INFORMÁTICA E INTERNET

A proximidade que as separa.

 

 

 

Os cidadãos de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, já estão interessados em Internet, foi o que deduzi da proposta “o que você acha de ter uma coluna exclusiva” que me foi feita, semanas atrás, por um jornal da cidade. Aqui em casa, minha mulher já troca a passividade televisiva por uma Web-hora de navegação ativa. Até minha mãe entrou na onda e passou a chamar suas receitas culinárias  de “cookscript”.

 

Se por trás de uma tela de PC correm bits na matemática imprecisa dos chips da Intel, à sua frente fluem imprecisas emoções humanas causadas pelas imagens captadas numa viagem ciberespacial.

 

Com esta introdução, quero chamar a atenção das empresas de informática que, envolvidas em seus problemas diários,  podem não perceber a velocidade com que as pessoas estão absorvendo a Internet e para a diferença conceitual entre ela e a informática. Na Internet os desvios in/condicionais dão lugar a links in/previsíveis; a lógica estruturada e chata dá lugar a uma anárquica e estimulante seqüência; a espera da compilação sem erros é substituída pela expectativa da página graficamente bem elaborada.

 

Enquanto informática é pura computação, Internet é pura comunicação. Enquanto aquela é usada pela razão, esta tem seus caminhos escolhidos pela emoção. São conceitos opostos que pedem mentes opostas, com conhecimentos diferentes.

 

Esta nova tecnologia com base na informática criou uma nova mídia e esperar que os profissionais de uma conduzam a outra, é o mesmo que imaginar técnicos em tubos de imagem se responsabilizando por uma emissora de televisão.

 

A interferência que a tecnologia provoca sobre seu uso e este sobre ela, vem causando grandes transformações. A indústria de hardware está sendo levada a redirecionar rapidamente sua produção para atender à demanda provocada pela nova tecnologia. As empresas de desenvolvimento de aplicativos têm, agora, que reavaliar seus produtos inseridos num ambiente em que a interface é um browser. O público usuário de seus produtos não é mais o técnico em informática ou o auxiliar de escritório devidamente treinado em um aplicativo. As intra e extranets exigem que os aplicativos tenham que ser revistos, reescritos, adaptados, para que possam ser usados por qualquer pessoa capaz de tomar uma decisão entre dois caminhos e clicar sobre o botão correspondente.

 

A tecnologia internet, a meu ver, torna, de certa forma, ultrapassada a discussão sobre programação orientada a objetos. Qualquer dona-de-casa com um cursinho de html cria uma página com os conceitos básicos de POO. Entra em cena a programação orientada a usuário. Os aplicativos bem sucedidos, daqui para frente, deverão ser os que se adequarem a este novo conceito, como bem percebeu Bill Gates e os que já viram seu novo browser Internet Explorer 4.0.

 

Neste contexto, perguntas precisam ser feitos. Estão as empresas de informática preparadas para as mudanças de paradigma nos nichos de mercado em que atuam? Se sim, estão aptas a lidar com elas? Que novas parcerias elas deverão fazer para agregar técnicas de marketing e comunicação já que o uso está baseado na contínua geração de estímulo? Qual o peso do design nos projetos de novos aplicativos? E muitas outras.

 

É muito natural pensar em internet como uma extensão das atividades do setor de informática. Mas nada é tão perigoso de se pensar, pois o que aparenta ser o elemento de aproximação é, exatamente, o que as separa.

 

 

Paulo Vogel

Consultor, escreve para a revista INTERNET BUSINESS e  publica artigos na lista

INTERNET MARKETING

pvogel@mtec.com.br

http://www.sendme.com.br/pvogel/

 

Em junho de 1998