UM GOLPE MUITO "UP"

 

      Nem dá pra dizer que a coisa é nova, afinal de contas, comecei minha  vida profissional como programador, lá pelos idos de 1970. Éramos tri: programávamos em ASSEMBLER, FORTRAN e COBOL. Mesmo assim, ainda não tirei retorno prático de um micro computador no âmbito doméstico.

            Se não vou pro divã é porque não sou caso isolado. Muito pelo contrário. De amigos a desconhecidos, todos os que caíram no conto do PC (Ôps!) se encontram em estado de revolta total. Os mais conformados simplesmente assumem o prejuízo e largam o dito em algum lugar da casa, sob protestos veementes da mulher. Desfazer-se desta maravilha da tecnologia é que não. Onde já se viu! Outros, escondendo a própria frustação, assumem o papel de pais modernos (interessados em aproximar seus pinpolhos da caneta do futuro) e deixam a ingrata tarefa para as crianças. Os mais radicais vão às vias de fato e simplesmente esmurram teclados, monitores e hard disks, transformando suas máquinas de modernidade em sucatas 0km.

            Tudo começa quando, a partir das frustrações iniciais, descobre-se que tem alguma coisa errada nessa história. Atualizar uma agenda telefônica é um processo absolutamente débil mental quando comparado com o uso de uma Palm Top qualquer que, por menos que o tempo de "boot", faz toda a operação, além, evidentemente, de caber no bolso da camisa. É aí que o sujeito se pergunta em que a geringonça vai ajudá-lo. 90% dos computadores domésticos não servem pra nada (não considerar joguinhos - um micro de mais de U$ 2.000 não foi feito para ter este cruel destino!).

            Que Capitão Gancho moderno já não impressionou alguém com as maravilhas das ferramentas do Corel Draw ou seus similares!? E qual deles não se fez a inevitável pergunta: pra quê que eu quero isso se sempre tirei zero em desenho, não tenho coordenação motora e muito menos U$ 10.000 para comprar uma impressora laser capaz de reproduzir todo esse milhão de cores?

            E as cartas? Ah, as cartas! Antes dos Words (perfeitos e imperfeitos), minha secretária, em minutos, transformava meus rascunhos em folhas impecavelmente datilografadas. E agora? Agora ela ainda não conhece as nuances do meu software e assim, lá vou eu pro teclado, com ela ao meu lado, só olhando, para um dia, (quem sabe?), aprender a reconhecer esses "ícones", não sem antes aprender o que seja ícone. Por trás do ombro, o chefe com cara de não-é-pra-isso-que-estou-lhe-pagando.

            Resultado: apenas 10% - os "micreiros" - fazem uso da máquina, não de modo produtivo. Uma pesquisa já mostrou que as pessoas gastam, por semana, em média, 5 horas e meia reconfigurando suas máquinas. Acho pouco. Eu gasto  mais. Experimente cronometrar as suas perdas pessoais nesse mundo de janelas sem porta de saída! Acrescente deleções, mudanças de diretório, "upgrades" (eles são intermináveis!), cópias de segurança etc. e você tem sua mulher pedindo divórcio. É por essas coisas que os restantes  90% simplesmente querem pegar de uma marreta e...

            As razões para isso são simples, mas as consequências, desastrosas. A velocidade evolutiva do hardware tem sido estupidamente maior que a do software. Ou será o inverso? Seja qual fôr, nós continuamos sendo usuários manipulados, presas de nossa própria cobiça.  Faz pouco mais de 1 ano, uma revista especializada dava o 386-SX como  a "máquina dos anos 90"!? E já querem me empurrar o DX4! É mole?

            O Bill Gates pensou em imprimir dinheiro, mas depois descobriu que criar aplicativos que só rodam sob determinados outros aplicativos, era muito mais lucrativo e não dava cadeia. E está nos aplicando um novo golpe a cada dia. Só uma nova abordagem na concepção de software será capaz de fazer do micro um eletrodoméstico como outro qualquer. Enquanto uma dona de casa não puder olhar para um teclado e enxergar alguma coisa diferente de CTRL, ESC e SCROLL LOCK, nada feito. Apesar de óbvio, parece ser uma tarefa impossível de ser realizada.

            Consequência? Ninguém entende nada. Novas arquiteturas, novas linguagens (ou velhas de roupa nova), novas planilhas, novos gerenciadores de bancos de dados, novos, novos, novos. Quem foi que disse que em terra de cego quem tem um olho é caolho? Ói nós nas mãos de picaretas que nos cobram por hora e em dolar.

            Junte as dinâmicas "hard & softwarenianas" e você não tem a quem recorrer. Ou tem que recorrer a gurus diferentes, já que cada configuração é uma configuração. Mas você, que não é nenhum bicho do mato, tem lá seus amigos "entende-tudo-de-micro" a quem liga quando aparece a mensagem: "Fault error writing drive C. Abort, Retry, Fail?". A resposta é, invariavelmente, uma lista de "Pode ser..." seguida de um "Só eu testando", acrescida do "trás aqui no sábado de manhã". Na segunda vez que você liga é no desespero. Você deu de cara com: "File not found".  Isso não se faz! Pior, já tá feito! E lá vai você pro seu guru novamente. Mas ele te tranqüiliza. "Você ainda não conhece o fantástico "UNDELETE"? Você não criou novos arquivos nem copiou nada depois do fatídico "Delete", não é!?" Criou. E, apesar das muitas advertências, ignorou esse tal de becápi. O seu guru nada pode fazer. E você descobre que, além de incomodar guru (desta vez ele não atendeu com tanta simpatia), você tem mesmo é que aprender a se virar nessa escuridão do ambiente DOS. Dói!

            Bom, você já perdeu a mulher, agora é a vez do emprego. As suas olheiras vão denunciá-lo a seu chefe. É óbvio que ele não vai acreditar que é apenas intoxicação de WINDOWS, PCTOOLS, 1,2,3 e... rua. Que saudade do tempo em que você era  um executivo dedicado e eficiente (ganhou até elogio na festa de fim de ano), uma esposa apaixonada e os melhores filhos do mundo! Mas na Terra de Micro-Oz tem uma palavra mágica que reverte tudo ao passo anterior: UNDO!!! E você está de volta ao instante em que abre a mala e desembrulha a mãe (a placa), com a péssima intenção de montar o seu contrabandozinho de nada, "com a ajuda de um cara que trabalha lá na firma". O último amigo meu que fez isso despejou 2.000 verdinhas num kit com placa bichada. Há 1 ano e meio tenta trocar a dita. Que se há de? Eu bem que avisei.

            Não sei onde vamos chegar mas, com certeza, temos que sair deste non-sense. E para que não nos sintamos mais tão manipulados pelas "big softs", aqui vai uma sugestão/reivindicação: "upgrade" só pode ter o custo do meio físico mais o custo do processo de copiagem, e só. Ou então, tudo fica como uma grande "up-picaretagem". Só então a indústria de software terá moral para exigir menos pirataria.

            Isto tem algum sentido ou é um "Data error reading drive C"?