Senhoras e Senhores, Fim da Viagem

A voz que anuncia e nos pede pra descer do bonde é Steve Ballmer, presidente da Microsoft. Vamos à notícia conforme ela caiu na minha caixa postal:

“BALLMER, DA MICROSOFT: ACOES TECNOLOGICAS ESTAO SUPERVALORIZADAS CHEGANDO A NIVEIS 'ABSURDOS'

O presidente da Microsoft, Steve Ballmer, declarou ontem que os precos das acoes das empresas da area de tecnologia - inclusive os precos das acoes de sua propria companhia - estao supervalorizados chegando a niveis 'absurdos', numa serie de declaracoes que surpreenderam ate' mesmo os especialistas do mercado. Depois das declaracoes de Ballmer aos jornalistas, numa conferencia sobre tecnologia realizada em Seattle, ocorreu em todos os mercados uma verdadeira corrida para se vender acoes tecnologicas. (..) As declaracoes de Ballmer ocorreram justamente num periodo em que as acoes da area de tecnologia sao praticamente o unico setor do mercado que da' sustentacao 'as principais medias, ressaltam os especialistas. O diretor de estrategias de investimento da Wheat First Union, Don Hays, observou que Ballmer pode ter simplesmente estimulado um declinio ja' pre'-existente destas acoes, o qual e' resultado de niveis de interesse que prejudicaram os setores financeiro, varejista e de fabricacao de computadores.

(Investor's Business Daily  24 Set 99)”

Acho pouco. Pena que não guardei a fonte, mas li outro dia que a StarMedia em 98 faturou 5 ou 6 milhões de dólares e teve um prejuízo de ... 45? Qualquer um com um mínimo de vivência empresarial sabe que isto é uma irrealidade só possível pela conjunção de alguns fatores sendo, o principal deles, um momento especialíssimo da economia americana onde sobra capital para investimento. Sobra tanto, ou melhor, é tão fácil obte-lo, que os critérios para análise dos projetos são incrivelmente irresponsáveis.

Vamos a uma outra notícia.

“GRUPO GARTNER CALCULA QUE 75% DOS NEGOCIOS ONLINE IRAO FRACASSAR

A maioria das companhias que estao implementando projetos de negocios eletronicos nao compreende totalmente as tecnologias que estao por tras de suas estrategias e nem planeja de um modo adequado seus empreendimentos, assim sendo, 75% das iniciativas de implementacao de negocios online ('e-business') irao fracassar, de acordo com um relatorio do Grupo Gartner divulgado na ultima quinta-feira. (...) O relatorio do Grupo Gartner tambem recomenda que as companhias realizem uma extensa avaliacao antes de empregarem novas tecnologias com o objetivo de identificar se existe um objetivo comercial que as justifique. (...)

(InfoWorld Electric  23 Set 99) “

Penso que o Gartner não divulgou o número correto com medo de assustar o mercado. Acredito que 95% dos projetos de negócios na internet irão fracassar no médio prazo. Vou um pouco mais além. Uma certa impaciência começa a ser observada. As viúvas, que têm suas economias aplicadas nas ações da Nasdaq, estão sentindo um certo fedor no ar e começam a perguntar aos seus prepostos o que eles têm a dizer sobre as declarações do Steve Ballmer. O próximo passo será querer o seu de volta mas aí elas vão se dar conta que a papelada que elas querem vender vale tanto quanto jornal velho.

E as pretensões de alguns brasileiros querendo aplicar o mesmo golpe nas viúvas? Será que eles vão conseguir captar na bolsa de lá pra gastar nas furadas de cá? Eu não apostaria. Penso que perdemos o passo. Um ano antes o sucesso seria garantido, mas agora...

E que tal esta notícia?

“AMAZON DESPERTA PREOCUPACOES CADA VEZ MAIORES

Um numero cada vez maior de pessoas comeca a se perguntar se a Amazon.com ira' se tornar lucrativa ou uma grande decepcao. Acontecimentos recentes, como a diminuicao do numero de pedidos por consumidor, anuncios publicitarios ruins e a recente decisao de construir cinco novos depositos, acabaram por alimentar o ceticismo de alguns. As acoes da Amazon.com atingiram seu valor mais alto na primavera, com US$ 105, mas cairam para US$ 40 no verao. A receita por consumidor da Amazon.com caiu de US$ 47,07 no primeiro trimestre de 1997 para US$ 29,96 no segundo trimestre desta ano. (...) A Zacks Investment Research divulgou que 12 analistas de Wall Street avaliam a Amazon.com como uma compra de alto risco, seis a consideram uma aquisicao de risco moderado e quatro a classificam como uma aposta, um papel que não deve variar mais.

(Washington Post  24 Set 99)”

Muito mais esperto que o pessoal da Amazon foi (ainda é) o Jack, não o estripador, mas o London. Ele foi lá, viu, voltou, fez a BookNet virtual e a repassou por, dizem, 5 milhões de reais. Sem contar que agora ele é dono de 4 Booknets reais, com endereço certo, prateleiras e clientes que veem, pessoalmente, buscar os livros livrando-o de arcar com o custo de remessa. Mas, como eu disse, ele é mais esperto. Já lançou uma nova cópia, o Valeu, um site de leilões nos moldes do eBay. Mas será que vai existir um outro GP Investimentos pra ficar com o mico?

Pra terminar, vai esta:

“A INTERNET AOS 60 ANOS DE IDADE

(...) Allan Weis, presidente e chefe executivo da Advanced Network & Services, observou que ao mesmo tempo que e' impossivel adivinhar o que podera' ocorrer, muitos aparelhos fundamentais como o telefone, irao se transformar e serao substituidos pela Internet. (...) Don Heath, presidente e chefe executivo da Internet Society, resumiu o futuro da rede mundial de computadores descrevendo-a como onipresente e completamente integrada na sociedade. (...)

(Network World  20 Set 99)”

É isso, estamos chegando ao fim da viagem. Agora vamos poder olhar a Internet com menos utopia e mais utilidade. Deixar de imaginá-la como mídia. Não é. É meio. Meio de comunicação. Tecnologia. Igual telefone. Melhor: é o telefone melhorado, barateado, potencializado e agora com imagem. Exceções à parte.

Paulo Vogel

Rio, outubro de 1999