PESQUISA EM MÍDIA

OUT-OF-HOME

O Instituto Datafolha vem oferecendo ao mercado há mais de 4 anos um produto denominado Datafolha Cidades sem ter obtido, até hoje, uma aceitação consistente quer entre anunciantes, agências e, principalmente, entre exibidores. Desde as primeiras informações que tivemos do produto, visualizamos a dificuldade de aceitação pelos agentes do mercado.

 

O produto tem alguma validade, sem dúvida. Mas de nossa parte, temos outras prioridades. Estamos muito mais interessados em ter mecanismos de aferição rápida e confiável de volume de tráfego. O que mais gostaríamos de ter é um sistema de qualificação da visibilidade que nos permitisse comparar diferentes localizações, com diferentes formatos, com diferentes preços, válido para aplicação em qualquer cidade do Brasil. Porque isto é mais urgente. É mais prático. Porque esses números responderão à velha e simples pergunta que os clientes nos fazem toda vez que apresentamos uma oportunidade qualquer de mídia OOH: “Esse local é bom?”

 

Na mídia exterior as decisões precisam, em primeiro lugar, ser empíricas, porque as variáveis são muitas e só a observação e a experiência dão informação confiável. Mas isso necessita de gente especializada. Que respire mídia exterior. E é com base no que coletamos desta experiência diária que estamos desenvolvendo ferramentas para colocar o que é empírico em números. Isto custa caro, leva certo tempo. Mas esta é a nossa prioridade.

 

O software do Datafolha tem muito mais utilidade para o departamento de marketing e vendas de grandes empresas do que para a tomada de decisão em mídia OOH. Basta ver o próprio exemplo que eles utilizam nas apresentações:

 

Cliente: lojas de artigos femininos

Objetivo: Detectar qual o melhor distrito para abrir mais uma filial e após [ou seja, agregadamente, o grifo é meu] a instalação do novo ponto planejar mídia exterior nas cidades.

 

Além dos dados de perfil da população podemos analisar os dados de geradores de fluxo – denominação dada pelo Datafolha a estabelecimentos que provocam deslocamento de pessoas. Hoje os geradores disponíveis são: Bancas de jornal, agências bancárias, casas de show, cinemas, escolas particulares e públicas, flats, hotéis, estações de metro e de trem, museus, parques de diversão, postos de gasolina, restaurantes, shoppings, supermercados e teatros. Em grande parte dos casos já estão disponíveis as bandeiras de estabelecimentos comerciais.

 

A base de dados utilizada para a composição do perfil do Datafolha Cidades é consolidada a partir do banco de pontos das pesquisas do Datafolha, uma das mais valiosas contribuições técnicas do instituto ao meio. Há vinte anos, estudos sobre o perfil das pessoas que circulam pelas ruas de várias cidades do país ditam o desenho amostral, a definição de cotas e a distribuição de entrevistas da maioria dos projetos desenvolvidos pelo Datafolha, inclusive pesquisas de opinião e eleitorais.

 

Vocês têm dados quantitativos de dispersão de audiência no intervalo comercial? Vocês comparam a dispersão do Jornal Nacional com a dispersão na novela III? Pois é isso que o Datafolha está tentando vender.

 

É, portanto, um produto para gerar ganho marginal. Não nasceu das necessidades da mídia exterior, mas da necessidade dos serviços de pesquisa de opinião que o Instituto vem prestando há alguns anos. O interesse é potencializar a receita através da aplicabilidade das informações sobre movimentação de pessoas nas ruas da cidade de São Paulo. Para a mídia exterior, ele é totalmente falho.

 

Em segundo lugar, foi mal formatado porque pretensioso. O Datafolha, que poderia ter se limitado a oferecer o que tinha, ou seja, disponibilizar dados qualitativos e quantitativos (por projeção) sobre movimentação de pessoas optou por desenvolver um software-panacéia para o planejamento de mídia sem agregar os parâmetros fundamentais do meio. Construíram um monstro inacabado que só cria confusão e, quando testado, só consegue levantar suspeitas sobre as respostas que dá.

 

Em terceiro lugar e conseqüência direta do item anterior, a forma inicial de comercialização foi totalmente rejeitada pelo mercado. Eles pediam um absurdo, em condições absurdas, sem oferecer qualquer garantia de continuidade (p. ex.: quando estariam disponíveis dados de outras capitais e a que preço seriam disponibilizados).

 

O produto do Datafolha interessa ao mercado? Sim. Interessa a todos os agentes? Não. Estas informações são valiosas? Sim. São prioritárias? Não.

 

Quem está interessado em saber qual a perda de audiência no intervalo comercial?

 

Quem quer saber que na faixa etária acima dos 60 a perda de audiência é maior em função da maior incidência de incontinência urinária?

 

O que querem são argumentos para defender seus produtos comparativamente a seus concorrentes diretos. Querem poder dizer que “o meu painel é mais caro porque é melhor, e é melhor porque está mais bem posicionado, tem melhor visibilidade, apesar de estar em uma via com 10% a menos de tráfego”.

 

Anunciantes querem ter a certeza de que o preço que estão pagando é competitivo com as demais alternativas de solução para um dado problema de comunicação. Se é ou não o melhor espaço, é uma informação que lhe chega muito mais barata e fácil de modo empírico. Gráfico de vendas é muito mais crítico para a decisão gerencial do que a pesquisa mais completa e complexa que se possa fazer. O que ele vê quando circula pela cidade, lhe dá muito mais informação sobre o que deve ou não fazer do que pesquisas cheias de ruídos.

 

Agências querem credibilidade, agilidade e eficiência na logística de compra e distribuição de mídia out-of-home. Querem ter uma razoável certeza de que seu cliente não será alvo da ira do poder público por uma ação que eventualmente fira a legislação. Querem ter certeza que de que a qualidade da produção será fiel ao layout e à arte desenvolvidos. Querem dormir tranqüilos porque os exibidores são absolutamente corretos na prestação do serviço que oferecem.

 

De que me adianta saber que 23% das pessoas que precisam de algum meio de locomoção para o trabalho passam, em média 2 horas e 3 minutos no trânsito (entre ida e volta) se o meu painel não é visto porque a dimensão não é compatível com a distância de visibilidade, ou se está posicionado paralelamente à via?

 

De que me adianta saber que bancos têm uma propensão a utilizar topos de prédio enquanto escolas utilizam mais adesivo em vidro traseiro de ônibus, se o meu cliente não é nem banco nem escola ou se meu cliente é um banco, se o que tem de mais alto na cidade é a torre da igreja?

 

A mídia exterior não precisa de pesquisa. Precisa de números relativos a tráfego, em primeiro lugar. Precisa de medições para se estabelecer como o consumidor processa a informação captada repetidamente no meio exterior. Informação esta que em grande parte das vezes é tão-somente a marca do anunciante.

 

Quem, com alguns anos de experiência em comunicação, questiona o poder da televisão? Do rádio? Da mídia impressa? Que profissional de mídia aceita ouvir argumentos com base em pretensas pesquisas que demonstram que o recall de busdoor é maior que o de televisão?

 

É razoável supor que cerca de 50% da população do Rio de Janeiro vem ao centro, pelo menos, 1 vez por mês. Considerando que quem vem, vai, uma mensagem exibida em um painel dupla face será visto 24 vezes em um ano. Considerando que o centro do Rio tem 3 vias de acesso (Av. Brasil, Aterro do Flamengo e Presidente Vargas), posso imaginar que com 3 painéis dupla face eu tenho cobertura e frequência. Você apostaria nisso?

 

A complexidade de medição de audiência da mídia exterior é incomparavelmente maior que a medição de TV. Enquanto esta tem um formato definido, um modo de exibição único, um espectador com comportamento previsível de passividade, na mídia exterior nada é padrão: localização, formato, tamanho, altura, iluminação, posição em relação ao tráfego, atratividade e impacto do leiaute, qualidade da impressão, agilidade da manutenção, rotatividade de material e tempo de exposição.

 

O engarrafamento é muito mais importante para a mídia exterior do que se tem coragem de admitir. Uma empena em área residencial das classes AB é tão mais desejada pelo anunciante quanto rejeitada pelo poder público.

 

O primeiro passo é fornecer medição de tráfego pontual, obtida com base em um modelo de comportamento padrão de movimentação diária da população de uma cidade, de modo a nos permitir comparações entre ruas de diferentes propósitos viários e entre ruas de cidades de diferentes tamanho e formatação urbana. Se os agentes (anunciantes, agências e exibidores) puderem contar com isso de forma rápida e confiável, teremos dado um gigantesco passo. Se for útil, se for economicamente viável, a Altermark irá fazer. E se nós não fizermos, é porque nem isto interessa.

 

 

Paulo Vogel

 

Rio, 2006