
determinadas categorias de produtos, a formação do hábito passa por uma
estratégia de comunicação que apresente uma mensagem compatível com as
necessidades psicológicas dos indivíduos. Não fosse isso, a opção por Coca-Cola
deveria ser facilmente substituída por outra. Não é o que acontece. Prova é o
próprio argumento usado pelo Claudio, “(...) o caso da Coca-Cola que é um top-of-mind em
termos de refrigerante, perdeu muito de seu mercado nos USA quando a Pepsi
associou sua imagem ao Michael Jackson (...)”. A campanha teve efeito sobre os
jovens mas não sobre as demais faixas etárias. E mais. O contra-ataque da Coca
deixou a Pepsi em uma posição irrelevante hoje no mercado americano. Mesmo
depois do fantástico case de
insucesso proporcionado pela
heresia de mudar o sabor do produto.
Mas o Claudio me dá a oportunidade de tentar
corrigir meu texto quando me diz que “talvez seu amigo tenha mandado uma cópia
(...), simplesmente porque (inconscientemente) ele percebe (ou acredita) que o
artigo não chegaria ao seu conhecimento de maneira apropriada, (...).”
Certíssimo. O que eu não disse naquele artigo é que a formação do hábito depende
da facilidade do uso. Mas se não o fiz, foi porque o enfoque não era a
“formação” do hábito, mas a existência dele como fator de sucesso para qualquer
projeto de negócios. “Usei” o fato como eu o percebi e não como ele realmente
aconteceu. Por isso, em respeito ao autor, não o identifiquei. Eu poderia ter
inventado o exemplo como inventei a situação do telefonema. Mas, como tinha uma
situação já elaborada, usei-a. O que vale, é a mensagem de que o hábito é quase
um seguro contra a ação predatória de concorrentes. Fico, portanto, devendo um
artigo sobre “formação de hábito”. OK? ;-)
Mas o Claudio estava certo. A história não era
bem aquela. Com a palavra o autor do fato: “Navegar pelos sites da Internet
ainda é um procedimento lento e cheio de sobressaltos - com as desconexões da
Telerj. Assim, desenvolvi o hábito de salvar e imprimir coisas que me
interessam, sem lê-las antes na pequena tela do meu powerbook, pois a acuidade visual
diminui após os 40 ou 50 anos… Li o artigo a caminho do escritório e - lá chegando
- resolvi mandá-lo para você. Por incrível que possa parecer, era, realmente,
mais prático, fazer uma xerox
e pedir à secretária que o enviasse pelo correio, do que voltar ao computador,
abrir os files, fazer a conexão e
enviar o e-mail com o file anexado… Que remédio?” Fica a dica para todos os
assinantes desta lista.
Mestre, incrível não é você ter agido como
agiu. Incrível é ainda termos uma telefonia como a que temos. Incrível é não
poder aceitar o convite do Rubens para “quando tiver um tempinho” fazer uma
visita ao site dele. Tentei, mas as larguras de banda dos backbones da vida não me
permitem. Portanto, vou aceitar a sugestão que ele deixou no P.S.: imprime a página e manda pelo correio
. Por favor. :-(
Rio, 11 de janeiro de 1998