O QUE
HÁ SOB AS TOGAS?
Em 5 de setembro de 2021, na expectativa do dia 7
quando brasileiros irão às ruas exigir obediência à Constituição e respeito à vontade
soberana do povo, eu, um cidadão preocupado com o país que vamos deixar para
nossos filhos e netos, busquei na Grécia antiga, o berço da democracia,
inspiração para gravar uma mensagem na esperança dela ser compartilhada e
chegar até o Monte Olimpo[1].
Eis a mensagem:
Oráculo[2],
ó Oráculo! Diga-nos quem há sob as Togas?
Serão Deuses? Seres de outro mundo? Humanos? Mitos?
Mulas sem cabeça? Diga-nos ó venerável Oráculo!
Apelamos à tua excelsa autoridade para dizer aos cidadãos
brasileiros, tão humilhados por uma justiça canhestra, o que há Oráculo! sob as
Togas tão cuidadosamente colocadas sobre os ombros destas incompreensíveis e
irreconhecíveis “Supremas Entidades”?
Esclareça-nos ó grandíssimo Oráculo! Que poder
tem a negra Toga de transformar em vis déspotas aqueles que juraram lutar pelo
Direito, pela Justiça cega, pelos bons costumes e pela segurança do País!?
Diga-nos Oráculo, pois estamos perdidos nas
trevas do conhecimento. Só tu, Oráculo dos Oráculos, pode nos salvar da
ignorância, pois és o único autorizado a consultar as divindades do Olimpo e obter
as respostas que iluminarão as trilhas da vida que sempre temos de percorrer!
Por Zeus, o protetor da justiça, a quem todos os
Deuses chamam de Pai, pergunta-lhe Oráculo, quem são os que sob as Togas se consideram
tão superiores que querem “empurrar a história”, “editar a nação”, cancelar
perfis, impedir a auditoria de urnas eleitorais, bloquear rendas do trabalho
honesto, e determinar o que podemos falar e o que devemos pensar e acreditar?
Oráculo, ó Oráculo! Estão eles temerosos de serem
despojados de suas Togas protetoras? Será que desnudados desta fantasia
alegórica, oligárquica e intimidadora, sejam expostas manchas de falcatruas
sórdidas, marcas de malfeitos jurídicos, urticárias de conchavos espúrios,
pintas de atos moralmente condenáveis e cicatrizes de sentenças injustas? Ó
Oráculo! O que tanto protegem com arrogância, intensidade e fervor?
Oráculo, ó Oráculo! Descubra quem permite que
dois ou três Togados, em prol de blindarem seus atos pretéritos de uma
investigação policial, possam raptar e manter em cativeiro intelectual mais de
210 milhões de brasileiros, talvez exigindo como resgate, a garantia de que
jamais serão julgados e punidos!?
Rogamos Oráculo tua tolerância e benevolência para
com nossas lamuriantes angústias, porque, ó Oráculo!, temos o direito de saber
a quem veneramos por medo, respeito ou servidão. Só tu, Oráculo!, Que habitas o
cume de todo o saber, que conheces e pratica todos os princípios morais, só tu
podes nos acudir! Revela-nos, pois, a realidade por trás das narrativas, pois elas
encobrem as reais e inconfessáveis intenções!
Se preciso Oráculo, recorras novamente a Zeus, que
derrotou Cronos, Rei dos Titãs, para obrigá-los a confessar o que nem mesmo nossa
mais pérfida e maldosa imaginação pode supor. Oráculo dos Oráculos! A quê
atribuir os mais de 100 atos inconstitucionais contra um Presidente
legitimamente eleito por 58 milhões de eleitores!
Ó Oráculo! Faça com que os que lançam rótulos cheios
de ódio contra os que clamam por um Brasil melhor para todos, peçam perdão por
tanta ganância, tanta vontade de poder absoluto, desejos tão fortes que
repousam guardados a sete mil chaves no fundo de suas almas!
Oráculo, ORÁCULO! Que futuro o futuro nos
reserva? Como acreditar naquela Ungida Togada que nos deu a alvissareira garantia
de que o “cala-a-boca já morreu”, se seus pares, por tantos meios, nos tentam
calar com acusações, ameaças, inquéritos do “fim-do-mundo” e prisões arbitrárias?
Ó Oráculo! Como podemos dormir o sono dos justos
quando no vocabulário de uma nova língua, um governo democrata e intransigente
defensor do livre-arbítrio, é acusado de antidemocrata, de tirano, de fascista,
de genocida, enquanto é impedido de governar por ações de “Supremos Togados”
que ultrapassam os limites de suas funções? Ó Oráculo, e o que são estes tantos
sem argumentos que se agarram na cínica e hipócrita tática do “acuse-os do que
você faz, acuse-os do que você é”!?
Como aceitar, Oráculo, que aqueles que vestem a
negra Toga cerceiem a liberdade de expressão, este que é o maior valor da democracia,
sob o argumento de agirem em defesa do Estado democrático de direito? O que
agora significa “direito”? Como, Oráculo, como entender tão evidente distúrbio
cognitivo?
Por fim, Oráculo, magnânimo Oráculo! Como enfrentar
a recente criação do Programa de Combate à Desinformação[3],
um autêntico “Ministério da Verdade Absoluta”, inspirado e com os mesmos
propósitos do Departamento de Imprensa e Propaganda[4],
da ditadura Vargas, e da Polícia Internacional e de Defesa do Estado[5],
da ditadura de Salazar, “programa” este que além de pretender eliminar a
oposição ao “Supremo Tirano” no poder, nos divide em três classes de cidadãos: os
que deverão se abster de expressar suas opiniões; os que não abrirão mão da
liberdade de crítica e opinião; e, por fim, aqueles que na nova língua (onde o
que não é, é, e o que é, é o que eu quero) serão alfabetizados e treinados para
exercer a servil função de olhar, vigiar, vasculhar, censurar, apontar e checar
tudo que fluir pelas redes sociais, com a obrigação de denunciar aqueles de nós
que ousarem propagar “verdades inconvenientes”[6].
Obrigado
pela sua atenção. Dia 7, todos juntos no grito pelo direito inalienável de
sermos livres e independentes!
[1]
Olimpo - Na mitologia grega o monte Olimpo é a morada dos principais
deuses do panteão grego. No Olimpo habitavam Zeus e os demais deuses gregos.
Sabe-se que Gaia, a Mãe-Terra, foi quem deu origem aos Titãs que fizeram das
montanhas gregas, inclusive as do monte Olimpo, seus tronos, pois eram tão
grandes que mal cabiam na crosta terrestre.
[2]
Oráculo – O termo é atribuído a um objeto ou meio pelo qual alguém possa obter
respostas para um esclarecimento ou compreensão maior sobre algo. O
termo designa tanto a divindade consultada quanto
o intermediário humano que transmite a resposta, e se refere
ainda ao lugar sagrado onde a resposta é dada.
[3] PCD –
Programa de Combate à Desinformação, recém criado pelo STF, com o objetivo
explícito de “combater a desinformação” e o “discurso de ódio” contra as
instituições.
[4] DIP –
Departamento de Imprensa e Propaganda, funcionou entre 1939 e 1945 servindo
como instrumento de censura e propaganda do governo durante o Estado Novo de
Vargas.
[5] PIDE
– Polícia Internacional e de Defesa do Estado, foi a polícia política
portuguesa entre 1945 e 1969, responsável pela repressão de todas as formas de
oposição ao regime de Salazar..
[6]
Verdades Inconvenientes – Em inglês, “Inconvenient Truths” é o título de um documentário
de Al Gore, ex-vice presidente de Clinton. Obviamente usei a expressão em oposição
a “fake news”, a expressão da moda que é aplicada quando não se gosta do que se
ouve, ou do que se lê, ou do que se vê.