PARA : SUPLEMENTO INFORMÁTICA ETC.

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DE : PAULO FERNANDO VOGEL

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FENACONFUSÃOSOFT

 

 

 

UFA!

Finalmente chegamos, eu e um amigo, ao aeroporto. Nossa maratona paulista pelos corredores abarrotados da FENASOFT termina. O que vimos? De softwares e hardwares, muito pouco. Mas vimos muita, muita gente. Garotos ávidos por jogos eletrônicos, mocinhas e mocinhos conversando numa língua cheia de expressões estranhas como "lotus", DX, hertz, E-Mail, "workgroups", "up-grade", modem, slots, scan e outras "words" à fora; esposas deslumbradas acompanhando seus maridos terno-engravatados, orgulhosas da sua (dele) rápida ascensão em alguma carreira informata; assistentes, chefes, gerentes, supervisores, diretores de departamentos de venda de qualquer sofrimento, perdão, suprimento para facilitar(?) sua vida no mundo da informática tupiniquim ou, então, aplicando algum aplicativo em algum cliente-servidor menos "informado". Gente, muita gente. Gente tonta, embriagada, hipnotizada pelos sons e imagens da multimídia; gente preenchendo cheques na moeda mais real do planeta, com o valor da promoção de um software incrível que não servirá pra "néris-de-pitibiribas", porque a maioria deles não terá tempo de aprender a usá-lo porque precisará trabalhar mais, para ganhar mais, para comprar a versão mais nova daquele mesmo software, agora mais incrível do que nunca, mais psicodélico que nunca, mais... Uma profusão de gente numa grande confusão. Gente, muita gente. Se esbarrando uns com os outros, tropeçando em carpetes descolados, pegando folhetos à esmo ("em casa a gente vê"), passando e olhando para os estandes cheios de recepcionistas louras, morenas, feias ou bonitas, mas quase todas exaustas.  Gente passando e sonhando com o dia em que terão "por apenas R$ 1.999,99" um micro portátil, "levíssimo", o mais maravilhoso símbolo de status e de poder que já inventaram e ao qual ninguém, em sã consciência, pode resistir. Gente, muita gente. Gente comprando, gente vendendo: pai, mãe, filhos, primos e agregados. A família que vende unida, unida irá - lucros contabilizados, impostos sonegados -, guiadas pela vovó Stela, para merecida tournée pelo mundo Disney.

 

Os números corretos (que jamais serão divulgados) confirmarão: a 8ª FENASOFT foi uma loucura! Foi um choque maior que o do cometa em Júpiter. O mercado brasileiro de informática fervilha a 100 graus... Farenheit! Organizadores experientes de feiras e conhecedores do mercado levaram uma "calça arriada" da massa micreira e estão basbaques. Era quase impossível encontrar-se o final da fila para a compra de ingressos que serpenteava do lado de fora do pavilhão. Ingressos a 10 reais por cabeça! Feitas as contas, vai a mais de 10 milhões de dólares (para usar uma moeda mais conhecida) só de ingressos vendidos. A emissão de cartões magnéticos foi suspensa por absoluta incapacidade de emissão na velocidade necessária. O controle de entrada ficou resumido a se passar pela roleta com o cartão na mão, tal a quantidade de gente a entrar. Estandes com venda encerrada: fim do estoque.

 

Não vi quase nada. Andei por menos de 30% da feira. Exaustos, queríamos cair fora dali. Na imensa fila, nos cobraram R$ 20 (por cabeça) para fazer aparecer, magicamente, um táxi que nos levasse ao aeroporto. Recusamo-nos a ser tão descaradamente achacados. Fomos à pé por mais de 2 km. Por fim encontramos um táxi. Mas São Paulo às 7 da noite não é uma cidade. É apenas um descomunal engarrafamento. Perdemos o último vôo. Corrigimos o destino para um hotel na avenida São Luís. "Assim a gente volta lá amanhã e tenta ver mais um pouco". Que doce ilusão! Eu, depois de alguns empurrões, só consegui ver a demonstração de uma placa Fax-modem cheia de espertezas e... foi só. A meu amigo, com passagem, estadia e mordomias pagas pelo patrão, só restou elaborar uma boa desculpa para a relação custo/prejuízo do investimento realizado. Fenasoft, aqui vamos nós! Embora. Ou segmentam a próxima ou não voltamos nunca mais a qualquer fenaconfusão. Soft ou Hard. Prometo. E meu amigo diz Amém.

 

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Paulo Fernando Vogel

 

Em agosto de 2005