OLHANDO PARA O TELEFONE

 

 

Pergunto-me por que, mais de um século depois, uso tão mal o telefone? Explico. Pelo telefone posso resolver a maioria de meus problemas cotidianos. Entretanto... Ainda saio por aí, de shopping em shopping, de loja em loja, perguntando se “você tem aí uma peça assim e assado, que eu não encontro em lugar nenhum?” E quantas vezes, neste finado 97, você consultou as páginas amarelas? Somos turrões. Primeiro vamos, depois, perguntamos. Esta lógica, no nosso dia-a-dia, ainda não conseguimos inverter.

 

Mas por outro lado... Alguém já questionou essa história de comprar livros pela Internet? Olhando para o telefone, pergunto por que as editoras nunca pensaram em vender livro... por telefone? O custo da ligação é de quem liga. Não há necessidade de loja. O consumidor não precisa ver nem “sentir” o produto. Paga pelo cartão de crédito. Recebe pelo correio. Tudo exatamente como na Internet. Minto. Melhor que na Internet. Mais fácil. Mais interativo. Mais barato. Muito mais barato que na Internet!!! A gente nem precisa comprar essa geringonça de 2 ou 3 mil reais! Fazer curso sobre janelas! Catar milho em teclado! Esbravejar contra a lentidão das conexões! Mas... compramos livro pela internet mas não por telefone. “E agora José?”

 

A mente humana percorre caminhos que mente alguma é capaz de compreender. Dia desses, um de meus mestres nos segredos do Marketing, com quem tenho trocado alguns emails, me envia, pelo correio, envelope tamanho oficio, timbrado, etiquetado e selado, alguma coisa que, com propriedade, achou ser do meu interesse. Abro-o e encontro 3 folhas impressas com... páginas de um website!

 

Ainda escrevo um livro, “O hábito faz o monge”. Não. Isso é ditado popular. Mas que ditado!!! Meu caro Mestre, não entendi. Quer dizer que, do alto de suas experiências (ou será por isso mesmo?), navega pelo site do New York Times, encontra matéria de meu interesse, tem a pachorra (alguém ainda usa esta palavra?) de imprimir 3 páginas em cores, gasta a tinta de seus “cartridges”, envelopa, endereça, entrega à sua secretária que entrega ao contínuo que leva ao correio que, depois de sabe-se-lá-que-caminhos, chega aos escaninhos da portaria de meu prédio? O que o terá impedido de substituir este “arcaico” processo de comunicação por um simples email dizendo: “Caro Paulo. O assunto na URL abaixo, pode ser do seu interesse. Abraços.” Só o hábito explica.

 

Volto o olhar inquiridor para o telefone. O que vai ser a internet? Qual será “o” papel deste meio de comunicação de múltiplas utilidades? Quando vai ser esta Internet?  Quantos anos, quantas décadas passarão antes que ela seja o que hoje ainda não é o telefone? Quantos milhares de vezes terei de usá-la até que, usá-la, seja um hábito? Penso que não vamos viver para ver. É realidade para as próximas gerações.  Não é que não sejamos capazes de lutar contra nossos velhos hábitos. É que temos remotas chances de vencê-los.

 

Prova de que luto são alguns extremos que cometo. Semana passada, enviei email para uma pessoa. Dois dias depois e nada de resposta. Ansioso, telefonei. “E aí, recebeu meu email? (...) Não!? (...) Ah! Sei. Ainda não teve tempo de baixar as mensagens da sua caixa postal. (...) Vai fazer isto hoje? (...) Então amanhã eu te ligo pra gente conversar sobre o assunto. (...) Que assunto? Lê o email primeiro.” :-(

 

Você, com razão, há de estar se perguntando: o que isto tem a ver com internet marketing? Muito. Eu diria que o hábito é o determinante do sucesso ou do fracasso de qualquer produto ou serviço. O hábito em consumir uma marca - o exemplo mundial é o da Coca-Cola - pode impedir o sucesso de uma concorrente - a Pepsi -, por mais esforços de comunicação que ela faça. Na Internet, isto é crucial. Qualquer que seja o negócio que se imagine fazer através de um website, ele só será economicamente viável quando, acessá-lo, se tornar um hábito para um determinado contingente de usuários. Na Internet, o hábito faz o site. Fora, ele faz fortuna.  Dicas de como proceder é só procurar por um tal de Bill Gates, numa empresa chamada Microsoft.

 

 

Rio, 4 de janeiro de 1998