O FUTURO DEPENDE DO GÁS

Artigo publicado na revista INTERNET BUSINESS (nov/97).

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Artigo publicado na lista em 29/11/97.

 

 

A tendência de uma tecnologia revolucionária só pode ser imaginada fazendo-se um paralelo com o conhecido. E o que mais se parece com um computador conectado à Internet se não o telefone? Ambos servem aos mesmos fins: comunicação entre pessoas e transferência de informação. A semelhança é tão grande que no início da próxima década, 50% das comunicações do mundo deverão ser feitas através da Internet.

 

Devemos procurar, também, imaginar as prioridades dos usuários depois de curados do porre da navegação, digo, inovação. Numa economia globalizada, estabilizada, exigindo mais e pagando menos, eles vão usar a Rede mantendo distância do desperdício e proximidade com o máximo de eficácia pelo mínimo de custo. Mas na comparação com o telefone, a diferença (a mais) é o custo de acesso em constante processo de submersão, só deixando o lucro emergir em volumes cada dia maiores. Ser grande ou... grande  parecem ser as duas únicas alternativas.

 

Disponibilizar acesso é uma “commodity”, pouco se pode fazer para gerar um diferencial perceptível de qualidade. Fazer direito é o óbvio. Chama a atenção quem, uma hora aqui, um dia ali, fica “fora do ar”. Assim, o provimento de serviço é o valor agregado capaz de gerar outras receitas. Mas como a tecnologia é pública, o novo é a idéia, coisa que quem não tem, copia. Agregar valor, portanto, também depende de um marketing agressivamente criativo e da capacidade de acompanhar as inovações. Neste caso, o acesso se torna inseparável da prestação de outros serviços, exceção às companhias telefônicas,  para as quais ele é facilitador da receita de telefonia.

 

Tem mais. Comunicação sempre atrai grandes grupos. Além dos já estabelecidos e da entrada do SBT, outros tendem a chegar com ofertas ainda mais competitivas. Sem falar na Net/Multicanal  que só espera a inclusão de um “e” na legislação para oferecer sua assinatura incluindo o acesso à internet “a centenas de milhares de bits/segundo” como valor agregado. Enquanto isso não acontece, quantos anúncios do tipo “traia seu provedor” os pequenos ainda irão suportar? Mesmo com a redução de preços anunciada pela Embratel, será que ainda vai dar para repassar os espaciais custos das T’s (1, 2 ou 3)?

 

Isto não quer dizer que o negócio é inviável. A economia de escala cria a carência do artesanal, viabilizando serviços direcionados e exclusivos. Mas posicionamento e excelência não garantirão sobrevivência. Quem quiser permanecer no mercado, não pode esquecer que ele ainda é um negócio do futuro; que as receitas entram a 28.800 e as despesas saem a 1MB, ou mais; e que 98 tem tudo para ser um marco. Um marco separando vivos e mortos. É por isso que o futuro depende do gás. Do seu gás. Da energia do capital - financeiro e humano - necessária para sustentar em banho-maria um prato que só será saboreado daqui 2 ou 3 anos, prazo este, espera-se, suficiente para o ambiente ficar mais claro e mais estável.

 

Antes de se decidir por este negócio de alto risco, confira se você deve estar nele. Prover acesso aparenta ser irresistivelmente fácil e todos se sentem aptos a fazê-lo. Nestas circunstâncias, a concorrência vem de todos os lados. Como de uma nova tecnologia (entre muitas outras) que vai usar a rede elétrica já instalada para fornecer acesso a uma velocidade 10 vezes maior que por linha telefônica. Ou até das companhias de gás - por enquanto só as americanas - que estão vendo grande semelhança entre um PC e um fogão. Dizem elas que por onde passa a sua (deles) tubulação, também passa uma conexão. Prover acesso, é só uma questão de bombear bits em lugar de átomos. Será?

 

Aqui é Jack Palance, em “Acredite se quiser!”

 

 

Paulo Vogel

 

Rio, 29 de  novembro de 1997