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Perdão, mas não
posso lhe revelar o título do artigo. Esta é uma informação sigilosa e o acesso
por pessoas não autorizadas significa invasão de privacidade. Caso você tenha
se cadastrado, informe seu login, user-id, nome de usuário, apelido, codinome, ou seja lá como o espírito de porco de plantão resolveu
nominar, depois dê sua senha (antes verifique se a luz de caps lock está acesa).
Usar a web é um
saco! Complicar, esta é a palavra-chave. A improdutividade é a regra básica. Os
pré-requisitos para o uso da Internet formam uma lista respeitável de
habilidades. Primeiro, evidente, um curso de digitação. Depois, cursos sobre os
principais softwares do mercado. Depois algumas seções de analise para configurar
corretamente o seu cérebro com o significado da combinação CTRL+SHIFT+ALT+F99
em cada um daqueles softwares. Bem, agora você já pode acessar a grande Rede.
Configurou seu dial-up? E o Pop? Você não tem a mínima idéia do que seja isso?
Volte 3 casas e inscreva-se em cursos de Internet. Tem
para iniciantes, intermediários e usuários avançados. Faça todos. Você
continuará a ser um idiota completo mas com vários
diplomas na parede.
Habilitado? Isso é
o que você pensa. Vamos ver seu inglês. Aprendeu de ouvido, que nem violão? Você
entende tudo, mas não tem a menor idéia de como se escreve? Não serve. A
Internet é (e vai continuar a ser por muito tempo) uma mídia textual. Há que
ser bom de leitura e escrita. Se sua ansiedade for muito grande, faça um super-intensivo, aulas diárias. (Parêntese para donos de cursinhos:
lançar curso especial de "Inglês para Internautas", vocabulário
específico, bate-papos em chats, etc.)
Agora sim, com o
teclado na ponta dos neurônios, o inglês na ponta dos dedos, só falta mesmo
sair por ai metendo a ponta do pé nos portais. Então, prepare-se. Escolha um login e uma
senha. Para sites mais exigentes, mantenha por perto um endereço fictício, por
exemplo, Rua Que Sobe e Desce, s/n. E mãos ao mouse.
O quê? Você tem uma
senha de 5 caracteres e o seu portal exige uma de 8?
Nada além de um pequeno incômodo. Alongue sua senha. Conseguiu? Você está indo
muito bem! Outro site. O quê? Este exige que a senha tenha caracteres
maiúsculas e minúsculas? Confesse, com essa você não contava, é ou não
é? Mas não há de ser nada não. Alterne. CaIxA
aLtA, cAiXa BaIxA que tudo vai dar certo. Feito? Vamos para o próximo.
O quê? Este exige mistura de letras e números? I don't believe!
É, a coisa está começando a ficar cansativa, concordo.
Quantas senhas você já tem? Mais de dez? Perdeu a conta? Você não é o único.
Ah! Mas este novo site tem um campo de "dica" para você colocar uma
informação que lhe ajude a lembrar da senha? Muito boa essa. Coloque lá: senha
de 8 letras, caixa alta e baixa, misturando números e
letras. Provavelmente você vai estar se perguntando pra que serve uma senha se
tem dica pra descobrir qual a senha. Mas não deixe essa questão tirar seu sono.
Apenas finja que dois e dois são 5 e que a vida é um
Oscar, digo, é bela.
A última das minhas
experiências foi proporcionada pelo meu Banco do Brasil Varonil. Alguém que cuida
dessas questões de Internet, achou por bem fazer uma
análise da sua senha. Eles mandam você ir a um terminal para configurar seu
acesso pela Internet às "facilidades" que o banco oferece. E pedem
uma senha. O que faço eu, você e a humanidade? Dá a senha de sua conta corrente, certo? Pra quê inventar, é ou
não é? Não é. Pra começo de conversa a senha da conta corrente tem 6 caracteres e a do acesso pela Rede tem que ter 8. Você
aumenta sua senha, certo? Errado. O sistema responde que sua senha foi vetada
porque é muito... óbvia! Aí, o que faz você?
Alternativas:
a) Quebra aquela
merda toda e sai triunfante sob os aplausos dos aposentados na fila do caixa.
b) Desiste e sai
derrotado, cabisbaixo, se sentindo o mais imbecil dos indivíduos;
c) Pede a ajuda daquela
estagiária de camisa amarela que está batendo papo com um estagiário de camisa
amarela, ambos sem o menor interesse em lhe ajudar em coisa alguma.
d) Digita a senha
de trás para frente. A minha, a sua, a nossa opção é pela alternativa
"a", evidente. Vai chegar o dia, mas ainda não foi desta vez. Eu
optei pela alternativa "d", aparentemente, a mais improdutiva. Pois
não é que funcionou e o sistema aceitou minha nova senha? O gênio que bolou a
tal rotina de teste acha que a minha senha da esquerda para a direita é muito
óbvia, mas da direita pra esquerda não!!!
Eu gostaria de
poder desistir. Sair desse mundo turbulento. Esperar até que tudo se assente,
se acalme, se estabilize. Mas não dá mais. Não posso mais passar sem esta
maldita. Não trabalho sem ela. Não me informo sem ela. Não converso sem ela.
Até para transar preciso dela. Que coisa, hein?
Então, já que sou
um dependente, um viciado irremediável, oro aos deuses para que eles se reúnam
e estabeleçam um acordo geral e irrestrito para que nossa senha seja válida em
todo e qualquer
domínio. E' pedir demais?
Paulo Vogel
(*) "A Senha"
Rio, julho de 1999